E M E N T A: RESPONSABILIDADE POR DANO MORAL. DÍVIDA PAGA. TÍTULO INDEVIDAMENTE PROTESTADO. ILEGALIDADE. PROVA. PRESUNÇÃO DO DANO.

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1 APELAÇÃO CÍVEL Nº PB APTE : CAIXA ECONOMICA FEDERAL ADV/PROC: VALCICLEIDE ALVES DE FREITAS RANGEL E OUTROS APDO : DJANIO ANTONIO OLIVEIRA DIAS ADV/PROC: GILVANA RIBEIRO CABRAL E OUTRO RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA E M E N T A: RESPONSABILIDADE POR DANO MORAL. DÍVIDA PAGA. TÍTULO INDEVIDAMENTE PROTESTADO. ILEGALIDADE. PROVA. PRESUNÇÃO DO DANO. - O protesto de título pago constitui ilegalidade que por si só gera direito à indenização por dano moral, sem a necessidade de prova objetiva do constrangimento ou do abalo à honra e à reputação. - O dano moral, de natureza extrapatrimonial, se caracteriza, também, pela agressão à auto-estima e a valores subjetivos, independentemente da repercussão negativa do fato perante o meio social do indivíduo. - Condenação mantida. Vistos, etc. A C Ó R D Ã O DECIDE a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação, nos termos do AC Nº PB fls. 1/8

2 relatório e voto anexos, que passam a integrar o presente julgamento. Recife, 26 de agosto de (data do julgamento) Des. Federal Ridalvo Costa Relator AC Nº PB fls. 2/8

3 APELAÇÃO CÍVEL Nº PB R E L A T Ó R I O DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA: DJÂNIO ANTÔNIO OLIVEIRA DIAS ajuizou Ação de Indenização por Danos Morais, objetivando o pagamento de indenização no valor de R$ 6.375,00 (seis mil e trezentos e setenta e cinco reais), correspondente a 100 (cem) vezes o valor do título indevidamente protestado pela CEF Caixa Econômica Federal, em razão dos prejuízos morais sofridos com o protesto indevido, pela instituição bancária, de taxa extra do condomínio em que reside. Expõe que no dia recebera uma notificação do Cartório do 2º Tabelionato de João Pessoa informando que a Caixa Econômica Federal apresentara um título a protesto em face da existência de um débito no valor de R$ 63,75 (sessenta e três reais e setenta e cinco centavos), que deixara de ser pago no dia , data de seu vencimento. Sustenta que o referido título, referente a uma taxa extra do condomínio em que reside, fora quitado no dia , nove dias antes do vencimento, motivo pelo qual dirigiu-se à CEF e levou o comprovante de pagamento do débito. Salienta que mesmo com a prova da quitação do título a CEF, no dia , levou o título a protesto, causando-lhe transtornos de ordem moral consistentes no constrangimento com a cobrança indevida e no abalo de crédito perante a sociedade local. AC Nº PB fls. 3/8

4 Em sua contestação, sustentou a CEF que o protesto do título ocorreu porque a autenticação mecânica encontrava-se ilegível, dando a impressão de ser falsa. Sustenta que o protesto do título ocorreu por causa do cliente que, ao receber a notificação do protesto, deveria ter providenciado perante a CEF uma declaração de anuência de pagamento do título para inibi-lo. A sentença julgou procedente, em parte, o pedido, condenando a Caixa Econômica Federal ao pagamento de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), fundamentando-se em que a CEF deveria ter diligenciado na utilização dos meios necessários para verificar a autenticação mecânica do pagamento interposta no título de crédito antes de encaminhá-lo para protesto, sendo o valor acrescido de juros de mora de 0,5% ao mês e correção monetária conforme índices oficias até a data de entrada em vigor do novo Código Civil, quando então incide apenas a taxa SELIC e honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor da condenação. Apela a Caixa Econômica Federal, sustentando a inexistência de prova do dano moral objetivo e do abalo psíquico sofrido pelo apelado, alegando ainda a exorbitância da indenização a ser paga, salientando que ela deve, de acordo com a jurisprudência pátria, ser proporcional ao dano (art. 944, parágrafo único do CC). Sem contra-razões. É o relatório. NG AC Nº PB fls. 4/8

