TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 35 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante/apelado JOSUÉ ALEXANDRE ALMEIDA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelado/apelante HYNOVE ODONTOLOGIA SÃO PAULO LTDA. ACORDAM, em 32ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "deram parcial provimento ao recurso do autor e negaram provimento ao recurso da ré. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores CAIO MARCELO MENDES DE OLIVEIRA (Presidente) e LUIS FERNANDO NISHI., 28 de janeiro de FRANCISCO OCCHIUTO JÚNIOR RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 36 COMARCA : SÃO PAULO - 3ª VARA CÍVEL F. REG. JABAQUARA JUIZ : DR. PAULO FURTADO DE OLIVEIRA FILHO APTES/APDOS: JOSUÉ ALEXANDRE ALMEIDA; HYNOVE ODONTOLOGIA SÃO PAULO LTDA. VOTO Nº Prestação de serviços odontológicos. Indenização. Tratamento dentário contratado pelo autor que fora alterado diversas vezes pela ré e resultou na extração indevida de dentes. Ação julgada parcialmente procedente. Danos morais fixados em R$12.000,00. Apelação do autor. Pedido de majoração dos danos materiais e morais. Restituição da integralidade do valor pago à ré. Cabimento. Valores gastos pelo autor para conclusão do tratamento com outro profissional que não comporta ressarcimento, vez que o beneficiou. Recurso parcialmente provido. Apelação da ré. Cerceamento de defesa afastado. Alegada ausência de conduta ilícita e de danos. Laudo pericial que concluiu pela má prestação de serviços. Mau planejamento do tratamento dentário do autor. Ré que deveria possuir técnica e profissional experiente para o fim de oferecer tratamento adequado ao autor. Extração indevida de dez dentes e transtornos à sua saúde que extrapolam o mero aborrecimento. Dano moral configurado. Valor mantido. Obediência aos Princípios da Proporcionalidade e Razoabilidade. Danos materiais também mantidos. Falta de comprovação dos lucros cessantes. Sentença parcialmente reformada. Recurso do autor parcialmente provido e improvido o da ré. Cuida-se de ação de indenização ajuizada por Josué Alexandre Almeida contra Hynove Odontologia Ltda., julgada parcialmente procedente pela r. sentença de fls. 234/235vº, para condenar a ré ao pagamento de danos materiais no importe de R$4.940,00, corrigidos desde o desembolso e acrescidos de juros de mora desde a citação, bem como danos morais fixados em R$12.000,00, corrigidos a partir da data da sentença e com juros de mora da citação. Inconformadas, as partes recorrem. O autor, fls. 243/254, busca a majoração da indenização fixada aos danos morais e à totalidade dos danos materiais mencionados na inicial, no total de 2/5

3 fls. 37 R$14.400,00. Requer, ainda, a majoração da verba honorária. A ré, fls. 255/272, alega, preliminarmente, cerceamento de defesa, tendo em vista as impugnações feitas, a tempo, em relação ao laudo pericial e que foram desconsideradas pela sentença. No mais, alega que realizou os procedimentos necessários ao autor, de acordo com o protocolo da área odontológica e com a anuência do requerente; houve descumprimento pelo autor dos procedimentos pósoperatórios; não houve falha na prestação de serviços; a rescisão é unilateral, o que faz incidir a multa contratual prevista; não houve dano moral. Pede a improcedência da ação e, alternativamente, a redução do valor da indenização. Contrarrazões do autor a fls. 284/292 e da ré a fls. 293/302. É o relatório do necessário. A discussão versa sobre alegados danos material e moral sofridos pelo autor, em decorrência da prestação de serviços odontológicos da ré. De início, afasto o alegado cerceamento de defesa. Isso porque a impugnação da ré não encontra amparo fático nos autos, tanto que foi afastada pela sentença. Como deixou consignado o d. sentenciante: O perito foi minucioso, objetivo e claro. Suas conclusões merecem integral acolhida. (fl. 234vº). Aduz a ré que o laudo pericial se mostrou tendencioso, e por ter sido feito de forma indireta, não demonstra a efetiva má prestação do serviço por ela realizado. Contudo, ao contrário do que alega, o laudo se baseou nos documentos apresentados para a perícia, e que também tinha em mãos a ré para dar início ao tratamento dentário do autor. Ademais, a perícia foi acompanhada de assistente técnico da requerida, de modo que não há nulidade alguma a ser reconhecida. No mais, inconsistentes as razões recursais da ré-apelante no sentido de que não houve comprovação da má prestação de serviços, ou ainda, dos danos noticiados na inicial. Restou comprovado nos autos que o autor procurou a ré para realizar tratamento dentário consistente na troca de prótese removível inferior por implantes dentários. Incontroverso que no início, a proposta da ré seria realizar implantes um a 3/5

