AUDITORIA DE PROCESSO: ESTUDO DE CASO EM UMA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
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- Isaque Sousa Martinho
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1 AUDITORIA DE PROCESSO: ESTUDO DE CASO EM UMA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA Emilio Elias Santana (UFG) Lie Yamanaka (UFG) Uma exigência cada vez maior pode ser encontrada em termos necessidade de resposta ao mercado na promoção de melhorias de desempenho em qualidade, flexibilidade, custos. Na indústria automobilística, existe um mercado altamente competitivoo em que tal realidade é ainda mais presente. Assim, conhecer e aplicar novas metodologias e ferramentas nesse setor ocorre de maneira constante. Este trabalho tem como objetivo apresentar a Auditoria de Processos, baseada na norma alemã VDA 6.3, como ferramenta para melhoria de desempenho, em uma indústria automobilística do interior do estado de Goiás. Para tanto foi realizado um estudo de caso que demonstrou a realidade dos processos, bem como identificou os pontos a serem melhorados para a implementação definitiva da ferramenta. Palavras-chaves: auditoria de processo, qualidade, VDA 6.3
2 1.0Introdução A disputa acirrada por um lugar de destaque no mercado atual faz com que as empresas busquem constantemente o aperfeiçoamento dos seus sistemas de gestão da qualidade. Para conseguir este objetivo, toda a cadeia produtiva precisa estar interligada através de um ciclo de melhoria contínua, sob a visão de processos. Atendendo a tal tendência a auditoria de processo se apresenta como um instrumento particular, com mecanismos e objetivos específicos, representando uma ferramenta efetiva para a prevenção e correção de falhas em processos produtivos (REBELATO, FERREIRA e RODRIGUES, 2006; WYNNE e MANNERS, 2001). Em se tratando de auditorias de processos, o VDA é um guia para o gerenciamento da qualidade que objetiva estabelecer diretrizes comuns para o desenvolvimento de Sistemas da Qualidade para a indústria automobilística. A auditoria de processos faz parte da estratégia VDA, volume 3, e tem como finalidade avaliar a eficácia da qualidade, tendo como resultado processos mais eficientes e controlados. Apesar das auditorias de processos se mostrarem eficazes na detecção, prevenção e eliminação de não conformidades no processo produtivo, elas são pouco empregadas no segmento automotivo (FERREIRA et al, 2008), verificando-se por isso a necessidade de entender melhor essa ferramenta. De acordo com esta proposta, o presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados de implementação da auditoria de processos, com referência na norma VDA 6.3, na linha de montagem de chassi em uma montadora de automóveis situada no interior do estado de Goiás. Para isso, este trabalho está dividido em 6 tópicos.. No próximo tópico é apresentado o Sistema de Gestão da Qualidade de acordo com as normas certificadoras. O tópico 3 comenta a respeito das auditorias e suas subdivisões. Complementando o tema anterior, o tópico 4 detalha a auditoria de processos de acordo com a norma VDA 6.3. Por fim, os tópicos 5 e 6 detalham o processo de implementação da auditoria de processos e as considerações finais para a implementação definitiva. 2.0Sistemas de Gestão da Qualidade Com a competição acirrada dos mercados globais, as empresas perceberam a necessidade de reavaliar seus sistemas de gestão. Para alcançar os benefícios da qualidade, as organizações implementam um sistema de gestão da qualidade, que apresenta elementos inter-relacionados para gestão da qualidade e da organização. Até a primeira metade do século passado a prática da gestão da qualidade era limitada ao processo de fabricação, voltada para a inspeção. Entretanto, nas últimas décadas a gestão da qualidade ganhou nova dimensão, envolvendo toda a organização e não somente a área produtiva (TOLEDO e CARPINETTI, 2000). A partir da década de 80, a gestão da qualidade ficou bastante associada aos sistemas ISO 9000, que propõem a padronização, a abordagem sistêmica para a gestão e o foco no cliente (ISO, 2008). A ISO é uma organização não-governamental (ONG) sediada em Genebra, na Suíça e atua em 148 países. Foi criada oficialmente no dia 23 de fevereiro de 1947 com o objetivo de facilitar a coordenação internacional e a unificação de padrões técnicos. Possui alta representatividade na emissão de normas internacionais de âmbito global, atualmente atingindo148 países (VALLS, 2004). 2
