Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Primeira Câmara Criminal

Transcrição

1 Juízo de origem: 37ª Vara Criminal da Comarca da Capital Embargante: Pither Honorio Gomes Advogado: Defensoria Pública Embargado: Ministério Público Presidente: Marcus Henrique Pinto Basílio Relatora: Des. Maria Sandra Kayat Direito EMENTA: EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE FURTO DE SINAL DE INTERNET ART. 155, 3º, DO CÓDIGO PENAL ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, NA FORMA DO ART. 397, INCISO III, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ACOLHIMENTO DA DIVERGÊNCIA DO VOTO VENCIDO CONDUTA ATÍPICA - ACÓRDÃO DA C. SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL QUE, POR MAIORIA DE VOTOS, DEU PROVIMENTO AO RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO, PARA REFORMAR A SENTENÇA E DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO PENAL - Divergiu o des. Siro Darlan de Oliveira que entendeu por negar provimento ao recurso do Ministério Público, mantendo-se a absolvição do embargante, na forma do inciso III do artigo 397 do Código de Processo Penal. Conforme se extrai dos autos, o embargante era cliente da empresa OI/Velox, tendo contratado os serviços de telefone e de sinal internet, pelos quais efetivamente pagava mensalmente. Contudo, o embargante redistribuía o sinal de internet adquirido para oito residências da comunidade Pavão- Pavãozinho, sendo que estes moradores, em tese, lhe pagavam a quantia de R$ 40,00. Assim, entendo que a conduta do embargante é atípica, pois em nenhum momento o embargante subtraiu o sinal de internet, pelo qual ele pagava mensalmente, mas sim estaria redistribuindo seu sinal para alguns vizinhos. Em princípio, a conduta do embargante poderia configurar no máximo o crime previsto no art. 183 da Lei 9472/1997 (Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação), sendo que a 1

2 competência seria da Justiça Federal para julgar e processar o feito. ACOLHIMENTO DOS EMBARGOS, PARA ABSOLVER O EMBARGANTE PITHER HONORIO GOMES, NA FORMA DO ART. 397, INCISO III, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ACORDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos dos Embargos Infringentes e de Nulidade nº , ACORDAM os Desembargadores que compõem a do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em sessão realizada em 10 de março de 2015, por unanimidade, em acolher os presentes embargos, para absolver o embargante Pither Honorio Gomes, na forma do art. 397, inciso III, do Código de Processo Penal, na forma do voto da Desembargadora-Relatora. VOTO O réu Pither Honorio Gomes foi denunciado como incurso nas penas do art. 155, 3º, do Código Penal. Narra a denúncia que (doc. 02): No dia 01 de julho de 2010, por volta das 10h30min, na Rua Saint Roman n 46, casa 03, Comunidade Pavão- Pavãozinho, Copacabana, o denunciado foi surpreendido por policiais militares, subtraindo, consciente e voluntariamente, sinal de internet. O denunciado há, aproximadamente, um ano, distribuía o sinal da Velox para oito residências da Comunidade Pavão-Pavãozinho, recebendo R$ 40,00 (quarenta reais) mensais de cada 2

3 usuário. Desta maneira, está o denunciado incurso nas penas do artigo 155 3º, do Código Penal. Na sentença de doc. 104, o MM. Juiz de Direito da 37ª Vara Criminal da Comarca da Capital absolveu sumariamente o embargante Pither Honorio Gomes quanto à acusação da de prática da conduta prevista no art. 155, 3º, do Código Penal, na forma do art. 397, inciso III, do Código de Processo Penal. 112). Insatisfeito, o Ministério Público recorreu da sentença (doc. Submetido a julgamento, a C. Sétima Câmara Criminal, por maioria de votos, deu provimento ao recurso do Ministério Público, para reformar a sentença e determinar o prosseguimento da ação penal perante o juiz tabelar, em observância ao princípio do livre convencimento motivado do julgador (docs. 153/154). Vencido o Des. Siro Darlan de Oliveira que entendeu por negar provimento ao recurso do Ministério Público, mantendo-se a absolvição de Pither Honório Gomes na forma do inciso III do artigo 397 do Código de Processo Penal (doc. 159). Pretende a defesa a reforma do acórdão impugnado, para que prevaleça o voto do douto Desembargador Siro Darlan de Oliveira. Data vênia do douto voto vencedor, o voto vencido merece prevalecer. Conforme se extrai dos autos, o embargante Pither Honorio era cliente da empresa OI/Velox, tendo contratado os serviços de telefone e de sinal internet, pelos quais pagava mensalmente (docs. 30/34). Contudo, Pither redistribuía o sinal de internet adquirido para oito residências da Comunidade Pavão-Pavãozinho, sendo que estes moradores, em tese, lhe pagavam a quantia de R$ 40,00. 3

