A CONTABILIDADE DOS DERIVADOS



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A CONTABILIDADE DOS DERIVADOS José Tomé (equip. Professor Adjunto) Sndr Rebelo (equip. Assistente do 1º triénio) Resumo Vivemos num mbiente em constnte mutção em que é imprescindível tomd rápid e tempestiv de decisões, s quis serão fcilitds se informção necessári relevr fielmente relidde presente. É este problem plicdo os instrumentos derivdos que trzemos à liç. Porque não existe ind um modelo consensul de relevção dos mesmos, é imperioso reflectir sobre s teoris existentes com o objectivo de contribuir pr formulção de um critério que se mostre dequdo às necessiddes dos utentes d informção. Neste sentido pretende-se fzer um bordgem d problemátic d contbilizção dos instrumentos derivdos, com especil destque pr futuros e opções, centrndo tenção n discussão ds principis questões colocds pelo seu trtmento contbilístico critérios vlorimétricos, fecho de posições, tipo de ctução (especulção vs hedging), rbitrgem, trtmento de grntis e de comissões. 1. Introdução A inovção finnceir constitui um ds preocupções centris dos governos dos estdos modernos. que usm como motor de propulsão do desenvolvimento e crescimento do seu tecido empresril, potencido pelo umento contínuo do número dos seus prticipntes, instituições finnceirs, empress não finnceirs e muito especilmente os ciddãos que, dispondo de excedentes, cnlizm pr o mercdo os fundos cuj hrmonios fectção permite melhorr o desempenho ds empress e o bem-estr d sociedde. A introdução dos derivdos, instrumentos finnceiros cujo vlor depende do vlor de outros instrumentos mis básicos, foi um gigntesco slto em direcção o sucesso ds socieddes onde os mesmos são trnscciondos. Os prticipntes dos mercdos compreendem cd vez melhor o ppel dos derivdos como instrumentos d decisão estrtégic, fundmentlmente o nível, entre outrs, d protecção contr flutuções de preços, erosão monetári, voltilidde de txs de juro e de câmbio, incertezs ligds à comercilizção e distribuição de bens ou existênci de ssimetris n informção. Concomitntemente, ssiste-se à crescente desmterilizção dos títulos em que ssentm s operções relizds nos mercdos finnceiros (de que s opções e os futuros são expoente), cuj únic representção se reduz hoje à escriturção ou registo n contbilidde. A firmção do nosso pís no que respeit os novos mercdos de derivdos só é possível se ssentr num informção finnceir dequd e num bom enqudrmento 1

contbilístico e legisltivo. As prátics contbilístics em uso em Portugl, que ssentm nos princípios do custo histórico, d continuidde e d prudênci, têm que ser dequds os procedimentos seguidos noutros píses por form evitr contrdições que globlizção nturlmente rejeit. O presente trblho pretende constituir mis um elemento de reflexão sobre ess problemátic tnto mis que, pel su nturez e crcterístics, os derivdos exigem um contbilidde própri e proprid. As regrs contbilístics, s prátics e os princípios seguidos no nosso pís serão consistentes com s necessiddes de informção, com o seu rigor e clrez, com su dequção às prtics e à doutrin seguidos noutros qudrntes? Serão tmbém consentâneos com globlizção que exige de todos nós qued de brreirs e hrmonizção de comportmentos e ctuções? 