UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ UESC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GEOGRAFIA

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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ UESC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE GEOGRAFIA MAPAS MENTAIS NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: Uma estratégia para a aprendizagem da cartografia RESUMO Lúcia Helena Gomes Ramos 1 Este trabalho foi elaborado com o objetivo de refletir sobre a importância dos mapas mentais no ensino de Geografia, enquanto forma de aproximação entre os conhecimentos cartográficos e o cotidiano dos alunos. A elaboração e a utilização dos mesmos em sala de aula contribuem para o desenvolvimento do raciocínio geográfico. O trabalho apresenta ainda o relato de uma atividade desenvolvida com alunos da Educação de Jovens e Adultos, onde os mesmos produziram seus mapas mentais, expressando, além da sua forma de perceber o espaço, suas noções de cartografia. Palavras-chave: Mapas mentais; Cartografia; EJA; Aprendizado. INTRODUÇÃO O presente artigo tem por objetivo apresentar uma proposta metodológica de uso de mapas mentais numa classe de Educação de Jovens e Adultos (EJA), como base para o desenvolvimento da linguagem cartográfica. Os mapas costumam ser utilizados nas aulas de Geografia apenas com função localizadora ou ilustrativa. Simielli (1999) apresenta uma análise a respeito da Cartografia que justamente extrapola esses usos costumeiros e coloca o mapa como uma linguagem que possibilitará ao professor trabalhar questões de localização e análise, correlação e síntese. É a contextualização do mapa e a integração do mesmo com os saberes geográficos. Para Bomfim (2012), as representações cartográficas são variadas, de acordo com a finalidade de tais representações. Este autor afirma que: A cartografia é uma ciência que se utiliza de diferentes formas de representação e de diferentes formas de informações veiculadas no mundo para diferentes finalidades. Logo, além de ciência, de técnica e de arte, ela é um instrumento de pesquisa, mas 1 Aluna graduada em Licenciatura em Geografia e pós graduanda em Especialização em Ensino de Geografia Pela Universidade Estadual de Santa Cruz UESC. lhgr81@gmail.com

2 também um instrumento de ensino/aprendizagem, não só da Geografia, mas de outras disciplinas (BOMFIM, 2012, p. 190). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN s) já apontam para o desenvolvimento de propostas didáticas que aproximem a Cartografia da sala de aula vinculando-a, à aprendizagem e também a construção de uma linguagem cartográfica. De acordo com Joly (2004) a cartografia pode ser concebida como uma linguagem universal que nos permite ler e analisar o espaço geográfico. Contudo, esta importante ferramenta muitas vezes é negligenciada em nossas escolas, principalmente quando se trata do ensino de Geografia. As razões para isso são inúmeras. Desde a falta de domínio do professor ou também por não entenderem a cartografia como instrumento e sim como conteúdo, até mesmo pela resistência dos alunos na leitura e insegurança na elaboração de mapas. Através de uma proposta de elaboração de mapas mentais, o professor pode perceber de que forma os alunos aplicam seus conhecimentos geográficos, tais como as noções espaciais, direção e escala. Richter (2011, p.17) afirma que o mapa é um instrumento de comunicação e de representação que faz parte da vida do ser humano desde que o mesmo, em suas comunidades mais remotas, identificou a importância de desenhar o espaço vivido. Este é um entendimento que o professor precisa ter para elaborar uma proposta de construção de mapas mentais com seus alunos: compreender que os mapas representam algo concreto, real e que são importantes ferramentas na leitura da realidade. De acordo com Almeida (2001, p. 17): O indivíduo que não consegue usar um mapa está impedido de pensar sobre aspectos do território que não estejam registrados em sua memória. Está limitado apenas aos registros de imagens do espaço vivido, o que impossibilita de realizar a operação elementar de situar localidades desconhecidas. A escola é responsável por proporcionar aos educandos situações em que eles possam conhecer os instrumentos e as técnicas de representação da organização do espaço, especificamente a cartografia. A elaboração de mapas mentais com ênfase no desenvolvimento das habilidades cartográficas se constitui como uma importante ferramenta a ser explorada pelo professor, já que coloca o aluno na condição de protagonista de um material que posteriormente será explorado de forma a conduzir-lhe à compreensão dos elementos da cartografia. Almeida (2011) postula que a formação cidadã dos indivíduos perpassa também pelo domínio da linguagem cartográfica, isto é, pela sua capacidade de compreender um mapa.

