Sobre Desenvolvimentos em Séries de Potências, Séries de Taylor e Fórmula de Taylor



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Transcrição:

Sobre Desenvolvimentos em Séries de Potências, Séries de Taylor e Fórmula de Taylor Pedro Lopes Departamento de Matemática Instituto Superior Técnico o. Semestre 005/006 Estas notas constituem um material de apoio ao curso de Análise Matemática II para as licenciaturas de Engenharia Geológica e Mineira, Engenharia de Materiais e Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico no o. semestre de 005/006 e não pretendem ser um substituto dos manuais escolares disponíveis.

Alguns Desenvolvimentos em Séries de Potências Seja x um número real não nulo e considere-se a sucessão u n = x n n 0 Considere-se uma nova sucessão, obtida de u n, que designamos por S N, que para cada N é a soma dos N + primeiros termos de u n, de n = 0 até n = N, isto é, S N = x 0 + x + x + x 3 + + x N + x N = Embora seja fácil compreender o seu significado soma dos N + primeiros termos da sucessão u n, tal como a sucessão S N está escrita, não nos revela muito sobre o seu comportamento é limitada?, é convergente?. Tentemos então escrevê-la de outra forma. donde e portanto, S N+ = N+ Consideremos desde já o caso x = : Agora para x : ou seja Acabámos então de ver que N x n = x 0 + x + x + + x N + x N + x N+ = S N + x N+ = x 0 + x x 0 + x + + x N + x N + x N = + xs N + xs N = S n + x N+ x N+ = S N xs N S N = N S N = xn+ x S N = xn+ x x n def = lim N para x N = + + + + = N + } {{ } N N+ parcelas N N x n = lim N S N = { x para x < diverge para x x = x n para x < x n { x para x < diverge para x isto é desenvolvemos fx = x em série de potências de x em torno de 0, obtendo, para x <, xn. Deste desenvolvimento obtemos outros. Escrevamos então o mesmo desenvolvimento mas em ordem a uma nova variável y: y = x n válido para y < Suponhamos agora que, dada uma constante a, y = x a; então, x a = x a n naturalmente válido para x a <

E se y = x? + x = x x n = n x n válido para x < x < ou seja, o desenvolvimento em série de potências de x de +x é: E se y = x? + x = n x n válido para x < + x = x = x n = n x n válido para x < x < ou seja obtivémos o desenvolvimento de + x = n x n válido para x < Recordamos aqui que, no interior do intervalo de convergência de uma série de potências de x, a derivada da série é igual à série das derivadas e que a primitiva da série é igual à série das primitivas. Isto vai-nos permitir obter desenvolvimentos em série de potências de x das funções log + x e arctanx. De facto, e notando que vem c = 0, donde: log + x = P + x = x < 0 = log + 0 = log + x = P n x n = n P x n = Tambem porque arctanx = +x tem-se: e como vem Exercício. arctanx = P + x = x < n n n + 0n+ + c = 0 + c 0 = arctan0 = arctanx = n n + xn+ para x < n n + xn+ + c P n x n = n P x n n = n + xn+ + c Calcular desenvolvimentos em série de potências de x de a n n + 0n+ + c = 0 + c n n + xn+ para x < x b Uma maneira de definir a função exponencial é: e x := 3 n! xn x x

