II.4.1. Síntese PRINCIPAIS INDICADORES ECONÓMICOS
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- Martim Furtado Bacelar
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3 Moçambique Capítulo II II.4.1. Síntese Apesar das dificuldades impostas pela subida do preço do petróleo, a economia moçambicana cresceu, durante 25, a uma taxa de 7.7%, em termos reais, num contexto em que foram cumpridas todas as metas financeiras relativas a Dezembro de 25 do programa acordado com o FMI ao abrigo da Poverty Reduction and Growth Facility (PRGF). A actividade económica foi principalmente dinamizada pelos sectores da construção e da indústria, contando ainda com a contribuição significativa dos megaprojectos (embora a níveis inferiores aos de 24). Para 26, a manutenção destas tendências, a par de alguma recuperação do sector agrícola (alicerçada na previsão de boa colheita em face da significativa pluviosidade entretanto registada, em contraste com a seca de 25) possibilitará novo aumento do crescimento real do produto interno, ainda que limitado. Quadro II.4.1. PRINCIPAIS INDICADORES ECONÓMICOS Est. Est. Est. Proj. PIB real (t.v. anual) Inflação (t.v. média) Massa monetária (t.v.) Saldo Bal. Corrente (%PIB) Saldo orçamental (%PIB) Dívida externa (%PIB) Fontes: FMI e Banco de Moçambique A envolvente externa contribuiu negativamente para a evolução dos preços em Moçambique. A depreciação do metical face ao USD e a subida dos preços dos produtos petrolíferos alimentaram a inflação para valores acima do inicialmente esperado. Para uma previsão de 8.5%, a aceleração do ritmo de crescimento do índice de preços no último semestre de 25 acabou por determinar a subida da inflação homóloga para 11.2% no final do ano. A erosão daqueles factores permitirá reverter esta tendência, prevendo-se que em 26 a inflação homóloga não ultrapasse 7.%. A evolução externa esteve igualmente na base da degradação do défice da balança corrente, como reflexo do aumento do défice da balança comercial (dada a subida das importações e apesar do bom comportamento das exportações dos megaprojectos) e da redução das transferências oficiais. A inversão destas tendências permitirá alguma redução no défice corrente externo em 26 (em 2.6 p.p., em relação ao peso no PIB), apesar do esperado agravamento do saldo das balanças de serviços e rendimentos. Realce-se ainda que, no final de 25, foi aprovado novo alívio de dívida para Moçambique ao abrigo da Iniciativa de Redução da Dívida Multilateral, com impacto na redução dos encargos com a dívida externa a partir de 26. A expansão da massa monetária em 25 ultrapassou igualmente os valores programados no quadro da PRGF, conjugando a subida dos activos líquidos sobre o exterior com o vigoroso crescimento do crédito à economia. A atenuação destas tendências possibilitará a redução do ritmo de crescimento da liquidez em 26, deixando no entanto espaço para a subida do crédito interno total (novamente impulsionado pela esperada dinâmica do crédito à economia). Note-se ainda que, como forma de agilizar a vida dos agentes económicos, as autoridades efectuaram ao longo Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 25/26 Banco de Portugal 69
4 Capítulo II Moçambique do ano em curso uma reforma monetária, com uma taxa de conversão de 1 para 1 (vide caixa da pág. 75). Os valores conhecidos para a execução orçamental apontam para uma melhoria do saldo global em 25 (em 2.2 p.p. do rácio sobre o PIB), reflectindo sobretudo a diminuição das despesas de capital financiadas externamente. O crescimento deste tipo de encargos e do conjunto das despesas correntes, ainda que parcialmente compensado pelo previsto aumento dos donativos e da arrecadação de receitas tributárias, deverá conduzir a uma ligeira subida do défice global em 26 para 2.4% do PIB. II.4.2. Procura, Produção e Preços A economia moçambicana manteve um crescimento forte em 25, com as estimativas mais recentes a apontarem para um aumento real do PIB de 7.7%, revelando mesmo uma ligeira aceleração face a 24 (+.2 p.p.). Este bom desempenho da actividade económica em Moçambique terá estado sobretudo ligado aos sectores da construção e da indústria, reflectindo ainda a importante