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Transcrição:

PN 2419.03-5 1 ; Ap.: Tc. Valongo, 1º J. (241.00); Ap.e 2 : Companhia de Seguros Real, SA, Avª de França, 316, 4106 Porto; Ap.o 3 : Joaquim Manuel Moreira Carneiro, Rua Calouste Gulbenkian, 134, 3º Esq., Ermesinde. Acordam no Tribunal da Relação do Porto I. Introdução: (a) A Seguradora critica o montante da indemnização arbitrada em favor do Ap.o, vítima de acidente de viação: Pte 18 031 131$00, ou seja, 89 938,90, e juros de mora desde a citação. (b) Da sentença recorrida:...tendo em conta o princípio do pedido, art. 661/1 CPC, o tribunal não pode condenar em quantidade superior ao peticionado pelo A., pelo que terá de se limitar a atribuir-lhe aquilo que peticionou, ou seja, a quantia [da condenação]... II. Matéria assente: (1) Em 98.03.19, 09.30 h, na Rua 5 de Outubro, Ermesinde, Valongo, quando o A., como peão, atravessava a passadeira existente naquela rua e devidamente marcada no solo, no sentido do Montepio Geral, Sul, em direcção 1 Vistos: Des. Paiva Gonçalves (1477); Des. Marques Peixoto (1509). 2 Adv.: Dr. Francisco Espergueira Mendes, Rua da Restauração, 348, 5040-501 Porto. 3 Adv.: Dr. Mário Lage, Rua 31 de Janeiro, 51, 4420-339 Gondomar. 1

à lavandaria 5-à-Sec... foi atropelado veículo Toyota 19-83-CG, conduzido por Alda Marques Vieira Pontes, casada com o proprietário da viatura, Manuel Matos Nogueira Pontes; (2) O referido veículo apareceu de forma inesperada e abrupta, vindo da Rua Miguel Bombarda, de sentido único, virando repentinamente para a sua esquerda, Rua 5 de Outubro, de dois sentidos (ascendente e descendente), e a brusca mudança de direcção, fê-la obliquamente e não em ângulo recto, i.é, na perpendicular, quando o A. estava na parte final da passadeira e quase a chegar ao passeio; (3) A condutora do veículo em causa nem sequer travou para evitar bater no A., circunstância que o levou a ser atropelado e projectado a cerca de 2 m para cima do passeio, vindo a estatelar-se no chão e, todo ele, sobre o seu lado direito; (4) À data do acidente, o veículo 19-83-CG, tinha a sua responsabilidade emergente de acidentes transferida, através da apólice de seguro 90102756, para a companhia de Seguros Real Seguros, SA; (5) O A. é técnico de vendas de produtos de perfumaria por conta de MBB Teixeira, SA, com sede em Paço de Arcos e ao tempo auferia Pte 340 000$00/mês; (6) Nos dois meses anteriores ao do acidente, i.é, em 01.98, auferia um salário bruto, compreendido o vencimento base, comissões e prémios, de Pte 653 795$00, pagando de IRS Pte 117 680$00, líquido: Pte 481 879$00; (7) E no mês de Fevereiro seguinte, Pte 793 953$00, líquido: Pte 602 005$00; (8) O A. sofreu ITA, 98.03.20/07.03 e ITP, 989.07.04/10.29; (9) E estando também o A. ao serviço da sua entidade patronal, aquando do acidente, participou esta o sinistro à Seguradora Royal Exchange Assurance, onde foi organizado o processo 195.98, sob a apólice 42271; (10) Na altura do acidente o piso estava seco e em bom estado; (11) Na sequência do acidente resultaram para o A., além de vária equimoses por todo o corpo, traumatismos do joelho, perna e pé esquerdos, com rotura de ligamentos; 2