3 Este pensamento vai convergir com os fundamentos do ensino de Geografia na EJA, pois os mesmos são voltados para a promoção da cidadania. Para a elaboração deste artigo foram realizadas consultas bibliográficas aos autores que versam sobre a chamada Cartografia Escolar, bem como sobre a importância da mesma como ferramenta de ensino. Buscou-se ainda um embasamento teórico sobre os mapas mentais e a forma como os mesmos podem auxiliar no processo de aproximação dos conhecimentos cartográficos da sala de aula. No último ponto do trabalho é apresentada a estratégia de produção de mapas mentais que foi aplicada com uma turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA), do Grupo Escolar Municipal Firmino Alves, como ponto de partida para o desenvolvimento da linguagem cartográfica. A CARTOGRAFIA E SUA UTILIZAÇÃO NAS AULAS DE GEOGRAFIA De acordo com Richter (2011, p ): Se o docente entender que o mapa é um objeto que serve somente para representar os fatos existentes e produzidos pela sociedade, por exemplo, essa leitura pode limitar a contribuição da Cartografia no processo de ensino-aprendizagem. [...] O que se quer destacar aqui é que o mapa, além de servir para representação espacial, possui forte relação com a linguagem de comunicação espacial. A partir desta análise podemos concluir que a concepção do docente com relação à Cartografia é que vai direcionar a forma como esta será utilizada em sala de aula. Se como um conteúdo estanque, trabalhado de forma mecânica ou como um instrumento de leitura e compreensão da realidade. É possível perceber que nos últimos anos o tratamento dado à Cartografia, por parte dos livros didáticos e também nos cursos de formação oferecidos aos professores, tem contribuído para o desenvolvimento de práticas que aproximem os conhecimentos cartográficos do cotidiano das aulas de Geografia. A cartografia escolar objetiva primordialmente a inserção dos mapas nas aulas de geografia, não como um conteúdo descritivo e ilustrativo, mas sim como um instrumento necessário à compreensão do espaço geográfico em suas várias nuances. Assim, a proposta de produção de mapas mentais, deve ser bastante utilizada pelos professores de Geografia, pois

4 possibilitam a construção de uma representação espacial de um determinado espaço, feita pelo próprio aluno. Para Katuta (2009, p ), no ensino de Geografia: [...] a apropriação e o uso da linguagem cartográfica devem ser entendidos no contexto da construção dos conhecimentos geográficos, o que significa dizer que não se pode usá-la per se, mas como instrumental primordial, porém não único, para a elaboração de saberes sobre territórios, regiões, lugares e outros. Se a supervalorizarmos, em detrimento do saber geográfico, corremos o sério risco de defender a linguagem por ela mesma, o que, a nosso ver, a esvazia em importância e significado tanto no ensino superior quanto no básico. Um dos motivos do distanciamento entre a Cartografia e sala de aula é de fato de esta ser apresentada aos alunos como algo já concebido e que só pode ser válido a partir de uma produção mais técnica e normativa. Isto é, os mapas não poderiam ser construídos pelos alunos, pois os mesmos não dominam a técnica da cartografia. Filizola e Kozel (2009) afirmam que as formas mecânicas como os mapas são trabalhados nas aulas de Geografia não acrescentam nada de significativo à formação dos alunos. Para estes autores a escola deve contribuir para a formação de leitores críticos de mapas e de mapeadores conscientes. E concluem: É nessa perspectiva, portanto, que a Cartografia deve ser concebida como linguagem da Geografia. Isso porque os mapas comunicam, transmitem informações. Não se trata assim de uma ilustração tão somente. Ao contrário, é uma imagem que retrata um certo aspecto, um recorte da realidade. [...] É uma representação do mundo daquele que elabora o mapa (FILIZOLA e KOZEL, 2009, p. 40). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN s) apontam a importância da cartografia para o ensino-aprendizagem da Geografia, afirmando que: A cartografia torna-se recurso fundamental para o ensino e a pesquisa. Ela possibilita ter em mãos representações dos diferentes recortes desse espaço e na escala que interessa para o ensino e pesquisa. Para a Geografia, além das informações e análises que se podem obter por meio dos textos em que se usa a linguagem verbal, escrita ou oral, torna-se necessário, também, que essas informações se apresentem especializadas, com localizações e extensões precisas, e que possam ser feitas por meio da linguagem gráfica/cartográfica. É fundamental, sob o prisma metodológico, que se estabeleçam as relações entre os fenômenos, sejam eles naturais ou sociais, com suas espacialidades definidas (PCN, 1998, p. 76). Na atualidade, a Geografia, enquanto disciplina, em face das inúmeras transformações que ocorrem na sociedade e que imprimem marcas no espaço geográfico, precisa atuar de forma a contribuir para que os alunos consigam compreender tais mudanças, e serem agentes

