UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: A CONSTRUÇÃO DO RELÓGIO DE SOL Jaine Cássia Damasceno

Transcrição

1 UMA PROPOSTA PRÁTICA PARA ENSINO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: A CONSTRUÇÃO DO RELÓGIO DE SOL Jaine Cássia Damasceno UENP. Jaine_cassiadamasceno@hotmail.com, André Luiz Vieira Martins UNESP. Alvm192@hotmail.com. Eixo Temático: Práticas Pedagógicas. Resumo Neste trabalho será apresentado o uso do relógio de sol como um importante ferramenta auxiliar no processo de ensino e aprendizagem de conceitos básicos referente a disciplina de Geografia no ensino fundamental. O desenvolvimento de ferramentas auxiliares ao ensino apresenta grande relevância em diferentes aspectos, atraindo a atenção dos alunos e transformando-os em protagonistas no instante em que lhe são atribuídas a capacidade de construir e participar mais ativamente de sua aprendizagem. A presente metodologia foi pensada tendo em vista uma ampla participação dos próprios alunos desde os processos iniciais de construção, até a sua experimentação. A atividade proposta foi desenvolvida com 28 alunos do 6º ano da Escola Estadual Professor Homero Calvoso localizada na cidade de São Pedro do Turvo-SP. E como resultado foi obtido uma maior interação com os alunos a respeito do conteúdo trabalhado, inúmeras questões foram levantadas pelos mesmos durante todo o desenvolvimento e conclusão da atividade. Palavras-Chaves:Ensino. Prática. Climatologia. Introdução O ensino de cartografia e climatologia nas aulas de Geografia acaba sendo uma temática de difícil interação durante o processo de ensino/aprendizagem, em função de que este conteúdo acaba sendo descontextualizado da realidade dos alunos, consequentemente acaba sendo ser apresentado muitas vezes de maneira estática pelos professores, ou seja, sem expor sua relação materializada na vida cotidiana do aluno. Concordamos com Oliveira, Chagas e Alves (2012,p.48) que ressaltam que: A falta de entendimento dos temas relacionados à climatologia por professores e alunos é algo visível; esta questão tem sido elemento de pesquisa e discussão por alguns autores da Geografia, onde estes afirmam que a pequena carga horária da disciplina de Geografia, a falta de material, a má formação do professor, e a falta de uma sequência no nível fundamental, além da pouca

2 estrutura oferecidas palas escolas e os baixos salários pagos aos professores, contribuem para a pouca relevância dada a este tema nas escolas. E também com Straforini (2002,p.96) que aponta: Sabemos que nos primeiros ciclos do ensino fundamental as aulas de geografia, assim como das outras disciplinas que não sejam o português e matemática, ocupam um papel secundário, muitas vezes irrelevante no cotidiano da escola. Sabemos que isso decorre da falta de discussões teóricas, metodológicas e epistemológicas, bem como do grande problema na formação dos professores das séries iniciais, que assumem as suas dificuldades perante a discussão teórica das referidas disciplinas. Partindo desses apontamentos, podemos afirmar que o ensino de geografia acaba sendo consideravelmente prejudicada nos diferentes níveis de ensino, em função de limitações a ela impostas e descritas anteriormente. É fundamental destacar que segundo os PCN (1997, p. 127) O estudo da Geografia deve abordar principalmente questões relativas à presença e ao papel da natureza e sua relação com a ação dos indivíduos, dos grupos sociais e, de forma geral, da sociedade na construção do espaço geográfico. Para tanto, a paisagem local e o espaço vivido são as referências para o professor organizar seu trabalho. Como também Reconhecer na paisagem local e no lugar em que se encontram inserida as diferentes manifestações da natureza e a apropriação e transformação dela pela ação de sua coletividade e seu grupo social (PCN, 1997, p.130). Os professores precisam sentir-se desafiados a partir do momento em que é necessário obter dos alunos atenção e despertar neles o desejo de aprender para um bom aproveitamento no processo de ensino/aprendizagem, por isso a escolha de uma atividade prática. Proporcionando atividades práticas (de fundamental importância) capazes de complementar aquilo que foi visto teoricamente, faz com que o aluno passe a ter uma visão ampliada do conteúdo tornando-o interessante além de proporcionar a interação entre eles e tornando as aulas cada vez mais eficazes. Como descreve Justo (2014, p. 15) Sabemos da importância da construção do raciocínio espacial e do sentido de localização nas crianças, que estes podem auxiliá-las em diversas atividades escolares e nas suas vidas, como saber localizar um objeto no espaço ou descrever sua localização, ler um mapa, deslocar-se em um lugar desconhecido, constituindo, também, a autonomia do sujeito no mundo em que vive. Portanto, o raciocínio espacial é básico para o desenvolvimento da inteligência na criança para a compreensão do espaço em que ela vive. Desenvolver o raciocínio espacial permitirá à criança se localizar e estabelecer relações entre ela e os lugares vivenciados por ela. Ao perceber-se

