As aventuras de Tintim: entre os quadrinhos e o filme 1

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1 1 As aventuras de Tintim: entre os quadrinhos e o filme 1 Arthur Carlos Franco OLIVEIRA 2 Mirna TONUS 3 Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG RESUMO O presente artigo tem como objetivo analisar três álbuns dos quadrinhos "As aventuras de Tintim", fazendo um comparativo com "As aventuras de Tintim: o segredo do Licorne", filme lançado em Partindo de uma análise de conteúdo entre o filme e os álbuns que inspiraram seu enredo, procurou-se identificar elementos díspares entre as duas mídias, levando-se em conta questões narrativas e estéticas. PALAVRAS-CHAVE: quadrinhos, cinema, Tintim, desenho. As representações pictóricas são parte inerente da cultura humana. Desde os antigos desenhos encontrados em cavernas até os atuais seriados de animação, as figuras permanecem parte essencial do pensamento comunicacional. Exemplos disso estão espalhados pela história da humanidade, como os hieróglifos egípcios, as tapeçarias e iluminuras medievais, pinturas e produções cinematográficas da era moderna, todos passíveis de leituras. Por leitura, compreendemos a ação de decodificar uma sequência de palavras em um texto, sua interação com o contexto e a consequente atribuição de sentido pelo autor, que pode levar a outro sentido quando recebido pelo leitor. Leitura também engloba a capacidade de compreender e interpretar, além de letras e caracteres, imagens, figuras e elementos de comunicação não verbal. Uma das formas mais populares de comunicação por meio de imagens são as revistas em quadrinhos, também conhecidas como gibis, quadrinhos, revistinhas, histórias em quadrinhos. Há outras denominações ao redor do mundo. Em Portugal, por exemplo, chamam-se bandas desenhadas, derivadas de uma tradução literal do francês - bandes-dessinée -, que significa tira cômica. 1 Trabalho apresentado no IJ 8 Estudos Interdisciplinares da Comunicação do XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudoeste, realizado de 03 a 05 de julho de Estudante de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia. arthurcfranco@gmail.com 3 Doutora em Multimeios e professora do curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia. mirna@faced.ufu.br

2 2 Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, quadrinhos são uma série de desenhos que representam uma história ou uma situação, geralmente dividida em retângulos sequenciais. Utilizam-se de uma estrutura que partilha imagens e texto para transmitir informações ao leitor e comunicar um significado e um contexto. Esse tipo de obra é geralmente publicado em jornais e revistas, comumente com alguma periodicidade. Apesar de, na maioria dos casos, a escrita ser parte integrante e funcional dos quadrinhos, em algumas situações, ela é suprimida e dá lugar apenas às imagens, que, mediante cores, cenários e expressões faciais dos personagens, conseguem por si só difundir as ideias do autor. Pela dualidade existente entre autor e leitor, [...] a compreensão de uma imagem requer uma comunidade de experiência. Portanto, para que sua mensagem seja compreendida, o artista sequencial deverá ter uma compreensão da experiência de vida do leitor. É preciso que se desenvolva uma interação, porque o artista está evocando imagens armazenadas nas mentes de ambas as partes (EISNER, 2001, p.13). Várias obras dividem o posto de precursoras das revistas em quadrinhos. Um dos "pais" desse gênero é Wilhelm Busch, que, em abril de 1865, publicou "Max e Moritz", traduzido no Brasil, por Olavo Bilac, para "Juca e Chico". Busch era um pintor, desenhista e escritor alemão que produziu, em sete capítulos, as travessuras de dois garotos. O livro tinha como público-alvo as crianças e foi considerado a primeira história em quadrinhos, pelo fato de que cada ação dos personagens vinha acompanhada de ilustrações. Outro autor que também é apontado como um dos primeiros a desenvolver quadrinhos é o suíço Rodolphe Töpffer. Registros históricos apontam que, em 1927, ele publicou Les Amours de Monsieur Vieux-bois ("Os amores do Senhor Jacarandá", na edição brasileira). Já os Estados Unidos defendem que The Yellow Kid ("O menino amarelo"), de 1896, é a primeira publicação do gênero.

