TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL

Transcrição

1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº AGRAVANTE: MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO AGRAVADO: JULIANA SILVA DE OLIVEIRA RELATOR: Des. EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO. FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONCURSO PÚBLICO. APROVAÇÃO. ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE CONSIDEROU A AUTORA INAPTA PARA O EXERCÍCIO DO MAGISTÉRIO, BASEADO EM LAUDO DA GERÊNCIA DE PERÍCIAS MÉDICAS DO MUNICÍPIO. INAPTIDÃO DA AUTORA POR APRESENTAR, AO EXAME VIDEOLARINGOSCÓPICO, ESPESSAMENTO MUCOSO EM TERÇO MÉDIO DE PREGAS VOCAIS, EVIDENCIANDO PATOLOGIA ESPECÍFICA COM REPERCUSSÃO EM SUA VOZ. A DISPENSA DO EXAME VINDICADA PELA AGRAVADA, POSTO QUE PREVISTA NO DECRETO MUNICIPAL Nº /2012, NÃO TEM O CONDÃO DE AFASTAR EVENTUAL EVIDÊNCIA DE IMPOSSIBILIDADE PARA O EXERCÍCIO DO CARGO. A LEGALIDADE OU NÃO DO ATO ADMINISTRATIVO QUESTIONADO É MATÉRIA DE MÉRITO NA DEMANDA DE ORIGEM, O QUE wass 1

2 EVIDENTEMENTE NÃO PODE SER APRECIADO NESTA SEDE DE COGNIÇÃO SUMÁRIA, SOB PENA DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. DECISÃO AGRAVADA SUPRIMIU UM ESTÁGIO DA INVESTIDURA PÚBLICA E DETERMINOU QUE FOSSE CONFERIDA POSSE À AUTORA SEM A NECESSÁRIA NOMEAÇÃO ANTERIOR. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. REFORMA EM PARTE DA R. DECISÃO IMPUGNADA, PARA DETERMINAR, EM SEDE DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, A RESERVA DE VAGA EM FAVOR DA AUTORA. Vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento nº em que é agravante MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO e agravada JULIANA SILVA DE OLIVEIRA. ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, conhecer e dar provimento parcial ao recurso, na forma do relatório e voto do Desembargador Relator. Cuida-se de agravo de instrumento interposto pelo MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO pretendendo a reforma da decisão proferida pelo MM. Dr. Juiz de Direito da 8ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital, acostada por cópia nestes autos às fls. 146/147, litteris: wass 2

3 Cuida-se de pedido de antecipação dos efeitos da tutela para que a autora seja empossada no cargo de professora I do concurso realizado pelo Município do Rio de Janeiro, sob o argumento de que foi reprovada no exame admissional, mas que, na verdade, já ocupa cargo efetivo na Administração Pública Municipal, uma vez que foi aprovada em outro cargo de professor. Sendo assim, sustenta, ao final, que por já exercer cargo público no âmbito municipal não necessitaria de novo exame admissional, conforme, inclusive prevê o Decreto Municipal nº /12. Essa é apertada síntese dos fatos articulados na inicial. Passo a decidir. Pelo que consta dos autos, verifico que a autora foi realmente aprovada no concurso para o cargo de Professor I do Município do Rio de Janeiro, tendo ao final do certame, obtido a 126ª colocação. Entretanto, se a própria administração pública reconheceu a aprovação do candidato, bem como sua aptidão para exercer o cargo de professor, não é razoável e lógico que seja novamente submetido a exame admissional, ressaltando-se, todavia, que a autora já exerce o mesmo cargo de professor no âmbito da Administração Pública Municipal. Alia-se a este fato, ainda, a existência de vários exames médicos que comprovam a captação da autora para o cargo a que foi submetido. Com efeito, importante destacar a existência do Decreto Municipal nº /12 que prevê expressamente a dispensa da realização de novo exame admissional para os candidatos que já exercem função pública no âmbito municipal, conforme documento de fls. 70/71 e, no caso dos autos, restou comprovado a condição de servidora pública municipal da autora. Por fim, registra-se que há entendimento jurisprudencial recente de nosso Tribunal a respeito de caso similar, senão vejamos: AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento: 04/03/ NONA CAMARA CIVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CONCURSO PÚBLICO. EXAME ADMISSIONAL. REPROVAÇÃO. DECISÃO QUE INDEFERE A ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. PRESENÇA DOS REQUISITOS QUE ENSEJAM A CONCESSÃO DA MEDIDA. REFORMA DO DECISUM. A agravante prestou concurso para o cargo de professora da rede de ensino municipal, sendo considerada inapta para o cargo no exame de fonoaudiologia. Contudo, denota-se dos documentos dos autos que a parte já exerce a função de professora em wass 3