2. Problemátic Envolvente d Contbilizção 2.1. Norms plicáveis 2.1.1. Norms Interncionis A existênci de mercdos estrngeiros de derivdos de dimensão preciável e de idde não negligenciável deve constituir um pólo de reflexão reltivmente à problemátic que vmos trtr. sendo vários os orgnismos interncionis de normlizção contbilístic que se encontrm debter o presente problem. Os trblhos mis consistentes e de mior profundidde são os relizdos pelo IASC (Interntionl Accounting Stndrds Committee), orgnismo britânico que congreg entiddes de 65 píses com poderes de normlizção e que tem vindo estudr desde 1991 o trtmento contbilístico dr os instrumentos finnceiros (incluindo os derivdos) e tmbém pelo FASB (Finncil Accounting Stndrd Bord), orgnismo de normlizção contbilístic dos EUA, pioneiro no domínio dos derivdos e que estud est problemátic desde 1984. Os orgnismos de normlizção contbilístic dos píses de mercdos de derivdos mis ctivos têm produzido igulmente norms pr uso interno. O IASC, cujo principl documento reltivo os derivdos é o E48 (Exposure Drft 48), opt clrmente pelo vlor justo 1 e pont pr o vlor de mercdo como su melhor expressão. Defende que o reconhecimento deve ser imedito, isto é, logo que ocorr lterção no vlor justo, excepto nos csos de cobertur de risco em que recorre o custo histórico. No entnto, o IASC tem já em fse dintd de preprção um documento mis ctulizdo, o Exposure Drft nº 62, que vi o encontro ds posições defendids pelo FASB no seu documento SFAS nº 133. 1 Vlor justo é, de cordo com o E48,...o montnte pelo qul um ctivo pode ser trocdo ou um responsbilidde liquidd, num trnscção entre prtes dotds de conhecimento e vontde pr tl. O conceito de vlor justo tmbém já hvi sido borddo em Portugl ns Directrizes contbilístics nº 1/91 e nº 13/93 e, embor nterior o trtmento de instrumentos derivdos, o conceito li expresso não se fst dquele defendido pel IASC. 2

O FASB, cujs norms são conhecids por SFAS (Sttement of Finncil Accounting Stndrds), produziu SFAS nº 133 Accounting for Derivtive Instruments nd Hedging Activities em que opt clrmente pelo vlor justo. O SFAS nº 133 preconiz contbilizção em qutro grupos de derivdos cobertur do justo vlor de ctivos e pssivos, cobertur de fluxos de tesourri, cobertur de diviss estrngeirs e derivdos pr negocição (especulção e rbitrgem). Neste documento o FASB recus liminrmente o LOCOM por o mesmo não tender posições especultivs. Igulmente nos píses d Europ preferênci vi nitidmente pr o vlor justo expresso pelo critério do vlor de mercdo. Um referênci finl vi, não só pr cotção utilizr e pr s crcterístics dos mercdos de derivdos, como tmbém pr s dificulddes normlmente pontds o critério do vlor de mercdo. O preço utilizr deve ser o correspondente à posição que o gente detém no mercdo no momento d negocição? Se estiver curto (vendedor) cotção deve corresponder à melhor ofert de compr e se estiver longo (comprdor) à melhor ofert de vend? Prece poder fcilmente concluir-se que, embor sej possível doptr este procedimento, o preço de referênci é clrmente preferido por ser mis simples e trnsprente e porque diferenç entre s cotções bid e sk são pouco significtivs em mercdos bstnte líquidos e trnsprentes. Os derivdos são trnscciondos em mercdos orgnizdos, muito ctivos e de enorme liquidez (vlição fcilitd) e ssentm no mrk-to-mrket, pelo que os muitos fluxos finnceiros têm que ser sempre contbilizdos. Por isso, enqunto dificuldde que costum ser pontd, o volume de trblho que este critério obrig não tem tnto significdo. 