4 Assim, entendo que a conduta do embargante é atípica, pois em nenhum momento o embargante subtraiu o sinal de internet, pelo qual ele efetivamente pagava mensalmente, mas sim estaria redistribuindo seu sinal para alguns vizinhos. Desta forma, a conduta do embargante não pode caracterizar o crime de furto, sendo a mesma atípica. Além disso, em princípio, a conduta do embargante poderia configurar no máximo o crime previsto no art. 183 da Lei 9472/1997. Art Desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação: Pena - detenção de dois a quatro anos, aumentada da metade se houver dano a terceiro, e multa de R$ ,00 (dez mil reais). Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, direta ou indiretamente, concorrer para o crime. Neste sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. EXPLORAÇÃO CLANDESTINA DE SINAL DE INTERNET VIA RÁDIO. CRIME, EM TESE, INSCULPIDO NO ART. 183 DA LEI 9.472/97. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Conforme a jurisprudência pacífica do Superior Tribunal de Justiça, a transmissão de sinal de internet via rádio constitui, em tese, o delito previsto no art. 183 da Lei n.º 9.472/97. Assim, estando perfeitamente descrita na denúncia a atividade de "distribuição comercial de internet sem fio, sem a competente concessão do Poder Público", acompanhada de elementos mínimos de convicção acerca da ocorrência do delito, mostra-se presente a justa causa para o exercício da ação penal. 2. "O fato de os equipamentos radiotransmissores terem baixa potência ou pequeno alcance é indiferente para a adequação típica da conduta" (HC 4

5 /BA, 5.ª Turma, Rel. Min. MARCO AURÉLIO BELLIZZE, DJe de 08/05/2012). 3. Decisão agravada que se mantém por seus próprios fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Resp /PB Agravo Regimental no Recurso Especial 2013/ Superior Tribunal de Justiça Quinta Turma - Minnistra Laurita Vaz Julgamento: 26/11/2013) Ademais, caso configurado o delito previsto no art. 183 da Lei 9472/1997, a competência seria da Justiça Federal para julgar e processar o feito. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. FURTO DE SINAL DE INTERNET. ART. 183 DA LEI N /1997. EXPLORAÇÃO DO SERVIÇO ATRIBUÍDO À UNIÃO. DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. STF. SÚMULA 7/STJ. 1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça considera que a conduta de transmitir sinal de internet, via rádio, de forma clandestina, caracteriza, em princípio, o delito descrito no art. 183 da Lei 9.472/ No caso, não ocorreu a suposta analogia in malam partem, pois a conduta atribuída ao réu - compartilhar sinal de internet, de forma clandestina - subsume-se, em princípio, ao delito descrito no art. 183 da Lei 9.472/1997, a afastar a alegada violação dos princípios da reserva legal e da legalidade. 3. Em se tratando de serviço cuja exploração é atribuída à União, nos termos do art. 21, XI, da Constituição Federal/1988, firmada está a competência da Justiça Federal para processar e julgar o mencionado delito. 4. Desconstituir a conclusão a que chegaram as instâncias ordinárias, na forma pretendida pelo réu - sob o fundamento de inexistência de provas robustas ou indícios suficientes acerca da materialidade do delito -, implica necessariamente incursão no conjunto probatório dos autos, revelando-se inadequada a análise da pretensão recursal em 5

6 função do óbice da Súmula 7/STJ. 5. A violação de preceitos, de dispositivos ou de princípios constitucionais revela-se quaestio afeta à competência do Supremo Tribunal Federal, provocado pela via do extraordinário; motivo pelo qual não se pode conhecer do recurso especial nesse aspecto, em função do disposto no art. 105, III, da Constituição Federal. 6. O agravo regimental não merece prosperar, porquanto as razões reunidas na insurgência são incapazes de infirmar o entendimento assentado na decisão agravada. 7. Agravo regimental improvido. (agrg NOS Edcl no Resp /DF Agravo Regimental nos Embargos de Declaração no Reucrso Especial 2012/ Superior Tribunal de Justiça Sexta Turma Ministro Sebastião Reis Júnior Julgammento: 21/03/2013) Por tais razões, voto no sentido de acolher os presentes embargos, para absolver o embargante Pither Honorio Gomes, na forma do art. 397, inciso III, do Código de Processo Penal, para fazer prevalecer os fundamentos do voto vencido. Rio de Janeiro, 10 de março de DES. MARIA SANDRA KAYAT DIREITO Relatora 6