2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ

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1 2ª TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ Processo nº Relatora: Juíza Federal Andréia Castro Dias Recorrente: CLAUDIO LUIZ DA CUNHA Recorrida: UNIÃO FEDERAL (FAZENDA NACIONAL) V O T O Dispensado o relatório, nos termos dos artigos 38 e 46, da Lei nº 9.099/95, combinado com o artigo 1º, da Lei nº /2001. Trata-se de recurso interposto em face de sentença que julgou extinto o processo sem resolução do mérito, porque a parte não teria apresentado documentação comprobatória da base de cálculo do imposto de renda retido na fonte. Sustenta a parte autora, em síntese, ter comprovado o fato constitutivo de seu direito, sendo desnecessária a apresentação de nova declaração de ajuste, razão pela qual requer o provimento do recurso, para condenar a Requerida a restituir as quantias indevidamente retidas na fonte sobre as férias indenizadas e não gozadas (abono pecuniário), bastando para a comprovação do indébito sua retenção na fonte pagadora, de acordo com a planilha de cálculo apresentada na exordial, ou, ainda, a anulação da sentença ilíquida de primeiro grau, fim de determinar o valor devido da restituição. 1

2 Com contrarrazões, vieram conclusos a esta Turma Recursal. Após análise de toda documentação juntada aos autos, tenho que a sentença merece reforma, pelas razões que passo a expor. Tendo em vista a causa se encontrar madura, desde logo julgo a lide, nos termos do art. 515, 3º, do Código de Processo Civil. Inicialmente, cumpre salientar que a Fazenda não contesta o mérito quanto à não incidência do IRPF sobre verbas indenizatórias, tais como férias não gozadas e o respectivo terço constitucional. Tribunal de Justiça: Nesse sentido, inclusive, é o teor da súmula nº 386, do Superior São isentas de imposto de renda as indenizações de férias proporcionais e o respectivo adicional. Exsurge, portanto, a procedência da demanda, conforme, aliás, reconhecida pelo próprio Fisco. No que tange à necessidade de nova declaração de ajuste, a Turma Nacional de Uniformização já decidiu ser possível a repetição do indébito mediante requisição de pagamento, independentemente de sua apresentação, consoante ementa a seguir transcrita: TRIBUTÁRIO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. VERBAS INDENIZATÓRIAS. REPETIÇÃO DOS VALORES MEDIANTE RESTITUIÇÃO, VIA PRECATÓRIO, 2

3 INDEPENDENTE DE DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. POSSIBILIDADE. I - Na esteira do entendimento da jurisprudência dominante no Egrégio Superior Tribunal de Justiça, havendo o reconhecimento da ilegal retenção do imposto de renda, deverá ser autorizada a restituição das quantias correspondentes, na forma pleiteada pelo requerente, independente de apresentação de nova declaração anual de ajuste. II - Incidente de Uniformização conhecido e provido, para uniformizar a jurisprudência do Juizado Especial Federal no sentido do entendimento do STJ, determinando que, tendo sido reconhecida nos autos a ocorrência de ilegal retenção de imposto de renda, deve ser autorizada a restituição das quantias correspondentes, na forma pleiteada pelo autor, qual seja, a restituição mediante a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, independentemente de apresentação de nova declaração anual de ajuste. (TNU, Processo , Relator Juiz Federal Marcos Roberto Araújo dos Santos, DJU 31/08/2007) Ademais, no presente feito, encontra-se sobejamente demonstrada a retenção indevida do tributo, conforme contra-cheques anexados aos autos (evento 24, FINANC1). Caberia ao Fisco, no entanto, demonstrar ocorrência de eventual compensação por ocasião da declaração de ajuste do imposto de renda, ônus do qual não se desincumbiu. Uniformização: Nesse sentido é o seguinte posicionamento da Turma Nacional de TRIBUTÁRIO FÉRIAS INDENIZADAS NÃO INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA RESTITUIÇÃO DEMONSTRAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE RETENÇÃO DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO DE 3