2.1.2. Norms Ncionis O início ds operções de negocição de instrumentos derivdos no nosso pís levou que fossem introduzids em Portugl lgums norms pr regulmentr contbilizção de contrtos de futuros e opções. O Bnco de Portugl fez publicr Instrução nº 109/96 (BNBP nº 2 de 15 de Julho) plicável os membros do mercdo e Comissão de Normlizção Contbilístic (CNC) publicou Directriz nº 17/97 pr ser plicd pels empress sujeits o regime gerl do Plno Oficil de Contbilidde. Como o nosso interesse é sobretudo empresril pens nlisremos qui s norms plicáveis às nosss empress, sendo de referir Directriz Contbilístic nº 17 produzid pel CNC com observânci de norms IASC (E48) 2 e SFAS Nº80 3 que se destin bsicmente os contrtos de futuros e revel um preocupção centrl de conceptulizção ds operções relizáveis sobre futuros prtir d qul são estbelecids prátics de contbilizção diferencids. 2 Cf. FASB SFAS Nº 80: Accounting for Futures Contrcts. EUA, 1984. 3 Cf. IASC Proposed IAS: Finncil Instruments Exposure Drft E48. Reino Unido 1994. 3

O enqudrmento dos intervenientes e os seus modos de ctução constituem o cerne ds preocupções d CNC que distingue entre cobertur e especulção incluindo, nest últim, s operções de rbitrgem. Com bse nest distinção pont pens dus soluções de trtmento: um, bsed no vlor de mercdo pr s operções de especulção e de rbitrgem e outr, ssente no custo histórico pr s de cobertur. O trtmento preconizdo pel DC nº17 foi o inicilmente defendido pelos orgnismos interncionis, ns norms trás descrits. Hoje em di, no entnto, os mesmos orgnismos já não defendem estes princípios. Considerm-nos incorrectos n medid em que, tendendo os conceitos de ctivo e pssivo, não se deve registr custos já relizdos no ctivo nem proveitos já relizdos no pssivo. A preocupção com identidde dos prticipntes reveld por est directriz releg pr plno secundário questões que deverim merecer outr tenção. É o cso do trtmento ds mrgens como títulos negociáveis, o que não corresponde, nem o objectivo d operção, nem à trnsprênci d informção, em termos ds posições de terceiros. Potenci-se ind o crcter subjectivo com que se definem s fronteirs d cobertur, não quntificndo correlção com que se pretende seprá-l d especulção, e deixndo à interpretção futur o lto gru de correlção com s lterções ocorrids no justo vlor ds posições que estejm ser coberts. Est últim questão lev-nos ind formulr um nov pergunt: frá sentido distinguir e trtr de form diferente s operções de cobertur? De fcto, um vez que os contrtos futuros gerlmente não tingem o seu termo (o fecho de posições ocorre quse sempre ntes do vencimento), que muitos deles não têm ctivo subjcente entregável e que lém disso encerrm risco de vrição d bse, risco de indivisibilidde e risco de correlção, cobertur está cd vez mis próxim d negocição (especulção e rbitrgem) e por isso su tipificção é cd vez mis difícil. A problemátic té qui bordd e modelizção d contbilizção de operções de futuros serão muito mis fcilmente compreendids pel utilizção de csos práticos, como os que mis dinte se propõem. 2.2. Critérios Vlorimétricos vs. Princípios Contbilísticos Os instrumentos finnceiros devem ser vlidos o justo vlor que pode ssumir forms diverss, desde o custo histórico, princípio consgrdo por vi legisltiv pr Portugl, té os mis modernos vlor de mercdo, LOCOM e DCF. Já nteriormente às preocupções crids pelos instrumentos derivdos se bordou e desenvolveu o conceito de justo vlor ns Directrizes Contbilístcs nº 1/91 e nº 13/93. Custo Histórico O critério do custo histórico, muito fmilir entre s prátics contbilístics ds empress, é de fácil plicção. Segundo este princípio os registos contbilísticos devem bser-se em custos de quisição ou de produção..., pelo que o mesmo relev o vlor dos ctivos ou pssivos tendo em considerção o vlor suportdo direct ou 4