(12) O A. foi transportado pelos Bombeiros de Ermesinde para o HS. João, Porto, onde recebeu tratamentos médicos e posteriormente foi submetido a vários exames no HP Portugal, terminando por ser obrigado a ficar com a referida perna e pé esquerdos engessados; (13) O A., no momento do acidente e posteriormente, durante meses, sofreu muitas dores e incómodos; (14) Foi assistido e tratado a partir de 98.03.20, no regime de consulta externa no HP Portugal e depois aí recebeu tratamento de reabilitação; (15) A cura do A. só veio a ser dada como consolidada em 98.11.25, tendo estado até aí impossibilitado de exercer em plenitude a sua actividade de técnico de vendas; (16) Durante o período da cura, o A. foi submetido a várias consultas, exames de diagnóstico, VG, radiografias e ressonâncias; (17) Ficou com uma incapacidade absoluta para o trabalho desde o acidente até 98.06.30; (18) Nesta data, alta, e foi-lhe então atribuída IPT 35%, a rever dentro de 35 dias; (19) Desde a data do acidente até à data da alta o A. tomou medicação para atenuar as dores e sujeitou-se a sessões de reabilitação em fisioterapia (HP Portugal); (20) E dada a sua dificuldade de movimentação, associada às intensas dores que sofria, viu-se obrigado a deslocar-se de táxis da sua residência para o Hospital, e deste para a sua residência; (21) O A. despendeu, com exames médicos, tratamentos, deslocações, medicamentos, fisioterapia e expediente: Pte 491 141$00 + Pte 55 000$00; (22) O A. ficou ainda com um par de calças rasgadas, no valor de Pte 12 000$00, a camisa destruída, no valor de Pte 10 000$00, e um blazer, no valor de Pte 35 000$00; um par de sapatos estragados, no valor de Pte 12 000$00; (23) O A. vencia o quantitativo já referido como base das remunerações, mas ainda comissões numa média mensal de Pte 116 532$00 e um prémio/mês de Pte 104 831$00; 3

(24) Visitava por dia, em média oito a dez clientes, nomeadamente Continentes, Carrefours, Jumbos, Feiranovas, Leclerks e outras grandes superfícies; (25) Quer as comissões quer os prémios eram pagos também em função das vendas efectuadas e dos objectivos alcançados nos meses anteriores; (26) O A. pôde reatar a sua actividade laboral em 98.11.25, tendo deixado de auferir, durante 8 meses, uma quantia mensal de cerca de Pte 220 000$00; (27) E recebeu apenas, durante esses meses, da sua entidade patronal, o vencimento base; (28) Além da ITP, o A. esteve ainda com mais 60 dias de ITP 35%; (29) Mantém as seguintes sequelas: (i) ligeiro derrame articular (joelho esquerdo); (ii) instabilidade interna do joelho esquerdo de grau I e II, com flexão e extensão; (iii) dor localizada ao maléolo tibial interno do tornozelo esquerdo com rigidez; (iv) limitação dos movimentos de flexão, flexão plantar e de dorsiflexão; (30) Estas sequelas traduzem uma IPGP 15%; (31) Na verdade, ao A., na sua profissão de técnico de vendas de artigos de perfumaria, é-lhe exigido um constante movimento e deslocações, muito tempo de pé nas visitas permanentes, que é obrigado a fazer aos seus clientes; (32) E aquelas sequelas exigem ao A. esforços acrescidos para o exercício da sua actividade, continuando com dores nos movimentos do joelho e perna acidentada, as quais aumentam com as mudanças do tempo, tudo o que lhe provoca, com efeito, muitas dores e dificuldades de movimentos; (33) Impedem-no futuramente de poder estar de pé muito tempo, quando visita os clientes, vendo-se obrigado a sentar-se, o que deixa má impressão e o deixa, por isso, desgostoso; (34) Entretanto, o A. à data do acidente era uma pessoa saudável, fazia desporto, andava de bicicleta, isso que deixou de poder fazer; 4