5 de transformação do meio em que vivem. Neste sentido, é inegável a importância da Cartografia nas aulas de Geografia, pois a mesma é um importante instrumento para a leitura da realidade. DOS MAPAS MENTAIS AO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM CARTOGRÁFICA Existem diversos estudos referentes aos mapas mentais e sua importância para as aulas de Geografia e nestes é possível perceber que o termo recebe variações tais como, cartas mentais ou mapas cognitivos. No entanto, as abordagens conceituais são bastante próximas. Esse trabalho foi pensado a partir de uma grande dificuldade e resistência dos alunos em relação aos mapas, por considerarem a compreensão dos mesmos algo difícil e por entenderem que mapas eram ilustrações sem muita aproximação com a realidade, pois esta não poderia 2 caber em uma folha de papel. A turma da EJA, estágio II é formada por 18 alunos, com idade variando entre 16 e 60 anos, dos quais 6 possuem necessidades educativas especiais. No entanto, a mesma proposta de atividade foi realizada por toda a turma, apenas foram realizados dois encaminhamentos diferenciados visando atender a todos. Antes de convidar os alunos à produção dos mapas mentais, foram apresentados aos mesmos alguns tipos de mapas, desde os primeiros elaborados na Antiguidade aos tipos mais encontrados em livros didáticos (político, físico e os temáticos que são aqueles nos quais se representam temas específicos, sejam da sociedade, da economia, etc.), ressaltando sempre a importância dos mesmos para a compreensão da realidade e na espacialização dos fenômenos que se desdobram no espaço geográfico. 2 Fala de um dos alunos, evidenciando que o mesmo não compreendia o conceito de Escala.

6 Figura 01: tipos de mapas apresentados aos alunos Depois desta etapa iniciou-se a fala sobre os mapas mentais propriamente ditos e como eles também poderiam elaborar os seus. A turma decidiu que cada um iria representar o caminho que percorre de casa para a escola, colocando os pontos de referência para que se outra pessoa quisesse utilizar o mapa, compreendesse e conseguisse se localizar. Os alunos assim o fizeram, livremente, cada um a seu modo sem interferência por parte da instrutora nessa primeira parte para que o trabalho tivesse um caráter totalmente autoral e assim bem mais significativo para o aluno, principalmente por se tratar de adultos. Exceto com os alunos que apresentaram necessidades educativas especiais, pois os mesmos tiveram um pouco de dificuldade. Então, individualmente, pedi que fossem me explicando por onde passam para chegar até a escola e eu pedia que eles fossem desenhando cada coisa que falavam. O fato de eu conhecer o bairro foi bastante facilitador neste momento.

