1. A decisão recorrida julgou provada e procedente a excepção dilatória de falta de personalidade judiciária da R. SMAS Ovar, absolvendo da instância.

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Transcrição:

PN 273.02 1 ; Ag.: TC. Ovar; Ag.e 2 : Sotomar, Emp. Industriais e Imobiliários SA, Meladas, Mozelos, SM Feira; Ag.o 3 : SMAS Ovar, CM Ovar. Acordam no Tribunal da Relação do Porto. 1. A decisão recorrida julgou provada e procedente a excepção dilatória de falta de personalidade judiciária da R. SMAS Ovar, absolvendo da instância. 2. A recorrente, inconformada, concluiu: (a) O julgador decidiu que o Ag.o enquanto Serviço Municipalizado, não tem personalidade jurídica e, não tendo personalidade jurídica, carecia de personalidade judiciária, insuprivelmente, arts. 5 e 8 CPC; (b) Contudo, o Ag.o foi citado para os autos de providência cautelar na pessoa de um legal representante, 01.03.16; (c) Tem interesse em contradizer, e veio, com efeito, apresentar defesa, 01.04.02, sem que tivesse deduzido qualquer excepção relativa à falta de personalidade judiciária; (d) Em 01.05.28, por seu turno, o Ag.o foi nos autos de providência cautelar condenado a celebrar com a Ag.e o contrato de fornecimento de água relativo às fracções de que é proprietária; 1 Vistos: Des. Ferreira de Sousa ( ), Des. Paiva Gonçalves ( ). 2 Adv.: Dr. Carlos Pombo, Rua da Corticeira, 34, ap. 47, Meladas, Mozelos, 4536-902 SM Feira. 3 Adv.: Dr. Fernando Redinha Combo, Avª Fernando Magalhães, 240 4º, 3000-172 Coimbra. 1

(e) E o Ag.o conformou-se com a decisão: não interpôs qualquer recurso da sentença; (f) Depois, a Ag.e intentou esta acção principal contra SMAS Ovar, na pessoa do seu legal representante, ou seja na pessoa que legalmente pudesse por si só em juízo a representar judicialmente o Ag.o; (g) Foi ordenada a citação, sem hesitações; (h) Acontece que SMAS Ovar não podia intervir no processo sem arguir logo a falta de personalidade, e aproveitar dessa circunstância apenas para depois da condenação na providência cautelar; (i) Por outro lado, SMAS Ovar certo é que tem personalidade judiciária: a obrigatoriedade de celebração de contratos e do consequente fornecimento de água, bem como a responsabilidade relacionada com a recusa da prestação desses serviços (em debate nos presentes autos) é da directa responsabilidade da entidade gestora; (j) Por conseguinte, sendo a recusa do fornecimento da água resultante de um acto directamente praticado por SMAS Ovar, e que só SMAS Ovar poderá praticar, arts 11 e 18, DL 207/94, 06.08, detém a susceptibilidade de ser demandado e de pessoalmente se defender; (k) Resulta ainda a personalidade judiciária de SMAS Ovar da certeza de administrar autonomamente e fruir directamente de bens e direitos do Estado (critério da diferenciação patrimonial); (l) De igual modo, o art. 20/2 CPC não exige que um qualquer organismo estadual tenha personalidade jurídica para estar, por si só, em juízo: terá personalidade judiciária na medida que administre ou frua autonomamente de bens ou direitos do Estado; (m) Pela mesma razão, nos termos do art. 1, DL 48051, 67.11.21: o Estado e demais pessoas colectivas respondem civilmente perante terceiros pelas ofensas dos direitos destes ou das disposições legais destinadas a proteger os seus interesses, resultantes de actos ilícitos culposamente praticados pelos respectivos órgãos ou agentes administrativos no exercício das suas funções e por causa desse exercício; 2