indirectmente com su trnscção, encontrndo-se gerlmente bem documentdo. Ao não permitir lterções do vlor do instrumento derivdo o longo do tempo, este critério pode impedir que os resultdos de um decisão sejm relevdos no período em que mesm foi tomd. Este método não contempl o reconhecimento do vlor temporl do dinheiro, fstndo-se por isso de um bordgem finnceir consistente e não enviesd. Nos últimos nos tem vindo ser progressivmente substituído por outros critérios. Vlor de Mercdo Este critério permite vlir os instrumentos finnceiros, de cordo com mecnismos trnsprentes de formção de preços. O vlor de mercdo é o verificdo em mercdos orgnizdos e de mpl difusão de preços ou lterntivmente, n usênci de tis pressupostos, o preço que resultr d plicção de modelos de vlição credíveis e utilizdos de form generlizdmente reconhecid no pricing dquele tipo de instrumentos. Sendo um critério que pont pr o preço que, no momento é prticdo nos mercdos, fornece um bo bse de comprção, principlmente entre instrumentos similres e mesmo entre emitentes. Este critério permite correcções periódics o vlor dos instrumentos o contrário do que contece com o custo histórico. LOCOM (Lower of Cost or Mrket) Fce à voltilidde dos preços dos ctivos o longo do tempo, começou defender-se um critério intermédio entre o custo histórico e o vlor de mercdo, indo de encontro o princípio quer d especilizção dos exercícios quer d prudênci. Este critério utiliz o custo histórico ou o vlor de mercdo, dos dois o mis bixo. Assim, o vlor do instrumento finnceiro é verificdo periodicmente e só é corrigido se o vlor de mercdo for inferior o do custo histórico, vlorizndo-se ssim pelo vlor de mercdo. DCF (Discounted Csh Flow bsed ccounting) Segundo este critério o vlor dos derivdos obtém-se pel ctulizção dos rendimentos futuros esperdos. Trt-se de um critério pssível de plicção qundo se utiliz o vlor de mercdo. Este critério present lgums dificulddes. A escolh d (melhor) tx de desconto necessári pr ctulizção dos csh-flows é um dels. O número elevdo de fluxos de tesourri exigir cálculos de ctulizção é outr, pois pode tornr o critério pouco estável e prático. De um outro ângulo de nálise, o critério pode não considerr o risco de crédito (o que obrigri metodologis de correcção), menos que ele estej implicitmente considerdo (incorpordo) n tx de desconto utilizd. Apesr ds dificulddes pontds é cd vez mior o número dqueles que considerm ser este o critério que miores finiddes tem com o conceito do justo vlor. Do exposto é possível identificr em cd critério um conjunto de vntgens e desvntgens que resumimos no qudro I. A comprção dos critérios do vlor de mercdo e do LOCOM levnt um problem de reconhecimento de gnhos e perds. O critério do vlor de mercdo fvorece o reconhecimento dos resultdos origindos pels cotções dos instrumentos finnceiros, quer os mesmos sejm efectivmente 5

