Origem : Machadinho do Oeste/RO (1ª Vara Criminal)

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE RONDÔNIA Câmara Criminal Data de distribuição :31/07/2007 Data de julgamento :25/09/ Apelação Criminal Origem : Machadinho do Oeste/RO (1ª Vara Criminal) Apelante : Paulo Sérgio Ferreira Advogado : Ronaldo de Oliveira Couto (OAB/RO 2.761) Apelado : Ministério Público do Estado de Rondônia Relatora : Desembargadora Ivanira Feitosa Borges 1 / 8

2 Revisor : Desembargadora Valter de Oliveira RELATÓRIO Trata-se de recurso de apelação criminal interposto por Paulo Sérgio Ferreira em face de ter sido condenado pelo Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Machadinho do Oeste, à pena de 1 ano e 4 meses de reclusão, em regime inicial aberto e 16 dias-multa, como incurso no crime de estelionato, previsto no art. 171, caput, do Código Penal. A pena privativa de liberdade fora substituída por duas restritivas de direitos, consistentes na prestação pecuniária no importe de 15 salários mínimos cada uma, totalizando 30 salários mínimos, sendo que este valor será revertido em favor da vítima. A defesa, em suas razões recursais pleiteia a absolvição do apelante alegando, em síntese, fragilidade probatória a sustentar o decreto condenatório, eis que o réu teria apenas sacado o dinheiro do seguro, enquanto as pessoas de Gerson e Josias executaram os procedimentos para a liberação do seguro (fls. 93/97). As contra-razões foram pela confirmação da sentença combatida (fls. 99/106). O parecer Ministerial do Procurador de Justiça Jackson Abílio de Souza foi pelo não provimento do recurso (fl. 113/118). É o relatório. VOTO DESEMBARGADORA IVANIRA FEITOSA BORGES 2 / 8

3 Narra a denúncia que no dia 31/10/2004 faleceu Daniel Jatobá Xavier, vítima de acidente automobilístico, e que seu sepultamento ficou a cargo da funerária Santo Rei, sendo que o denunciado Paulo Sérgio Ferreira, funcionário da referida funerária, ofereceu serviços com o intuito de providenciar o seguro DPVAT ao Sr. Juvêncio Francisco Xavier (73 anos de idade), pai da vítima Daniel, indicando para o atendimento a pessoa de Gerson Navabo Arzão. Consta ainda que quando o denunciado tomou conhecimento da disponibilização do seguro foi ao encontro de Juvêncio, alegando que necessitava de procuração para movimentar o procedimento de seguro DPVAT, ocasião em que induziu a vítima a lhe outorgar uma procuração pública. Na verdade, a procuração era para receber o dinheiro que fora disponibilizado e que poderia ser sacado em qualquer Agência do Banco do Brasil. Sustenta também que no dia 18/7/05, por volta das 13h20 min., na agência do Banco do Brasil do Município de Machadinho do Oeste, o apelante obteve para si a vantagem ilícita de R$10.260,00, em prejuízo da vítima, mediante artifício de convencer a vítima, utilizando-se de engodo, a lhe outorgar procuração e receber o seguro DPVAT. Inconformada, a defesa, em suas razões, postula a absolvição do recorrente argumentando que as provas foram insuficientes para evidenciar o delito descrito na denúncia. Ao contrário do que sustenta a defesa, os elementos de convicção carreados aos autos são suficientes o bastante para comprovar o ilícito praticado pelo apelante. A materialidade delitiva está consubstanciada, por meio da ocorrência policial (fl. 11 e verso), pelos recibos bancários que evidenciam o depósito do DPVAT na conta corrente do apelante (fls. 23/27 e 33/35) e pelo documento de procuração pública outorgada ao citado recorrente (fl. 36). A autoria restou sobejamente comprovada pela confissão do apelante e pelos depoimentos das testemunhas Juvêncio Francisco Chavier e Gerson Navabo Arzão. 3 / 8

