PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 26ª CÂMARA CÍVEL/CONSUMIDOR Proc. nº APELAÇÃO CÍVEL CONSUMIDOR

Transcrição

1 RECURSO...: APELANTE (S)...: APELADO (S)...: JUÍZO DE ORIGEM.: JDS. DES. RELATOR: APELAÇÃO CÍVEL CONSUMIDOR BRUNO MACEDO BASTOS. BANCO SANTANDER BRASILO S/A. 3ª VARA CÍVEL DE PETRÓPOLIS. RICARDO ALBERTO PEREIRA. Ação de Obrigação de Fazer c/c dano moral. Débito em conta corrente referente ao pagamento de cartão de crédito, ensejando devolução de cheque. Sentença de improcedência. Reforma. Débito lançado em conta corrente relativo a fatura de cartão de crédito sem anuência da parte autora, que fora restituído. Parte ré que não apresenta o contrato celebrado com firma do autor que motivaria a licitude do desconto. Falha de serviço demonstrada. Ausência de necessária informação ao cliente. Determinação do banco réu em abster-se de prove novos descontos automáticos relativos ao cartão de credito contratado, sem a devida anuência do autor. Imposição de multa única de R$ 2.000,00. Dano moral configurado. Valor que se fixa com modicidade já que no momento em que se operou o debito reclamado, o autor possuía saldo negativo em sua conta, habilitando o banco réu a devolver o cheque diante da insuficiente de saldo para cobertura do cheque. Dano moral que se fixa no valor R$ 3.000,00 que bem atende ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade. Condenação ainda nos ônus sucumbências e honorários que fixa em 20% sobre o valor da condenação. Conhecimento e provimento do recurso. VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível no Processo , em que sendo Apelante BRUNO MACEDO BASTOS e Apelado BANCO SANTANDER BRASIL S/A. ACORDAM, por unanimidade de votos, os Desembargadores que compõem a Vigésima Sexta Câmara Cível / Consumidor do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em conhecer e dar provimento ao Recurso de Apelação da parte autora. Trata-se de ação de rito sumário entre as partes acima anunciadas, alegando a parte autora, em resumo, que possuindo conta corrente junto ao banco réu, em 17/02/2014 realizou deposito da importância de R$ 800,00, todavia, o réu, de forma indevida, sem qualquer autorização, realizou débito em sua conta em sua conta corrente relativa ao débito automático fatura de cartão, no valor R$ 91,60, ensejando a devolução de um cheque emitido no valor R$ Página 1 de 6

2 780,00, maculando seu nome junto a terceiros, ocasionando grandes transtornos; que após diversas reclamações, o réu restituiu o valor debitado ilicitamente (R$ 91,60). Pleiteia que o banco réu se abstenha de efetuar débito automático de fatura de cartão em conta corrente e indenização em dano moral. Decisão deferindo a gratuidade de justiça, designando audiência prevista no Artigo 277 do CPC e determinando a citação da parte contrária (índex 023). Realizada audiência, restando frustrada a conciliação (índex 027/028), houve apresentação de defesa que anterior ao débito automático retratado, a conta corrente já se encontrava com saldo devedor no valor R$ 429,34, ensejando a devolução do cheque devido ausência de provisão de fundos para cobertura do valor; que parte do valor do deposito indicado e realizado (R$ 800,00), foi debitado em conta para quitação da divida, restando saldo no valor R$ 2749,06; que inexiste qualquer ilícito praticado diante da existência de clausula contratual; que descabe qualquer ressarcimento a título de dano moral (índex 029). Sentença prolatada em audiência, com a seguinte fase dispositiva: Diante do exposto, julgo improcedentes os pedidos e condeno o autor a arcar com as custas judiciais e honorários advocatícios, que fixo em R$ 500,00, observado, contudo, o disposto no art. 12, da Lei 1060/50. (índex 028/029). A parte autora interpôs apelação aduzindo basicamente os argumentos trazidos na peça vestibular, ressaltando que sempre utilizou o serviço, efetuando pagamento de tarifa de adiantamento depositante, razão pela qual a compensação deveria ocorrer, pugnando ao final pela reforma da sentença, com procedência dos pedidos. (índex 072). Contra razões (índex 079). É o relatório. VOTO subjetivos. Deve ser conhecido o recurso interposto, eis que presentes os seus requisitos objetivos e Página 2 de 6