3 A série ISO 9000 foi publicada inicialmente em 1987 e sofreu revisões em 1994, 2000 e Uma mudança significativa em relação a norma aconteceu no ano de 2000, que com foco anterior em assegurar a qualidade do produto, passou a incluir a necessidade de demonstrar sua capacidade de atingir a satisfação do cliente, com a aplicação da melhoria contínua de seus processos e da prevenção de não conformidades. Em vez de um sistema de garantia da qualidade, a norma passa a ser caracterizada como um sistema de gestão da qualidade (CARPINETTI, MIGUEL E GEROLAMO, 2010). As normas ISO são classificadas por famílias, que são especificadas de acordo com a área de aplicação, conforme tabela 1. Norma ISO 9000 Sistema de gestão da qualidade - Fundamentos e Vocabulário ISO 9001 Sistema de gestão da qualidade Requisitos Descrição Estabelece termos e definições fundamentais usados nas normas da família ISO 9000, necessários para evitar interpretações errôneas durante seu uso Avalia a capacidade da organização em atender os requisitos do cliente e os regulamentos aplicáveis para, assim, satisfazer esses clientes Fornece orientação para atingir sucesso sustentado ISO 9004 para qualquer organização em um ambiente Sistema de gestão da qualidade - complexo, exigente e de constante mudança, Diretrizes para melhoria de provendo um foco mais amplo sobre a gestão da desempenho qualidade do que a norma ISO 9001 TABELA 1: Classificação das normas ISO Fonte: Carpinetti, Miguel e Gerólamo (2010) A ISO 9001 é a norma que traz os requisitos para implantação do sistema da qualidade e que é utilizada para implementação e, se for o caso, certificação da empresa, sendo divida em cinco principais requisitos: requisitos gerais e de documentação, responsabilidade da direção, gestão de recursos, realização do produto e por fim medição, análise e melhoria. Esses 5 requisitos são representados de uma maneira sistêmica, e por uma visão de processo, conforme demonstrado na figura 1. 3
4 FIGURA 1 Requisitos da ISO Fonte: ABNT ISO (2008) A família ISO 9000 está embasada em oito princípios que refletem uma visão atual sobre a gestão da qualidade vista de maneira estratégica. Entre estes princípios está a visão de processos. No entanto, pelo fato da norma ISO 9000 ser genérica, uma vez que pode ser aplicada a diferentes setores e diferentes tipos de empresa, muitas vezes se faz necessário complementá-la. Assim, somente a ISO 9000 é considerada pelas montadoras de automóveis insuficiente como padrão normativo para a qualidade e referenciais normativos próprios foram desenvolvidos, dentre eles a norma desenvolvida para o sistema da qualidade automotiva ISO TS e a norma alemã Verband der Automobiliindustrie (VDA 6.3), que apresenta instruções específicas para a realização de auditorias em processos. A norma ISO TS é uma especificação técnica ISO que busca equalizar e substituir as normas existentes do sistema da qualidade automotivo americano, alemão, francês e italiano, QS-9000 (Quality System Requirements), VDA 6.1 (Verband der Automobiliindustrie - Associação de Fabricantes para a Indústria Automobilística da Alemanha), EAQF (Evaluation Aptitude Qualité Fournisseur - Avaliação do Sistema da Qualidade do Fornecedor) e AVSQ (ANFIA Valutazione Sistemi Qualità - Avaliação de Sistema da Qualidade da ANFIA), respectivamente. Possui requisitos baseados na norma ISO 9001, complementados com elementos específicos da indústria automobilística. Os sistemas de gestão da qualidade baseados na norma ISO/TS têm como características marcantes o aperfeiçoamento do processo de melhoria contínua, prevenção de falhas, redução da variação e do desperdício, combinado com o aumento da confiabilidade e da capabilidade dos processos. 3. Auditorias De acordo com O Hanlon (2005) a auditoria é um exame formal de contas por meio de referências às testemunhas e aos comprovantes e que de acordo com a ABNT ISO 9000 (2005) é um processo sistemático, documentado e independente para obter a evidência de auditoria e avaliá-la objetivamente para determinar a extensão em que os critérios de auditoria são atendidos. 4