que faz sentido para todo o x real, ou melhor, como a série em questão converge para todo o número real x então define um função de domínio R. A essa função de x chamamos exponencial de x. Recordemos a propósito que, se existe o limite lim a n n a n+ chamemos-lhe R então a série de potências a n x a n n=p converge absolutamente para todo o x em ] a R, a + R [ e diverge para todo o x em ], a R [ ] a + R, [ ; a convergência em x = ±R tem que ser averiguada para cada caso específico de a n. Nesta abordagem informal, introduzamos ix na definição acima de exponencial onde i = : Notando que e ix = n! ixn i 0 =, i = i, i =, i 3 = i, i 4 =, i 5 = i, i 6 =, i 7 = i, então para n par, isto é, para n = k, para algum k inteiro, i n = i k = k enquanto que para n ímpar, isto é, para n = k +, para algum k inteiro, i n = i k+ = k i Assim, e relembrando que vem e e ix = n! ixn = k=0 k k! xk + i e ix = cosx + i sinx cosx = sinx = k=0 k=0 k=0 k k! xk k k +! xk+ k k +! xk+ Séries de Taylor Dada uma função indefinidamente diferenciável num certo ponto a interior ao seu domínio isto é, existe e é finita a derivada de qualquer ordem de f em x = a, f n a podemos sempre escrever a sua série de Taylor relativa a a: f n a x a n n! Qual a relação entre esta série de Taylor e a função f que usámos para calcular os coeficientes da série? Na primeira secção procurou-se mostrar entre outras coisas que funções transcendentes no caso, exponencial, seno, coseno, logaritmo e arco de tangente podem ser expressas como séries de potências pelo 4

menos nalguns subconjuntos do seu domínio e recordou-se que as séries de potências são diferenciáveis e integráveis termo a termo evidenciando assim a importância de poder exprimir uma função à custa de uma série de potências. Retomando o assunto em discussão, seria desejável que a série de Taylor convergisse para a função que lhe deu origem, pelo menos nalguma vizinhança de a. Comecemos por definir Definição. Uma função f : D R R diz-se analítica num ponto a de D se é igual a uma série de potências de x a nalguma vizinhaça de a, isto é, se fx = c n x a n para x próximo de a Assim, e sabendo que uma série de potências pode ser diferenciada termo a termo no interior do seu intervalo de convergência, os c n s são as n-ésimas derivadas de f em a multiplicadas por n!: f a = c 0 + c n x a x=a n = 0 + c n x a n x=a = c n nx a n x=a = Exercício. = c + n= n= c n na a n = c + 0 = c n= Calcule f a, f 3 a, f 4 a e f n a. Portanto, funções analíticas num ponto a são indefinidamente diferenciáveis em a. A pergunta que fizémos acima pode agora reformular-se da seguinte maneira: Será que todas as funções indefinidamente diferenciáveis num ponto a são analíticas em a? A resposta é não, nem todas, como o seguinte exemplo ilustra, Exemplo. Seja fx = {e x, x 0 0, x = 0 Esta função é indefinidamente diferenciável em qualquer x, com todas as derivadas nulas em x = 0, isto é, f n 0 = 0 qualquer que seja o n. A sua série de Taylor em torno de 0 série de Mac-Laurin será então a série idênticamente nula: 0 x n = 0 = 0 Por outro lado, fx só é nula em x = 0, donde a série de Mac-Laurin de f não converge para a função em nenhuma vizinhança de 0. Como reconhecer as funções indefinidamente diferenciáveis num ponto a que são analíticas nesse ponto a? O seguinte resultado dá-nos um critério para as distinguir: Teorema. Seja f indefinidamente diferenciável numa vizinhança de um ponto a. Se existirem um número real M e uma vizinhança V ɛ a tais que, para cada x V ɛ a e para cada inteiro positivo n se tenha f n x M então f é igual à sua série de Taylor em torno de a para todo o x V ɛ a: fx = f n a x a n n! n= 5

Dem. Omitida ver livro do Prof. Campos Ferreira Mais prosaicamente, se uma função indefinidamente diferenciável tem todas as suas derivadas globalmente limitadas nalguma vizinhança de a, então, nessa vizinhança de a, a função é igual a sua série de Taylor. Exemplo. As funções indefinidamente diferenciáveis sinx e cosx são tais que as suas derivadas são sempre um das seguintes funções: sinx, cosx, sinx ou cosx. Assim os módulos de tais funções, sinx e cosx, são limitados por, qualquer que seja o x, 3 Fórmula de Taylor sinx, cosx qualquer que seja o x em R...e se f não for indefinidamente diferenciável em a? Isto é, se f só admitir n derivadas no ponto a? Então vale a fórmula de Taylor fx = fa + x af a + onde r n x é uma função de x tal que Observação 3. x a f a + lim x a3 f a + + 3! r n x x a n = 0 Se a = 0, a fórmula correspondente chama-se fórmula de Mac-Laurin. Observação 3. x an f n a + r n x n! As funções, como o resto de ordem n, r n x, que, quando divididas por outra função e tomando o limite quando x tende para um certo a se obtem 0, têm uma designação especial: fx = o gx, x a leia-se fx é ó pequeno de gx quando x tende para a def. fx lim gx = 0 Assim, podemos escrever r n x = o x a n, x a 3. Fórmula de Taylor com resto de Lagrange Se f for n + vezes diferenciável em a tem-se a seguinte fórmula para o resto conhecida por fórmula do resto de Lagrange: r n x = f n+ ξ x an+ n +! com ξ estritamente entre x e a. Assim a fórmula de Taylor fica: fx = fa+x af a+ com ξ estritamente entre x e a. x a f a+ x a3 f a+ + 3! x an f n a+ f n+ ξ n! n +! x an+ 6

