PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5.ª REGIãO Gabinete do Desembargador Federal Marcelo Navarro

Transcrição

1 APELAÇÃO CRIMINAL (ACR) Nº 11490/CE ( ) APTE : MANOEL CAMELO FILHO ADV/PROC : JOSE NILSON FARIAS SOUSA JUNIOR E OUTROS APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM : 18ª VARA FEDERAL DO CEARá (COMPETENTE P/ EXECUçõES PENAIS) - CE RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO RELATÓRIO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO: Manoel Camelo Filho interpõe a presente apelação criminal contra sentença prolatada pelo MM. Juízo da 18ª Vara Federal do Ceará que o condenou como incurso no art. 55, da Lei 9.605/98 e no art. 2º, da Lei 8.176/91. A denúncia (fls. 45/47), embasada no Inquérito Policial nº 0972/2009, noticia a exploração de arenito (rocha ornamental), sem autorização legal, pela empresa MILGRAN Indústria e Comércio de Granitos Ltda, sob responsabilidade do apelante. Tal conduta teria sido descoberta em 14 de maio de 2008, quando fiscais do Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM apreenderam 25 blocos de granito, totalizando 167,986 metros cúbicos, e determinaram a paralisação imediata dos trabalhos de extração ou remoção de arenito (rocha ornamental) uma vez que tal prática constitui lavra ilegal, realizada sem autorização do Governo Federal (fls. 007 IPL). Inconformado com a decisão que julgou procedente a denúncia, Manoel Camelo Filho argumenta, nas razões recursais (fls. 452/465), que a atividade realizada pela empresa Milgran, no momento da fiscalização do DNPM, destinava-se à pesquisa e não à comercialização. Aduz que possuía alvará para pesquisa e que, nos termos do art. 14 do Código de Mineração (Decreto lei 227/67), são permitidas a abertura de escavações e a extração de amostras para análise. Prossegue a defesa ressaltando alguns pontos: I que entre a concessão do Alvará de Pesquisa e a vistoria, extraiu-se apenas 25 blocos, quando poderia extrair até 1800 toneladas; II que a sua Licença Operacional, fornecida pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente SEMACE, datada de 5 de junho de 2006, com validade até 30 de maio de 2009, permitialhe a extração de calcário em área de até 5 hectares, quando a área explorada teria sido ínfima. E, ao final, questiona como poderia ter sido o acusado ACR nº CE 1 MACBCL

2 condenado pela prática do art. 55 da Lei 9.605/98, se possuía as licenças ambientais. Apresentadas contrarrazões, às fls. 468/476, em que ratifica os termos da denúncia, registrando que o apelante só recebeu a Autorização de Lavra (Guia de Utilização) em 22/03/2010, bem como que os limites da pesquisa foram ultrapassados, uma vez que a extração de minério realizada correspondia a valores incompatíveis com esta finalidade, o que caracteriza a lavra. Nesta instância, parecer da Procuradoria Regional da República pelo não provimento do recurso (fls. 479/481). Dispensada a remessa ao revisor, por se tratarem de crimes a que a lei comina pena de detenção. É o relatório. ACR nº CE 2 MACBCL

3 APELAÇÃO CRIMINAL (ACR) Nº 11490/CE ( ) APTE : MANOEL CAMELO FILHO ADV/PROC : JOSE NILSON FARIAS SOUSA JUNIOR E OUTROS APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM : 18ª VARA FEDERAL DO CEARá (COMPETENTE P/ EXECUçõES PENAIS) - CE RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO VOTO O Senhor DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO: Consoante relatado, o apelante, Manoel Camelo Filho fora condenado pela prática dos crimes previstos no art. 55, da Lei 9.605/98 e art. 2º, da Lei 8.176/91, a seguir transcritos: Lei 9.605/98: Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Lei 8.176/91: Art. 2 Constitui crime contra o patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título autorizativo. Pena: detenção, de um a cinco anos e multa. 1 Incorre na mesma pena aquele que, sem autorização legal, adquirir, transportar, industrializar, tiver consigo, consumir ou comercializar produtos ou matéria-prima, obtidos na forma prevista no caput deste artigo. De acordo com estes dispositivos, a lavra regular de recursos minerais depende de prévia autorização, a ser concedida pelos órgãos competentes e não se confunde com a autorização para pesquisa. Analisando o histórico do Processo nº /2006 protocolizado junto ao DNPM, no qual Manoel Camelo Filho requereu a autorização para pesquisa de conglomerado para o setor de rochas ornamentais e revestimento, vê-se que, em 20/10/2006, foi publicado o Alvará nº 9.969/2006, que autorizou a pesquisa requerida em uma área com extensão de 515,40 ha. ACR nº CE 3 MACBCL