5 As auditorias de qualidade têm por objetivo verificar a conformidade de um sistema em relação ao que foi determinado, sejam em normas, procedimentos, legislações, entre outros (FERREIRA et al, 2008). A auditoria pode ser classificada em três tipos. Uma delas é a auditoria interna, ou de primeira parte, quando conduzidas pelos próprios membros da organização. A auditoria de segunda parte é quando o cliente audita um fornecedor em algum ponto na cadeia de suprimento. E por último a auditoria externa ou de terceira parte, é feita geralmente com a finalidade de certificação por representantes de organizações independentes (O HANLON, 2005). Em VDA (1998), as auditorias de qualidade são divididas em três tipos: a) Auditoria de Produto: avaliação das características da qualidade; b) Auditoria do Sistema da Qualidade: esta auditoria é realizada baseando-se em uma norma de gestão, como a ISO 9001:2000 ou a QS 9000, por exemplo. Esta auditoria consiste em verificar a aplicação das recomendações da norma e a conformidade da execução do trabalho com relação ao seu procedimento, visando a certificação no atendimento aos requisitos de uma norma de Gestão da Qualidade. c) Auditoria de Processo: esse tipo de auditoria procura identificar as falhas no processo, através da análise de parâmetros operacionais e do conhecimento técnico dos auditores. Cada uma destas auditorias da qualidade diferencia-se por suas características, abrangência e efeitos. As auditorias de produto têm como objetivo avaliar a conformidade do produto comparado aos requisitos estabelecidos. As falhas detectadas requerem ações corretivas, e posteriormente ações preventivas abrangentes que impeçam a reincidência da mesma nãoconformidade; possuem um caráter corretivo em relação à qualidade. Já as auditorias de sistemas são tipicamente auditorias de conformidades, buscam avaliar a aplicação dos requisitos da norma de referência aos processos definidos no escopo da organização. As auditorias de processo por sua vez verificam o cumprimento de instruções e procedimentos operacionais e especificações do processo, entre outros aspectos, como organização e limpeza, treinamento, logística. Este tipo de auditoria possui caráter preventivo, pois tem como principal objetivo a prevenção das falhas no produto, através da avaliação de falhas no processo (VDA, 1998; FERREIRA et al, 2008). 4. Auditoria de Processo Segundo a Norma VDA 6.3 A Verband der Automobilindustrie (VDA) ou Associação da Indústria Automobilística Alemã foi criada em 1901, na cidade de Eisenach, Alemanha. Tem como filosofia que grande parte dos problemas de qualidade está ligada à administração, organização e estruturas das organizações, não representam exclusivamente problemas de natureza técnica. Uma das ferramentas para avaliar a eficácia da qualidade é a auditoria de processos. A norma VDA (1998) afirma que as auditorias de processos servem para avaliar a eficácia da qualidade. Estas devem conduzir a processos mais eficientes e controlados, robustos a ponto de não estarem sujeitos a interferências. A VDA é dividida em 19 manuais que abrangem todas as questões relacionadas à qualidade na indústria automobilística. Os principais volumes publicados e seus respectivos assuntos são: VDA 1: Evidências de Conformidade. VDA 2 : Asseguramento da Qualidade de Fornecimentos. VDA 3: Confiabilidade do Automóvel - Fabricantes e Fornecedores. 5
6 VDA 4.1 / 4.2 / 4.3: Asseguramento da Qualidade antes do inicio da Série. VDA 6: Princípios para Auditorias da Qualidade / Auditoria e Certificação VDA 6.1: Auditoria de Sistemas de Qualidade / Indústria VDA 6.2: Auditoria de Sistemas de Qualidade / Serviços VDA 6.3: Auditoria do Processo VDA 6.4: Auditoria de Meios de Produção / Ferramentas VDA 6.5: Auditoria de Produto VDA 6.6: Auditoria de Serviços. VDA 7: Princípios para troca de informações de Qualidade VDA 8: Guia de Asseguramento da Qualidade para Fabricantes de Trailers, Containers ou Estruturas Similares. VDA 9 : Asseguramento da Qualidade de Emissões, Sistemas de Exaustão e Consumo de Combustível. A VDA 6 Parte 3 é o guia que informa sobre o significado e a área de aplicação da auditoria de processos de manufatura ou serviços e esclarece a relação entre auditorias de sistemas, processos e produtos. É utilizada para avaliar e monitorar a implementação dos processos e assegurar a sua confiabilidade, e em caso de discrepâncias tomar as medidas apropriadas para as correções necessárias. A VDA 6.3 é