(35) Nasceu em 54.03.28. III. Cls./Alegações: (a) A sentença recorrida fundamenta o montante da indemnização no argumento: o julgador não pode ignorar toda a realidade social e económica que o cerca, devendo ter em conta uma perspectiva alargada e actualizada da sociedade;...por isso, as indemnizações pela perda da capacidade de ganho deverão ter em linha de conta a normal progressão dos salários, motivada por dois factores: a inflação (2% a longo prazo) e as promoções profissionais (1% a longo prazo); (b) Sucede que não se encontra provado que o recorrido não pudesse continuar a exercer a sua profissão; (c) Outrossim ficou provado que a partir de 98.11.25, o recorrido voltou a desenvolver a sua actividade profissional de uma forma habitual, uma vez que só pediu perdas salariais pelos meses que decorreram desde a data do acidente até esse mesmo dia 25 de Novembro; (d) Assim, se o recorrido não pediu qualquer tipo de perdas salariais desde essa data, significa que passou a poder desenvolver sem qualquer entrava a sua actividade profissional; (e) Não é de todo em todo previsível, então, que o recorrido, pelo facto de ter ficado a padecer de IPGP 15% deixe de ter aumentos de vencimentos, deixe de ter ganhos de produtividade ou deixe de ser promovido; (f) Isso mesmo não resulta da matéria de facto dada como provada, nem pode resultar de qualquer tipo de regra da experiência; (g) Qualquer progressão na carreira do recorrido Joaquim Manuel estará intimamente dependente, apenas, do seu empenho e profissionalismo, que se acredita ser elevado, e não da incapacidade de que é portador; (h) Não é razoável, e por isso mesmo não se dá anuência a tal raciocínio, supormos que a entidade patronal do recorrido não lhe irá proporcionar um crescimento do salário, bem como uma evolução profissional paralela à dos 5

demais funcionários que tem ao seu serviço, e pelo facto de ele sofrer aquela IPGP; (i) A fixação de qualquer perda de capacidade de ganho tem de se cingir, antes pelo contrário, aos danos reais e não a danos virtuais; (j) E tendo em consideração que o recorrido terá mais de 16 anos de vida activa (não 21, como o tribunal recorrido entendeu), pois nasceu em 54.03.28, também que os eu vencimento mensal é de 2 800,27, que padece de IPGG 15%, e que a taxa de juro é de 5%, o montante indemnizatório a atribuir ao recorrido será necessariamente inferior àquele em que a recorrente foi condenada, pelo que deverá ser reduzido em conformidade; (k) Por outro lado, não se pode aceitar que a sentença condene no pagamento de juros de mora, à taxa legal, desde a citação até integral pagamento, no que aos danos patrimoniais diz respeito; (l) De facto, a atribuição de uma indemnização monetária, aferida nos termos do art. 562/2 CC, não permite (atendendo ao critério do cálculo actualizado) que se acresça ao montante em dívida juros de mora desde a citação: só são devidos a partir da data da notificação da sentença à recorrente; (m) Por conseguinte, a sentença recorrida afronta, por erro de interpretação e de aplicação, o disposto nos arts. 562, 563, 564 e 566/2 CC. (n) Noutra vertente, embora seja difícil a estimativa, afigura-se desproporcionada a atribuição ao recorrido da verba de 12 469,95, a título de danos não patrimoniais; (o) É que, tendo em conta os critérios jurisprudenciais actualmente seguidos, e para situações em tudo semelhantes, tal montante nunca poderia ser superior a 2 483,99: a indemnização ao recorrido deverá ser reduzida para este último montante; (p) Aqui, a sentença recorrida pôs em crise, por erro de interpretação e de aplicação, nomeadamente os arts. 494 e 496 CC; (q) Enfim, sobre a quantia arbitrada a títulos de danos morais não contam juros de mora desde a data do acidente; 6