3 A relação jurídica retratada amolda-se ao arquétipo consumeirista, tal como traçado nos termos da Lei 9.078/90, devendo assim ser apreciado. Restou incontroverso que o autor/apelante mantém com o banco réu/apelado contrato de abertura de crédito em conta corrente. Trata de ação de obrigação de fazer c/c indenização ao argumento de que o autor teve debitado indevidamente de sua conta corrente, o valor da fatura do cartão de crédito sem a sua autorização, causando-lhe a diversos transtornos. No tocante a inserção no contrato de adesão de cláusula que autoriza o desconto na conta corrente de dívida vencida do cartão de crédito constitui abusividade, colocando o consumidor em desvantagem exagerada, favorecendo apenas o fornecedor que passa a deter o poder de receber o seu crédito de forma rápida e sem maiores formalidades. No caso em tela, restou demonstrada a falha na prestação do serviço pela instituição financeira, uma vez que, o réu não se desincumbiu do ônus que lhe competia, a teor do artigo 333, II do CPC, qual seja, de desconstituir o direito do autor, não tendo trazido documentação, tal como o contrato firmado entre as partes, que demonstrasse que de fato havia autorização do cliente, que legitimasse a conduta unilateral de efetuar o débito diretamente na conta corrente. Assim para que pudesse ser gerada a cobrança, seria necessária a informação adequada ao cliente no momento da contratação, hipótese esta afastada diante da ausência de comprovação de sua realização. É oportuno ressaltar, ainda, que o referido pacto está submetido às disposições da Lei 8.078/90, como anteriormente mencionado, atinente ao mercado de prestação de serviços médicos, conforme se extrai da interpretação do art. 35 da Lei 9.656/98. Frise-se, ainda, que o Código de Defesa do Consumidor, ao instituir os direitos básicos do consumidor, definiu no seu art. 6º, inciso III que: (...) III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (...) Página 3 de 6

4 Assim, o artigo precitado assegura ao consumidor a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, bem como sobre os riscos que apresentam. Portanto, no caso sub judice, há evidente desobediência ao dispositivo legal em comento, na medida em que as informações sobre o serviço que estava sendo contratado não foram prestadas de forma adequada. É o que aponta Rui Stoco em seu Tratado sobre Responsabilidade Civil: É de conhecimento geral que os arts. 8º e 12 do CDC obrigam os fornecedores, fabricantes e produtores a dar informações necessárias e adequadas a respeito dos riscos à saúde que os produtos colocados no mercado podem acarretar aos consumidores. E assim passo a ocorrer a partir do advento desse importante e fundamental estatuto protetivo do consumidor. Portanto, a partir de um certo momento histórico, de vício de informação não se poderá falar, considerando que atualmente há, por determinação legal expressa, maciça divulgação pela imprensa, em tom de advertência, e até mesmo estampada nos maços de cigarros acerca dos males que o produto pode causar. Portanto manifestamente demonstrada na hipótese em comento à responsabilidade objetiva, respaldada pela teoria do empreendimento, segundo a qual todo aquele que se disponha a exercer alguma atividade no campo do fornecimento e serviços tem o dever de responder pelos fatos e vícios resultantes do empreendimento, independentemente de culpa, deve a empresa ré assumir o ônus decorrente de sua conduta. De efeito, não havendo a prévia autorização do autor com relação ao denominado serviço, devem ser consideradas indevidas as cobranças, restando incontroverso que o banco réu restitui o valor debitado ilicitamente, devendo o réu abster-se de prover novos débitos automáticos alusivos ao cartão de credito também contratado. Quanto ao dano moral, constata se que a postura do Banco réu causou a parte autora transtornos que transcendem o mero aborrecimento, causando-lhe constrangimentos, eis que foi equiparado a um mau pagador, verificando-se, portanto, o direito à compensação pelo dano sofrido. Com referência ao quantum, entendo que no presente este deve ser fixado com modicidade, pois em que pese reconhecer a conduta ilícita do banco réu em prover débito relativo ao cartão em conta corrente, tal fato não operou a devolução do cheque, que de certo Página 4 de 6

5 maculou o nome do autor junto ao credor, pois na data do que operou o débito automático reclamado, a conta do autor, já possuía saldo devedor (índex 044). Assim, para a quantificação do valor a ser arbitrado a título de danos morais, em que pese não haver critérios objetivos para a sua fixação, doutrina e jurisprudência observam certos parâmetros, tais como, as peculiaridades do caso concreto, a capacidade econômica das partes, a extensão do dano e o caráter pedagógico e reparatório da medida. Neste sentido para atende aos princípios norteadores da fixação, o mesmo deve ser delimitado atendendo ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade e os entendimentos de que "Para se estipular o valor do dano moral devem ser consideradas as condições pessoais dos envolvidos, evitando-se que sejam desbordados os limites dos bons princípios e da igualdade que regem as relações de direito, para que não importe em um prêmio indevido ao ofendido, indo muito além da recompensa ao desconforto, ao desagrado, aos efeitos do gravame suportado." (STJ, REsp /RJ, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 05/12/2000, DJ 19/03/2001, p. 112), sendo certo que "O dano moral deve ser indenizado mediante a consideração das condições pessoais do ofendido e do ofensor, da intensidade do dolo ou grau de culpa e da gravidade dos efeitos a fim de que o resultado não seja insignificante, a estimular a prática do ato ilícito, nem o enriquecimento indevido da vítima." (STJ, REsp /PR, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 01/06/1999, DJ 08/03/2000, p. 124). Com base nesses elementos e considerando o que dos autos consta, fixo do dano moral no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), já que se mostra adequado par o caso em debate. Ante o exposto, conheço e dou provimento ao Recurso de Apelação da parte autora, para condenar o banco réu abster-se de efetuar descontos relativos ao cartão de crédito em conta corrente do autor, sem a devida e prévia autorização do demandante, sob pena de multa única de R$ 2.000,00, bem como para condenar ao pagamento de R$ 3.000,00 a título de dano moral, acrescidos de correção monetária contados da publicação deste Acórdão e juros da citação. Condenando ainda ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, que arbitro em vinte por cento (20%) sobre o valor da condenação. Página 5 de 6

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