obtidos, quer sejm os resultdos potenciis, não dndo relevo o princípio d prudênci. O LOCOM não observ o mesmo trtmento. Se em relção os resultdos decorrentes do fecho de posições questão é pcífic, no que se refere posições ind não encerrds coloc-se o problem do reconhecimento dos gnhos e perds potenciis. Reltivmente posições encerrds, os gnhos ou perds form efectivmente relizdos e não há mis oportunidde de registr benefícios ou prejuízos decorrentes ds vrições de cotções. No entnto, pr s posições em berto s vrições futurs de cotções influencirão os resultdos (são voláteis) fzendo-os umentr ou diminuir, isto é, gerndo perds e gnhos que, embor ind não relizdos, são efectivos. Assim, se vribilidde dos preços dos instrumentos finnceiros for negtiv, o princípio d prudênci lev o reconhecimento ds perds não relizds. Se for positiv, os gnhos não relizdos (ms efectivos) não serão objecto de reconhecimento imedito. Qudro I Critério Vlorimétrico Custo Histórico Vlor de Mercdo LOCOM Lower of cost or mrket DCF Discounted Csh-Flow bsed ccounting Vntgens É de simples de plicção Menores custos com pessol especilizdo; Está mundilmente divulgdo e prticdo; Permite estbilidde de lucros. Reflecte o vlor ctul tribuído pelo mercdo; É bse de comprção entre diferentes momentos e diferentes empress; Reflecte os resultdos ds decisões tomds. Efectu correcções periódics o vlor dos instrumentos; Act o princípio d prudênci, o relevr pens s perds ltentes ou potenciis; Consider o princípio d especilizção dos exercícios, o registr os resultdos só qundo relizdos. Consider os fluxos ocorrer o longo do tempo. Desvntgens Pode não reflectir os resultdos ds decisões no período em que são tomds; Não consider o vlor temporl dos fluxos; Permite mnipulr os resultdos; Ignor os gnhos e perds não relizdos. É de difícil e custos estimção; Origin resultdos voláteis; Não tende o princípio d prudênci. Exige um frequênci ds vlições diári e coincidente com o mrk-to-mrket. Conduz um periodicidde que deverá seguir os mesmos princípios do mrk-to-mrket (diário), pois o juste de gnhos e perds é feito num bse diári. É pouco opercionl qundo se ger um elevdo número de fluxos de tesourri; Apresent dificulddes de determinção segur d tx de ctulizção proprid; Não consider eventul existênci de risco de crédito; 6

3. EXEMPLOS PRÁTICOS Pr um melhor clrificção d problemátic existente no ctul modelo de contbilizção dos instrumentos derivdos, present-se em seguid, um exemplo sobre futuros de cções, vlidos vlor de mercdo. Imgine-se um empres investiu 9 400,00 Euros n vend de 5 contrtos de Futuros EDP 4, com seguinte especificção: Activo Subjcente Meses de Vencimento Último Di de Trnscção Di de Vencimento Form de Liquidção Preço de Referênci Mrgem Cotção Tick Size Tick Vlue Máxim Vrição de Cotção Horário de Negocição Fonte: BDP 100 cções d EDP, cotds n Bols de Vlores de Lisbo Mrço, Junho, Setembro, Dezembro Terceir Sext-feir do mês de vencimento Qutro dis úteis pós o Último Di de Negocição Físic Médi, ponderd pelo número de contrtos, dos preços dos últimos doze negócios 150,00 Euros Euros por cção 0,01 (1 cêntimos de Euros) por cção 1,00 Euro +/- 100 ticks 9h30m / 16h30m Txs suportr: Operção de Bols Liquidção Vencimento Roll-Over (por operção) Fonte: BDP 0,40 EUR 0,80 EUR 0,25 EUR A evolução dos preços de referênci do contrto de futuros EDP foi seguinte: Dt Fonte: os Autores Preço de Referênci 16/03 18,8 17/03 18,5 18/03 18,6 19/03 17,8 A su contbilizção poderá ssumir dois tipos de formtos de cordo com o tipo de operção que o investidor empreendeu. 4 Utiliz-se um exemplo sobre Futuros de cções pr exemplificr, de form mis fácil, o encerrmento do contrto, quer por reversão, quer por vencimento do mesmo, um vez que em Portugl só estes e os Futuros sobre obrigções possuem um ctivo subjcente tngível. 7