(r) Na verdade, tais danos foram fixados e avaliados tendo em conta a situação existente no momento do encerramento da discussão: os juros de mora vencem-se a partir da notificação da sentença; (s) Neste âmbito, a sentença recorrida desrespeitou os arts. 805 e 806 CC. IV. Contra-alegações: (a) A sentença recorrida fez exacta e ponderada apreciação dos factos e correcta aplicação da lei: não violou quaisquer dos dispositivos legais citados pela recorrente, e não merece, pois, censura alguma. (b) Na verdade, Joaquim Carneiro, com um grau de incapacidade de 15%, ficou afectado intensamente no seu património biológico e tem, por isso mesmo, direito a ver reparados os seus danos físicos patrimoniais, direito que lhe é conferido pela lei, arts. 562, 564 e 566 CC, que tem por escopo três objectivos principais: integridade produtiva, capacidade de ganho e restabelecimento do estado de saúde do lesado, afectado e diminuído pela incapacidade suportada 4 ; (c) E tendo dessa forma, o lesado direito a ver reconstituído o seu estado físico e harmonia corporal, que existiam anteriormente, caso não tivesse ocorrido o acidente e não podendo tal situação ser totalmente reconstituída, tem necessariamente de ser ressarcido desses mesmos valores, face à incapacidade com que ficou, isto mesmo que não se prove ter dela resultado diminuição actual dos proventos profissionais, o que infelizmente não é o caso 5 ; (d) Assim sendo, seria inadequada, insuficiente e injusta a quantia sugerida pela Ap.e, mas a que foi fixada pela 1ª instância já se entende justa e adequada como indemnização a este título, seguindo a orientação jurisprudencial 6 ; (e) Bem andou pois o tribunal de 1ª instância ao utilizar a fórmula matemática do Ac. STJ 97.05.05, CJ II, p. 87 ss, ajustada nos termos referidos 4 Vítor Ribeiro, Acidentes de Trabalho Reflexões e Notas Práticas. 5 Vd. Ac. STJ, 87.02.05, BMJ 364/819; Ac. STJ 79.03.08, BMJ 285/290; Vaz Serra, anot. RLJ, 112/260. 6 Vd. Dinis, JJ Sousa, Dano Corporal em Acidente de Viação; Ac. STJ, CJ V, II/15. 7

no Ac. RC, 95.05.04, CJ XX, 2/23 ss, aplicando uma taxa de juro nominal líquida de 2%, como a mais adequada à realidade actual; (f) Fórmula aquela que é a mais usada na determinação do capital necessário para reparar a perda de capacidade de ganho: C= ((1+i)n-1) x P/((1+i)n x i) i= taxa de juro; n= nº de anos de vida activa; P= prestação a pagar no primeiro ano; (g) É que provado ficou nos autos, e dado como assente na sentença que o lesado, com 15% de incapacidade, ficou impossibilitado de exercer em plenitude a sua actividade de técnico de vendas; (h) E àquela fórmula há ainda que introduzir, para sua correcção, como fez a sentença recorrida, os factos da inflação (2%, no longo prazo) e as promoções profissionais (1%, no longo prazo), assim se procedendo à actualização do capital devido; (i) Donde: N (anos) R (%) K (%) S ($) S ( ) IPP (%) 21 2 3 561 403$00 2800,27 15 C= Capital necessário para reparar a perda da capacidade de ganho ($) I= Taxa de juro ($) N= nº de anos durante os quais se deverá manter a prestação (anos) P= prestação a pagar no primeiro ano ($) R= Taxa nominal ilíquida das operações financeiras (%) K= Taxa anual de crescimento da prestação (eventualmente também incluirá a taxa de progressão na carreira (%)) S= Salário ($) IPP= Incapacidade (%) Fórmulas: 8

i=(1+r)/(1+k)-1 i i (%) -0,0097087-0,97 P= S x 14 x IPP P($) P ( ) 27 610 767$97 137 721, 93 Será pois o capital de Pte 27 610 768$00, ou seja, 137 721,93, o capital necessário para compensar a perda de ganho da vítima; (j) Por sua vez, o lesado, à data do acidente, tinha 44 anos e como tal dispunha de pelo menos 21 anos de vida activa, i.é, até aos 65 anos de idade: o tribunal recorrido mais não fez senão aplicar científica e correctamente a fórmula atrás transcrita de que resultou aquele indicado capital devido, montante que, por limitações processuais, teve de ser reduzido a 77 468,95, muito aquém, total acrescido de 12 469,95 a título de danos não patrimoniais; (k) Ora, a Ap.e foi citada para pagar este montante, que igualmente foi fixado na sentença e, não o tendo feito, é óbvio que está em mora: deverá pagar juros desde então até integral pagamento, e não apenas a partir da data ou da notificação da sentença; (l) Deve ser esta inteiramente mantida. V. Recurso: pronto para julgamento. VI. Sequência: (a) Não está em causa o fundamento da obrigação de indemnizar, que a recorrente não contesta, mas apenas o cálculo da indemnização. 9

