CONSULENTE: CONSELHO DE REPRESENTANTES DA FECOMBUSTÍVEIS ATRAVÉS DO PRESIDENTE DO SINDICATO DO PARÁ, SR. OVÍDIO GASPARETTO PARECER
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- Alice Guimarães Dinis
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1 CONSULTA SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO POSTO DE COMBUSTÍVEIS POR ASSALTO A CLIENTE QUE SACOU DINHEIRO EM CAIXA ELETRÔNICO INSTALADO NA ÁREA DO EMPREENDIMENTO CONSULENTE: CONSELHO DE REPRESENTANTES DA FECOMBUSTÍVEIS ATRAVÉS DO PRESIDENTE DO SINDICATO DO PARÁ, SR. OVÍDIO GASPARETTO PARECER Desde logo, esclareço que não há uma uniformização da jurisprudência que permita assegurar se o posto é ou não responsável e por isso tem o dever de indenizar um cliente que venha a sofrer um assalto dentro da área do posto, ainda mais quando se tem a peculiaridade do saque em caixa eletrônico. Todavia, como será explanado, o entendimento que parece o mais adequado e que tem respaldo de julgado específico do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que em caso de evento roubo (quando há o furto de pertence mediante emprego de força ou grave ameaça o que na linguagem usual é chamado de assalto), por se tratar de algo inevitável, se aplica a excludente de responsabilidade civil decorrente de caso fortuito externo. A questão posta em consulta é bastante complexa e comporta entendimentos para os dois lados. Pode parecer ilógico e injusto com o revendedor que se uma pessoa venha a sofrer um assalto depois de sacar dinheiro em uma caixa eletrônico instalado na rua não tenha quem responsabilizar pelo ocorrido. Ao passo que se o caixa eletrônico estiver instalado na área do posto de combustíveis o cliente assaltado pudesse cobrar do posto o prejuízo sofrido. Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes Avenida Rio Branco, 103/13º andar Rio de Janeiro, RJ Telefone: (21) Fax: (21) Internet: Correio eletrônico: fecombustiveis@fecombustiveis.org.br
2 Todavia, infelizmente, parece claro que o judiciário vem transferindo para os agentes econômicos responsabilidades fundamentais do Estado, como é o caso da segurança. Nessa linha de raciocínio, algumas decisões judiciais condenam os postos a ressarcir danos materiais e até morais ao cliente que foi assaltado na área do empreendimento, tendo como fundamento legal o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe que o fornecedor de serviços responde, independentemente de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços. O entendimento seria de que ao oferecer estacionamento aos clientes, proporcionando comodidade e facilidade, o empresário capta sua confiança, fazendo com que este serviço constitua-se, na verdade, em uma alternativa a mais de atração à clientela. Entende-se que o preço pela guarda e segurança do veículo na área do estabelecimento comercial não é gratuito, pois caso não houvesse cobrança de estacionamento, ainda assim o preço estaria contabilizado no custo dos produtos comercializados e colocados à disposição dos clientes. Porém, mesmo que o entendimento acima estivesse correto, de qualquer forma o posto de combustíveis não detém meios de impedir a ocorrência de assaltos, o que o noticiário demonstra que ocorrem todos os dias em postos de combustíveis neste país. O cliente pode se sentir mais seguro indo em um caixa eletrônico instalado na área de um posto de combustíveis, mas sempre existirá risco de assaltos a qualquer hora do dia e da noite, seja em lugar aberto ou fechado, privado ou em área pública. O que varia é o grau do risco. O Código de Defesa do Consumidor dispõe que (artigo 14 1 ) O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais, o modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido. 2
3 Ora, se até em shopping centers, que são fechados e com controle de entrada e de saída de veículos, ocorrem assaltos. O que se dirá em relação aos postos de combustíveis que são abertos e onde não há controle de entrada e saída. Portanto, é um risco que razoavelmente se pode esperar a ocorrência de assaltos na área de um posto de combustíveis. O consumidor que optar em procurar um caixa eletrônico em um posto de combustíveis pode o fazer por diversos motivos, tais como a facilidade de estacionamento e a maior segurança. Todavia, sempre existirá o risco de assalto, razão pela qual a ocorrência desse tipo de crime não pode ser considerada como um serviço defeituoso por parte do posto de combustíveis. Cabe ainda afirmar que a responsabilidade do fornecedor em reparar os danos causados aos consumidores, em decorrência de defeitos no serviço prestado, é objetiva, consoante