4 DECLARAÇÃO DE AJUSTE COMPENSAÇÃO ÔNUS DA UNIÃO COMPROVAR INCIDENTE NÃO PROVIDO. 1) Na esteira do que preceitua o art. 333, I e II do CPC, cabe ao autor demonstrar o fato constitutivo de seu direito, e ao réu, a existência de fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do autor. 2) In casu, competiria à requerente demonstrar a existência de retenção do imposto de renda sobre suas férias indenizadas, e à União, caberia provar a ocorrência de eventual compensação por ocasião da declaração de ajuste do imposto de renda. 3) A juntada das declarações de ajuste, para fins de verificação de eventual compensação, não estabelece fato constitutivo do direito do autor, logo, não cabe a este a sua comprovação. 4) Pedido de Uniformização ao qual se nega provimento. (TNU, Processo , Relator Juiz Federal Ricarlos Almagro Vitoriano Cunha, DJU 13/05/2010) Nessa esteira, tendo em vista que a parte autora apresentou prova da retenção também em 2007, afigura-se possível a repetição do indébito igualmente em relação a esse ano. No entanto, destaco que até mesmo a fim de resguardar o contribuinte de eventual lançamento suplementar pela Fazenda, no caso de existir algum crédito da ré pela aplicação de alíquota diversa da efetivamente devida no final do período de apuração do imposto de renda, deverá a União ser intimada nos autos, antes da expedição da RPV ou do precatório, para apresentar os elementos que possua a fim de permitir a apuração do valor correto a ser restituído, tornando, assim, sepultada qualquer discussão a esse título. Justifica-se a abertura de oportunidade à Fazenda Pública para se manifestar antes de levar a cabo a execução da sentença ainda por outra razão. É que eventual abatimento da dívida pela declaração anual de ajuste implica modificação 4

5 da obrigação, ainda que parcialmente, a refletir no valor da condenação. Tanto é assim que se consolidou a jurisprudência, no STJ, no sentido de permitir, no processo tradicional, a discussão relativa ao montante do crédito, na fase de execução de sentença, com fundamento no art. 741, VI, do Código de Processo Civil, possibilitando à Fazenda invocar a compensação com valor apurado na declaração de ajuste anual. Assim: Processual civil e tributário Embargos à execução Imposto de renda sobre verbas indenizatórias Repetição de indébito Compensação com valores apurados na declaração anual de ajuste: possibilidade. A Primeira Seção desta Corte decidiu que é possível a compensação de valores de imposto de renda indevidamente retidos na fonte com valores apurados na declaração anual de ajuste, matéria que pode ser aventada em sede de embargos à execução, sem que isso afronte a coisa julgada ou a preclusão. (RESP Rel. Min. Eliana Calmon 2ª T do STJ DJ , p 1) É admissível, em embargos à execução, compensar os valores de imposto de renda retidos indevidamente na fonte com os valores restituídos apurados na declaração anual. (Súmula 394, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 23/09/2009, DJe 07/10/2009, REPDJe 21/10/2009) Conclusão Em razão do exposto, voto por DAR PROVIMENTO AO RECURSO DA PARTE AUTORA, para afastar a extinção sem mérito e condenar a União Federal a repetir o indébito referente à retenção do imposto de renda na 5

6 fonte incidente sobre férias indenizadas e respectivo terço constitucional (rubricas MC40 e MC42 dos comprovantes de pagamento), corrigidos monetariamente e com juros de mora calculados pela taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação de Custódia (SELIC), a partir da data do recolhimento indevido, nos termos da fundamentação. Sem fixação de condenação em honorários advocatícios, porquanto incabíveis na espécie (artigo 55 da Lei /95). Considero prequestionados especificamente todos os dispositivos legais e constitucionais invocados na inicial, contestação, razões e contrarrazões de recurso, porquanto a fundamentação ora exarada não viola qualquer dos dispositivos da legislação federal ou a Constituição da República levantados em tais peças processuais. Desde já fica sinalizado que o manejo de embargos para prequestionamento ficarão sujeitos à multa, nos termos da legislação de regência da matéria. Curitiba, Andréia Castro Dias, Juíza Federal Relatora. 6