- Operção de cobertur (hedging) 5 Admit que o investidor possuí 500 cções d EDP e queri cobrir o risco d descid d cotção ds cções. Di 16/03 Tomd de posição Pel vend dos futuros nd temos registr contbilisticmente, quer tenhmos seguido um operção de cobertur, quer de especulção ou rbitrgem. Ess informção só deve ser relevd no Anexo o Blnço e Demonstrção de Resultdos, n not 48. Aqui devem ser divulgds s crcterístics dos futuros detidos, s operções de cobertur, o método de vlição globl do risco, os sldos ds conts 1581 Títulos negociáveis Instrumentos derivdos Mrgens em contrtos de futuros e 19581 Provisões pr plicções de tesourri Títulos negociáveis Instrumentos derivdos Mrgens em contrtos de futuros, entre outros. Abertur d cont mrgem A mrgem inicil previst é de 150 Euros. 15812 Títulos Negociáveis Instrumentos Derivdos Mrgens em contrtos de Futuros Em moed estrngeir 1 12.. Depósitos à ordem - Bnco X Abertur d cont mrgem... 150 Abertur de Posição Pel bertur de posição, o investidor terá de suportr dus txs, um de Operções em Bols (0,4 Euros) e outr de Roll-Over - por operção (0,25). 68 Custos e perds finnceirs 12.. Dep. à ordem Bnco X / 268 Outros devedores e credores 1 Pgmento de txs e comissões inerentes à trnscção... 0,65 Di 17/03 Há que proceder o juste diário de gnhos e perds, ddo que o preço spot desceu pr 18,5 euros, nest dt, pondo empres em situção de gnho 18,8 18,5 100 5. 150 12.. Dep. à ordem Bnco X /268 Outros devedores e credores 275 Acréscimos e Diferimentos Ajustes diários diferidos em contrto de futuros Ajuste diário de gnhos e perds... 150 5 São considerds Operções de Cobertur quels que possuem o intuito de minimizr um risco existente. Pr ests operções DC Nº 17 defende que os gnhos e perds diários devem ser registdos em créscimos e diferimentos e só qundo se eliminr o risco coberto é que se deve reconhecer os gnhos e perds em conts de Resultdos. Pr os orgnismos interncionis este procedimento já não é o mis correcto conforme se justificou no cpítulo 2. 8

Di 18/03 Nest dt há lugr um novo juste de gnhos e perds, ddo que o fecho d Bols os títulos tinhm um cotção spot de 18,6 (preço de referênci). A empres perde 50 euros, em relção o di nterior - 18,5 18,6 100 5 50 275 Acréscimos e Diferimentos Ajustes diários diferidos em contrto de futuros 12.. Dep. à ordem Bnco X /268 Outros devedores e credores Ajuste diário de gnhos e perds... 50 Di 19/03 Di 19/03 é o último di de trnscção destes contrtos, pelo que o investidor poderá deixr vencer o contrto ou fechr su posição trvés d reversão. Se fechr su posição, irá comprr 5 contrtos de Futuros EDP d mesm série, nulndo posição bert, sendo de registr os seguintes lnçmentos: Ajuste dos gnhos e perds diários 18,6 17,8 100 5 400 12.. Dep. à ordem Bnco X /268 Outros devedores e credores 275 Acréscimos e Diferimentos Ajustes diários diferidos em contrto de futuros Ajuste diário de gnhos e perds... 400 Fecho de Posição O fecho de posição é efectudo trvés d quisição de um posição simétric, pelo que o investidor terá de suportr, novmente, dus txs, um de Operções em Bols (0,4 Euros) e outr de Roll-Over - por operção (0,25). 68 Custos e perds finnceirs 12.. Dep. à ordem Bnco X / 268 Outros devedores e credores 1 Pgmento de txs e comissões inerentes à trnscção... 0,65 Anulção ds mrgens iniciis 12.. Depósitos à ordem - Bnco X 15812 Títulos Negociáveis Instrumentos Derivdos Mrgens em contrtos de Futuros Em moed estrngeir 1 Fecho d cont mrgem... 150 Reconhecimento de perds ou gnhos ( 150 50 400 500) 275 Acréscimos e Diferimentos Ajustes diários diferidos em contrtos de futuros 788 Proveitos e Gnhos Finnceiros 11 Reconhecimento de perds ou gnhos... 500 9

