Análise do Efeito da Idade Relativa Sobre a Eficiência Tática Defensiva de Jogadores de Futebol Sub-12.

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1 Análise do Efeito da Idade Relativa Sobre a Eficiência Tática Defensiva de Jogadores de Futebol Sub-12. Machado, G. F. a ; Cardoso, F. S. L. a ; Teoldo, I. a a Núcleo de Pesquisas e Estudos em Futebol da Universidade Federal de Viçosa NuPEF UFV Brasil - guilherme.machado19@hotmail.com Palavras-chave: Futebol; Tática; Idade; Relativa Resumo O presente trabalho tem por objetivo analisar o efeito da idade relativa no percentual de acertos e na eficiência tática defensiva de jogadores de futebol. Foram analisadas 684 ações táticas defensivas de 24 jogadores da categoria sub-12. Utilizou-se o sistema de avaliação FUT-SAT para análise das ações táticas. Os dados referentes às datas de nascimentos dos jogadores foram divididos em quartis. Para o tratamento estatístico foi utilizado o software SPSS. Foi realizada a análise descritiva e análise estatística a partir dos testes Shapiro-Willk, ANOVA com Post Hoc de Tukey e o Kappa. Não foram encontradas diferenças significativas entre a eficiência tática defensiva e os grupos analisados (p<0,05). Conclui-se que a eficiência tática defensiva não foi influenciada pelos efeitos da idade relativa nesta amostra. Abstract The aim of this study was to examine the relative age effects on defensive tactical efficiency of soccer players. Were analyzed 684 defensive tactical actions of 24 players under-12. A system of tactical assessment in soccer (FUT-SAT) was used to tactical action analysis. The data about birth-date of soccer players were divided into quartiles. Was used the SPSS software for statistical analysis. The tests Shapiro-Wilk, Anova and Kruskal-Wallis were carried out for descriptive and statistical analysis of data. The results did not indicate statistical differences between defensive tactical efficiency and the analyzed groups (p<0,05)]. It is possible to conclude that the defensive tactical efficiency was not influenced by the relative age effects in this sample.

2 Introdução O futebol é uma modalidade na qual há uma modificação constante da dinâmica do jogo, isto se dá devido às situações de oposição no decorrer de uma partida, com uma frequência e ordem de acontecimentos de difícil previsão (GARGANTA, 1997). Para a solução dos problemas advindos deste contexto é necessária a realização de ações táticas, sendo assim essa capacidade deve ser a principal regente das demais capacidades do jogo, como as físicas, técnicas e psicológicas. Para o sucesso na realização das ações táticas é imprescindível o desenvolvimento dos aspectos cognitivos do atleta, pois este será responsável pela percepção e adaptação ao contexto, resultando na tomada de decisão mais coerente às necessidades impostas pelo jogo (GRÉHAIGNE, GODBOUT 1995; GARGANTA, 1997). No futebol o alto desempenho está relacionada com a eficiência na realização das ações táticas pelos jogadores, que são imprescindíveis no contexto esportivo, principalmente nas categorias de base dos clubes de futebol, sendo uma variável que pode determinar o sucesso desses atletas na trajetória para o profissionalismo (GARGANTA, 1997; PAOLI et al, 2008). Na busca de igualdade nas condições de competição entre os atletas é utilizada a separação em diferentes categorias, esta separação leva em consideração a data de corte estabelecida pela FIFA (Fédération Internationale de Football Association), que vai de primeiro de janeiro à 31 de dezembro (JIMÉNEZ, PAIN 2008; RIBEIRO, 2009). Porém devese levar em consideração que, pelo fato de se tratarem de jogadores jovens, uma diferença de quase um ano no desenvolvimento tem grande reflexo em variáveis importantes para o contexto esportivo tais como coordenação, peso, altura, força, velocidade (HELSEN, WHINCKEL, WILLIAMS, 2005) percepção, reflexo, maturação psicológica e emocional, das habilidades táticas e estratégicas, além do maior tempo de prática na modalidade (JIMÉNEZ, PAIN 2008; RIBEIRO, 2009). Todas essas diferenças no desenvolvimento podem provocar uma desvantagem para os jogadores nascidos no final de um mesmo ano e este fenômeno é conhecido como efeito da idade relativa (EIR) (HELSEN, WHINCKEL, WILLIAMS, 2005; DELORME, BOICHÉ, RASPAUD, 2009). O presente trabalho tem por objetivo identificar e quantificar a correlação entre a eficiência tática defensiva e o efeito da idade relativa.

