PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Cardoso, em que é agravante JOÃO FERNANDO PEREIRA DA SILVA, é agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores AMORIM CANTUÁRIA (Presidente), CAMARGO PEREIRA E RONALDO ANDRADE. São Paulo, 7 de agosto de Amorim Cantuária RELATOR Assinatura Eletrônica

2 AGRAVO DE INSTRUMENTO nº ª Câmara Agravante: JOÃO FERNANDO PEREIRA DA SILVA Agravado : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO Comarca : CARDOSO - VARA ÚNICA VOTO nº AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. CONDENAÇÃO FUNDADA EM ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RESSARCIMENTO DO ERÁRIO. PENHORA INCIDENTE SOBRE IMÓVEL DO DEVEDOR. BEM DE FAMÍLIA. PROVA. DEMONSTRAÇÃO. ÔNUS DO DEVEDOR. INOCORRÊNCIA. CONSTRIÇÃO. CABIMENTO. EXEGESE DO ART. 3º, VI, DA LEI 8009/90, QUANDO SE CUIDA DE RESSARCIMENTO POR ATO DE IMPROBIDADE. DECISÃO QUE MANTEVE A PENHORA. CONFIRMAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. Agravo de Instrumento tirado por JOÃO FERNANDO PEREIRA DA SILVA dos autos da ação civil pública reportada a ato de improbidade administrativa em fase de cumprimento de sentença que lhe promove o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, inconformado com a r. decisão de fls. 91 deste instrumento (fls dos autos principais) que não acolheu a impugnação à penhora que apresentou sob o argumento de que o imóvel constrito é bem de família. Disse que não possui outros imóveis além do penhorado e que serve de moradia a si e sua família, merecendo proteção nos termos da Lei 8.009/90. Disse que o imóvel do qual faz uso em Pontes Gestal para refeições e descanso, quando está trabalhando naquela cidade, lhe foi cedido em Agravo de Instrumento nº

3 comodato e não é de sua propriedade. Disse que o único imóvel que possui é o apartamento 22, da Rua Pernambuco, 3141, na Cidade de Votuporanga, onde reside, efetivamente, com a família. Recurso processado somente no efeito devolutivo (fls. 96 e verso). Demonstrado o cumprimento do determinado pelo artigo 526 do CPC (fls. 108/109). Contraminuta (fls. 101/106). desprovimento do recurso. Parecer da D. Procuradoria de Justiça (fls. 111/118), pelo É o relatório do essencial. O agravante, ex-prefeito Municipal, respondeu à ação civil pública por ato de improbidade administrativa (fls. 14/39), porque realizou despesas no importe de R$ ,38, sem o prévio empenho, no Auto Posto Brasil de Pontes Gestal. A sentença de fls. 44/55 acolheu a pretensão deduzida na inicial e condenou o recorrente, então réu, a ressarcir integralmente o erário pelos prejuízos que causou. O v. aresto de fls. 57/69, embora houvesse provido em parte o apelo do demandado, manteve a sua condenação na obrigação de ressarcir o erário. Iniciado o cumprimento da sentença foi penhorado o imóvel consistente em um apartamento de número 22, localizado na Rua Agravo de Instrumento nº

4 Pernambuco, 3411, Edifício Miguel Nucci, no centro de Votuporanga. Intimado da penhora (fls. 73), o agravante apresentou a impugnação de fl. 74/77. Com a impugnação trouxe as certidões dos Cartórios de Registros de Imóveis de Votuporanga e Cardoso. Referidos traslados, como bem observou o D. Procurador de Justiça em seu parecer, indicam que sequer o imóvel constrito encontra-se registrado em nome do agravante. Lastimável a postura do devedor, que foi condenado por uso indevido e irregular de dinheiro público, ao resistir obstinadamente ao cumprimento da sentença condenatória. Bem por isso, segundo penso, respeitado entendimento em sentido diverso, o artigo 3º, inciso VI, da Lei nº 8009/90, não vem a protegê-lo, como não protege atos ilícitos praticados por Administradores Públicos condenados com base na Lei de Improbidade Administrativa. Na hipótese dos autos, o agravante não comprovou que o imóvel penhorado é destinado a sua residência permanente. Aliás, com bem asseverou a Douta Procuradoria de Justiça, O imóvel penhorado situa-se no município de Votuporanga. A esposa do réu, conforme consta de suas próprias razões, é funcionária pública municipal e vereadora no município de Pontes Gestal, onde o réu foi Prefeito entre os anos de e 2004, e onde exerce atividade profissional de dentista, ocupando nessa cidade um imóvel, cujo endereço forneceu nos como de sua residência, onde foi intimado da penhora, imóvel sito a Rua Geraldo Soares Faleiros, nº 420, Pontes Gestal(fls. 73) (fls. 115/116). Agravo de Instrumento nº

5 Destarte, os documentos apresentados pelo recorrente não são hábeis para afastar a penhora efetivada, porquanto as declarações de vizinhos fls. 79/81 não têm idoneidade, e sequer um mínimo de autenticidade, visto que nem a firma dos declarantes foi reconhecida. Além disso, não são contemporâneas com a Ata Condominial. Boletos de contribuição condominial e de consumo de energia também não são suficientes para demonstrar a efetiva residência da pessoa no imóvel. São contas que, para serem cobradas, precisam de um titular, de um responsável e que nem sempre é o habitante do imóvel que enseja tais despesas. Ademais, são faturas muito antigas. Assim, a ausência de prova de que o agravante reside no imóvel penhorado, bem como de que referido bem seja o único a reunir os requisitos indispensáveis à caracterização do bem de família, não há falar em impenhorabilidade, nos moldes legais. Ao cabo, não pode ele se socorrer do artigo 3º, inciso VI, da Lei nº 8009/90, haja vista que este e. Tribunal já firmou o entendimento de que o art. 3º, inciso VI, da Lei nº 8009/90 permite a penhora do imóvel onde reside o devedor, quando necessário à indenização de danos decorrentes da prática de ilícito, como os de improbidade. Execução, assim, que deve prosseguir AI Nº Rel. Des. URBANO RUIZ 10ª Câm. Direito Publico J. 13/06/2011. Nessa medida, fica mantida a decisão hostilizada. Agravo de Instrumento nº

6 Por todo o exposto, NEGA-SE PROVIMENTO AO RECURSO. DES. AMORIM CANTUÁRIA Relator Assinatura Eletrônica Agravo de Instrumento nº