4 Entretanto, em 29/10/2007, quando realizada uma primeira vistoria no local, os geólogos verificaram a lavra irregular de arenito para rocha ornamental, oportunidade em que notificaram o titular da área. Logo em seguida, em 06/11/2007, o réu solicitou junto ao DNPM a Guia de Utilização para extração de 720m³ de rocha ornamental. Essa guia lhe permitiria não apenas a pesquisa, mas também a extração da substância mineral na quantidade máxima especificada, ficando liberada, inclusive, a sua alienação comercial (venda, transferência, consumo, transformação, etc.). Entretanto, em 14/05/2008, quando o Departamento Nacional de Produção Mineral realizou nova vistoria, constatou-se uma frente de lavra de granito ornamental, localizada dentro da poligonal que define a área do processo supracitado, de titularidade de Manoel Camelo Filho, sem que se tenha emitido qualquer título com autorização para a lavra de granito na área do referido processo (fls. 06 IPL). Diante desse quadro, o DNPM apreendeu 25 (vinte e cinco) blocos de granito aparelhados, totalizando 167,986 metros cúbicos de arenito extraídos irregularmente (Ofício nº 1013/2008). Estas informações apontam para a extração de recursos minerais pela empresa administrada pelo apelante. Cumpre-nos analisar se havia permissão administrativa para a retirada desse material, da forma e na quantidade que o DNPM constatou in loco. De fato, como argumenta a defesa, o réu possuía alvará do DNPM e licença da SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente. Contudo, o alvará concedido pelo DNPM (fl. 76) o autorizava a pesquisar a área delimitada no documento, mas não a realizar a atividade de lavra do material. A lavra poderia ser realizada pelo réu após a autorização concedida por meio da Guia de Utilização, que lhe foi deferida em 22/03/2010. Antes deste período, a atividade de lavra é irregular, nos termos das legislações específicas. Registre-se, ainda, que a licença concedida pelo estado é necessária, mas não suficiente para tornar legal a extração de arenito realizada pelo réu, já que imprescindível a autorização do órgão federal. Também não merece prosperar a tese defensiva de que a extração realizada pela empresa Milgran não se configura como lavra, mas sim pesquisa, portanto, dentro dos limites da autorização concedida pelo DNPM. ACR nº CE 4 MACBCL

5 Neste ponto, por se tratar de questão técnica, o testemunho de Saulo de Almeida Gomes, servidor do DNPM, é esclarecedor: que o acusado possuía alvará de pesquisa para estudo da área, sem possibilidade de exploração comercial. Que a pesquisa envolve atividades de prospecção, retirada de amostras para análise do minério. Que pelo volume do material retirado ficou caracterizada a exploração comercial do local, incompatível com a autorização de pesquisa. Que no local foram encontrados em torno de 20 blocos de arenito (rocha ornamental). Que o acusado, à época não possuía guia de utilização para o local. Que este foi o motivo para a expedição do auto de paralisação da operação. Que a autuação pelo DNPM motivou o réu a entrar com o pedido de guia de utilização. Que a quantidade de material encontrada seria compatível com uma guia de utilização, caso esta existisse. Que havia no local em torno de 10 pessoas trabalhando, o que é compatível com o número necessário para uma pedreira de médio porte. (...) Que os equipamentos encontrados no momento da vistoria são característicos para operação de lavra e não de pesquisa. Que dentre os equipamentos que estavam no local encontrava-se uma máquina de fio diamantado, própria para corte do maciço de rocha, visando extração dos blocos. Que esta máquina não é utilizada para atividades de mera pesquisa (fls. 163/165). As informações desta testemunha, analisadas em conjunto com as demais provas documentais, ratificam o decreto condenatório ao demonstrar que a atividade concretizada pelo réu tratava-se de lavra e não de pesquisa e, por conseguinte, como realizada sem a prévia autorização dos órgãos competentes, constitui conduta típica prevista no art. 55 da Lei 9.605/98 e art. 2º, da Lei 8.176/91. Com tais considerações, NEGO PROVIMENTO à apelação criminal, para manter a condenação do réu nos termos da sentença. Retifique-se a autuação para constar o nome correto do réu: MANOEL CAMELO FILHO. É como voto. Recife, 12 de fevereiro de ACR nº CE 5 MACBCL

6 Desembargador Federal MARCELO NAVARRO RELATOR ACR nº CE 6 MACBCL

7 APELAÇÃO CRIMINAL (ACR) Nº 11490/CE ( ) APTE : MANOEL CAMELO FILHO ADV/PROC : JOSE NILSON FARIAS SOUSA JUNIOR E OUTROS APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM : 18ª VARA FEDERAL DO CEARá (COMPETENTE P/ EXECUçõES PENAIS) - CE RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL MARCELO NAVARRO EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 55 DA LEI Nº 9.605/98 E ART. 2º, CAPUT, DA LEI Nº 8.176/91. EXTRAÇÃO DE ARENITO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS ÓRGÃOS COMPETENTES. ATIVIDADE QUE CARACTERIZA LAVRA. SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA. 1. A conduta de extrair minérios, sem a prévia autorização, permissão, concessão ou licença ambiental e da União Federal enseja responsabilização criminal nos termos do art. 55, caput, da Lei nº 9.605/98 e art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/ A acusação encontra-se embasada em relatório de fiscalização do Departamento Nacional de Produção Mineral DNPM, em fotos e em depoimentos que comprovam a extração de 25 blocos de granito, totalizando 167,986m³. Esta atividade, por vários fatores técnicos constatados in loco por servidores do DNPM, configura-se como lavra de minérios e não como pesquisa. 3. Desta forma, apesar de possuir autorização do DNPM para realizar pesquisa na área vistoriada, ao proceder a lavra de minérios, antes da concessão de Guia de Utilização pelo órgão federal competente, a conduta do acusado subsume-se aos tipos penais do art. 55, caput, da Lei nº 9.605/98 e art. 2º, caput, da Lei nº 8.176/ Apelação criminal não provida. A C Ó R D Ã O Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação criminal, nos termos do voto do relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes nos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 12 de fevereiro de Desembargador Federal MARCELO NAVARRO RELATOR ACR nº CE 7 MACBCL