SEGUNDA TURMA RECURSAL Juizados Especiais Federais Seção Judiciária do Paraná



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Na data designada, foi aberta audiência inaugural, a reclamada apresentou sua defesa, anexando procuração e documentos. Alçada fixada.

Transcrição:

Processo n.º: 2009.70.51.002294-1 Relatora: Juíza Federal Andréia Castro Dias Recorrente/Recorrido: IRACI CONCEIçãO COELHO SATORATO Recorrido/recorrente: CEF VOTO Dispensado o relatório, nos termos dos artigos 38 e 46 da Lei nº 9.099/95, combinado com o artigo 1º da Lei nº 10.259/2001. Trata-se de recurso DE AMBAS AS PARTES contra sentença que julgou PROCEDENTE o pedido formulado na inicial, para o fim de CONDENAR a Caixa Econômica Federal a pagar ao autor, a título de dano moral, equivalente a R$1.000,00 (mil reais), acrescidos de correção monetária e juros de mora nos termos da fundamentação, observado o Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos da Justiça Federal, aprovado pelo Conselho da Justiça Federal. Insurge-se a CEF, postulando pela reforma da sentença, em face da inexistência dos pressupostos de responsabilização civil por abalo moral. Por sua vez, o pólo ativo pretende a majoração do valor arbitrado

como indenização por danos morais. Fundamentação Pois bem, do exame dos autos tenho que a razão se encontra com a CEF, consoante passo a expor. A responsabilidade civil possui, em síntese, dois objetivos primordiais: o caráter pedagógico e preventivo, e a condição de meio pelo qual se postula o ressarcimento decorrente de algum ato ou fato que lesionou a vítima. Para que ocorra a responsabilização civil, consoante se extrai da nova lei substantiva civil, artigo 186, tanto com relação a dano material, quanto moral, que são independentes, imperiosa a existência concomitante dos seguintes pressupostos: a) conduta (ato humano, comissivo ou omissivo, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do ofendido); b) ilícito; c) culpa (lato senso); d) dano (material, moral, estético); e) nexo causal que ligue a conduta ao dano. Impende destacar, outrossim, quando se fala em responsabilidade civil, o Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90, que foi editado para proteger o consumidor, normalmente vulnerável na relação jurídica de direito material (princípio da vulnerabilidade), obrigando o fornecedor do serviço/produto à reparação dos danos que de sua prestação decorram. No entanto, ao contrário do Código Civil, a

responsabilização pelos danos, em regra, é objetiva, prescindindo a análise da culpa. A propósito, o artigo 14 do CDC consagra esse entendimento. ART.14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. 1º O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. 3º O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.(grifei) Por sua vez, no que pertine às atividades bancárias, encontram-se dentre aquelas em que o CDC elenca como prestação de serviços ao consumidor, do que se constata do artigo 3, parágrafo 2, a seguir transcrito; matéria, aliás, objeto da Súmula 297 do STJ. Como a discussão gira em torno de má execução de um serviço bancário contratado pela parte autora como destinatária final, entendo que a responsabilização civil em tela encontra supedâneo no CDC, devendo, pois, ser comprovada a existência de conduta, dano (material, moral) e nexo causal.

Quanto ao dano moral, recorda-se que desde a nova ordem constitucional instaurada com a Constituição Federal de 1988, a responsabilização por dano moral teve consagração definitiva no ordenamento jurídico brasileiro. Anteriormente, muitas discussões pairavam sobre a matéria, o que, paulatinamente, foi sendo dirimido pela doutrina e a jurisprudência, inclusive através de enunciados sumulares sobre o tema. A sede constitucional da indenização por dano moral encontra-se no artigo 5, incisos V e X, previsão essa considerada cláusula pétrea, visto que inserida no rol dos direitos e garantias fundamentais dos indivíduos. A doutrina de um modo geral caracteriza o dano moral como abalo aos direitos da personalidade, que trazem um menoscabo à dignidade da pessoa, seja física ou jurídica. Pois bem, no caso dos autos, o pólo ativo afirma que compareceu a uma agência da CEF em Arapongas em 07/08/08, a fim de retirar um cheque devolvido, serviço que demandaria o atendimento por caixa convencional. Sustenta que para ser atendida retirou uma senha, de nº 538, a qual foi emitida às 10 horas e 17 minutos, sendo que o atendimento efetivamente ocorreu apenas às 11 horas e 8 minutos, ou seja, após ter permanecido 51 minutos no interior da agência até que fosse atendida, motivo pelo qual se sentiu abalada e postulou a responsabilização da ré pelo abalo moral sofrido. Primeiramente frise-se que ainda que o Município possa legislar, na forma do artigo 30, inciso I da CF/88 (assunto de interesse local), sobre o tempo de permanência máximo que os consumidores podem