o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor, bastando para a sua configuração a ocorrência do ato ilícito, o dano sofrido pelo consumidor e o nexo causal. Referida responsabilidade, no entanto, é afastada, quando o dano decorrer de culpa exclusiva da vítima ou de terceiro (no caso o assaltante), nos termos do 3 do mesmo dis positivo legal. De outra banda, o entendimento que se mostra mais adequado e que deve(ria) prevalecer no judiciário está exposto em elucidativo julgado do Superior Tribunal de Justiça que define que tratando-se de postos de combustíveis, a ocorrência de delito (roubo) a clientes de tal estabelecimento, não traduz, em regra, evento inserido no âmbito da prestação específica do comerciante, cuidando-se de caso fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a exclusão de sua responsabilidade pelo lamentável incidente. Confira-se a ementa do acórdão: RECURSO ESPECIAL Nº SE (2011/ ) RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA RECORRENTE : FRANKLIN DE SOUZA ANDRADE E OUTRO 3
4 ADVOGADO : CAROLINE VALERIANO DA SILVA E OUTRO(S) RECORRIDO : POSTO SIQUEIRA CAMPOS I ADVOGADO : JOSÉ RAIMUNDO MOURA GONZAGA EMENTA RECURSO ESPECIAL - DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR - RESPONSABILIDADE CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - FORNECEDOR - DEVER DE SEGURANÇA - ARTIGO 14, CAPUT, DO CDC - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - POSTO DE COMBUSTÍVEIS - OCORRÊNCIA DE DELITO - ROUBO - CASO FORTUITO EXTERNO - EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE - INEXISTÊNCIA DO DEVER DE INDENIZAR - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. I - É dever do fornecedor oferecer aos seus consumidores a segurança na prestação de seus serviços, sob pena, inclusive, de responsabilidade objetiva, tal como estabelece, expressamente, o próprio artigo 14, "caput", do CDC. II - Contudo, tratando-se de postos de combustíveis, a ocorrência de delito (roubo) a clientes de tal estabelecimento, não traduz, em regra, evento inserido no âmbito da prestação específica do comerciante, cuidandose de caso fortuito externo, ensejando-se, por conseguinte, a exclusão de sua responsabilidade pelo lamentável incidente. III - O dever de segurança, a que se refere o 1º, do artigo 14, do CDC, diz respeito à qualidade do combustível, na segurança das instalações, bem como no correto abastecimento, atividades, portanto, próprias de um posto de combustíveis. IV - A prevenção de delitos é, em última análise, da autoridade pública competente. É, pois, dever do Estado, a proteção da sociedade, nos termos do que preconiza o artigo 144, da Constituição da República. V - Recurso especial improvido. Dessa forma, por se tratar de roubo ocorrido em posto de combustíveis, a situação se tipifica como de força maior ou caso fortuito externo, 4
5 motivo pelo qual é aplicável a excludente de responsabilidade do posto de combustíveis, porquanto seria IMPOSSÍVEL que o revendedor evitasse o roubo. Mesmo que houvesse um maior investimento em segurança, ainda assim na maioria das vezes é inevitável a ocorrência do crime. É um dever do Estado promover a segurança pública, não sendo razoável que o judiciário diante da ineficiência do poder público em garantir a segurança da sociedade venha a transferir para o empresário o dever de prevenir roubos, o que em última análise é impossível. Enfim, cada caso será julgado de acordo com provas produzidas e conforme o entendimento do julgador, sendo que circunstâncias como o efetivo investimento em segurança por meio de câmeras e presença de seguranças uniformizados podem demonstrar que o posto tomou as medidas preventivas possíveis. Por outro lado, a circunstância da cobrança de estacionamento pode pesar contra o posto. De toda a forma, o precedente jurisprudencial citado acima serve de alento ao revendedor, pois o Superior Tribunal de Justiça - STJ já julgou que o posto de combustíveis não deve responder pelos prejuízos causados a cliente que foi assaltado em seu estabelecimento. A conclusão é que em caso de roubo na área de postos de combustíveis não há que se falar em responsabilidade civil do revendedor, ante a ausência de obrigação legal de garantir a segurança, impossibilidade de impedir a ocorrência daquele tipo de delito, bem como pelo singelo fato de que a segurança pública é dever da Autoridade Pública, sendo injusto e sem base legal transferir os ônus de sua ineficiência para o ente privado. Porto Alegre, 17 de fevereiro de FELIPE KLEIN GOIDANICH OAB/RS (CONSULTOR JURÍDICO DA FECOMBUSTÍVEIS) 5
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