3 Material e Métodos Amostra Participaram deste estudo, 24 jogadores da categoria sub-12 de um clube mineiro de futebol, participantes de um programa sistemático de treinamento, com no mínimo três sessões de treino por semana, no qual disputam campeonatos a nível regional ou estadual. Foram observadas 684 ações táticas defensivas. Os participantes foram agrupados em quartis de acordo com as suas datas de nascimento: Q1(janeiro-março); Quartil dois Q2(abril-junho); Quartil três Q3(julhosetembro); e Quartil quatro Q4(outubro-dezembro). Instrumento O instrumento utilizado para a recolha e análise dos dados foi o sistema de avaliação tática no futebol FUT-SAT, (COSTA et al., 2011). Através deste sistema e considerando os dez princípios táticos fundamentais do futebol, representado por cinco princípios táticos da fase ofensiva, que são: (i) penetração; (ii) cobertura ofensiva; (iii) espaço; (iv) mobilidade e (v) unidade ofensivos, e por cinco princípios táticos da fase defensiva: (vi) contenção; (vii) cobertura defensiva; (viii) equilíbrio; (ix) concentração e (x) unidade defensiva. Com este sistema é possível avaliar as ações táticas realizadas pelos jogadores, levando em consideração a qualidade da ação, o princípio tático realizado, a localização do jogador no campo de jogo no momento em que realiza a ação e o resultado final desta ação (COSTA et al., 2009). O FUT-SAT é realizado em um campo reduzido de 36 metros de comprimento por 27 metros de largura, durante quatro minutos de jogo, com uma organização de Goleiro + 3 vs. 3 + Goleiro. O teste é realizado de acordo com as regras oficiais do futebol com exceção da regra de impedimento.

4 Um formulário de dados foi utilizado antes do teste para recolha dos dados referentes à data e ao local de nascimento dos jogadores que realizaram o teste. Procedimento Para a recolha dos dados referentes à data e local de nascimento, e para a realização do teste FUT-SAT houve a autorização prévia dos responsáveis legais do clube e dos jogadores.. Foram formadas duas equipes e sucedeu a explicação dos objetivos do teste FUT-SAT. Houve a distribuição de coletes numerados para facilitar a identificação dos atletas e foram concedidos 30 segundos para a familiarização dos jogadores com o teste, após o término deste tempo deu-se início ao teste. Material Para mensurar a existência do EIR, Para a gravação dos jogos foi utilizada uma câmara digital (SONY modelo HDR- XR100). O material de vídeo obtido foi introduzido, em formato digital, num computador portátil (DELL modelo Inspiron N4030 processador Intel Core i3) via cabo USB, convertendo-os em ficheiros avi. Para o tratamento das imagens e análise dos jogos foi utilizado o software Soccer Analyzer. Este software possibilita a inserção das referências espaciais do teste no vídeo e viabiliza a avaliação fidedigna das ações táticas baseando-se nas movimentações e posicionamento dos jogadores no campo de jogo. Análise Estatística Para o tratamento estatístico dos dados utilizou-se o software SPSS (Statistical Package for Social Science) for Windows, versão Para caracterização da amostra foi utilizada análise descritiva, quantificando média, desvio padrão e freqüência para as variáveis (quartil e princípios táticos). O teste Shapiro-Wilk foi usado para a análise da distribuição da normalidade. Utilizou-se o teste paramétrico de Anova e o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis para comparar se houve diferenças significativas entre o percentual de acerto e os diferentes quartis.