dividida em duas partes principais: a parte A, que aborda questões específicas relacionadas ao processo de criação do produto e a parte B, que aborda questões relacionadas à aplicação em série. Cada uma das partes é subdividida em elementos do processo, conforme se verifica: Parte A: Processo de Desenvolvimento de Produtos 1: Planejamento do desenvolvimento dos produtos 2: Concretização do desenvolvimento dos produtos 3: Planejamento do desenvolvimento do processo 4: Realização do desenvolvimento do processo Parte B: Produção em Série 5: Fornecedores / Matéria Prima6: Produção 6.1: Pessoal / Qualificação 6.2: Meios de produção / Instalações 6.3: Transporte / Manuseio de peças / Armazenamento / Embalagem 6.4: Análise das falhas / Ações corretivas / Melhoria contínua 7: Assistência ao cliente / Satisfação do cliente Cada elemento do processo é avaliado através de questões específicas, onde uma nota é atribuída de acordo com o grau de atendimento comprovado ao estabelecido pela norma VDA 6.3, conforme ilustrado pela tabela 2. Nº PONTOS AVALIAÇÃO DO CUMPRIMENTO DE EXIGÊNCIAS ISOLADAS 10 Exigências cumpridas completamente 8 Exigências cumpridas em sua maioria; poucas divergências 6
7 6 Exigências cumpridas em parte; deficiências maiores 4 Exigências cumpridas insatisfatoriamente; deficiências graves 0 Exigências não foram cumpridas TABELA 2 Avaliação dos elementos do processo. Fonte: VDA(1998) Caso a exigência seja totalmente cumprida, o processo auditado recebe 10 pontos para a questão avaliada. Tem-se como base que o cumprimento comprovado da exigência é a medida base para a pontuação, ou seja, caso o processo obtenha uma pontuação inferior a 10, faz-se necessária a elaboração de medidas de melhoria com prazos determinados. A taxa total de conformidade Ep para a auditoria de processo é calculada utilizando a equação 1: E p E E E E E de pe z pg k % % Número de etapas do processoavaliadas (1) onde os elementos relacionados na equação acima são avaliados separadamente e correspondem aos seguintes assuntos para a fabricação de produtos: E de : Desenvolvimento de Produtos (Elementos 1 e 2) E pe : Desenvolvimento de Processo (Elementos 3 e 4) E z: Matéria-prima / Peças Adquiridas (Elemento 5) E pg : Valor médio das Etapas do processo (Elemento 6) E k : Assistência ao cliente / Satisfação do cliente (Elemento7) Devido às diferentes etapas do processo produtivo dos respectivos grupos de produtos, no elemento Produção é necessária a elaboração de um resumo das etapas do processo (E pg ), que é calculado com uso da equação 2: E pg E E... E 1 2 n % % Número de etapas do processoavaliadas (2) onde E 1, E 2,..., E n são etapas avaliadas do processo. O grau de cumprimento E E de um processo é calculado de acordo com a equação 3: E E Soma de todos os pontosatingidos para as questões corretas 100% Soma de todos os pontospossíveis para as questões corretas Através da análise da taxa total de conformidade Ep, o processo pode ser classificado. Os critérios e faixas de classificação são padronizados de acordo com a tabela 3. (3) GRAU TOTAL DE AVALIAÇÃO DOS DENOMINAÇÃO DA 7
8 CONFORMIDADE (E P ) PROCESSOS CLASIFICAÇÃO 90 até 100 Atendido A 80 até abaixo de 90 Atendido na maioria AB 60 até abaixo de 80 Atendido com limitações B Abaixo de 60 Não atendido C TABELA 3 Critérios de Classificação. Fonte: VDA (1998) Quando o valor do grau de conformidade calculado está localizado entre 90 a 100%, os processos são considerados atendidos e recebem uma classificação A. Se este valor está entre 80 a 89%, os processos são considerados atendidos em sua maioria e recebem uma classificação AB. Para valores de E p de 60 a 79%, os processos avaliados são considerados atendidos, porém com limitações e são classificados como B. Caso o valor total de conformidade se encontre abaixo de 60%, os processos são considerados não atendidos e classificados como C. VDA (1998) destaca as seguintes observações: 1. Processos que ultrapassem um grau de conformidade de 90% ou 80%, mas que em um ou vários elementos atinjam um grau de conformidade abaixo de 75%, são classificadas de A para AB ou de AB para B. 2. Se algumas questões forem avaliadas com a pontuação zero, cujo não cumprimento possa ser decisivo na qualidade do produto ou processo, o processo pode ser reclassificação de A para AB, ou de AB para B. Em casos especiais é possível uma