contribuição dos megaprojectos. As condições climatéricas adversas que assolaram algumas regiões do país acabaram por ter um impacto limitado na produção total do sector agrícola. Gráfico II.4.1. PIB REAL ( ) Taxa de variação anual em percentagem (est.) (est.) (proj.) Fonte: Banco de Moçambique, INE de Moçambique e FMI Para o corrente ano, perspectiva-se a manutenção das tendências do ano passado, com o crescimento económico real a evidenciar nova ligeira aceleração (para 7.9%, +.2 p.p. que em 25) espelhando a prevista boa colheita agrícola, num contexto de continuada dinâmica da actividade dos sectores da construção e da indústria e dos megaprojectos. A partir de meados de 25 assistiu-se a uma inversão da tendência de descida dos preços, iniciada em 24. Até Maio de 25, a diminuição dos preços de um conjunto de bens alimentares reflectiu-se numa redução gradual da inflação homóloga, atingindo 3.2% naquele mês (face a 9.1% em Dezembro de 24). No entanto, os impactos da subida dos preços petrolíferos e da desvalorização do metical face ao USD (aliada a um alegado aproveitamento especulativo de parte dos comerciantes no período festivo de final do ano) conduziu o IPC a valores acima do inicialmente previsto, tendo a inflação homóloga atingido 11.2% no final de Dezembro (face aos 8.5% previstos) 1. 1 Em Fevereiro de 26 foram introduzidos um novo cabaz e novos ponderadores no IPC, passando a base a ter como referência Dezembro de 24. Com o índice antigo, com maior ponderação dos bens alimentares, a inflação homóloga teria registado 14% no final de Dezembro de Banco de Portugal Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 25/26
5 Moçambique Capítulo II Gráfico II.4.2. IPC - MAPUTO (24-26) Variação mensal em percentagem Gráfico II.4.3. IPC - MAPUTO ( ) Variação mensal em percentagem T. v. homóloga T. v. média Maio Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Fonte: Banco de Moçambique e INE de Moçambique Fonte: Banco de Moçambique e INE de Moçambique A erosão dos principais factores impulsionadores da inflação em 25 e a manutenção de políticas prudentes aos níveis orçamental e monetário deverá permitir retomar a tendência de descida em 26, prevendo-se que a inflação homóloga fique em 7.% no final do corrente ano (9.5% em termos médios). II.4.3. Contas Externas As estimativas mais recentes para as contas externas apontam para uma degradação importante no saldo da balança corrente em 25, com a subida significativa do respectivo défice, o qual deverá ter atingido 8.8% do PIB (+3.7 p.p. que em 24). Quadro II.4.2. BALANÇA DE PAGAMENTOS Em percentagem do PIB Est. Est. Proj. Balança Corrente Balança Comercial Exportações Importações Balança Serv. e Rend. Transferências Unilat. Bal. Capitais e Financ. Endividamento Invest. Dir. Est. (líq.) Cap. Curto Prazo, err. Balança Global Fontes: FMI e Banco de Moçambique Esta evolução terá sobretudo decorrido da redução das transferências oficiais (em 1.7 p.p. em relação ao peso no PIB) e da deterioração da balança comercial (em 2. p.p.). O agravamento do défice comercial resultou da forte dinâmica apresentada pelas importações, que evidenciaram um crescimento de 21.2% face ao final de 24. Este comportamento das importações esteve relacionado com o aumento da factura petrolífera (em face da subida dos preços internacionais dos produtos petrolíferos) e da importação de cereais (como reflexo da seca que assolou algumas regiões). Note-se que as exportações evidenciaram Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 25/26 Banco de Portugal 71
6 Capítulo II Moçambique um crescimento de 16% face a 24, em grande parte determinado pela contribuição dos megaprojectos (alumínio, electricidade e gás natural, responsáveis por 14.2 p.p.). Gráfico II.4.4. EXPORTAÇÕES DE MERCADORIAS ( ) Destinos em percentagem, total em milhões de USD 1% 8% 6% 4% 2% % Áf.Sul Bélgica Espanha E.U.A. Japão Portugal Outros Total Fonte: Banco de Moçambique Gráfico II.4.5. IMPORTAÇÕES DE MERCADORIAS ( ) Origens em percentagem, total em milhões de USD 1% 8% 6% 4% 2% % Áf.Sul Alemanha E.U.A. França Japão Portugal Outros Total Fonte: Banco de Moçambique O endividamento externo ficou aquém do projectado, não tendo o saldo da balança de