3 espacialmente, espera-se que a criança amplie essas relações espaciais locais e estabeleça outras, ampliando assim a complexidade dos lugares vividos. Desse modo, a compreensão do lugar de vivência abrange diversos fatores e é relevante pelo fato de o sujeito poder ser capaz de ler o mundo em que vive para compreendê-lo. Objetivos O presente trabalho, tem como objetivo apresentar uma proposta de uma atividade que acabe tornando possível um entendimento prático dos alunos a conceitos fundamentais referentes ao ensino de cartografia e climatologia na geografia, visto que esta temática acaba sendo muito pouca explorada entre os professores de diferentes níveis de ensino.ilustrar de maneira concreta, buscando apresentar aos alunos aquilo que dificilmente seria trabalhado de forma prática, ou seja, fazendo-lhes construir uma ferramenta que a partir da projeção de uma sombra, iria lhes auxiliar a entender a movimentação do planeta em torno de seu próprio eixo. Como descreve Smole (1996): E também Justo (2014, p. 15) Tendo como objetivos específicos: É preciso que aos alunos sejam dadas oportunidades para explorar relações de tamanho, direção e posição no espaço; analisar e comparar objetos, incluindo aí figuras geométricas planas e espaciais; classificar e organizar objetos de acordo com diferentes propriedades que eles tenham ou não em comum; construir modelos e representações de diferentes situações que envolvem relações espaciais usando recursos, como fabricação de maquetes, desenhos, dobraduras e outros (SMOLE, 1996, p. 107). A localização é um fator que pode influenciar a leitura de mundo da criança na compreensão da organização espacial da sociedade, pois conseguir localizar-se será um fator que a criança irá utilizar como ferramenta para tal. Por isso, destacamos a importância do conhecimento relacionado à localização desde cedo nas crianças.. Elaborar uma ferramenta didática capaz de auxiliar os alunos a alcançarem um melhor entendimento referentes conceitos comumente utilizados pela geografia.. Organizar um resumo, contendo os principais conceitos que irão ser trabalhados durante o desenvolvimento da atividade, sendo este entregue no início da aula. realizados.. Disponibilizar a coordenação da escola todo o material utilizado e procedimentos

4 Metodologia Realização de revisão bibliográfica, referente a assuntos que abordam diretamente os desafios encontrados pelos professores em trabalhar os conteúdos referentes a Geografia nas escolas.levantamento do número de alunos que iriam realizar a atividade, aquisição e elaboração de materiais utilizados durante o processo de construção e aplicação do material na escola. A escolha da construção de uma ferramenta pelos próprios alunos (Figura 01), tem como objetivo propiciar uma maior interação e participação dos alunos durante o desenvolvimento das aulas, tendo em vista que a maioria dos alunos acaba entendendo a sala de aula como sendo um ambiente estático, onde devem assumir o simples papel de receptores de conhecimento.é fundamental ao se desenvolver alguma atividade considerar os diferentes características e experiências próprias apresentadas pelos alunos, como apresenta Justo (2014, p. 17) As crianças que frequentam as turmas de primeiro ano têm experiências de vida diferentes, algumas já frequentavam escolas de Educação Infantil, outras estão tendo a sua primeira experiência escolar. Independentemente de suas experiências anteriores, são alunos que ainda não estão acostumados à rotina do Ensino Fundamental, em que as crianças ficam a maior parte do turno sentadas em suas cadeiras. Este fato acaba influenciando nas aulas que devem ser dadas, pois estas crianças perdem o interesse pela atividade mais facilmente do que as mais velhas. Figura 01: Construção do relógio de sol pelos alunos. Fonte: Acervo do Autor

5 Resultados e discussões Uma das grandes dificuldades encontradas pelos professores ao se depararem com o conteúdo de Climatologia nas aulas de Geografia acaba sendo em função de um escasso conhecimento prévio apresentado pelos alunos referentes a esta temática, algo que pode ser explicado por diferentes razões, entre elas a falta de interesse dos alunos à conteúdos que acabam sendo descontextualizados de suas realidades, ou até mesmo a própria negligência dos professores em trabalharem assuntos que não possuam uma fácil interação com o ensino. É fundamental chamar a atenção, para o fato de que muitas vezes os próprios professores acabam se limitando somente ao uso do material didático oferecido pela escola, tornando o processo de ensino/aprendizagem exclusivamente teórico, como aponta Castrogiovanni e Goulart (2003, p. 133): No ensino fundamental e médio, o livro didático não deve ficar apenas como a única fonte de conhecimento, cabendo ao professor buscar outras fontes e diferentes maneiras de trabalhar suas aulas de forma prazerosa e interessante; deve-se assim, fornecer aos alunos elementos que estimulem, a partir da prática, observação, a interpretação, reflexão, analise, e visão crítica da realidade, fazendo com que eles se sintam agentes transformadores da sociedade. Apresentar aos alunos ferramentas auxiliares ao ensino é fundamental para introduzir conceitos referentes a localização, partindo inicialmente de representações situadas no contexto da própria vida cotidiana. O contato com representações como as plantas de rua, os mapas, globos terrestres e outros tipos de representação, como os desenhos feitos pelos adultos para indicar percursos (chamados croquis) poderá ocorrer com a mediação do professor. Esse contato permitirá às crianças reconhecerem a função social atribuída a essas representações nos contextos cotidianos e de trabalho, e se aproximarem das características da linguagem gráfica utilizada pela cartografia. Algumas brincadeiras, como caça ao tesouro, por exemplo, apresentam desafios relacionados à representação gráfica do espaço e podem ser desenvolvidas com as crianças desta faixa etária (BRASIL, 1998, p. 185). Explorando esta idéia devemos considerar a utilização sempre que possível de outros recursos didáticos no processo de ensino, como vídeos, documentários, imagens que retratam e ilustram aquilo que está sendo trabalhado. Após a construção dos relógios pelos alunos, estes foram encaminhados para o pátio da escola, local onde tornou-se possível trabalhar os pontos cardeais e realizar o teste prático do

