Apelante: R W Factoring Fomento Mercantil Ltda Apelado: Beauty Dental Clinic Ltda Apelado: Egberto Jose Hallais França Carneiro Junior

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1 FLS.1/cl Apelante: R W Factoring Fomento Mercantil Ltda Apelado: Beauty Dental Clinic Ltda Apelado: Egberto Jose Hallais França Carneiro Junior RELATOR: DES. VALÉRIA DACHEUX APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO LASTREADA EM INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONFISSÃO DE DÍVIDA. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA QUE SE AFASTA. REQUISITOS DO ART. 585, INCISO II, DO CPC, PREENCHIDOS. REVELIA. PRESUNÇÃO RELATIVA DOS FATOS. LIVRE CONVENCIMENTO DO JUIZ. O fato da negociação, através do instrumento particular de confissão de dívida, tratar de valores referentes a operações de factoring não o desnatura como título executivo, nos termos do art. 585, II, do CPC. Isto porque, a execução foi lastreada em título que possui certeza e liquidez, regularmente assinado pelo devedor e por duas testemunhas, prevendo valor certo da dívida, assim como forma e datas para pagamento. Aliás, admitir-se a nulidade da confissão importaria em enriquecimento sem causa à luz dos próprios argumentos do Embargante que na inicial ressalta como vantagens da negociação, uma forma de alimentação do seu capital de giro. Ademais, não há nos embargos qualquer prova da existência de algum vício de consentimento no momento da assinatura do Termo de Confissão de Dívida, mas sim a informação de o que Embargante/Executado deu como forma de pagamento um automóvel, cujo valor foi abatido, o que cria a convicção de que conhecia os termos do negócio, bem como o montante da dívida que assumiu, concordando inclusive com a forma de pagamento. SENTENÇA QUE SE REFORMA. PROVIMENTO DO APELO. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos da apelação cível de nº , em que é Apelante R W FACTORING FOMENTO MERCANTIL LTDA, e Apelados BEAUTY DENTAL CLINIC LTDA e EGBERTO JOSE HALLAIS FRANÇA

2 FLS.2/cl CARNEIRO JUNIOR, ACORDAM os Desembargadores da 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em DAR provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. V O T O Trata-se de embargos a execução opostos por BEAUTY DENTAL CLINIC LTDA, representado por seu sócio avalista, Egberto José Hallais França Carneiro Júnior, em face de RW FACTORING FOMENTO MERCANTIL LTDA. Aduz a Embargante que em 16/11/2006 firmou contrato de fomento mercantil com a Embargada visando a avaliação de devedores e fornecedores, acompanhamento de contas, o fomento do processo produtivo e o auxílio na busca de novos clientes e na tomada de decisões. Alega que a prestação de serviço contratada restringiu-se apenas a operação de antecipação dos recebíveis, com taxa de juros remuneratórios acima do que prevê o art. 1 do Decreto /3 e que os títulos não pagos pelos emitentes lhe foram cobrados com juros moratórios. Sustenta que a Embargada, ao comprar títulos mediante comissão, assume o risco da operação de antecipação, e que foi forçado de forma maliciosa a assinar instrumento particular de confissão de dívidas, constituído em titulo extrajudicial no valor de R$ ,50, onde não constam informações acerca da origem da dívida e dos acréscimos a título de juros e correção monetária. Acrescenta que deu em pagamento, para abatimento da dívida, um automóvel no valor de R$ ,00. Regularmente intimada, a Embargada não se manifestou.

3 FLS.3/cl A sentença de fls. 81/83 julgou procedente o pedido para reconhecer a iliquidez dos títulos, ao argumento de que o título não é líquido, certo e exigível, à luz da revelia da Embargada, que deixou de demonstrar a origem do valor gerador da confissão de dívida e das notas fiscais. Registre-se, inicialmente, que não se aplica à hipótese dos autos o que dispõe os artigos do Código de Defesa do Consumidor, considerando que a relação discutida não é de consumo, mas sim de natureza mercantil. A atividade exercida pela Empresa exequente serve para fomentar atividade empresarial, com objetivo certo e determinado de alimentar financeiramente o estabelecimento comercial, não se enquadrando a Embargante como consumidor final. Quanto ao decreto de revelia, embora a Apelante/Embargada não tenha apresentado resposta no prazo legal, entende-se que o julgador não está adstrito à presunção de veracidade oriunda da revelia para a formação de seu convencimento. A pena de confissão é relativa e não induz, necessariamente, à procedência do pedido, podendo ceder em face dos demais elementos constantes dos autos, de acordo com o livre convencimento do juiz. de Justiça: Nesse sentido, reiterada jurisprudência do Superior Tribunal AgRg no AREsp / MG AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 2013/ Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO DJ: 20/05/2014AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO C/C COMPENSAÇÃO DE DÉBITOS. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC NÃO VERIFICADA. REVELIA. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE DOS FATOS NARRADOS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE PAGAMENTO DE OBRIGAÇÃO DA PARTE DEMANDADA. REVISÃO. SÚMULA 7/STJ. ART. 897 DO CPC. QUANTIA NÃO RELACIONADA AOS VALORES DEPOSITADOS EM CONSIGNAÇÃO. 1. Não há que se falar em violação ao artigo 535 do CPC, quando o