(n) Assim, mesmo que SMAS Ovar não tivesse personalidade jurídica, não significa que não tenha personalidade judiciária, nos termos e para os efeitos do art. 5/1 CPC; (o) Na verdade, a susceptibilidade de ser parte e concomitantemente ser demandado judicialmente, resulta de ser patente o seu interesse directo em contradizer a pretensão da Ag.e 4 ; (p) Por isso mesmo, se nos autos de providência cautelar, como preliminar à presente acção, o Ag.o aceitou ser demandado e pleitear em juízo, tal como o tribunal recorrido, não pode agora, depois de condenado nesses autos, vir em sede de acção principal levantar a excepção 5 ; (q) E sendo que tal consubstancia uma actuação de má fé e um claro abuso de direito, na modalidade de venire 6 ; (r) Para mais, em 01.04.12, o mandatário de SMAS Ovar juntou procuração forense outorgada em papel timbrado da CM Ovar, assinada pelo respectivo Presidente, e na qual foi aposto o Selo Branco do Município de Ovar, na qual declarou ratificar todo o processado anterior; (s) Ou seja, dado que o Ag.o se considerou regularmente citado nos autos de providência cautelar, e veio apresentar defesa em termos suficientemente claros, sem ter invocado a excepção de eventual falta de personalidade judiciária, mesmo que esta existisse, o facto do Ag.o ter ratificado todo o processado, pela intervenção da pessoal do seu legal representante em juízo, com a junção da procuração outorgada pelo Município de Ovar (fls. 16 providência cautelar), sempre se deverá considerar que desde essa data cessou a alegada falta de personalidade judiciária; (t) Mas o julgador podia e devia oficiosamente ter providenciado pela regularização da instância de forma a sanar a falta de personalidade judiciária, e ao abrigo do disposto dos arts. 8 e 265/2 CPC; 4 Cit. apoio: Ac. RE, 77.03.03, CJ, II/319; Ac. RL, 82.11.08, CJ, V/174; Ac. RE, 90.06.07, CJ, III/280; Ac. STJ, 90.01.09, BMJ 393/459; Ac. RL, 92.02.13, CJ, I/156; Ac. RL, 94.12.15, BMJ 442/251; Ac. STJ, 96.12.12, BMJ 462/384; Ac. STJ 98.11.17, CJ/STJ, III/121. 5 Cit. apoio: ac. STJ, 96.04.23, CJ/STJ, I/167. 6 Cit. apoio: Ac. RL, 97.12.09, BMJ. 3

(u) Dado que, no presente caso, a falta da sua personalidade judiciária era, apesar de tudo, sanável, por aplicação analógica dos arts. 23/2 e 24 CPC, mediante a ratificação ou repetição pela administração do principal dos actos praticados por aquela entidade; (v) Assim, antes de proferir o despacho saneador, o tribunal recorrido deveria ter proferido decisão destinada ao suprimento, arts. 8, 265/2, 508/1a.2; (w) A decisão recorrida viola, entre outros, os arts. 8, 23/2, 24, 265/2, 288/3, 508/1a.2 CPC; (x) Deve ser revogada e substituída por decisão que julgue improcedente a excepção de falta de personalidade judiciária do Ag.o, prosseguindo os autos. 3. Nas contra-alegações disse-se: (a) SMAS Ovar são um serviço público de interesse local, dotado de autonomia técnica, administrativa e financeira que no quadro da organização do Município de Ovar visa satisfazer as necessidades dos munícipes; (b) Por isso mesmo, serviço local, por prestar actividade apenas dentro dos limites da circunscrição municipal, está integrado no Município de Ovar, não sendo autónomo relativamente a este do ponto de vista jurídico: não detém personalidade judiciária; (c) E tanto é assim que das deliberações do Conselho de Administração do SMAS Ovar cabe recurso hierárquico para a Câmara Municipal; (d) É aliás sabido: os Serviços Municipalizados são destituídos de personalidade judiciária 7 ; (e) Por outro lado, a decisão proferida numa providência cautelar não constitui caso julgado na acção principal, diferentes os objectos, não visando esta última confirmar ou revogar a providência cautelar decretada 8 ; (f) A recorrente mais alega que SMAS Ovar tem personalidade judiciária na medida em que administra ou frui autonomamente bens ou direitos do Estado; 7 Citou Ac. STA, 96.06.12 (Cons. Vitor Gomes), PN 037003. 8 Citou Ac, STA, 87.03.20, Advogado 314/279; Ac. STJ, 97.06.12 (Cons. Aragão Seia), PN 97A724. 4