4 O réu Paulo Sérgio Ferreira confessou seu agir delituoso na fase investigatória (fl. 6/7), e, em juízo, esclareceu que trabalhava na funerária Santo Rei e confirmou ter indicado os serviços de Gerson para a vítima, e como este não conseguiu agilizar o seguro, o interrogado apresentou Josias (que faceleu após os fatos), tendo este obtido êxito, e informando ao interrogado que o seguro estaria disponível em 3 dias, ocasião em que Paulo procurou a vítima e obteve uma procuração, e que, por meio deste documento, foi ao Banco do Brasil e sacou a importância de R$ ,00 do seguro DPVAT, sendo que, em seguida, depositou R$ 4.000,00 na conta de Josias, pagou uma dívida para este de R$ 500,00, e, em razão de ter sido ameaçado por Gerson, teve que entregar R$ 600,00 ao mesmo, ficando com o restante do dinheiro, (fl. 42). Observa-se que esse interrogatório evidencou a responsabilidade do apelante no ilícito penal, tanto que este, mediante documento de procuração outorgado pela vítima, sacou o valor R$ ,00, proveniente do seguro DPVAT, que estava disponível na conta desta, em proveito próprio e de terceiros (fls. 23/27 e 33/36). Portanto, ocorreu uma vantagem patrimonial ilícita por parte do agente. Para corroborar, observa-se que a testemunha Gerson Navarro Arzão, ao prestar depoimento na fase judicial, contou que o acusado, mediante procuração do Sr. Juvêncio, recebeu o dinheiro do seguro DPVAT e nada repassou à vítima. Informou ainda que manteve contado com o recorrente, ocasião em que este afirmou que teria sacado o dinheiro e dividido com terceira pessoa. Ressaltou também que Paulo Sérgio explicou que depois ludibriava a vítima (fl. 68). A vítima, ao ser ouvida na fase investigatória, contou que foi informado pelo acusado que o dinheiro do seguro iria demorar para sair, em virtude de faltar alguns documentos, por isso pediu cópias dos referidos documentos, e, entre eles, uma procuração para agilizar o procedimento. Disse ainda que foi informado por Gerson que o dinheiro do seguro havia sido depositado em sua conta, e que o recorrente Paulo teria sacado o dinheiro do citado seguro; que após Paulo ter recebido o seguro, este procurou o declarante e, nesta ocasião, asseverou que o inquérito havia desaparecido da delegacia, razão pela qual teria que providenciar novamente a documentação para dar entrada no seguro (fl. 5). E, em juízo, confirmou as declarações de fl. 5 (fl. 54). Ora, verifica-se dessas declarações que o apelante solicitou o documento de procuração do Sr. Juvêncio, dizendo que o mencionado mandato seria para dar andamento no processo referente ao seguro DPVAT, quando, na verdade, o instrumento de procuração seria, tão-somente, para receber o benefício pertencente à vítima. Assim, o réu empregou meio fraudulento, mantendo a vítima em erro, e, por conseguinte, obteve vantagem ilícita, em prejuízo da vítma. 4 / 8

5 Nota-se que para a configuração do crime de estelionato basta que o envolvido tenha obtido vantagem ilícita em prejuízo alheio, e isto ficou bem evidenciado nas provas coletadas nos presentes autos. Sobre o assunto decidiu a jurisprudência deste Tribunal. ESTELIONATO. CONFIGURAÇÃO DE PREJUÍZO. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. QUADRILHA OU BANDO. PARTICIPAÇÃO CONJUNTA. ABSOLVIÇÃO DE AGENTE. DESCARACTERIZAÇÃO. Configura-se o delito de estelionato quando demonstrado que o agente obteve vantagem ilícita em prejuízo da vítima. [...]. (Apel. Crim. n Rel. Des. Valter de Oliveira, jul. Em 260/4/07). Vale ressaltar que a vítima confirmou na fase judicial que quando passou a procuração ao denunciado somente Paulo Sérgio estava envolvido na questão do seguro (fl. 54). Dessa forma, não merecem credibilidade os argumentos da defesa, quanto à alegação de que as pessoas de Josias e Gerson seriam responsáveis pelo ilícito. As provas coletadas nos autos são fartas e seguras a demonstrar a conduta delituosa do apelante Paulo Sérgio Ferreira pela prática do crime de estelionato, previsto no art. 171, caput, do Código Penal, não assistindo razão aos argumentos da defesa acerca da fragilidade probatória para sustentar o decreto condenatório. Quanto a agravante do art. 61, inc. II, alínea h, esta também restou comprovada, haja vista que o crime foi praticado contra pessoa maior de 60 anos de idade (fl. 14). A dosimetria da pena não foi objeto de questionamento. 5 / 8

6 Diante do exposto, nego provimento ao recurso mantendo inalterados os termos da sentença de 1º grau. É como voto. PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE RONDÔNIA Tribunal de Justiça Câmara Criminal Data de distribuição :31/07/2007 Data de julgamento :25/09/ Apelação Criminal Origem : Machadinho do Oeste/RO (1ª Vara Criminal) Apelante : Paulo Sérgio Ferreira Advogado : Ronaldo de Oliveira Couto (OAB/RO 2.761) Apelado : Ministério Público do Estado de Rondônia 6 / 8

7 Relatora : Desembargadora Ivanira Feitosa Borges Revisor : Desembargadora Valter de Oliveira EMENTA Estelionato. Fragilidade probatória. ausência de dolo. Absolvição. Inviabilidade. Está incursa nas penas do art. 171 do Código Penal a conduta do agente que, mediante fraude, induz a vítima em erro obtendo vantagem indevida, ao receber seguro DPVAT alheio, mediante instrumento procuratório solicitado à vítima, com a promessa de utilizar, tão-somente, para dar entrada no mencionado seguro. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Desembargadores da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, em, POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO. Os Desembargadores Valter de Oliveira e Cássio Rodolfo Sbarzi Guedes acompanharam o voto da Relatora. Porto Velho, 25 de setembro de DESEMBARGADORA IVANIRA FEITOSA BORGES RELATORA 7 / 8

8 8 / 8