A agenda que está na mesa: Reforma do ICMS e do PIS/COFINS. José Roberto R. Afonso

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Transcrição:

A agenda que está na mesa: Reforma do ICMS e do PIS/COFINS José Roberto R. Afonso Debate Como Avançar na Agenda da Tributação Agência Estado, São Paulo, 09/10/2012 Opiniões exclusivamente pessoais. 1

Síntese Reforma qual estratégia? Qual diagnóstico e objetivos? ICMS ênfase na reformar desproporcional sua importância relativa na economia: um quinto da arrecadação nacional. Incluindo combustíveis, energia e comunicações, arrecada hoje menos do que quando foi criado, sem tais bases. As mudanças na estrutura produtiva (redução do peso da indústria e agricultura) e a guerra fiscal generalizada o condenaram a estagnação (graças as crescentes práticas heterodoxas, como substituição, controle de fronteira). PIS/PASEP embrião de IVA Federal (regime não-cumulativo) nasceu natimorto, com troca do crédito financeiro original pelo físico e com crescente complexidade (tantos regimes especiais que se desconhece o regime normal), e foi alvejado pela desoneração salarial que mudou a base salário por faturamento bruto. Ainda goza da vantagem de ser um tributo nacional e com base mais ampla e diversificada. 2

Algumas estatísticas recentes... Carga pós-guerra: recordes sucessivos 3

Algumas estatísticas recentes... Carga 2011 (preliminar): tributos Composição da Carga Tributária Global Composição da Carga Tributária da União 1% 2% 1% 2% Impostos Impostos Contribuiçõ es 33% Contribuições 49% Taxas Taxas 47% Outros 65% Outros Maiores Tributos Base de Incidência 21,0% 22,9% 13,4% ICMS IR + CSLL Prev + FGTS 2,1% 2,5% 1,6% 1,8% 3,5% 41,7% BENS E SERVIÇOS SALÁRIOS E MÃO-DE-OBRA RENDA, LUCROS E GANHOS PATRIMONIAIS 20,5% Cofins + PIS ISS 21,3% COMÉRCIO EXTERIOR TAXAS 19,8% Outros 25,6% TRANSAÇÕES FINANCEIRAS 2,4% DEMAIS 4

Composição da produção Mudança radical no longo prazo: desindustrialização 5

Algumas estatísticas recentes... Carga 2011: curiosidades Arrecadação Tributária de IPI, COFINS, PIS e PASEP por Setor - 2010 COMERCIO P/ ATACADO, EXCETO VEIC. AUTOMOTORES E MOTOCICLETAS 55,5% 11,8% 9,4% 7,8% 6,7% 4,6% 4,2% FABRICACAO DE VEICULOS AUTOMOTORES, REBOQUES E CARROCERIAS ATIVIDADES DE SERVICOS FINANCEIROS FABRICACAO DE COQUE, DE DERIV. DO PETROLEO E BIOCOMBUSTIVEIS ELETRICIDADE, GAS E OUTRAS UTILIDADES COMERCIO VAREJISTA Impostos Comparados: IPVA x IPTU % do PIB 0,58 DEMAIS SETORES 0,42 IPVA IPTU Arrecadação em 2010: do total de 5,2 mil municípios IPTU > IPVA em 5% (como SPaulo, Rio, Guarujá) IPVA > IPTU em 95% (inclusive Curitiba, BHorizonte, Manaus, Ribeirão Preto, Uberlândia, Campinas, Caxias do Sul, Belém, Fortaleza, São Luiz, entre outras) 6

Distribuição desigual da carga ICMS concentrado em setores de maior carga 7

Carga tributária: global e ICMS Perda contínua de importância relativa 8

Algumas estatísticas recentes... Carga 2011: federação Arrecadação Direta Receita Disponível 6,0% = 2,12% do PIB 26,1% = 9,16% do PIB União Estados Municípios 18,3% = 6,42% do PIB 24,6% = 8,66% do PIB União Estados Municípios 67,9% = 23,84% do PIB 57,1% = 20,04% do PIB EVOLUÇÃO DA DIVISÃO FEDERATIVA DA RECEITA TRIBUTÁRIA POR NÍVEL DE GOVERNO (conceito contas nacionais) Conceito Central Estadual Local Total Central Estadual Local Total Carga - % do PIB Composição - % do Total ARRECADAÇÃO DIRETA 1960 11,14 5,45 0,82 17,41 64,0 31,3 4,7 100,0 1970 17,33 7,95 0,70 25,98 66,7 30,6 2,7 100,0 1980 18,31 5,31 0,90 24,52 74,7 21,6 3,7 100,0 2000 20,77 8,61 1,77 31,15 66,7 27,6 5,7 100,0 2011 24,60 9,14 2,12 35,86 68,6 25,5 5,9 100,0 RECEITA DISPONÍVEL 1960 10,37 5,94 1,11 17,41 59,5 34,1 6,4 100,0 1970 15,79 7,59 2,60 25,98 60,8 29,2 10,0 100,0 1980 16,71 5,70 2,10 24,52 68,2 23,3 8,6 100,0 1988 13,48 5,97 2,98 22,43 60,1 26,6 13,3 100,0 2011 20,46 8,81 6,59 35,86 57,1 24,6 18,4 100,0 Fonte: Elaboração própria, a partir de STN, SRF, IBGE, Ministério da Previdência, CEF, Confaz e Balanços Municipais. Metodologia das contas nacionais inclui impostos, taxas e contribuições, inclusive CPMF, FGTS e royalties, bem assim dívida ativa. Receita Dispon'ivel = arrecadação própria mais e/ou menos repartição constitucional de receitas tributárias e outros repasses compulsórios. 9

Observações Finais Melhores condições para reformar transparência fiscal ampliaram e facilitaram o acesso às estatísticas, mais detalhadas, especialmente sobre finanças estaduais e municipais para equalizar situação das finanças locais é possível complementar ou até mesmo substituir parâmetros correlatos (por ex., renda, população, índices de desenvolvimento ) por fiscais (por ex., arrecadação própria, gasto setorial ) Mudar aos poucos não é mudar pouco visão estratégica deveria primeiro a pactuar princípios para mudanças estruturais que organizassem novo sistema tributário e federativo simular efeitos e, depois, elaborar e apreciar alterações de projetos legislativos seriam os passos seguintes mudanças sempre passarão por atos diferentes em momentos distintos mas que deveriam seguir um fio condutor para guardarem consistência entre si 10 10

José Roberto Afonso é economista do BNDES, a serviço do Senado da República (assessor técnico). Opiniões de exclusiva responsabilidade do palestrante. Kleber Castro, Eliza Gurgel e Marica Monteiro deram apoio para a elaboração desta análise. Mais trabalhos sobre o tema no site do autor : www.joserobertoafonso.com.br 11