reclassificação para C. 5.0Processo de implementação da auditoria de processo Esta pesquisa envolveu o acompanhamento de um processo de implementação da auditoria de processos, segundo a norma VDA 6.3 em uma indústria automobilística do interior do estado de Goiás. A escolha da empresa se deu pelo fato da mesma estar iniciando a implantação da auditoria de processos referenciados na norma supracitada que até então realizava a auditoria segundo critérios próprios da empresa. A pesquisa pode ser classificada como uma pesquisa aplicada de ordem qualitativa, pois tem como objetivo principal interpretar o fenômeno a ser observado. No que diz respeito aos procedimentos técnicos se trata de um estudo de caso. De acordo com Yin (2005), o estudo de caso é um estudo empírico que investiga o fenômeno atual dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidência. O estudo de caso único foi escolhido devido à necessidade de priorização na aplicação dos conceitos no processo mais crítico da impresa e também por trazer como vantagens: a possibilidade de estudar o caso em profundidade; enfatizar o contexto em que ocorrem os fenômenos e permitir a compreensão do fenômeno sob a perspectiva dos membros do grupo ou organização (GIL, 2009). Os dados utilizados neste estudo de caso são obtidos por meio de observação participante, entrevistas e análise de documentos em uma auditoria piloto realizada em uma das linhas de montagem da empresa, na qual é feita a montagem dos itens agregados ao chassi do veículo, neste trabalho denominada como Linha A. A escolha foi feita para análise por ser uma área crítica da empresa, pois depende de fornecedores internacionais e assim exige uma maior necessidade de que os processos internos sejam controlados e se consiga identificar se o problema parte de um processo interno ou do fornecedor. 8
9 A sistemática da auditoria de processo foi determinada de acordo com o fluxo especificado na figura 2. O início do processo de preparação da auditoria é marcado pela formação da equipe de auditoria, da qual fazem parte representantes da área de produção, com experiência de mais de dois anos coordenação dos processos, bem como representantes das áreas suporte (Recursos Humanos, Saúde e Segurança, Manutenção e Gestão Ambiental). Esta equipe é responsável por todas as etapas da auditoria de processos, desde a preparação até a verificação da eficácia das ações. Tipo de auditoria Auditoria regular Auditoria extraordinária orientada para um fato Início Preparação e documentação Elaborar / Alterar plano de auditoria Realização SIM Avaliação Fim NÃO Necessidade de outras auditorias Reunião final Relatório da auditoria e documentação NÃO Deficiência SIM Plano de ações Executar ações Inspeção de eficácia / Acompanhamento SIM Eficácia comprovada? NÃO FIGURA 2 Diagrama de Fluxo do Plano de Auditoria. Fonte VDA (1998) Após a formação da equipe de auditoria, ainda na fase de preparação, acontece a definição do processo a ser avaliado (Linha A). Em seguida, é feita a estruturação dos processos (subdivisão do processo em etapas) e a determinação das interações e dos parâmetros que 9
10 exercem influência sobre eles, baseado dos 6Ms (Método, Meio-ambiente, Medição, Mão de obra, Máquina, Material). A partir disso, é feito levantamento das entradas (inputs) e saídas (outputs), de acordo com modelo definido na figura 3. Após a conclusão da estruturação dos processos, a equipe de auditoria inicia a elaboração do questionário (check list), que tem como referência o Manual da Qualidade da empresa, os procedimentos, instruções de trabalho específicas e indicadores de qualidade. Além das questões sugeridas pela norma VDA 6.3, o questionário também contém questões específicas aplicáveis a determinadas etapas do processo. FIGURA 3 Modelo para Estruturação de Processos. Finalizada toda a fase de preparação, a próxima etapa é a de realização da auditoria, que foi denominada auditoria piloto, pois a partir dela serão levantadas todas as necessidades de melhoria. O início desta etapa é marcado pela reunião inicial, na qual são apresentados o objetivo da auditoria de processo, o plano de auditoria e a equipe auditora, e esclarecidas questões pendentes. Conforme definido anteriormente, a auditoria é realizada com base no check list, porém outras questões podem surgir durante a auditoria. Estas questões