Dados internacionais de catalogação Biblioteca Curt Nimuendajú
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- Luiz Gustavo Sá Sabala
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1 Catalogação: Cleide de Albuquerque Moreira Bibliotecária/CRB 1100 Revisão: Elias Januário Revisão Final: Karla Bento de Carvalho Consultor: Luís Donisete Benzi Grupioni Projeto Gráfico/Diagramação: Fernando Selleri Silva Fotos: Elias Januário Dados internacionais de catalogação Biblioteca Curt Nimuendajú CADERNOS DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA - 3º GRAU IN- DÍGENA. Barra do Bugres: UNEMAT, v. 3, n. 1, ISSN Educação Escolar Indígena I. Universidade do Estado de Mato Grosso II. Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso III. Coordenação-Geral de Documentação / FUNAI. CDU (81) : 37 UNEMAT - Universidade do Estado de Mato Grosso Campus Universitário de Barra do Bugres Projeto 3º Grau Indígena Caixa Postal nº Barra do Bugres/MT - Brasil Telefone: (65) indigena@unemat.br SEDUC/MT - Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso Superintendência de Desenvolvimento e Formação de Professores na Educação Travessa B, S/N - Centro Político Administrativo Cuiabá/MT - Brasil Telefone: (65) FUNAI - Fundação Nacional do Índio CGDOC - Coordeanção-Geral de Documentação SEPS Q. 702/902 - Ed. Lex - 1º Andar Brasília/DF - Brasil Telefone: (61) / dedoc@funai.gov.br
2 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA ESPECÍFICA E DIFERENCIADA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA Lucimar Luisa Ferreira* A educação escolar indígena no Brasil vem sendo desenvolvida, cumprindo funções muito distintas de acordo com cada momento histórico. E, ligada a essas funções, está a atuação dos seus agentes, sujeitos com concepções, ideologias e formações imaginárias específicas. Por um longo tempo da história brasileira, a educação nas comunidades indígenas cumpriu um papel quase que exclusivamente integracionista, ou seja, a sociedade brasileira, através do Estado, propunha a integração dos povos indígenas à sociedade nacional por meio da educação. Nessa concepção homogeneizante, na qual os proponentes nunca eram os verdadeiros interessados, os índios, * Ms. em Lingüística pela UNICAMP, professora de Português e Produção de Texto no Campus da UNEMAT, em Barra do Bugres MT. Participa do Projeto 3º Grau Indígena como docente da área de Línguas, Artes e Literaturas. 153
3 CADERNOS DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA a diversidade era apenas considerada como elemento de partida na busca da integração. Essa política pode ser entendida como fruto, materialização de uma forma específica de conceber a indianeidade, ou melhor, de uma imagem, muitas vezes negativa, que a sociedade nutre e conserva no decorrer dos tempos a respeito dos povos indígenas. Mas esse processo, por mais que tenha perdurado, com a atuação dos agentes indígenas e muitos outros grupos e organizações de apoio, vem sendo modificado radicalmente no panorama nacional da atualidade. A educação em grande parte das comunidades indígenas, com o decorrer do tempo, ao invés de servir apenas como elemento de integração, passa a ser instrumento de luta do povo em busca do reconhecimento de seus direitos étnicos e culturais. Além disso, a educação está sendo construída no sentido de trazer benefícios nos diversos aspectos da vida em comunidade: economia, saúde etc. E essa mudança histórica vai sendo marcada discursivamente. A língua incorpora e demonstra, através do discurso, essas mudanças que ocorrem no nível do imaginário e ideológico. Todo esse processo de desenrolar da história é constituído por uma memória, o já dito, também chamado de interdiscurso. Assim, é essa memória do dizer que dimensiona e redimensiona a produção dos sentidos e dos sujeitos, já que sentido e sujeito se constituem mutuamente (Orlandi, 2002). Nesse sentido, considerando a língua na sua historicidade, a designação assume uma função muito importante, tendo em vista que esta cria espaços significativos através dos quais os discursos da história são compostos, em especial, a história da educação, pois se encarrega de trabalhar os sentidos que vão sofrendo redimensionamentos e re-significação no decorrer dos tempos. Nessa perspectiva, a língua, entendida como forma material, se inscreve na história para significar, ou seja, produzir sentidos. Esse funcionamento pode ser mostrado no conjunto de designações que a escola indígena adquire com as mudanças históricas no decorrer do tempo. A Constituição de 1988 marca historicamente o processo de legitimação da educação como instrumento de luta e fortalecimento da identidade dos povos indígenas. Ela assegurou às comunidades indígenas o direito a uma educação escolar específica e diferenciada. 154