4 instituição privada de ensino, tendo trazido aos autos, ainda, laudos que atestam a evolução do quadro clínico e a possibilidade de desempenhar a função. Verossimilhança das alegações autorais. Perigo de dano irreparável configurado. Possibilidade de perda da vaga caso tenha de aguardar decisão de mérito definitiva. Ausência de periculum in mora inverso. Determinação de reserva da vaga. Reforma da decisão interlocutória. PROVIMENTO DO RECURSO, MONOCRATICAMENTE. Assim, entendo presentes os requisitos previstos no art. 273, do CPC, havendo fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, concedo a ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA para determinar ao réu que proceda à posse da autora no cargo de Professor I, no prazo de dez dias, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais), aplicada ao na pessoa do Administrador (artigo 14 do CPC) [destaquei]. Sustenta o agravante que de acordo com o relatório médico-pericial que acosta ao presente, elaborado pela Gerência de Perícias Médicas do Município, a agravada foi submetida a exame admissional em 29/03/2012, tendo sido examinada por um médico perito e uma fonoaudióloga que a consideraram inapta por apresentar, ao exame videolaringoscópico, espessamento mucoso em terço médio de pregas vocais, evidenciando, dessa forma, patologia específica com repercussão em sua voz [destaque no original]. Assevera que a recorrida apenas foi submetida às regras do edital do Certame, não havendo qualquer irregularidade na sua reprovação sob esse aspecto, e que se aprovada teria que se submeter a adição de 16 horas semanais às 22,5 horas já cumpridas [...], o que certamente comprometeria ainda mais seu estado clínico. Assim, o fato de já possuir uma matrícula no magistério municipal não afasta a obrigatoriedade de se submeter a novo exame de saúde. wass 4

5 Assim, pede que seja atribuído efeito suspensivo ao recurso e provido ao final para reformar a r. decisão impugnada, ou no mínimo para convertê-la em mera reserva de vaga em favor da autora. Juntou os documentos de fls. 17/150. Decisão deste Relator às fls. 54/57, que deferiu o efeito suspensivo. Contrarrazões às fls. 60/63, prestigiando a r. decisão recorrida. Agravo interno da recorrida às fls. 64/67, não conhecido conforme a decisão de fls. 69/71. Informações às fls. 74. É o necessário relatório. Passo ao voto. O recurso é tempestivo e com ele se encontram os demais requisitos de admissibilidade. Cuida-se de agravo de instrumento interposto pelo MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO pretendendo a reforma da decisão proferida pelo MM. Dr. Juiz de Direito da 8ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital, que deferiu a antecipação dos efeitos da tutela requerida, para determinar que o ora recorrente [...] que proceda à posse da autora no cargo de Professor I, no prazo de dez dias, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil reais), aplicada ao na pessoa do Administrador (artigo 14 do CPC). wass 5

6 A demanda de origem cuida de pedido de antecipação de tutela para que a autora seja empossada no cargo de professora I do concurso realizado pelo Município do Rio de Janeiro, sob o argumento de que foi reprovada no exame admissional, mas que, na verdade, já ocupa cargo efetivo na Administração Pública Municipal, uma vez que foi aprovada em concurso diverso para o magistério. Sendo assim, sustenta, ao final, que por já exercer cargo público no âmbito municipal não necessitaria de novo exame admissional, conforme, inclusive prevê o Decreto Municipal nº /12. A inaptidão da agravada foi obtida segundo as informações contidas no documento acostado às fls. 17/20, no qual consta que a candidata foi submetida a exame admissional em 29/03/2012 tendo sido examinada por um médico perito e uma fonoaudióloga que a consideraram inapta por apresentar, ao exame videolaringoscópico, espessamento mucoso em terço médio de pregas vocais, evidenciando, dessa forma, patologia específica com repercussão em sua voz. E em sede de recurso admissional, ante a nova perícia, o resultado anterior não foi alterado, e mesmo com nova perícia realizada em outra oportunidade, sua inaptidão restou afirmada. Consta, ainda, no referido documento que a agravada foi acompanhada pela GPM durante 7 meses sem ter conseguido a normalização de seu exame. A dispensa do exame médico vindicada pela agravada, posto que prevista no Decreto Municipal nº /2012, não tem o condão de afastar eventual evidência de impossibilidade para o exercício do cargo. Entretanto, a legalidade ou não do ato administrativo questionado é matéria de mérito na demanda de origem, o que evidentemente não pode wass 6

7 ser apreciado nesta sede de cognição sumária, sob pena de supressão de instância. Por outro lado, deve ser observado que a r. decisão agravada suprimiu um estágio da investidura pública, uma vez que determinou, a título de antecipação de tutela, que fosse dada posse à agravada, quando ainda sequer havia sido nomeada. Como referido na decisão que deferiu o efeito suspensivo ao presente recurso, a hipótese requererá aprofundada dilação probatória com vista a se medir o grau da patologia da agravada e se haverá comprometimento para assumir, no magistério, mais 16 horas semanais, etapa que deverá ser vencida na instância de origem. Ante o exposto, voto pelo conhecimento e provimento parcial do recurso, para reformar em parte a r. decisão recorrida e determinar, em sede de antecipação de tutela, a reserva de vaga em favor da autora. Rio de Janeiro, 03 de setembro de Desembargador EDUARDO DE AZEVEDO PAIVA Relator wass 7