serão inseridas como observações e serão avaliadas posteriormente quanto à necessidade de serem acrescentadas a uma nova revisão do check list. Concluída a realização da auditoria de processos, é feita a avaliação parcial atribuindo a nota de avaliação para cada uma das questões, obedecendo ao critério definido pela norma VDA (tabela 2). Várias deficiências foram levantadas, sendo que as mais representativas estão listadas na tabela 4: Todos os apontamentos da auditoria piloto de processos fazem parte do relatório, que contém a avaliação final (Figura 4), definida com base nos critérios de classificação anteriormente citados. As médias E 1, E 2 e E 3 se referem à nota média obtida na avaliação das questões que compõem cada elemento (Pessoal/Qualificação, Meios de Produção e Instalação, Transporte / Manuseio / Armazenamento / Embalagem de Peças, Análise das falhas / Correções / Melhoria Contínua) 10
11 em cada uma das 3 etapas do processo da linha A. Os percentuais E U1, E U2, E U3 e E U4 representam o percentual de atendimento do respectivo elemento, e o grau de conformidade do processo E (%) é determinado pela média aritmética entre os percentuais de atendimento dos elementos E U1 a E U4, obtendo a classificação A. QUESTÃO ASSUNTO DEFICIÊNCIAS AVALIAÇÃO Meios de Produção / Instalações e Equipamentos Meios de Produção / Instalações e Equipamentos Meios de Produção / Instalações e Equipamentos Meios de Produção / Instalações e Equipamentos Transporte / Manuseio / Armazenamento / Embalagem Transporte / Manuseio / Armazenamento / Embalagem Transporte / Manuseio / Armazenamento / Embalagem Análise das falhas / Correções / Melhoria Contínua Instrução de Inspeção encontrase desatualizada, conforme os exemplos: * Falta informar a checagem do número de identificação do cardã traseiro * Não cita a verificação do tipo de porca fixada * Não consta a verificação do tipo de barra de torção O Plano de Controle de Manutenção Preventiva de Equipamentos da área está desatualizado O dispositivo da Altura do Limitador do Ângulo de Giro da Roda está com calibração vencida Etiquetas de identificação dos dispositivos com visualização ruim. Eixo da caixa de direção - divergência na identificação entre dispositivo de armazenamento e folha de processo Deficiência no armazenamento do item "Tubulações de Freio de Combustível" Excesso de pré-montagem do item "Bomba de Vácuo do Diferencial Traseiro", podendo ocasionar quedas e gerar danos nas mesmas. Não há operações planejadas na Carta de Versatilidade para operadores que vieram de outras áreas e que ainda não possuem treinamento em 04 operações
12 diferentes TABELA 4 Avaliação parcial da auditoria de processos (Piloto) A avaliação final e as constatações são apresentadas na reunião final da auditoria. Todos os apontamentos são definidos após o consenso entre auditor e auditado. Para todas as deficiências verificadas foi solicitado plano de ação para a implementação das ações corretivas, que serão elaborados pelos responsáveis de cada etapa do processo, visto que o objetivo é a melhoria continua para alcançar graus de conformidades mais próximos a 100%. AUDITORIA INTERNA DE PROCESSO Empresa auditada: XXX Área: Linha A Relatório nº: 01/2010 PRODUÇÃO 6.1 Pessoal/ Qualificação 6.2 Meios de Produção e Instalação 6.3 Transporte/ manuseio/ armazenamento/ embalagem de peças 6.4 Análises das falhas/ ações corretivas/ melhoria contínua MÉDIA Processo 1: E1 88 Processo 2: E2 97 Processo 3: E3 98 Montagem dos sub-elementos (Processo Médio): E U1 (%) 100 E U2 (%) 90 E U3 (%) 91 E U4 (%) 97 Média do grau de conformidade E (%) = E1 + E E20 = 94 % No. de elementos avaliados CLASSIFICAÇÃO DO GRAU DE CONFORMIDADE: A FIGU FIGURA 4 Avaliação final da auditoria de processo A eficácia das ações estabelecidas será acompanhada através de auditorias de verificação no processo. Caso a eficácia das ações não possa ser comprovada satisfatoriamente, o plano de ação deve ser revisado e apresentado posteriormente para nova verificação, até que a eficácia seja plenamente comprovada. 6.0Considerações Finais A auditoria de processos tem como objetivo a prevenção de falhas no produto, através da identificação das falhas no processo, por meio da análise de parâmetros operacionais, tais como procedimentos operacionais, especificações de processo, entre outros. Em se tratando de padrões normativos, a utilização da norma VDA 6.3 como referência para a realização da auditoria mostra-se como sendo de grande relevância, tendo em vista que a norma ISO 9001:2008 possui requisitos abrangentes e aplicáveis a diversos tipos de empresa e tem como característica a certificação. A norma VDA 6.3 apresenta instruções específicas para a indústria automobilística, o que representa uma ferramenta de apoio para implementação de sistemas de gestão da qualidade baseados na norma ISO TS 16949, tendo em vista seu caráter preventivo, através do acompanhamento de cada fase do processo. 12