contudo, o Estado a que se refere o art. 20 CPC é a Administração Central e não a Administração Local, de que trata a presente causa; (g) A falta de personalidade não pode ser sanada, por fim, à luz do art. 23 CPC: não tem remédio, tendo como única e clara consequência a absolvição da instância 9 ; (h) Deve ser mantida inteiramente a decisão recorrida. 4. Vistos os autos, fica assente: (1) A Ag.e propôs a presente acção contra Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento de Ovar na pessoa do seu legal representante; (2) Anteriormente tinha corrido providência cautelar entre as mesmas entidades que foi julgada procedente, ordenando-se aos requeridos que celebrassem no prazo de 8 dias com a requerente um contrato de fornecimento de água relativamente às fracções de que esta é proprietária, nomeadamente as fracções AU e AV do prédio sito na Avª do Imigrante, Freguesia e Cidade de Ovar, descrito na C. Reg. P. respectiva sob o nº 01970/120989, prédio esse constituído em propriedade horizontal desde 99.01.19; (3) Na Contestação da presente, SMAS Ovar alegou ausência de personalidade judiciária: é um Serviço Público de interesse local dotado de autonomia técnica e financeira, no quadro da organização do Município de Ovar, visando à satisfação das necessidades dos munícipes; (4) E a atribuição do caso à jurisdição administrativa: estamos na presença de um ente público que agiu na prática de actos de gestão pública; por outro lado, os tribunais comuns não são competentes para condenar o Município a celebrar contratos de natureza administrativa (fornecimento de água potável); (5) O Regulamento Interno dos Serviços de Água e Saneamento do Município de Ovar foi publicado no DR 2ª Série, nº 196, apêndice 123, 00.08.25, aprovados pela Assembleia Municipal de Ovar no uso da competência estabelecida no art. 53/2o., DL 169/99, 18.09, e consta do preâmbulo: a Câmara Municipal de Ovar 9 Citou Ac. STJ, 86.11.14, BMJ 361/478, ac. STJ, 96.11.12 (Cons. Fernando Fabião), PN 96A622. 5

propôs à Assembleia Municipal, ao abrigo do art. 2, DL 116/84, 06.04, a aprovação de um regulamento interno dos Serviços Municipalizados de Agua e Saneamento, consagrando um conjunto de alterações que têm os SMAS de uma estrutura flexível, especializada e verticalizada, associada a um novo quadro de pessoal, que permite uma melhoria significativa de um indíce de tecnicidade ; (6) No procedimento cautelar, está junta procuração emitida em nome dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento [Ovar], pelo seu Presidente do Conselho de Administração, que a subscreve, 01.04.06, conferindo os mais amplos poderes forenses em direito permitidos, ao mesmo tempo que declara ratificar todo o processado no âmbito do processo que corre termos no 2º Juízo no Tribunal Judicial da Comarca de Ovar. 5. A decisão recorrida baseou-se nos seguintes argumentos: (1) Só faz sentido afirmar-se que as partes estão ou não destituídas de personalidade judiciária depois de o tribunal ter concluído pela sua competência, pelo que só o tribunal que seja absolutamente competente deve e pode pronunciar-se sobre essa personalidade judiciária; (2) E para determinar a competência do tribunal há que considerar tão somente a natureza da relação jurídica tal como ela é desenhada pelo A. na p.i. 10 ; (3) Ao invés do preconizado pelo Ag.o, a presente acção, tal como foi desenhada pela Ag.e, tem por objecto um litígio de natureza privada, ou seja um litígio juridico-civil, e não um litígio decorrente de uma relação jurídica administrativa: está em jogo uma actuação despida de jus imperii, ou seja, estáse no domínio de actos de gestão privada, e não perante uma relação de Direito Público; 10 Citou em abono, Manuel de Andrade, Noções de Processo Civil, 1979, pp. 90/91; Ac. STJ 82.10.12, BMJ 320/389; Ac. STJ, 87.02.03, BMJ 364/591; Ac. RL, 97.07.01, CJ, XVIII, 5/97. 6