3 3 No Brasil, a primeira charge foi publicada em 1837 por Manuel de Araújo Porto-Alegre, seguido pelos quadrinhos de Angelo Agostini, criador de "As aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora", que entrou em circulação em Formatos Existem diversas divisões de formato nas revistas em quadrinhos. As principais são: charge, tira, revista em quadrinhos, graphic novel, webcomic, story board e fanzine. A charge, comumente composta por apenas uma imagem, combina figura e texto com um objetivo humorístico e crítico, utilizando-se de traços simples e de recursos como a caricatura. São amplamente publicadas em veículos impressos, mas também existem versões animadas, presentes em telejornais e sites da internet (CAIRES, 2010). A tira é uma sequência de imagens, geralmente três ou quatro, bem divididas em início, meio e fim. Está presente principalmente em jornais impressos e também tem o humor e a crítica como finalidade. Revista em quadrinhos é a denominação dada para a publicação de histórias do gênero, desde séries românticas aos populares super-heróis (CAIRES et al., 2010, p. 10). Inicialmente, era um gênero que pretendia reunir as tiras veiculadas nos jornais, mas ganhou popularidade e se tornou um gênero independente. A graphic novel se difere das revistas em quadrinhos por apresentar assuntos mais completos e longos, voltados para o público adulto. Para receber essa nomenclatura, a publicação deve ser dotada de um tratamento gráfico diferenciado, como por exemplo maior número de páginas, papel de boa qualidade e páginas com dimensões especiais, maiores que a média das revistas tradicionais (CAIRES et al, 2010, p.10). As webcomics são as histórias publicadas na rede. Podem ser exclusivamente divulgadas na web ou também serem lançadas em formato físico.

4 4 Storyboards são histórias propostas em uma sequência projetada para prever uma cena de um filme ou animação. São de fundamental importância para a execução do projeto animado, já que o fato de serem produzidas previamente auxilia os diretores e cineastas a visualizar as cenas e encontrar potenciais problemas antes que eles aconteçam (CAIRES et al, 2010, p.11). O último formato são os fanzines, constituídos de publicações amadoras, usualmente feitas em fotocopiadoras e que são uma alternativa barata aos iniciantes que querem divulgar o seu trabalho. Cada formato tem a sua especificidade, mas todos colocam o leitor em contato com a arte e são uma forma de transmissão e de divulgação de ideias. Constituem um material rico em informações e que além de despertar o interesse do aluno por um material diferenciado dos livros didáticos, possuem importância relacionada ao aspecto sociológico, pois trata-se de uma arte de comunicação em massa, que cumpre função lúdica e libertadora de tensões (REIS, 2001, p.112). Dessa forma, as revistas em quadrinhos ampliam a visão de mundo e o universo simbólico do receptor, além de exporem muitas vezes análises e incitarem o desenvolvimento do senso crítico. Cinema em movimento O cinema surgiu pelo trabalho dos Irmãos Lumière no final do século XIX, com a invenção do primeiro cinematógrafo. Originalmente sem som e de curta duração, a considerada sétima arte evoluiu e conta atualmente com recursos tecnológicos que permitem uma cópia cada vez mais fiel da realidade. Segundo Betton, [...] o cinema é antes de mais nada, uma arte, um espetáculo artístico. É também uma linguagem estética, poética ou musical com uma sintaxe e um estilo; é uma escrita figurativa, e ainda uma leitura, um meio de comunicar pensamentos, veicular ideias e exprimir sentimentos (BETTON, 1983, p. 1).

5 5 Um dos elementos mais importantes do cinema é o movimento. Com a invenção da fotografia foi possível gravar imagens em um meio físico, mas que não permitia a captura dos movimentos. Já no cinema, tivemos a possibilidade de gravar imagens com a adição de movimentos e sons. [...] o movimento não serve só para informar os espectadores sobre os acontecimentos que fazem parte da história: é também altamente expressivo. Quando observamos uma mãe deitar o filho, não só compreendemos o que está a acontecer mas também ficamos a saber, através dos gestos calmos ou precipitados, suaves ou desajeitados, enérgicos ou fracos, seguros ou hesitantes da mãe, que gênero de pessoa é e qual a sua afinidade em relação à criança (ARNHEIM, 1957, p. 146). A imagem que se move por muitas vezes se torna mais chamativa, fazendo com que essa mídia se torne, muitas vezes, mais interessante comercialmente, já que utiliza dois sentidos, a audição e a visão, para atrair o receptor. As aventuras de Tintim "As aventuras do Tintim" é uma série de histórias em quadrinhos criada por Georges Remi, mais conhecido como Hergé. O nome original em francês da publicação é "Les aventures de Tintin" e as histórias foram primeiramente publicadas em São 24 volumes ao todo, sendo o último, "Tintim e a alfaarte", inacabado devido à morte de Hergé. Entretanto, o álbum foi editado em 2008 e contém os croquis originais do autor para o que seria a última aventura de Tintim. Hergé já se inspirava em histórias de intrigas internacionais antes de criar Tintim. Durante a Primeira Guerra Mundial, rascunhava desenhos de um personagem que pregava peças em soldados alemães, mas foi somente no Le Petit Vingtième, um suplemento para crianças do jornal em que Hergé trabalhava, o Le Vingtième Siècle, que Tintim foi publicado. Tintim é apresentado como um jornalista belga que viaja ao redor do mundo fazendo investigações. O seu companheiro é o cão fox terrier Milu (em francês, Milou), que vive entrando em confusões, mas que sempre salva o seu dono de enrascadas. Outros personagens são inseridos ao longo da série, como o