13 A partir da realização da auditoria piloto, é possível levantar alguns pontos importantes a serem considerados para a implementação da Auditoria de Processos, conforme a norma VDA 6.3, em outros setores da empresa. O processo de implementação também pode ser analisado e comparado a outros processos de implementação que outras empresas possam a vir a utilizar. Entre os pontos positivos identificados durante o processo de implementação na empresa, merece destaque o comprometimento de toda a equipe auditada (supervisor, operadores, técnicos e engenheiros) com a realização da auditoria de processo. Outro aspecto importante se refere à verificação da necessidade de melhoria de diversos pontos do questionário (check list) utilizado na auditoria. Entre as principais oportunidades de melhoria, enfatiza o redimensionamento do tempo para a realização da auditoria, necessidade de formação de mais auditores de processo, nomeação de um responsável por receber a auditoria em cada processo. Com base nestes resultados pode-se perceber a importância da realização da Auditoria de Processo na busca da melhoria da qualidade dos processos e do produto final, pois através dela é possível obter os seguintes benefícios: Reduzir a ocorrência de produtos não-conformes; Corrigir de forma eficiente e eficaz as deficiências encontradas; Reduzir perdas; Reduzir a variação do processo e do produto; Proporcionar condições favoráveis para a melhoria contínua. Embora a empresa não tenha utilizado os requisitos da VDA como referência para as auditorias anteriores à realização da auditoria de processo, verifica-se que ela se adéqua a norma visto o grau de conformidade apresentado na auditoria. No entanto, se faz necessário realizar a auditoria em outras partes da empresa para verificar comprovação desse fato. Estas auditorias serão realizadas após a revisão e melhoria do questionário utilizado. A partir disso as Auditorias de Processo serão realizadas de maneira sistemática e farão parte do cronograma de auditorias da empresa, cujos resultados são esperados a médio e longo prazo. 7. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9000: Sistemas de gestão da qualidade fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9001: Sistemas de gestão da qualidade - requisitos. Rio de Janeiro, CARPINETTI, L. C. R.; MIGUEL, P.A.C.; GEROLAMO, M.C. Gestão da Qualidade ISO 9001:2008 Princípios e Requisitos. 3ª Edição FERREIRA, D.C.; RODRIGUES, A.M.; REBELATO, M.G.; CLETO, M.G. A auditoria de processo como suporte à melhoria contínua: estudo de caso em uma montadora de automóveis. Revista Produto&Produção, vol. 9, n. 1, p , fev GIL, A. C. Estudo de caso: fundamentação científica, subsídios para coleta e análise de dados e como redigir o relatório. São Paulo: Atlas, VDA. Gerenciamento do Sistema da Qualidade na Indústria Automobilística. 1ª Edição, O HANLON, T. Auditoria da Qualidade: com base na ISO conformidade agregando valor. São Paulo: Saraiva, REBELATO, M.G.; FERREIRA, D.C.; RODRIGUES, A.M. Estudo dos resultados da aplicação da auditoria de processo em uma montadora automobilística. In: XXVI Encontro Nacional de Engenharia de Produção ENEGEP, 2006, Fortaleza, CE. Anais do XXVI ENEGEP. Fortaleza: ABEPRO, TOLEDO, J.C.; CARPINETTI, L.C.R. Gestão da Qualidade na Fábrica do Futuro. In: ROZENFELD, H. A Fábrica do Futuro. São Paulo: Banas,
14 VALLS, V.M. O enfoque por processos da NBR ISO 9001 e sua aplicação nos serviços de informação. Ci. Inf., Brasília, v. 33, n. 2, p , maio/ago WYNNE, D.; MANNERS, P. Process audit: for project improvement, not punishment. Quality Audit Conference Transactions, Atlanta, v.10, n.0, p , feb, YIN, R. K. Estudo de Caso Planejamento e Métodos. 3 ed. São Paulo: Bookman,
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