6 relógio com os alunos (Figura 02), é interessante destacar o grande entusiasmo apresentado pelos alunos durante a realização deste procedimento, visto que muitos alegaram que dificilmente um professor prepara alguma atividade que promova a articulação entre os diferentes ambientes existentes na escola. É importante ressaltar que outros ambientes como pátios, quadras, etc. da escola podem ser excelentes laboratórios não somente para a disciplina de Geografia. Figura 02: Exposição do relógio com a presença dos alunos. Fonte: Acervo do Autor Os resultados obtidos na atividade, demonstram uma grande carência por parte dos alunos em se trabalhar de maneira prática, aquilo que lhe é transmitido durante aulas teóricas, conseqüentemente dificilmente o alunos irá conseguir estabelecer relações diretas com sua vida cotidiana, por exemplo: o professor de Geografia pode trabalhar conceitos referentes ao movimento de rotação e translação da Terra, porém, sem o uso de imagens e outros exemplos locais, o aluno pode entender que um fenômeno presente em sua vida diária pode estar tão distante de sua realidade. Entretanto, muitas dificuldades encontram-se instaladas na própria estrutura do ensino atual, o que acaba dificultando o desenvolvimento de uma prática que busque ampliar a interação e participação do aluno no ambiente escolar, como também cada turma apresenta suas particularidades, com seus diferentes alunos, assim como cada professor tem suas características e modo de se trabalhar e desenvolver suas aulas.

7 Considerações Finais A partir do desenvolvimento da atividade, conseguimos instigar o aprendizado de diversos conceitos geográficos que muitas vezes acabavam despertando inúmeros questionamentos entre os alunos. Os procedimentos aplicados nesta atividade tornaram possível trabalhar com alunos do 6 ano do Ensino Fundamental de maneira interativa, onde os próprios alunos eram os protagonistas, ou seja, os responsáveis diretos para a construção de uma ferramenta auxiliar ao ensino de Geografia. A atividade proposta neste trabalho se encarregou de ser uma das formas de explorar conceitos relacionados a cartografia e a climatologia geográfica, tornando seu uso uma maneira de articulação entre a teoria e a prática. Verificamos no desenvolvimento da atividade que muitos alunos apresentavam duvidas referentes a conceitos geográficos já trabalhados em anos anteriores, fato este que pode ser originado por diversas causas, desencadeando uma não fixação do conteúdo quando lhes foi trabalhado anteriormente. Podemos concluir a deve ser ampliado o uso de ferramentas auxiliares considerando a importância de novas práticas pedagógicas quando for possível sua realização, visto que sua utilização pode auxiliar na aprendizagem dos alunos. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Rosângela Doin de. Uma proposta metodológica para a compreensão de mapas geográficos. In: ALMEIDA, Rosângela Doin de (Org.) Cartografia Escolar. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2011a. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil. V 3. Brasília: MEC/SEF, BRASIL. Secretaria de Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: História, Geografia Brasília: MEC/SEF, p. CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella. A cartografia e a construção do conhecimento em contexto escolar. In: ALMEIDA, Rosângela Doin de. Novos Rumos da Cartografia Escolar: currículo, linguagem e tecnologia. São Paulo: Contexto, CASTROGIOVANNI, A.C; GOULART, L.B.A Questão do livro didático em geografia: elementos para uma analise, IN: CASTROGIOVANNI,A.C; CALLAI,H.C; JUSTO, Gláucia Reuwsaat. As relações espaciais e a aproximação entre a geografia e a matemática com crianças do 1º ano do ensino fundamental p. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo. OLIVEIRA, Divino José Lemes de; CHAGAS, Frank Luiz Rosa; ALVES, Washington Silva. Os desafios de ensinar a climatologia nas escolas. In: 2 Congresso de educação UEG/UNU p

8 OLIVEIRA, Lívia de. A construção do espaço, segundo Jean Piaget. Sociedade & Natureza, n 17 (33), p , dezembro STRAFORINI, R. Ensinar geografia nas séries iniciais: o desafio da totalidade mundo f. Dissertação (Mestrado) Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. STRAFORINI, Rafael. A totalidade mundo nas primeiras séries do ensino fundamental: um desafio a ser enfrentado. Terra livre, São Paulo, v.1, n.18, p , jan/jun