5 Análise da fiabilidade O teste Kappa de Cohen foi utilizado para medir a fiabilidade, utilizando o software SPSS for windows versão Para aferir a fiabilidade do teste foram reavaliadas 210 ações táticas, que respondem por 15,02% da amostra, um valor superior ao de referência (10%), indicado pela literatura (TABACHNICK, FIDELL, 2007). Neste procedimento participaram dois avaliadores treinados que apresentaram valores situados entre o mínimo 0,948 (ep=0,026) e o máximo 1 para fiabilidade intra-avaliador. Para a fiabilidade interavaliador os valores situaram-se entre o mínimo 0,995 (erro padrão = 0,005) e o máximo 1. Resultados A tabela 1 apresenta os percentuais de acerto dos seguintes princípios táticos: contenção; cobertura defensiva; equilíbrio; concentração; unidade defensiva e também da variável total defensivo em função dos quartis Q1, Q2, Q3 e Q4. Tabela 1. Média e desvio padrão da eficiência dos princípios táticos defensivos em função dos quartis de nascimento dos jogadores. PRINCÍPIOS GERAL Q1 Q2 Q3 Q4 Sig. (p<0,05) Contenção 74,65±16,83 81,40±15,68 73,91±18,99 72,22±18,42 72,50±3,53 0,810 Cobertura Defensiva 90,72±22,89 89,33±15,34 91,42±15,73 88,88±33,33 100,00±0,00 0,632 Equilíbrio 74,59±23,60 88,00±17,88 71,62±30,81 69,75±22,62 75,71±6,06 0,562 Concentração 90,33±18,21 88,33±16,24 89,16±17,44 90,10±22,38 100,00±0,00 0,758 Unidade Defensiva Total Defensivo 90,79±13,87 82,85±17,28 94,48±10,83 94,09±11,16 81,25±26,51 0,399 81,55±8,91 83,73±7,82 81,98±12,18 80,39±8,10 80,35±7,57 0,925 O princípio tático unidade defensiva foi o que apresentou maior valor absoluto de média geral de eficiência (90,79±13,87) e média entre os quartis igual à: Q1(82,85±17,28); Q2(94,48±10,83); Q3(94,09±11,16); Q4(81,25±26,51). Já o princípio tático equilíbrio apresentou menor valor absoluto de média geral de eficiência (74,59±23,6) e média entre os quartis igual à: Q1(88,00±17,88); Q2(71,62±30,81); Q3(69,75±22,62); Q4(75,71±6,06).

6 Entretanto, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na eficiência de realização dos princípios táticos defensivos por quartil (p<0,05). Discussão O presente trabalho tem por objetivo identificar e quantificar a correlação entre a eficiência tática defensiva e o efeito da idade relativa. O princípio tático, unidade defensiva, apresentou maior valor absoluto na média geral de eficiência, tal fato pode ser explicado uma vez que este princípio é realizado em uma área proporcionalmente maior do campo do que os outros, e sua execução basear-se na coesão, na efetividade e no equilíbrio funcional entre as linhas longitudinais e transversais da equipe (COSTA et al, 2009). Outro fator que deve ser levado em conta é a complexidade da tarefa, pois compreende uma tarefa que garotos da categoria sub-12 já tem capacidades específicas para realização, como utilização das relações espaciais, consciência temporal, pensamento espacial, com amadurecimento da percepção visual (MALINA et al., 2004). Já o princípio equilíbrio apresentou menor valor absoluto na média geral de eficiência, o que pode ter relação com sua característica, uma vez que a realização deste princípio é definida como ações de reorganização do posicionamento defensivo em relação às movimentações dos adversários, e esta tarefa acarreta uma grande exigência de ações, tais como, cobertura de espaços e marcação dos jogadores livres sem posse da bola, cobertura de eventuais linhas de passe e, em alguns casos, a redução do ritmo de jogo (COSTA et al., 2009). Pelo fato deste princípio ser concretizado fora do centro de jogo, é também necessário alto desenvolvimento cognitivo, para que os jogadores identifiquem as melhores soluções de acordo com o contexto do jogo e das organizações espaciais dos jogadores e da bola para tomarem a decisão do que fazer, com maior chance de êxito. Apesar dos resultados acima, um estudo realizado por Costa et al, 2010, apresentou resultados contraditórios, pois o princípio unidade defensiva apresentou o segundo menor valor de média de eficiência entre os princípios táticos defensivos, com valor de (36,71±24,81). Outra diferença encontrada foi no equilíbrio, que neste estudo apresentou menor valor de média e desvio padrão enquanto que no estudo referido acima apresentou o segundo maior valor, com média de (37,25±33,54). O que pode ter influenciado para a discrepância entre os resultados dos dois estudos é a diferença na capacidade tática e cognitiva dos jogadores que participaram dos testes, pois estas qualidades são necessárias para o êxito na realização dos princípios táticos.