4 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA ESPECÍFICA E DIFERENCIADA... E essa educação é um lugar onde a relação entre os conhecimentos próprios e os conhecimentos das demais culturas deve se articular (RCNEI, 1998: 24). Dessa forma, apesar de ainda haver em funcionamento, um discurso homogeneizador que nega, através de vários processos, a presença da diversidade no país, buscando sempre a unidade através da integração, o próprio processo histórico, marcado pelas lutas, se encarrega de propiciar novas formas de significação. A partir disso, pode se pensar a diversidade no país, ou seja, a diversidade da língua, dos costumes, das crenças, enfim, da cultura e do povo brasileiro. O espaço significativo do país se redimensiona e passa ser possível também, imaginariamente, considerar diversas formas de educação, sendo uma delas a educação escolar indígena, específica e diferenciada. A designação, nesse caso, tem um papel de destaque, já que marca lingüisticamente um espaço de constituição de sentidos, que carrega em seu bojo todo um processo histórico marcado pala luta dos povos indígenas em prol de seus direitos. A designação Educação Escolar Indígena e Escola Específica e Diferenciada traz, enunciativamente um efeito de sentido de redefinição da escola, marcando fronteiras com a imagem daquela escola até então conhecida, existente, a escola tradicional do não-índio. Ao dizer educação escolar fazemos um recorte nas formas de educação. E ao dizer educação escolar indígena, fazemos dois recortes na forma de educação, isto é, a palavra educação é determinada duas vezes. A educação é escolar, se diferencia de outras formas de educação dos povos e é indígena, que traz para o nível do dito uma especificidade legítima. No nível do não dito, temos uma afirmação em funcionamento, que mostra que o índio tem outras formas de educação que não sejam escolares e que a educação escolar nem sempre é indígena. Já a designação escola específica e diferenciada indica, no espaço da memória, que apesar de o índio ter uma escola, ela é ou pretende ser específica e se diferencia do modelo já existente. Com essa denominação a escola é marcada por dois movimentos integradores de sentidos: específica, que se diz ligada e construída 155
5 CADERNOS DE EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA pelo/para os povos indígenas, trazendo marcas de sua identidade e diferenciada, que marca uma distinção com a escola, instituição já conhecida. Nesse caso, a designação constrói uma fronteira significativa, que parte da idéia da escola já existente, mas num movimento de distinção desta e legitimação de outros saberes. A escola específica tem como função elementar considerar a diversidade, estando na sua constituição básica o trabalho com a diferença. Partindo desse ponto, a discussão sobre a Escola Indígena Específica e Diferenciada abre novas perspectivas para se pensar a instituição escola, com base em novos parâmetros, mesmo que estes não estejam construídos. Ao apontar a distinção, num movimento paralelo, o discurso marca a possibilidade da construção de algo novo, mais legítimo e representativo da sociedade para a qual a escola está sendo direcionada. Isso gera, no nível do imaginário, um movimento semântico da palavra. Assim, a escola indígena, na luta pelos seus direitos e pela sua legitimidade, abre espaço para a reflexão sobre o sistema de ensino de forma geral. Nessa perspectiva, os movimentos educacionais indígenas do país e, em particular, no estado de Mato Grosso, considerando conhecimentos das diversas populações pouco ou não reconhecidos historicamente, abre espaço para repensar o ensino, com as suas práticas, em grande parte, homogeneizantes e excludentes. Isso é possível, pois, reconhecidamente, o modelo de escola que temos, quase sempre, não considera a diversidade e é fundada numa perspectiva de exclusão, e não exclui só o índio: exclui o índio e também o não-índio: negros e brancos. Considerando esse ponto de vista, os conhecimentos produzidos pela Escola Indígena Específica e Diferenciada pode, além de fortalecer social e politicamente as comunidades indígenas em vários aspectos, trazendo inúmeros benefícios para esses povos, também pode contribuir para que a sociedade brasileira, de forma geral, possa se recolocar perante a diversidade e as minorias, repensando o papel da educação no fortalecimento das identidades e no exercício da cidadania. 156
6 EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA ESPECÍFICA E DIFERENCIADA... Referências Bibliográficas GUIMARÃES, Eduardo. Os Limites do Sentido: um Estudo Histórico e Enunciativo da Linguagem. Campinas, SP: Pontes, ORLANDI, E. Terra à Vista: Discurso de Confronto: Velho e Novo Mundo. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Unicamp, Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. Campinas, SP: Pontes, PÊCHEUX, M. O Discurso: Estrutura ou acontecimento. Trad. Eni Pulccinelli Orlandi. 2ed. Campinas, SP: Pontes, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. Brasília: MEC/SEF, RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização. 4ed. Petrópolis: Vozes,
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