(4) Posto isto: o critério geral fixado na lei para se saber quem tem personalidade judiciária é o da correspondência (coincidência ou equiparação) entre a personalidade judiciária e a personalidade jurídica 11 ; (5) E a falta de personalidade judiciária de alguma das partes é uma excepção dilatória, de conhecimento oficioso, que obsta a que o tribunal conheça do mérito da causa e conduz à absolvição do R. da instância, arts. 288/1c, 493/1.2, 494c. e 495 CPC; (6) É também uma excepção insuprível, fora do caso regulado no art. 8 CPC 12 ; (7) A municipalização de Serviços é da competência da Assembleia Municipal sob proposta ou pedido de autorização da Câmara Municipal, art. 53/1l., DL 169/99, 18.09; (8) E os Serviços Municipalizados dispõem, nos termos da lei, de organização autónoma no âmbito da Administração Municipal, consubstanciada em autonomia financeira, art. 168 proémio, Cód. Adm., que se traduzem no facto de serem geridos por conselho de administração, nomeado pela Câmara, e no facto de disporem de orçamento privativo, e de poderes de cobrar tarifas pela prestação de serviços ao público no âmbito da respectiva actividade, arts. 165, 170/5 e 174 proémio C. Adm. 13 ; (9) Em face deste regime resulta que têm natureza de organizações do tipo empresarial; mas, sendo verdadeiras empresas públicas municipais, não têm personalidade jurídica, estão integrados na pessoa colectiva município 14 ; (10) Dúvidas não podem subsistir, por conseguinte, de que SMAS Ovar, enquanto serviço municipalizado, não tem personalidade jurídica e, não a tendo, carece, como é óbvio de personalidade judiciária, atenta a regra consagrada no art. 5 CPC; (11) Ora, sendo o Ag.o destituído de personalidade judiciária, tal excepção dilatória insuprível, como acima já se referiu, por não cair na previsão do art. 8 11 Citou, Antunes Varela, M. Bezerra & S. Nora, Manual de Processo Civil, 2ª ed. pp. 107/110. 12 Citou Abrantes Geraldes, Temas de Reforma do Processo Civil, I, 2ª ed., pp. 257/258. 13 Citou Freitas do Amaral, Curso de Direito Administrativo, I, 2ª ed., pp. 499/500. 7

CPC, obsta a que o tribunal conheça do mérito da causa e conduz a absolvição da instância. 6. O recurso está pronto para julgamento. 7. Colocados fora do âmbito de conhecimento do tribunal de recurso os árduos problemas de saber qual a natureza e tipo do contrato de fornecimento de água potável pelas Câmaras Municipais, ou mesmo empresas públicas ou privadas concessionárias, aos residentes, e que poderiam levar-nos a reencarar a solução encontrada quanto à competência jurisdicional em relação da matéria, subsiste apenas o litígio no domínio da ausência de personalidade jurídica e judiciária de SMAS Ovar. É questão pacífica e largamente tratada, e de acordo com aquilo que foi decidido na sentença de 1ª instância: não é necessária mais argumentação, remetendo-se para a síntese que ficou em 5. Aliás, os argumentos da recorrente não convencem, porque estribados numa leitura incongruente de certas normas constitucionais e legais relativas à responsabilização delitual do Estado e dos funcionários: em cada caso é necessário apurar sempre quem pode, por si só, e em face do estatuto orgânico e lei de autorização, estar em juízo, na lide. Não é a regra da responsabilidade que cria centros de imputabilidade, entes justiciáveis. Por outro lado, a tentativa de encontrar uma legitimação pelo processo, iria redundar numa verdadeira impossibilidade executiva da sentença final, que no fim de contas emitiria um comando, por assim dizer, fantasmático: fora dos muros do processo declarativo, a vida normativa continuaria como sempre. Ao fim, a ratificação do processado pelo presidente do Conselho de Administração de SMAS Ovar, não foi feita pelo Presidente da Câmara, como representante do 14 Citou Freitas do Amaral, id, id; Marcello Caetano, Manual de Direito Administrativo I, 10ª ed., Lisboa, 1973, pp. 347/348, II, 9º ed., Lisboa, 1972, p.1071; Par. PGR 3/93, 93.04.01, DR II, 93.10.07. 8

Município, embora a coincidência de pessoas (confusão que habilmente evita) e, em todo o caso, tal ratificação vale o que vale e no âmbito e alcance cautelar. O certo é que a recorrente persistiu, depois, em demandar não o Município, mas SMAS Ovar. Concluimos por consequência: Agravo improcedente. 8. Atento o exposto, vistos os arts. 5, 8, 288/1c, 493/1.2, 494c. e 495 CPC, decidem manter inteiramente a decisão recorrida. 9. Custas pela Ag.e, sucumbente. 9