Relator Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS

Transcrição

1 1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA 10ª CÂMARA CÍVEL Agravo de Instrumento n.º Agravante: BAR E RESTAURANTE SIRIOCO LTDA. (Autor) Agravado: COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS - CEDAE (Ré) Ação Indenizatória - Proc.ª ª Vara Cível da Comarca da Capital Relator Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS AGRAVO DE INSTRUMENTO. Ação Indenizatória. Vazamento de esgoto em via pública. Bueiro na calçada em frente ao restaurante do autor. Decisão agravada que acolheu a preliminar de ilegitimidade ativa, entendendo pelo caráter de interesse coletivo da demanda. Apesar do interesse de ordem coletiva dos moradores da área atingida, não se pode ignorar a existência de direitos individuais que também merecem ser tutelados. Ofensa à dignidade e à saúde do autor, em razão da desídia da concessionária ré ao deixar o esgoto correndo a céu aberto, foco de transmissão de doenças. Inequívocos prejuízos econômicos sofridos pelo autor, eis que a existência de um vazamento de esgoto em frente ao restaurante que mantém, afasta completamente a clientela do estabelecimento comercial. Garantia do direito fundamental de acesso à justiça. Reforma da decisão agravada para reconhecer a legitimidade ativa ad causam do agravante. Precedentes jurisprudenciais desta Corte. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO, nos termos do art. artigo 557, 1º - A, do CPC.

2 2 DECISÃO DO RELATOR 1. Agravo de instrumento interposto, tempestivamente, pela parte autora - BAR E RESTAURANTE SIRIOCO LTDA., em face da decisão proferida pelo Juízo da 49ª Vara Cível da Comarca da Capital, nos autos da ação indenizatória proposta em face de COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS CEDAE. 2. A decisão agravada acolheu a preliminar de ilegitimidade ativa ad causam arguida pela parte ré, entendendo pelo caráter de interesse coletivo da demanda, uma vez que eventual procedência do pedido implicará em realização de obra que poderá abranger área muito maior do que aquela localizada na rede de esgoto pertinente ao canal do demandante. 3. Sustenta o autor agravante, em síntese, que a existência de interesse coletivo não pode afastar o reconhecimento do seu interesse individual, diretamente afetado pelo vazamento de esgoto sólido em um dos bueiros na calçada em frente ao seu estabelecimento comercial. Aduz que os efeitos da má prestação do serviço se agravam

3 3 por se tratar de um restaurante, pois, além de afugentar a clientela, o vazamento de esgoto representa risco à saúde pública. 4. Informações prestadas pelo juízo a quo às fls Contrarrazões da ré agravada às fls. 16/ Os autos vieram conclusos em 19 de fevereiro de 2014, sendo devolvidos um dia após, com esta decisão. RELATEI. PASSO A DECIDIR. 1. Recurso objetivando a reforma da decisão que acolheu a preliminar de ilegitimidade ativa ad causam arguida pela parte ré, entendendo pelo interesse coletivo da presente demanda, onde o autor busca a realização de reparo na rede de esgoto, em razão de vazamento na calçada em frente ao seu estabelecimento comercial. 2. Em que pese o entendimento adotado pelo douto magistrado a quo, verifica esta Relatoria que assiste razão ao autor agravante.

4 4 3. Inconteste o interesse de ordem coletiva dos moradores da área atingida pelo vazamento de esgoto na realização do pretendido reparo na rede local. Contudo, não se pode ignorar a existência de direitos individuais que também merecem ser tutelados. 4. Na hipótese vertente, é clara a ofensa à dignidade e à saúde do autor, em razão da desídia da concessionária ré ao deixar o esgoto correndo a céu aberto, foco de transmissão de doenças aos moradores da região. 5. Ademais, se mostram inequívocos os prejuízos de ordem econômica sofridos pelo autor em razão da má prestação do serviço por parte da concessionária ré, pois não há dúvidas que a existência de um vazamento de esgoto sólido na calçada em frente ao restaurante que mantém, afasta completamente a clientela do estabelecimento. 6. Nesse pálio, os danos causados ao autor em razão do vazamento de esgoto em via pública, na calçada em frente ao seu estabelecimento comercial, justificam a busca da prestação jurisdicional a fim de que a