3.. Exemplo de aplicação Suponhamos que queremos calcular 99 com um erro de menos de três casas decimais: 99 = 00 = 00 = 0 00 00 Assim, fica evidenciado que pretendemos calcular a função fx = 0 + x no ponto x = 00. Por outro lado, fórmula de Taylor para f em a = 0: 00 é um número bastante pequeno, quase zero. Então usamos a fx = 0 + x; f0 = 0 + 0 = 0 f x = 0 + x = 0 + x = 5 + x ; f 0 = 5 f x = 5 + x = 5 + x 3 5 = ; f ξ = 5 + x 3 + ξ 3 Então, aplicando a fórmula de Taylor de grau com resto de Lagrange de grau dois tem-se: 0 + x = 0 + 5x + 5 +ξ 3! x = 0 + 5x 5 4 + ξ 3 x donde, com erro: 0 + x 0 + 5x 99 = 0 00 0 + 5x x= 00 x= 00 = 5 4 + ξ 3 5 4 00 3 = 0 5 00 = 0 0 = 99 0 = 9.95 x x= 00 00 = 5 4 que é, portanto, um erro inferior a 0 3, como pretendíamos. 3. Fórmula de Taylor com resto de Peano 0 < ξ < 00 00 99 3 0 4 5 4 0 4 =.0005 Se f for, mais uma vez, n + vezes diferenciável em a tem-se a seguinte fórmula para o resto conhecida por fórmula do resto de Peano: r n x = x an+ f n+ a + α n x n +! onde α n x é uma função de x tal que: lim α nx = 0 7