Vejamos: a sentença recorrida acabou por condenar no pedido, porque chegou a uma estimativa da indemnização justa de montante maior: a diferença estimada foi de 60 252,98, ou seja, ±12 000 c. E para tanto utilizou a regra de cálculo transcrita nas contra-alegações do recorrido, que foi buscar à tese de Sousa Dinis, hoje comummente aceite. Contudo, a recorrente insurge-se contra a convocação doa aditamentos correctivos à fórmula, onde entram como dados os valores percentuais do aumento dos vencimentos e da progressão da carreira a longo prazo: a qualidade de vida do ofendido, não obstante a incapacidade residual, mantémse de tal forma que o atropelado não irá sofrer consequências práticas das sequelas, no foco daqueles dois parâmetros. Respondeu-lhe: não se trata apenas de uma perda de ganho, mas de uma via indirecta de avaliar a deficiência, vinco do desvalor tão real que está lá em biológico défice. Por outro lado, a recorrente conta os anos de vida activa da vítima a partir da data da sentença enquanto o tribunal e o recorrido consideraram o dado: data do sinistro. Ora bem! quanto ao cálculo da indemnização por danos patrimoniais não há maiores ou mais divergências. Depois, a Seguradora não aceita a estimativa dos danos não patrimoniais através da qual, pelas dores e desgostos do atropelado, fixa a sentença Pte 2 500 000$00: a recorrente propõe tão simplesmente Pte 500 000$00, tudo englobado tempo de doença (oito meses), dores dos tratamentos, stress pós-traumático, receios da vida futura. (b) Embora pudéssemos conceder razão virtual aos argumentos da recorrente no que diz respeito aos danos patrimoniais futuros, o certo é que, não utilizando a correcção da fórmula da estimativa, ainda assim, se chegaria a um montante superior ao do pedido: a crítica à sentença, por esta via, é então 10

estéril; entretanto, tem de ser considerada a data do acidente, para o cálculo, e não a data da sentença: trata-se de refazer a situação atingida pelo sinistro, portanto, à data em que ocorreu, art. 562 CC. (c) Nem as razões da recorrente, no quadro exposto, atingem a decisão de 1ª instância, mesmo perante a estimativa da verba indemnizatória relativa aos danos morais, onde parece de facto emergir algum exagero de conta. Em face de agruras limitadas no tempo, porventura banais, pareceria mais adequado reduzir a verba indemnizatória em debate para Pte 1 000 000$00, i.é, 4 987,98, quantia com potencial produtor de bem-estar súbito compensatório quantum satis, se utilizada pelo beneficiário a partir da confluência desse capital todo num dado momento e oportunidade. Contudo, o benefício indemnizatório reduzido, e nesta medida exacta, não altera a sentença: mesmo assim, a indemnização global estimada, sob este ponto de vista, excederia o montante do pedido. E sabemos que não são as marcas verba a verba a terem de ser consideradas para determinar em concreto o âmbito e alcance negativo das condenações ultra petitum. (d) Entretanto, a problemática da contagem dos juros de mora sofreu até ao presente uma viragem jurisprudencial justamente no sentido de sufragar por maioria extensa a tese que é a da sentença. Compreende-se o intuito do recurso, e não deixa de prestar-se homenagem à tese contrária, mas o direito também é constância, na dominante de uma certeza jurídica, valor ao qual tem de prestar tributo o intérprete empenhado. (e) Por conseguinte, visto o art. 661/1 CPC, e enfim o art. 805 CC, outro caminho não há senão o de manter inteiramente a sentença recorrida. VII. Custas: pela Ap.e, sucumbente. 11