6 6 Capitão Haddock, um marinheiro sarcástico e trapalhão; Dupond e Dupont, uma dupla de detetives gêmeos desajeitados; Trifólio Girassol, um cientista quase surdo que faz confusões com o que os outros lhe dizem; e Bianca Castafiore, uma cantora de ópera que sempre aparece quando os personagens principais menos esperam. As tramas que envolviam Tintim tinham quase sempre um cunho político. Encontramos exemplos disso em vários álbuns, como em: "Tintim no País dos Sovietes": o primeiro álbum de Tintim retrata o repórter em uma viagem à Rússia. Os quadrinhos buscam passar uma imagem anticomunista, apresentando uma Rússia pobre, com seus trabalhadores sendo explorados enquanto os líderes roubam do povo; "Tintim no Congo": na época da publicação desse álbum, o Congo estava a ser colonizado. A visão colocada por Hergé era eurocentrista: os negros eram retratados de forma estereotipada, parecidos com macacos e falavam mal o idioma francês r; "Tintim na América": o terceiro álbum de Tintim se passava na América dos anos 1930, retratando a lei seca, a guerra entre gangues e a discriminação dos negros; "Perdidos no mar": Tintim e o Capitão Haddock são contra a escravidão, mas as edições iniciais do álbum retratam os negros de uma forma estereotipada, especialmente na forma de falarem; "O Cetro de Ottokar": nesse volume, Hergé introduziu uma leve crítica ao nazismo e ao fascismo e colocou o nome do vilão principal como Müsstler, nome que parece ser uma combinação entre Mussolini e Hitler. Durante a Segunda Guerra Mundial, Hergé foi amplamente criticado por publicar "As aventuras de Tintim" em um jornal controlado pelos nazistas (uma vez que o jornal em que as histórias eram anteriormente publicadas foi fechado por Hitler). As tramas escritas nessa época são politicamente neutras, como vemos em "O segredo do unicórnio" e "O tesouro de Rackham, o Terrível". Além disso, o autor também é criticado pela sua misoginia, já que existe apenas uma personagem feminina que se destaca nos álbuns: Bianca Castafiore. Os

7 7 estereótipos presentes nas versões iniciais dos álbuns por muitas vezes foram alterados e não aparecem nas versões posteriores. O estilo de desenho utilizado por Hergé é conhecido como ligne claire, nome dado por Joost Swarte em O artista utiliza linhas fortes que têm os mesmos espessura e tamanho, delegando a mesma importância. Cores fortes e personagens contrastando com um cenário realista são elementos presentes nesse estilo gráfico. A fama de Tintim não se deu apenas aos quadrinhos. Desde a sua criação, o personagem já foi tema de diversos produtos, entre eles camisas, jogos de tabuleiro e videogames, baralhos, selos, entre outros. Duas séries televisivas já foram feitas: "Les aventures de Tintin, d'après Hergé", de 1961; e "As aventuras de Tintim", de 1991, versão que fez muito sucesso e consagrou o personagem em animação. Cinco filmes já foram produzidos: "Tintim e o mistério do tosão de ouro", de 1961; "Tintim e as laranjas azuis", de 1964; "Tintim e os prisioneiros do sol", de 1969; "Tintim e o lago dos tubarões", de 1972; e "As aventuras de Tintim: o segredo do Licorne", de 2011.

8 8 Figura 1 Capas em inglês dos quadrinhos de Tintim. Fonte: (PATEL, s.p., 2013) O mais recente filme, "As aventuras de Tintim: o segredo do Licorne", foi dirigido por Steven Spielberg e produzido por Peter Jackson e Kathleen Kennedy. O enredo mistura as tramas dos álbuns "O caranguejo das tenazes de ouro", de 1941; "O segredo do unicórnio", de 1943; e "O tesouro de Rackham, o Terrível", de O filme, que ganhou o prêmio de Melhor filme de animação do Golden Globe de 2011, é o primeiro de uma trilogia, que terá "As sete bolas de cristal", de 1948, e "O templo do sol", de 1949, como enredo do segundo filme e Os Charutos do Faraó (1934) e O Lótus Azul (1936).

