PN 338.051-5; Ag.: TC VN Gaia, 5J ( ) Age.: Ago.: Em Conferência, no Tribunal da Relação do Porto I.INTRODUÇÃO (1) A age. insurgiu-se contra o despacho de 1.ª instância que julgou procedente a excepção de caso julgado, absolvendo o R. da instância a quem era pedido o pagamento do montante de 7282,71 e juros de mora, divida de preço da compra e venda celebrada entre os litigantes por escritura do 2.º C. Not. VN Gaia, 00.02.17. (2) Da decisão recorrida: (a) salta à vista que a julgar-se a presente acção se iria discutir exactamente a mesma matéria de facto que se discutiu em embargos de executado [que o R. opôs em execução que lhe moveu a A. com base n os títulos de crédito representativos do preço da compra e venda em causa]. (b) Há, portanto, risco de ser proferida decisão contrária a ali proferida, mas p ara uma mesma pretensão: o pagamento da quantia em jogo numa e noutra das lides mas as partes são as mesmas. (c) Ao caso julgado não obsta, entretanto, a diferente posição que ocupa m uma contra a outra, p erante o que se discute: sa ber se o montante pedido é ou não devido como parte do referido preço. 1 Vistos: Des. Marques Peixoto (1824/1864); Des Fonseca Ramos (1152 /1196). 2 Adv. 3 Adv. 1
II.MATÉRIA ASSE NTE: (1) propôs esta acção declarativa como processo sumário contra, e pede a condenação deste nos termos já relatados. (2) Alega ter sido casada com o R., casamento dissolvido por divórcio, mas com contrato-promessa de partilha dos bens comuns relativa à casa morada de família: adjudicada ao R., mediante a contrapartida de PTE 4 000 000$00. (3) Ora, muito embora tenha sido celebrada a escritura de compra e venda respectiva, o R. não pagou à A. PTE 1 200 000$00 do preço, uma vez que lhe passou para o efeito dois cheques sem cobertura nesse montante. (4) Mas, no 7.º Juízo Cível de VN Gaia correu termos a execução ordinária n.º 209/01 intentada por contra para pagamento justamente dessa quantia de PTE 1 200 000$00, acrescida de juros, onde constituíam títulos executivos os referidos cheques. (5) Contudo, o ex ecutado deduziu embargos, onde fez vencimento, alegando que os cheques apenas se destinavam a garantir a promessa de partilha, celebrada depois com entrega do preço em numerário. (6) A decisão transitou, posteriormente ao Ac RP, 02.10.10. III.CLS/ALEGAÇÕE S: (a) O tribunal reco rrido fez errada aplicação do art. 497 CPC. (b) Há identidade de sujeitos mas não há qualquer identidade do pedido, nem identidade da causa de pedir. (c) A causa d e p edir na execução são naturalmente os dois cheques, e o que foi decidido nos embargos diz respeito a saber se as quantias tituladas pelos cheques são ou não devidas, contudo, sem ter sido estimada a ex istência da divida com base na relação subjacente. (d) Assim, o decaimento em sede de embargos, por estar limitado aos cheques que são o thema decidendi não pode ter a virtualidade de fazer caso julgado em face da relação material controvertida: a obrigação de cumprimento levada aqui à PI pode existir e continuar incumprida, independentemente de ser titulada pelos cheques dados à execução. 2
(e) Aqui, a causa de pedir é a obrigação de preço decorrente da compra e venda: nunca poderá haver contraditoriedade. (f) Com efeito, nos embargos, foi julgada extinta a instância, porque os montantes dos títulos não eram devidos; na acção, reportar-se-á a sentença ao cumprimento ou incumprimento de uma obrigação: não há, pois, nem identidade da causa de pedir, nem do pedido. (g) Por conseguinte, deverá ser revogado o despacho recorrido, para que a acção prossiga. IV.CONTRA-ALEGAÇÕES: não houve. V.RECURSO, julgado nos termos do art. 705 CPC: (1) O objectivo dos embargos de executado é na verdade demonstrar a inexequibilidade do título, que é problema distinto daquele que é posto na petição inicial sobre a divida do preço. (2) Dito de outro modo, os problemas e os debates acerca do thema decidendi da acção que eventualmente foram à economia da sentença de embargos representam apenas meros argumentos: o que ficou decidido, enfim, foi não poder prosseguir a execução com base naqueles títulos executivos, i.e., os cheques. (3) Aqui, discutir-se-á, independentemente desses cheques, se há ou não a divida cujo pagamento porventura pode ter sido representado neles. (4) Por conseguinte, tem razão o recorrente: mesmo que exista identidade de sujeitos não estão presentes as clássicas três identidades não as há de causa de pedir e pedido. (5) Tanto bastou para que n os termos do art. 497 CPC tivesse sido revogada a decisão de 1.ª instância, para prosseguir a lide. VI. RECLAMAÇÃO nos termos do artº 700/3 CPC: (a) Porque as partes são as mesmas, porque se pretende obter o mesmo efeito jurídico e porque os factos que servem p ara ambas as acções são os mesmos, 3
está a presente acção declarativa em curso na transgressão de caso julgado oponível. (b) A decisão singular, ao não ter considerado assim incorre no risco de ser proferida sentença contraditória sobre a mesma pretensão: as partes e o thema decidendi, pelo contrário, são exactamente coincidentes. (c) Na verdade, nos embargos, o recorrente alegou o cumprimento da obrigação, que o mesmo é dizer, a liquidação da divida pelo pagamen to da quantia em causa. (d) Ora, o litígio nesta acção declarativa diz respeito precisamente á existência ou inexistência dessa divida. VII. RESPOSTA: não houve. VIII: SE QUÊ NCIA: (a) A recorrente deu à ex ecução dois cheques, ambos devolvidos com a menção cheque revogado extravio. (b) As partes aceitaram que esses cheques representavam pagamentos de numerário provindos da partilha dos bens do casal, nomeadamente da divisão da casa própria, de morada de família. (c) E o reclamante, alegou nos embargos, a inexequibilidade dos títulos, através da excepção de pagamento extra bancário, que porem não é admitida segundo a LUC, artº 22. (d) Por conseguinte, a sentença que julgou procedente os embargos só pode ter valor declarativo de uma qualquer objecção cartular à ex equibilidade, e é isso mesmo e só isso que deve resultar de uma correcta hermenêutica do texto decisório. (e) Neste sentido justamente é que foi proferida a decisão singular, negando o caso julgado. (f) Portanto, delimitado o significado da sentença dos embargos, proferida aliás no âmbito e alcance de normas legais decorrentes de um tratado internacional vigente, e propósito estreito este que já lhe foi reconhecido no 4
acórdão pelo qual foi confirmada na 2ª instância4, torna-se claro que não existe neste caso nem identidade de causa de pedir nem do pedido. (g) Logo, não há motivo para alterar o despacho reclamado que aqui se toma como acórdão, revogada, pois, a sentença de 1ª instância, para prosseguimento da lide. IX. CUSTAS: neste incidente, sem custas, por se tratar de passo necessário ao recurso. 4 Do Ac. RP, 02.10.10 (rel. Des. Manuel Ramalho), I v., pp 119ss: portanto, quando ele [embargante] pede qu e a acção seja julgada não provada e improcedente, refere-se obviamente á acção executiva, e quando, n a sentença, se julgam os embarg os procedentes por provados, considera-se evidentemente a execução improcedente por não provada. 5