5 5 concessionária ré proceda ao reparo na tubulação da rede de esgoto local, sob pena de violação ao direito fundamental de acesso à justiça. 7. Corroborando todo o exposto: APELACAO - Julgamento: 27/11/ SEGUNDA CAMARA CIVEL - Apelação cível. Vazamento de esgoto em via pública. Autores que residem no logradouro supostamente atingido pelo vazamento. Sentença que, no curso da instrução processual, extinguiu o processo sem julgamento de mérito por ilegitimidade ativa. Repercussão transindividual do dano que não afasta o reconhecimento de interesses individuais dignos de tutela. Vazamento que compromete diretamente a saúde e a dignidade dos autores, cujo odor, alagamento e incremento do risco de doenças invade o âmbito de suas residências. Legitimidade da parte autora. Presença das condições da ação e ao regular desenvolvimento do processo. Teoria da causa madura. Inaplicabilidade ao caso em tela, em que ainda há matéria fática pendente de esclarecimento. Dado parcial provimento ao recurso para anular a sentença que extinguiu o processo sem julgamento de mérito, devendo retornar os autos ao juízo de origem ª Ementa - APELACAO / REEXAME NECESSARIO - Julgamento: 07/06/ SETIMA CAMARA CIVEL - ADMINISTRATIVO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO REPAROS EM REDE DE ESGOTO - PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE ATIVA E PASSIVA RESPONSABILIDADE CIVIL DANO MORAL. I Legitimidade ativa. Os danos causados aos autores em decorrência do vazamento de esgoto sanitário, em via pública, na localidade onde residem, assegura o direito a busca da prestação jurisdicional para condenar o Município em obrigação de fazer, consubstanciada na reparação do dano. II Legitimidade passiva.

6 6 Coloca-se o Município na condição de executor das obras de reparo na rede de esgoto, conforme demonstrado nos autos. III Responsabilidade civil objetiva caracterizada. Omissão específica. Prova documental que evidencia a existência de problemas na rede de esgoto, solucionados no curso do feito. Perda do objeto, nesta parte, por fato superveniente. IV Dano moral in re ipsa. Vazamento de esgoto a céu aberto que, por si só, denota a presença de danos aos moradores da área. Razoabilidade e proporcionalidade do quantum arbitrado. Juros moratórios computados a partir da data da citação (art. 405, do CC), face a ausência de prova da data em que houve o defeito na rede coletora de esgotamento sanitário. V - Verba honorária que deve ser imposta com observância da regra do art. 20, 4º, do CPC, levando-se em conta que a condenação do Município subsiste apenas em relação ao dano moral. VI Conhecimento e provimento parcial do primeiro recurso, dando-se por prejudicado o segundo, nos termos do art. 557, do CPC ª Ementa - APELACAO - Julgamento: 30/09/ DECIMA CAMARA CIVEL - CEDAE. Fornecimento de água e esgoto. Interesses transindividuais. Artigo 81, parágrafo único, inciso II, do CDC. Descabido o exercício individual de interesse coletivo. Ilegitimidade ativa da autora. Aplicação dos artigos 82 do CDC e 5º da Lei Dano moral. Direito individual homogêneo. Possibilidade de tutela indenizatória individual. Incidência do artigo 515, 3º, do CPC quanto a essa parte da pretensão. Inexistência incontroversa do serviço de água e coleta de esgoto. Dever da concessionária. Incidência dos artigos 22 do CDC e 6º, 1º, da Lei Federal Dano caracterizado. Precedentes deste Tribunal. Indenização adequada: dois mil reais. Fica reconhecida a sucumbência recíproca. Sentença retificada. Apelo parcialmente provido pelo relator.

7 7 8. Por tais fundamentos, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, com base no disposto no artigo 557, 1º - A, do CPC, reformando-se a decisão agravada, para reconhecer a legitimidade ativa ad causam do agravante. Publique-se. Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de Desembargador PEDRO SARAIVA DE ANDRADE LEMOS R E L A T O R