7 Figura 02: mapas produzido pelos alunos Com um dos alunos, que não conseguia explicar seu trajeto, eu tive que pedir autorização à família e fazer com ele o percurso a pé, chamando a atenção para os detalhes e para as ruas pelas quais passávamos. Já em sala, pude ajudá-lo na produção do seu mapa mental, reportando-o a tudo que observamos. Outro aluno que é deficiente visual, com ele eu também tive que encaminhar a atividade de forma diferente. Pedi que sua mãe produzisse o mapa mental e, em sala, o aluno colou diferentes tipos de materiais nos pontos de referência e no caminho para facilitar a identificação. Figura 03: construindo um mapa mental tátil

8 Após a elaboração dos mapas, passamos a inserir os elementos dos mapas convencionais que poderiam ser aplicados naquele momento, tais como o título, a legenda e a fonte. Sobre a escala, o conceito foi trabalhado a partir da noção que eles mesmos tiveram de redução do tamanho da realidade para que a mesma pudesse ser representada no papel. Os mapas mentais produzidos circularam na sala e os alunos perceberam a importância da legenda na compreensão dos mesmos e também como a realidade pode ser melhor compreendida tendo como ferramenta para o entendimento desta, um mapa. Figura 04: os alunos elaborando os mapas O trabalho contemplou ainda uma análise crítica dos mapas produzidos, já que os mesmos representavam a realidade local, o bairro em que a escola está inserida e o caminho percorrido pelos alunos. Foram evidenciadas questões de ordem socioeconômicas, ambientais e administrativas do ponto de vista político. A realização desta atividade possibilitou identificar as principais dificuldades dos alunos relacionadas com o uso e produção de um mapa. Quadro 01: Análise da atividade com mapas mentais ALUNOS DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE 04 Dificuldades relacionadas a: Lateralidade Proporcionalidade 01 Não conseguir expressar oralmente, nem no papel o caminho percorrido. 01 Resistência inicial a realizar a atividade.

9 12 Realizaram a atividade sem interferência do professor. CONCLUSÃO Este trabalho possibilitou aos alunos um contato mais próximo com a cartografia tanto pelo protagonismo dos mapas mentais, como por perceberem que a cartografia e seus elementos estão presentes no cotidiano das pessoas e através dela podemos fazer diferentes leituras do espaço geográfico. Com a aplicação do mapa mental, é possível identificar as dificuldades dos alunos referentes a esse tema, bem como levá-los a uma leitura crítica da realidade utilizando a Cartografia como linguagem. Os mapas se constituem num instrumento de compreensão da realidade que deve ser utilizado pelo professor não como conteúdo, mas como uma ferramenta para o entendimento dos conceitos e categorias da Geografia. A transposição didática desses conceitos pode ser bem mais eficiente se utilizadas metodologias que proporcionem ao educando perceber-se como protagonista do seu próprio conhecimento e a partir do que foi produzido estabelecer relações com tais conceitos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Rosangela Doin de. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, BOMFIM, Natanael Reis. Introdução à Cartografia Temática. In: BOMFIM, Natanael Reis; ROCHA, Lurdes Bertol. (Orgs.) As Representações na Geografia. Ilhéus-BA: Editus, p FILIZOLA, Roberto. KOZEL, Salete. Teoria e prática do ensino de geografia: memórias da Terra: São Paulo: FTD, JOLY, F. A Cartografia. Tradução Tânia Pellegrini. 6. ed. Campinas: Papirus, KATUTA, Â. M. A linguagem cartográfica no ensino superior e básico. In: PONTUSCHKA, N. N; OLIVEIRA, A. U. de. (Orgs.) Geografia em perspectiva: ensino e pesquisa. 3. ed. São Paulo: Contexto, p

10 PONTUSCHKA, Nídia Nacibi. PAGANNELLI, Tamoko Iyda. CACETE, Núria Hanglei.Para Ensinar e Aprender Geografia. São Paulo: Ed Cortez, RICHTER, Denis. O mapa mental no ensino de Geografia: concepções e propostas para o trabalho docente. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011 SEE: Secretaria de Educação Fundamental. PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais. Geografia (5ª a 8ª série). Brasília: Ed. do MEC/SEF, 1998b.-108 SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, A. F. A. A. (Org.). Geografia em sala de aula. São Paulo: Contexto, p