4 fls. 38 um dos dentes faltantes do autor, para o fim de evitar o acúmulo de resíduos, mas no decorrer do tratamento, foi comunicado ao autor que não haveria espaço para implante dos dentes faltantes e que seria necessário extrair todos os dentes inferiores, para então, serem feitos os implantes. Em relação à extração dos dentes, após a análise minuciosa dos exames do autor, afirmou o perito: quanto às extrações dos dentes remanescentes do arco inferior cumpre ressaltar que a análise da radiografia panorâmica inicial (doc. 01) não evidencia essa indicação. (fl. 205). E concluiu que a condição clínica do autor deveria ter sido reconhecida na contratação dos serviços, haviam exames para isso. ; o Autor foi submetido à cirurgia para instalação de implantes cujo insucesso já era esperado. (...) Os dentes inferiores do autor foram extraídos sem estar condenados. (fl. 206). A ré, por sua vez, não trouxe aos autos qualquer prova robusta do acerto de seu procedimento, ônus que lhe competia a teor do que dispõe o artigo 333, II do CPC. Comprovada a má prestação de serviços, resta a análise dos danos. Em relação aos danos materiais, assiste razão em parte ao autor. No que pese o entendimento do d. sentenciante, são devidos os valores gastos pelo autor junto à ré (R$9.000,00). Contudo, bem afastado o valor despendido junto a outro profissional, pois, como bem salientado pelo d. Sentenciante, o serviço prestado pelo terceiro foi por ele aproveitado, razão pela qual não há que se falar em ressarcimento. O certo é que a despesa contratada junto á ré deve ser ressarcida em sua integralidade, já que não houve a prestação de serviços para o qual se obrigou. Também devida a despesa mencionada a fl. 42 (R$20,00). Em relação às demais despesas mencionadas na inicial, não houve a devida comprovação, de modo que incabível o pedido. No tocante aos danos morais, inafastável sua ocorrência. O autor procurou a ré para resolver seu problema odontológico e que interferia em sua mastigação; teve subtraído diversos dentes em BM estado, de modo desnecessário; teve complicações cirúrgicas que lhe causaram angústia e dores, por culpa da ré, situação que extrapola a seara contratual e invade os sentimentos, causando danos morais. 4/5

5 fls. 39 No que tange ao valor da indenização, não vejo razão para que seja alterado, pois guarda em si a devida proporção entre a lesão e a devida reparação. O arbitramento da indenização por dano moral deve ser feito com moderação, tendo em vista a natureza do dano, suas consequências na vida e nas condições econômicas das partes. Segundo a lição de Antonio Jeová Santos, "A indenização não pode servir de enriquecimento indevido para a vítima. Idêntico raciocínio é efetuado em relação ao detentor do comportamento ilícito. Uma indenização simbólica servirá de enriquecimento indevido ao ofensor que deixará de desembolsar quantia adequada, enriquecendo-se com o ato hostil e que desagradou, de alguma forma, algum ou quaisquer dos direitos da personalidade" (Dano Moral Indenizável, Editora Revista dos Tribunais, 4ª edição, pág. 199). Há, assim, que observar o princípio da lógica do razoável, ou seja, "importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma quantia que, de acordo com seu prudente arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e a duração do sofrimento experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem presentes" (cf. Sérgio Cavalieri Filho, "Responsabilidade Civil", pág. 116). Dessa forma, entendo razoável o pagamento de R$12.000,00, a título de danos morais, para servir de estímulo à ré para evitar novas ocorrências, bem como para reparar ao mínimo a dor sofrida pelo requerente. Por fim, tendo em vista a derrota mínima do autor, a verba honorária de sucumbência, fixada em 7% sobre o valor da condenação, merece majoração para 10% do valor da condenação. Por todo o exposto, dou parcial provimento ao recurso do autor e nego ao da ré. FRANCISCO OCCHIUTO JÚNIOR Relator 5/5