Di 25/03 Se deixr vencer o contrto, no di 19/03 efectu-se simplesmente o Ajuste de perds e gnhos diários e só no di 25/03 é que se registm s operções de Anulção ds mrgens iniciis e Reconhecimento de perds ou gnhos, neste di há ind registr entreg do ctivo bse, ou sej, s 500 cções do EDP. Entreg do ctivo subjcente 18,8 100 5 9.400 12... Dep. à Ordem 151... Títulos Negociáveis Acções do EDP Entreg ds cções EDP... 9.400 - Operções de especulção e rbitrgem 6 Qundo o investidor vis especulção ou rbitrgem, o contrto não tinge dt de vencimento, pelo que s operções contbilístics registr são idêntics às de um operção de cobertur que encerr su posição por reversão, à excepção dos justes diários de perds ou gnhos. Neste tipo de ctução s perds ou gnhos são imeditmente reconhecidos num bse diári n respectiv cont 68 - Custos ou Perds Finnceirs ou 78 - Proveitos e Gnhos Finnceiros. 4. CONCLUSÃO Os instrumentos finnceiros derivdos constituem um respost ctiv tod sede de inovção finnceir, tendo revoluciondo os mercdos de todo o mundo. Por tl rzão, s necessiddes de informção, cd vez mis necessáris pr tomd de decisões, vão crescendo, quer qunto à qulidde, quer no que concerne à quntidde, ssumindo novs e mis profunds exigêncis. A contbilidde é o espelho de todo este mr de necessiddes informtivs. Apesr d reconhecid necessidde de nov e mis proprid e trnsprente informção contbilidde ssistiu o enrizmento de determinds prátics e princípios que são de difícil mudnç ms que urge ultrpssr. Por isso se tornou imperioso discutir os princípios e celerr reflexão n busc de soluções e compromissos, que respondm às exigêncis d nov sociedde num perspectiv de mximizção, quer d stisfção dos gentes, quer d relção custo-benefício que enfrentm. Embor sem ter borddo o specto fiscl dest problemátic, segurmente não menos importnte que o or trtdo, espermos poder contribuir positivmente pr reflexão sempre desejável dests mtéris e deixr um port bert novs contribuições. 6 As Operções de especulção e rbitrgem tem em vist obtenção de um gnho, porém s primeirs diferem ds segunds, ddo que s mesms pretendem obtenção de um gnho prtir de um previsão de subid ou descid do preço futuro dos Activos Bse, enqunto que os segundos vism obtenção do gnho prtir de momentâneos desfsmentos ou inconsistêncis de preços entre mercdos ou segmentos de um mesmo mercdo. 10

Referêncis Bibliográfics Bnco de Portugl Instrução nº 109/96, BNBP nº 2, Julho 1996 Bndeir, Luís e Ferreir, José M. Contbilidde e Fisclidde de Futuros e Opções, Instituto Mercdo de Cpitis-BDP, 2ª edição, Porto 1998 Chicgo Bord of Options Exchnge Options Institute Textos de divulgção Chicgo Bord of Trde Textos de Divulgção CMVM Regulmento nº 96/14, Lisbo 1996 CNC Directriz Contbilístic nº 17, Lisbo, Mio 1996 FASB SFAS 80 Accounting for Futures Contrcts, London, August 1984 Grci, José L. C. - Anlisis contble de los contrtos de futuros, ICAC, Mdrid, 1987. Hull, John C. Options, Futures nd Other Derivtives, Prentice Hll Inc., NY 1997 IASC Exposure Drft 48 Finncil Instruments, 1994 Instituto Mercdo de Cpitis BDP Contrtos de Futuros Avlição e Estrtégis de Intervenção, 2ª edição, Porto 1995. Tomé, José Mercdos Finnceiros Teori e Prátic, Ed. CILIA Centro de Formção,Ld, ABF 1999. Vlderrm, J. L. S. et ll - Problems contbles de los nuevos instrumentos finncieros: opciones, futuros y swps, ICAC, Mdrid, 1993. 11