9 9 Entre os quadrinhos e o filme Para a realização deste trabalho, foi desenvolvida uma pesquisa documental que permitisse a comparação estética e narrativa entre o filme "As aventuras de Tintim: o segredo do Licorne" e os quadrinhos "As aventuras de Tintim". Foi utilizada a técnica de análise de conteúdo de Bardin (1977), que permite o tratamento de dados em questões qualitativas. A análise de conteúdo se divide em três fases. A primeira é a pré-análise, na qual os dados são organizados e os objetivos são propostos. A segunda é a exploração do material, com a formação de categorias para agrupar o material e os resultados obtidos. Na terceira fase, temos a análise dos resultados, na qual temos a apreciação dos dados resultantes das duas primeiras fases. Para a análise em questão, foram utilizados o filme mencionado e os álbuns número 9, 11 e 12 dos quadrinhos: "O caranguejo das tenazes de ouro", "O segredo do Licorne" e "O tesouro de Rackham, o Terrível", respectivamente. A análise objetiva verificar se o filme e os quadrinhos compartilham da mesma estética e se o enredo original dos álbuns foi mantido na adaptação cinematográfica. No quesito estético, vimos que Hergé utilizava-se da ligne claire, que evidenciava os personagens e utilizava cores fortes. A utilização de cores fortes e bem delimitadas é uma escolha que busca "representar pensamentos e emoções de uma forma que nenhum elemento do design consegue, e pode chamar a atenção de modo instantâneo no papel, na tela ou na prateleira do supermercado" (AMBROSE, PAUL, 2009, p. 6). Os álbuns de Tintim fazem uma ampla utilização do branco, contrastando com cores vivas e que chamam a atenção do leitor. Além disso, imagens e indicadores de movimento aparecem a todo momento, o que passa a impressão de ação e animação. O filme não compartilha da utilização de todas as características da ligne claire. Os tons utilizados são escuros e carregados na maioria das cenas de ação, com amplo uso de meia-luz. A utilização dessas cores, assim como o preto, está associada a peso e solidez, pois a cor oferece uma presença imponente e poderosa (AMBROSE, PAUL, 2005, p. 128).

10 10 Entretanto, os cenários são realistas e os personagens têm o seu contorno corporal bem-delimitado. Por utilizar a animação computadorizada, os movimentos ficam reais e contínuos. Nesse aspecto, o filme se aproxima dos quadrinhos, retratando o aspecto de movimento presente neles. No quesito narrativo, o filme se aproxima em certos aspectos aos quadrinhos utilizados para a composição do enredo. Bordões de certos personagens, como Direi mesmo mais, dos detetives Dupond e Dupont e os palavrões utilizados pelo Capitão Haddock, sua marca registrada nos quadrinhos, continuam sendo utilizadas no filme. Além disso, tanto nos álbuns quanto no filme, o Capitão Haddock sempre se mete em confusões por conta da sua bebedeira. Nas duas mídias, encontramos situações cômicas e caricatas sempre que o Capitão bebe. Em "O caranguejo das tenazes de ouro", encontramos uma história totalmente independente dos outros dois álbuns analisados. Entretanto, no filme, o enredo dos três álbuns se encontra mesclado e se torna uma narrativa única. Alguns elementos principais de cada história foram mantidos, enquanto questões secundárias ficam de fora do longa. Listados abaixo, estão os pontos do enredo que se diferenciaram dos álbuns para o filme: Quando Tintim volta para casa depois de comprar o barco Licorne, Milou derruba acidentalmente o barco no chão, quebrando o mastro. Nos quadrinhos, não vemos como a cena acontece, enquanto no filme há toda uma cena em que o cachorro corre atrás de um gato e acaba com a quebra do navio; Tintim conhece o Capitão Haddock no álbum "O caranguejo das tenazes de ouro", que antecede os outros dois álbuns analisados. No filme, ele só conhece o capitão do minuto 30 em diante. Nos quadrinhos, é Haddock é quem sabe acerca do navio Licorne, enquanto no filme Tintim busca informações em uma biblioteca; Quando Tintim é seqüestrado pela primeira vez, vemos uma cena de ação com Milou perseguindo o carro e entrando em confusões. Nos quadrinhos, essa cena não é tão explorada;