capitais e financeira sido suficiente para cobrir o défice corrente. Neste contexto, o défice global foi financiado também através de reservas cambiais, as quais ficaram reduzidas a 4.6 meses de importações (face a 5.8 no final de 24). Gráfico II.4.6. DÍVIDA EXTERNA ( ) Em milhões de USD, total em percentagem do PIB (est.) (est.) (est.) Multilateral Bilateral Total 24% 2% 16% 12% 8% 4% % Para 26, espera-se alguma recuperação da conta corrente externa (cujo défice se projecta para 6.2% do PIB), como resultado do aumento das transferências oficiais (decorrente da prevista subida das entradas de donativos externos) e de alguma redução do défice da balança comercial (antecipando nova evolução favorável das exportações relacionadas com os megaprojectos e um abrandamento do crescimento das importações, apesar da repercussão da alta dos preços dos produtos petrolíferos). II.4.4. Finanças Públicas Os valores estimados para a execução orçamental de 25 apontam para uma melhoria nas contas públicas. O défice global terá registado uma redução de 2.2 p.p., para 2.3% do PIB (bastante aquém dos 5.6% orçamentados), apesar de alguma redução nos donativos, reflectindo principalmente a contenção das despesas totais. 72 Banco de Portugal Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 25/26
7 Moçambique Capítulo II Quadro II.4.3. EXECUÇÃO ORÇAMENTAL Em percentagem do PIB Receitas totais Receitas correntes Donativos Despesas totais Despesas correntes Juros da dívida prog. Desp. de capital Empréstimos Líquidos Saldo corrente Saldo global Fontes: FMI e Banco de Moçambique Est. Est. Orç O comportamento das despesas reflectiu principalmente as diminuições registadas nas aquisições de bens e serviços (em.3 p.p. face a 24) e nas despesas de capital com financiamento externo (-2.2 p.p. face ao ano anterior e -3.2 p.p. em relação ao valor orçamentado). A diminuição patenteada pelos donativos (-1. p.p. face a 24) acabou por ser compensada pela subida das receitas não-tributárias (+1. p.p., com destaque para os dividendos dos megaprojectos). O aumento das receitas correntes acabou assim por reflectir o crescimento das receitas fiscais, sobretudo na colecta de impostos sobre o rendimento das empresas. Esta conjugação resultou numa redução do défice corrente (invertendo a tendência que se verificava desde 1996), acabando inclusivamente por evidenciar um pequeno saldo positivo. Gráfico II.4.7. RECEITAS PÚBLICAS ( ) Em percentagem do PIB Não-tributárias Tributárias Donativos (est.) (est.) (orç.) Gráfico II.4.8. DESPESAS PÚBLICAS ( ) Em percentagem do PIB Transf. Juros prog. Bens e Serviços Pessoal Investimento (est.) (est.) (orç.) O financiamento do défice global foi totalmente feito com recurso à componente externa, tendo inclusivamente possibilitado o pagamento de parte da dívida interna do estado (o que já não acontecia desde 1999). O orçamento para 26 aponta para uma ligeira deterioração do saldo orçamental (para 2.4% do PIB), como resultado principalmente do aumento previsto das despesas de capital financiadas externamente e das despesas correntes (sobretudo encargos com o pessoal e com bens e serviços), parcialmente compensado com o crescimento dos donativos (essencialmente ligados a projectos) e da arrecadação de receitas tributárias (apesar do impacto da redução da tarifa máxima de importação, acordada no contexto da SADC). As autoridades moçambicanas pretendem ainda Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 25/26 Banco de Portugal 73
8 Capítulo II Moçambique continuar a reforçar a máquina fiscal, com o intuito de melhorar os níveis da arrecadação de receitas e de recuperar impostos em atraso. II.4.5. Situação Monetária e Cambial O crescimento da massa monetária em 25 ficou acima do programado, tendo atingido 27.1% (face aos previstos 25.