4 FLS.4/cl Tribunal local apreciou, ainda que de forma contrária à pretensão Da parte, a insurgência posta na lide e apresentou os fundamentos em que apoiou suas conclusões. 2. A caraterização de revelia não induz a uma presunção absoluta de veracidade dos fatos narrados pelo autor, permitindo ao juiz a análise das alegações formuladas pelas partes em confronto com todas as provas carreadas ao autos para formar o seu convencimento.(...) AgRg no REsp / SC AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2011/ Ministro SIDNEI BENETI DJ: 27/08/2013 AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. REVELIA. PRESUNÇÃO RELATIVA DE VERACIDADE. OBSERVÂNCIA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. INOCORRÊNCIA DE OFENSA AO TEXTO DA LEGISLAÇÃO FEDERAL. 1.- A jurisprudência deste Tribunal é remansosa no sentido de que, "na revelia, a presunção de veracidade é relativa, de forma que a sua ocorrência conduz à procedência do pedido se, com as provas dos autos, o magistrado se convencer da existência dos fatos alegados e não contestados" (AgRg no REsp /SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 26/11/2012). 2.- O recurso não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 3.- Agravo Regimental improvido. Dessa forma, a ausência de resposta no prazo legal não importa, no caso concreto, em presunção de veracidade dos fatos afirmados na petição inicial. Com efeito, o fato de a negociação, através do instrumento particular de confissão de dívida, tratar de valores referentes a operações de factoring, não a desnatura como título executivo, nos termos do art. 585, II, do CPC. Isto porque, a execução foi lastreada em título que possui certeza e liquidez, regularmente assinado pelo devedor e por duas testemunhas, prevendo valor certo da dívida, assim como forma e datas para pagamento, como se nota do documento de fls. 21/24. Portanto, encontram-se preenchidos os requisitos legais, nos termos do art. 585 do Código de Processo Civil, in verbis:

5 FLS.5/cl Art São títulos executivos extrajudiciais: (...) II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores. Diante de expressa previsão legal, portanto, não há meios de se afastar a qualidade de título executivo do documento constante dos autos, sendo no mesmo sentido a jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça: REsp / SP - RECURSO ESPECIAL 1999/ Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO - DJe 30/06/2009 RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL. EXECUÇÃO. INSTRUMENTO PARTICULAR. TÍTULO EXECUTIVO. NÃOAPRESENTAÇÃO DAS NOTAS PROMISSÓRIAS A ELE VINCULADAS. IRRELEVÂNCIA. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO. 1. O instrumento particular de confissão de dívida, assinado pelo devedor e duas testemunhas, é em si bastante para aparelhar a execução, não o contaminando, tampouco retirando-lhe o vinco da executividade, a inexistência ou a não-apresentação das notas promissórias que lhe são vinculadas. 2. Ademais, restou incontroverso que as cártulas não foram endossadas e, além disso, estariam, hoje, prescritas. 3. Recurso especial não conhecido. AgRg no Ag / SC - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 2010/ Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI 21/11/2013AGRAVO REGIMENTAL. CONFISSÃO DE DÍVIDA. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. CONTRATOS ORIGINÁRIOS. DESCUMPRIMENTO. EXECUÇÃO. EXTINÇÃO. INAPLICABILIDADE. CONSEQUÊNCIA DIVERSA. NÃO PROVIMENTO. 1. A confissão de dívida, preenchidos os requisitos do artigo 585, II, do Código de Processo Civil, é título executivo extrajudicial, independentemente de haver ou não novação da dívida

6 FLS.6/cl confessada ou da origem desta. 2. Agravo regimental a que se nega provimento Aliás, admitir-se a nulidade da confissão importaria em enriquecimento sem causa à luz dos próprios argumentos do Embargante que na inicial ressalta as vantagens da negociação, como forma de alimentação do seu capital de giro. Ademais, não há nos embargos qualquer prova da existência de algum vício de consentimento no momento da assinatura do Termo de Confissão de Dívida, mas sim a informação de o que Embargante/Executado deu como forma de pagamento um automóvel, cujo valor foi abatido, o que cria a convicção de que conhecia os termos do negócio, bem como o montante da dívida que assumiu, concordando inclusive com a forma de pagamento. O excesso no valor exequendo igualmente deve ser rejeitado na medida em que o Embargante nenhuma prova traz do alegado, apenas referindo que as taxas superam, em muito, os juros bancários, sem apresentar onde reside o excesso. Por tais fundamentos, voto no sentido de DAR PROVIMENTO À APELAÇÃO para julgar improcedentes os embargos e determinar o prosseguimento da execução, arcando a Embargante com as custas processuais e honorários advocatícios arbitrados em R$ 800,00, em observância aos critérios estabelecidos no art. 20, parágrafo 4º, do CPC. Rio de Janeiro, 16 de setembro de VALÉRIA DACHEUX Desembargadora Relatora