3.. Aplicação: Estudo de Extremos Se f é uma função diferenciável, os pontos de estacionaridade, isto é, os pontos x aonde f x = 0, são um ponto de partida para o estudo dos extremos de f Suponhamos que f é duas vezes diferenciável em a e f a = 0. Então a fórmula de Taylor aplicada a f no ponto a com resto de Peano é: fx = fa + x af a + x a f a + α x = fa + x a f a + α x já que f a = 0 e portanto x a fx fa = f a + α x Se f tem um extremo local em a, então fx fa tem sinal constante nalguma vizinhança de a porque ou fx fa mínimo local ou fx fa máximo local, nalguma vizinhança de a. Pretendemos, então, conhecer o sinal de fx fa, numa vizinhança de a. Isso vai-nos ser facilitado pelo conhecimento do sinal de f a, dada a igualdade acima. De facto, já que x a 0 então o sinal de fx fa é dado por f a + α x. Suponhamos então que f a 0. Como lim α x = 0 então por definição de limite, para todo o ɛ > 0 existe δ > 0 tal que, sempre que x V δ a α x 0 < ɛ, ou seja α x < ɛ. Com ɛ = f a > 0, existirá então δ > 0 tal que para todo o x f a δ a, α x < f a e portanto o sinal de f a + α x é o sinal de f a, nessa vizinhança. Então se f a > 0 o sinal de fx fa é positivo e portanto ocorre um mínimo em x = a; se f a < 0 o sinal de fx fa é negativo e portanto ocorre um máximo em x = a. Se f a = 0 usamos a fórmula de Taylor de ordem dois: fx = fa+x af a+ x a f a+ x a3 3! f a+α x = fa+ x a3 f a+α x 3! Mais uma vez, queremos saber o sinal de fx fa junto a a. Comecemos por supor que f a 0. Tem-se: x a3 fx fa = f a + α x 3! mas como x a 3 muda de sinal quando x passa por a, então f não tem extremo em a. Se f a = 0, então utilizar-se-ia a fórmula de Taylor de ordem 3 e assim por diante. Enunciamos então o seguinte: Teorema 3. Seja f n vezes diferenciável em a com n e tal que 0 = f a = f a = = f n a e f n a 0 i Se n é par, fa é máximo local se f n a < 0 e é mínimo local se f n a > 0 ii Se n é ímpar, f não tem extremo local em a Dem. A fórmula de Taylor de ordem n para f em a com resto de Peano é: x an fx = fa + f n a + α n x n! Se n é par, então x a n 0 e argumentando como acima concluímos que ocorre máximo em a se f n a < 0 e mínimo se f n a > 0. Analogamente para n ímpar. Quanto à concavidade de uma função diferenciável num ponto a, a análise que se faz é analoga a que acabámos de fazer. Queremos agora é estudar o sinal da função fx gx, onde gx = fa + x af a. O facto de o sinal da função fx gx ser negativo, pelo menos numa vizinhança de a, diz-nos que a função f está, nessa vizinhança, sempre abaixo da tangente no ponto a concavidade voltada para baixo côncava; ver exemplo na figura e no caso de ser positivo, que a função está acima da tangente no ponto a concavidade voltada para cima; convexa. Temos então: Teorema 3. Seja f n vezes diferenciável em a com n e tal que 0 = f a = f a = = f n a e f n a 0 i Se n é par, f é côncava em a se f n a < 0 e é convexa em a se f n a > 0 ii Se n é ímpar, f tem ponto de inflexão em a Dem. Omitida. 8

y gx = fa + f ax a fx PSfrag replacements c x Figure : f diferenciável em c e a tangente ao gráfico de f em a. 4 Outra maneira de definir derivada Dada f diferenciável num ponto a, podemos escrever a sua fórmula de Taylor de ordem relativamente a esse ponto a: fx = fa + f r x a x a + r x com lim x a = 0 Suponhamos agora que, dada uma função f definida numa vizinhança de a, existe um número real γ e uma função r x tal que Então e portanto fx = fa + γ x a + r x fx fa = γ x a + r x fx fa x a fx fa lim = lim γ + r x x a x a com lim r x x a = 0 = γ x a + r x x a = γ + lim r x x a = γ + 0 = γ = γ + r x x a ou seja f é diferenciável em a com f a = γ. Provámos então que f é diferenciável em a é equivalente a dizer que existe um número real, chamemoslhe γ, e uma função r x, tal que Reescrevendo esta expressão na forma fx = fa + γ x a + r x com lim r x x a = 0 fx fa = γ x a + r x com lim r x x a = 0 podemos dizer desta função que fx fa é aproximadamente linear em x a: fx fa γ x a 9

e que essa aproximação é tanto melhor quanto mais próximo de a x estiver - já que r x tende para zero mais rapidamente que x a quando x tende para a. Doutra forma ainda, a distância de fx a fa é, aproximadamente, uma função linear da distância de x a a. Seguidamente, neste curso, estudaremos funções de várias variáveis, em particular funções reais de várias variáveis reais, por exemplo, fx, y = x + y para todo o x e y reais O que significará diferenciável num ponto a, b para uma função deste tipo? Note-se que NÃO vai ser possível calcular fx, y fa, b lim x,y a,b x, y a, b pois desde logo NÃO está definida um operação de divisão nestes conjuntos. Como vimos atrás, havia já em R uma outra maneira equivalente de definir derivada num ponto. Seria aqui dizer que a distância de fx, y a fa, b é, aproximadamente, uma função linear da distância de x, y a a, b. É, de facto, esta a maneira que usaremos para definir derivada num ponto para estas novas funções, como veremos adiante. 0