5 APELAÇÃO CÍVEL Nº PB V O T O DESEMBARGADOR FEDERAL RIDALVO COSTA: Discute-se nos autos se o protesto de título pago gera direito à indenização por dano moral, independentemente de prova do respectivo dano. A jurisprudência majoritária do STJ, na hipótese, entende desnecessária a existência de prova objetiva do dano moral: CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. PROTESTO INDEVIDO. PESSOA JURÍDICA. DANO MORAL. PROVA DO PREJUÍZO. DESNECESSIDADE. MULTA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ NÃO CONFIGURADA. EXCLUSÃO. I O protesto indevido de título gera direito à indenização por dano moral, independentemente da prova objetiva do abalo à honra e reputação sofrido pela autora, que se permite, na hipótese, facilmente presumir, gerando direito a ressarcimento respectivo. II Não configurada a litigância de má-fé na oposição dos aclaratórios perante o Tribunal estadual, é de ser suprimida a multa a tal título imposta. III Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido. (STJ 4ª Turma, RESP nº (2001/ /SP), j , AC Nº PB fls. 5/8

6 DJ 24/06/2002, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior) CIVIL. INDENIZAÇÃO. PROTESTO INDEVIDO DE TÍTULO. DANO MORAL. ELEVAÇÃO DA CONDENAÇÃO. CRITÉRIOS. PRECEDENTES DA CORTE RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE. I A indenização pelo protesto indevido de título cambiariforme deve representar punição a quem indevidamente promoveu o ato e eficácia ressarcitória à parte atingida. II O arbitramento da condenação a título de dano moral deve operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial das partes, suas atividades comerciais, e, ainda, ao valor do negócio, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento á realidade da vida, notadamente à situação econômica atual, e às peculiaridades de cada caso. III O arbitramento do valor indenizatório por dano moral sujeitase ao controle do Superior Tribunal de Justiça. (STJ, 4ª Turma, RESP Nº (1998/ /SP), j. 03/12/1998, DJ 03/05/1999, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira). AC Nº PB fls. 6/8

7 Não há dúvida de que a CEF levou a protesto o título no valor de 63,75 (sessenta e três reais e setenta e cinco centavos) referente à taxa extra do condomínio do apelado, quando este já havia pago com antecedência o valor da dívida. É óbvia a ilegalidade da cobrança de débito totalmente quitado. Nem se argumente que a existência de suspeita da inautenticidade da autenticação mecânica. Deveria a CEF ter diligenciado na comprovação do pagamento do título antes de enviálo a protesto. Portanto, o protesto de título quitado constitui ilegalidade que, por si só, gera direito à indenização por dano moral, independentemente de prova objetiva do constrangimento ou do abalo á honra e à reputação da pessoa. O dano moral existe pelo fato de a CEF ter levado a protesto taxa condominial quando esta já havia sido paga, pois, sendo o dano de natureza extrapatrimonial, também se caracteriza pela agressão à auto-estima e a valores subjetivos individuais, independentemente da repercussão negativa do fato perante o meio social da vítima. Quanto à fixação do quantum indenizatório, o ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, do Superior Tribunal de Justiça, assim expôs sobre o dano moral, em diversos votos de sua lavra:... III o valor da indenização por dano moral sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de Justiça, AC Nº PB fls. 7/8

8 recomendando-se que, na fixação da indenização a esse título, o arbitramento seja feito com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível sócio-econômico da parte autora e, ainda, ao porte econômico da ré, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.... (RESP Nº /RJ). No presente caso, a sentença bem fixou o valor indenizatório em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), compatível com os transtornos sofridos pelo apelado. apelação. Ante o exposto, nego provimento à É como voto. Des. Federal Ridalvo Costa Relator AC Nº PB fls. 8/8