esperar em fila bancária para serem atendidos, o que foi referendado pelo STF, por exemplo, no julgado a seguir colacionado, disso não decorre automática responsabilização da instituição financeira por abalo moral. CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA. AGÊNCIAS BANCÁRIAS. TEMPO DE ATENDIMENTO AO PÚBLICO. LEI MUNICIPAL. INTERESSE LOCAL. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. O Município tem competência para legislar sobre o tempo de atendimento ao público nas agências bancárias (AI nº 427.373/RS-AgR, 1ª Turma, Relatora a Ministra Cármen Lúcia, DJ de 9/2/07). Isso porque de modo algum o dano moral que enseja reparação pode ter sido provocado pela suposta vítima; até porque não é crível admitir que uma pessoa possa permitir a eclosão do dano quando detém reais e concretas condições de evitá-lo. Note-se que segundo consta nos autos o serviço que a autora pretendia obter da CEF necessitava de atendimento pelo caixa convencional. Contudo, tenho que o fato de esperar por 51 (cinqüenta e um) minutos numa fila bancária em horário inicial de expediente, no qual é sabido ser comum a formação filas e inerente eventual demora para atendimento não passa de dissabor que não se traduz com dano moral. Com efeito, se alguém chega num banco no quinto dia útil inicial do mês (07/08/2008 assim o era), quando normalmente há movimentação e circulação de pessoas, por abranger data limite de

pagamento de salários na grande maioria das empresas, além de pagamento de benefícios previdenciários, ainda mais no início do expediente (10h17min), e observa a existência de fila e escolhe esperar evidente que se coloca em situação de provável incômodo, porquanto inegável que o aguardo em filas não é nada prazeroso. Logo, tenho que o modo como agiu a parte autora nada mais foi do que se posicionar num situação de desconforto para, quiçá, buscar recompensa em demanda judicial. Infiro desta conduta a sua culpa exclusiva. Incidente na espécie, pois, o artigo 14, parágrafo 3º do CDC, que reza: O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Por outro lado, a simples e genérica alegação de abalo moral por esperar 51 minutos em fila bancária não pode ser entendida como suficiente à sua comprovação, visto que não se trata de dano in re ipsa; até porque, trata-se de instituição financeira que coloca à disposição do usuário cadeiras para esperar pelo atendimento com maior conforto, além de bebedouros e banheiro. Saliente-se, ainda, que para configuração do dano moral se exige a comprovação de abalo moral relevante, ou seja, que não seja aquele próprio dos aborrecimentos, frustrações e angústias corriqueiros de uma vida normal, devendo o suposto evento danoso ser refletido nas relações da vítima com o mundo exterior, de modo que se configurem situações de constrangimento, visto que o abalo moral não externado é impossível de

comprovação e quantificação. Neste sentido: "CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. ACÃO ORDINÁRIA. IMPROCEDÊNCIA. - A minuciosa análise dos fatos da causa, procedida pelo julgador "a quo" ao fundamentar o decisório atacado, convence da conclusão de que são inconsistentes e inverossímeis. - O dano moral não decorre pura e simplesmente do desconforto, da dor, do sofrimento ou de qualquer outra perturbação do bemestar que aflija o indivíduo em sua subjetividade. Exige, mais do que isso, projeção objetiva que se traduza, de modo concreto, em constrangimento, vexame, humilhação ou qualquer outra situação que implique a degradação do indivíduo no meio social. (TRF/4ª R, AC, processo nº 200370010082260/PR, Rel. Desembargador Valdemar Capeletti, DJU: 20/07/2005, p. 648)." RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. NOTIFICAÇÃO FEITA PELO ESTABELECIMENTO BANCÁRIO A CORRENTISTA, COMUNICANDO-LHE O INTENTO DE NÃO MAIS RENOVAR O CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO. EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO. MERO ABORRECIMENTO INSUSCETÍVEL DE EMBASAR O PLEITO DE REPARAÇÃO POR DANO MORAL. - Não há conduta ilícita quando o agente age no exercício regular de um direito. - Mero aborrecimento, dissabor, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral. Recurso especial conhecido e provido. (STJ - RESP 303396/PB - DJ: 24/02/2003, p. 238, Relator Min.

Barros Monteiro - sem negritos no original) Com efeito, admitindo-se indenizações na forma como pleiteada pela autora estaria o Poder Judiciário privilegiando a banalização do dano moral ao extremo a ponto de estimular o litígio no seio da sociedade, palco não comum de arranhões recíprocos e constantes contratempos. Conforme ensina Sérgio Cavalieri Filho: (...)só deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. (Programa de Responsabilidade Civil, 3ª edição, 2002, p. 89) É certo que a caracterização da existência ou não de dano moral é deveras subjetiva, mas deve-se ter em conta a necessidade de tolerância de algumas ocorrências. E situações como a que motivou a pretensão da autora não fazem com que a pessoa sinta-se desacreditada ou envergonhada frente aos demais, atingida em sua honra. Nesses termos, impende a improcedência do pedido em foco. Conclusão

Em razão do exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO da parte autora e DAR PROVIMENTO AO RECURSO DA CEF, para reformar a sentença e julgar improcedente o pedido. À luz do artigo 55, da Lei nº 9.099/95, condeno o pólo ativo ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor da causa, com fundamento no artigo 20, parágrafo 4º do CPC. Suspendo, contudo, a exigibilidade dessas verbas, visto que litiga ao abrigo do benefício da assistência judiciária gratuita. Considero prequestionados especificamente todos os dispositivos legais e constitucionais invocados na inicial, contestação, razões e contra-razões de recurso, porquanto a fundamentação ora exarada não viola qualquer dos dispositivos da legislação federal ou a Constituição da República levantados em tais peças processuais. Desde já fica sinalizado que o manejo de embargos para prequestionamento ficarão sujeitos à multa, nos termos da legislação de regência da matéria. Curitiba, 31 de agosto de 2010 Andréia Castro Dias, Juíza Federal Relatora.