7 Entretanto não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas entre os quartis de nascimento com relação à eficiência tática defensiva dos jogadores desta amostra.é possível que a ausência de diferenças esteja relacionada à fatores maturacionais, tanto no aspecto físico, quanto no cognitivo, além de uma certa homogeneidade na amostra gerado pelo forma de seleção dos atletas. Em relação ao EIR, uma das suas causas é a grande valorização do aspecto físico, principalmente a estatura, no momento da seleção dos jogadores (HELSEN, WHINCKEL, WILLIAMS, 2005). Entretanto, essa diferença física acentua-se durante e após a taxa máxima de aumento da altura, com desenvolvimento muscular acelerado, levando a uma mudança também na coordenação (MALINA et al, 2004; HELSEN, WHINCKEL, WILLIAMS, 2005). Como esta fase do desenvolvimento ocorre por volta dos 13 anos para os homens, a maioria dos atletas da categoria sub-12 ainda não passaram por isto, não sendo tão evidentes as diferenças físicas. Em adição, as valências como velocidade, potência e força, se apresentam como habilidades fundamentais para a execução dos princípios táticos defensivos, sendo estas diferenças maturacionais mais evidentes entre os 13 e 16 anos (MALINA et al., 2004), podendo explicar porque não se encontraram diferenças significativas para a categoria sub-12. Demonstrando uma distribuição mais homogenia nas valências físicas para esta categoria, não apresentando vantagens para os jogadores mais velhos em relação aos seus pares nascidos no começo do ano, explicando-se a possível ausência do EIR. Deve-se levar em conta que a amostra é composta por jogadores que disputam campeonatos em nível regional ou estadual, onde é exigido um elevado rendimento desde cedo, sendo esta característica mais evidenciada no futebol do que nos outros esportes (BOMPA, 1999; WEINECK, 1999; HELSEN, WHINCKEL, WILLIAMS, 2005). No processo de seleção já se espera um determinado nível de qualidade dos atletas, levando à escolha apenas dos jogadores que apresentam determinadas características valorizadas pela equipe. Sendo assim este fato também pode ter relação com os resultados encontrados, uma vez que, ao promover uma homogeneidade do grupo, se torna um fator que contribui para não se encontrar diferenças significativas nos resultados. Pesquisas futuras são necessárias para explorar de maneira mais abrangente a relação entre o efeito da idade relativa e a eficiência tática defensiva para apontar e

8 direcionar possíveis deficiências ou diferenças qualitativas na realização dos princípios táticos por quartil, contribuindo para.a melhora dos treinamentos e para uma disputa mais igualitária entre os jogadores, no processo de formação esportiva. Conclusão Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os valores de eficiência tática defensiva pelos quartis de nascimento dos jogadores, apontando que o efeito da idade relativa não influenciou a eficiência tática defensiva dos jogadores desta amostra. Referências BOMPA, J.O. (1999). Periodization theory and methodology of training. Chaimpaign, Human Kinetics, COSTA, I. T., GARGANTA, J. GRECO, P. J., MESQUITA, I. (2009). "Princípios Táticos do Jogo de Futebol: conceitos e aplicação." Revista Motriz, 15 (3): COSTA, I. T., GARGANTA, J., GRECO, P. J., MESQUITA, I., Afonso, J. (2010). Assesment of Tactical Principles performed by youth soccer players from different age groups. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 10. COSTA, I. T., GARGANTA, J., GRECO, P. J., MESQUITA, I. MAIA, J. (2011). "Sistema de avaliação tática no Futebol (FUT-SAT): Desenvolvimento e validação preliminar." Motricidade, 7: DELORME, N., BOICHÉ, J. RASPAUD M. (2010). "Relative age and dropout in French male soccer." Journal of Sport Sciences 28:7: FIFA, (2008). Laws of the game 2008/2009. Zurich: Fédération Internationale de Football Association, 138p. GARGANTA, J. (1997). Modelação táctica do jogo de futebol estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento. Doutorado (Ciências do Desporto). Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, Universidade do Porto, Porto, p.312.

9 GRÉHAIGNE, J.F. GODBOUT, P. (1995). Tactical knowledge in team sports from a constructivist and cognitivist perspective. Quest, n.47, p HELSEN, W. F., WINCKEL, J. V., WILLIAMS, A. M. (2005). "The relative age effect in youth soccer across Europe." Journal of Sport Sciences 23 (6): JIMÉNEZ, I. P., PAIN, M. T. G. (2008). "Relative age effect in Spanish association footall: Its extent and implications for wasted potential." Journal of Sports Sciences, 26(10): MALINA, R. M., EISENMANN, J., CUMMING, S., RIBEIRO, B., AROSO, J. (2004). "Maturityassociated variation in the growth and functional capacities od youth football players " European Journal of Applied Physiology 91: RIBEIRO, R. J. S. (2009). Efeito da Idade Relativa no Futebol. Por categorias etárias, estatuto posicional e tempo jogado. Monografia (Ciências do Desporto) Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, Universidade do Porto, Porto, p. 49. PAOLI, P. B., SILVA, C. D., SOARES, GONÇALVES, A. J. (2008). Tendência atual da detecção, seleção e formação de talentos no futebol brasileiro. Revista Brasileira de Futebol, Viçosa, v. 1, n. 2, p , jul./dez TABACHNICK, B.; FIDELLI, L. (2007). Using Multivariate Statistics. New York: Harper Row Publishers, 5; WEINECK, J.(1991). Biologia do esporte. São Paulo, Manole.