%). Os principais factores de expansão da liquidez foram os Activos Líquidos sobre o Exterior (com um impacto de 22.9% sobre o valor da massa monetária no início do ano) e o significativo incremento do Crédito à Economia (impacto expansionista de 22.5%), principalmente em moeda nacional, muito para além da previsão efectuada. Gráfico II.4.9. FACTORES DE VARIAÇÃO DA LIQUIDEZ ( ) Variações em % do stock inicial da massa monetária Activos Líq. s/ Exterior Crédito Interno Líquido Outros Activos Líq (est.) 25 (est.) 26 (prog.) À semelhança do ano anterior, o aumento dos Depósitos do SPA ultrapassou o crescimento evidenciado pelo Crédito Concedido (o qual registou uma subida nominal de 66.9%), acabando por induzir um impacto contraccionista do Crédito Líquido ao SPA de 2.2% sobre o M2. Após um ano de 24 atípico, o peso da circulação no conjunto dos meios de pagamento retomou em 25 a tendência de descida que se registava desde 1996, representando 14.1% no final do ano. Na estrutura da massa monetária destaca-se em 25 o forte crescimento dos depósitos à ordem (tanto em moeda nacional como externa), ultrapassando os 6% do total do M2, mitigando ainda a ligeira aceleração no crescimento da quase-moeda (principalmente depósitos a prazo). Gráfico II.4.1. TAXA DE CÂMBIO MZM/USD ( ) Médias trimestrais Mercado oficial Mercado paralelo Gráfico II TAXA DE CÂMBIO EFECTIVA ( ) Índices base 1: 199, médias trimestrais (apreciação: +; depreciação: -) Nominal Real Banco de Portugal Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 25/26
9 Moçambique Capítulo II A introdução, em Janeiro de 25, de um sistema de leilão no mercado cambial acarretou o aumento da volatilidade da taxa de câmbio, exigindo intervenções por parte da autoridade monetária, tanto directamente (injectando moeda nacional) como através de medidas correctivas no funcionamento daquele mercado (que passaram pela imposição da constituição de provisões de 5% para operações de crédito em moeda estrangeira e pela sensibilização dos agentes nele envolvidos). No segundo trimestre de 25 o metical reverteu a valorização nominal que evidenciou desde 24 face ao USD e ao EUR, tendência que se manteve até Novembro. No período de Janeiro a Novembro de 25, o metical registou uma desvalorização acumulada de 45.3% face ao USD e de 3.1% face ao EUR. Nessa altura, o estabelecimento de uma banda de flutuação para a aceitação das propostas nos leilões de venda de divisas pelo Banco de Moçambique (cuja margem é gerida discricionariamente), a introdução de operações com colateral e a fixação dos montantes mínimos e máximos a que as instituições podem aceder nos leilões vieram reduzir a pressão sobre a taxa de câmbio, a qual recuperou 1.1% face ao USD e 2.7% face ao EUR entre Novembro de 25 e Maio de 26. Para 26, prevê-se uma desaceleração do ritmo de crescimento da massa monetária (para 13.2%, abaixo dos 18.2% previstos para o produto interno, em termos nominais), um novo reforço dos Activos Líquidos sobre o Exterior e um aumento do Crédito Interno Total, com destaque para novo aumento do Crédito à Economia. A abolição, em Março de 26, dos limites máximos para as taxas de juro dos bilhetes do tesouro e dos títulos do banco central, conduziu à subida das taxas de juro praticadas pelo mercado, refreando o ritmo de crescimento do Crédito à Economia. REFORMA MONETÁRIA DO METICAL Com o objectivo de simplificar e agilizar a vida dos agentes económicos, foi aprovada em 2 de Dezembro de 25 a reforma monetária do Metical. O processo tem decorrido sobretudo ao longo de 26 e incluiu a criação do Metical da Nova Família, com uma taxa de conversão de 1 para 1, arredonda aos centavos. O faseamento do processo integra várias etapas: - entre 1 de Janeiro e 3 de Março de 26 procedeu-se à dupla indicação de preços, de carácter voluntário, tendo então passado a obrigatória até 31 de Dezembro de 26; - em 1 de Julho de 26 entraram em circulação as novas notas e moedas do Metical, designadas por Nova Família em termos escriturais, com circulação em paralelo ao Metical corrente até 31 de Dezembro de 26; será alterada toda a contabilidade de acordo com a conversão definida; - a partir de 1 de Janeiro de 27 o Metical corrente sai de circulação, podendo as moedas ser trocadas nas instituições de crédito até 31 de Dezembro de 27 e as notas no Banco de Moçambique até 31 de Dezembro de 212; nessa mesma data desaparece a desinação escritural de Metical da Nova Família, passando a moeda a designar-se novamente apenas Metical. Evolução das Economias dos PALOP e de Timor-Leste 25/26 Banco de Portugal 75
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