11 11 Com a mistura dos enredos, temos a presença de apenas um vilão principal, Ivan Ivanovich Sakharine, que busca o navio Licorne. Nos quadrinhos, temos a presença de outro vilão primário, Allan Thompson; No filme, Ivan Ivanovich Sakharine é apresentado como descendente do pirata Rackham, o Terrível, e por isso busca o tesouro do Licorne. Além disso, pretende terminar o serviço do seu antepassado e matar o Capitão Haddock, descendente de Sir Francis. Entretanto, no álbum, não encontramos qualquer referência ao parentesco de Sakharine com Rackham; Quando Haddock e Tintim precisam sair do navio comandado por Sakharine, no filme, temos uma cena de ação, com tiroteios e muita luta. Nos quadrinhos, não encontramos essa perseguição; No filme, temos uma cena em que os protagonistas estão em um avião e o combustível está para acabar. Tintim pede então para Haddock colocar uma bebida alcoólica no tanque de combustível e o Capitão quase morre nessa empreitada. Na sequência, temos uma cena de ação que mostra o Capitão enchendo o tanque do avião e, posteriormente, salvando Tintim de ser decapitado pela hélice; Na última meia-hora do filme, veem-se as maiores diferenças em comparação aos quadrinhos. A aparição de Castafiore, a conseqüente quebra do vidro que protege o navio, cenas de ação para recuperar os pergaminhos e uma cena no hangar, em que Sakharine é preso. Nenhuma dessas cenas está presente nos álbuns; O álbum "O tesouro de Rackham, o Terrível" praticamente não aparece no filme. Somente o final dos quadrinhos, com a descoberta das jóias por parte de Tintim e Haddock, é que denota que há alguma menção dessa história no longa-metragem. Conclusão Pela análise dos três álbuns, podemos perceber que o filme não utiliza as mesmas concepções de ligne claire nas imagens. As cores escuras são

12 12 amplamente utilizadas e podem criar uma identidade visual, uma vez que aspectos gráficos são utilizados para dar reconhecimento e identificação. Além disso, por mais que grande parte do enredo dos álbuns em questão tenha sido preservada, algumas adaptações foram feitas. A maioria delas diz respeito à inserção de cenas de ação e aventura envolvendo os personagens principais. Essas cenas não existem nos quadrinhos, mas são justificáveis, uma vez que o cinema permite a captura de movimento e preza pelas cenas de ação. Com a mudança de uma mídia impressa e estática para outra que permite movimento e adição de animação, é necessário acrescentar recursos que prendam a atenção do público e que tornem a produção interessante e cativante. Além disso, por ser um filme com cenas de ação e aventura, o público-alvo é ampliado, não ficando restrito aos fãs prévios de Tintim. Essa inserção não tira o merecimento do filme em comparação aos quadrinhos, mas sim, torna atual e contemporânea a história de Tintim, além de buscar novos públicos com a inserção de novos recursos, como os efeitos especiais presentes na película.

13 13 Referências AMBROSE, Gavin; PAUL, Harris. Cor: s. a sensação produzida por raios de luz de diferentes comprimentos de onda, uma variedade particular desta. Porto Alegre. Bookman, ARNHEIM, Rudolf. A arte do cinema. Edições 70. Lisboa. Portugal BETTON, Gérard. Estética do cinema. Paris: Presses Universitaires de France. Que sais-je, 1983 BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Presses Universitaires de France, Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. CAIRES, Augusto; BARBOSA, Daniel; LELIS, Francisco; SOARES, Iuri; ANDRADE João; COSTA, Pedro. Motion Comics: Recriando as histórias em quadrinhos e a animação. Projeto Experimental apresentado à Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais para graduação no curso de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda. Belo Horizonte, EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial; tradução Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, FEATHERSTONE, Mike. O desmanche da cultura: globalização, pósmodernismo e identidade. Trad. Carlos Eugênio Marcondes Moura. São Paulo: Studio Nobel, SESC, MARTIN, Marcel. A Linguagem Cinematográfica. Prelo. Lisboa PATEL, Gautum. Prisoner of Agenda. Disponível em: < ives.php>. Acesso em 15 mai REIS, Márcia Santos Anjos Reis. As revistas em quadrinhos como recurso didático no ensino de Ciências. Ensino e Re Vista, Uberlândia, v. 9, n. 1, p , 2001.

14 14 PRIBERAM. Dicionário de Língua Portuguesa. Disponível em: < >. Acesso em 15 mai TEIXEIRA, Luiz Guilherme Sodré. O traço como texto: a história da charge no rio de Janeiro de Rio de Janeiro, Casa de Rui Barbosa, col. Papéis Avulsos n.38, 2001.