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Transcrição

1 fls. 1 SENTENÇA Processo Físico nº: Classe - Assunto Ação Popular - Violação aos Princípios Administrativos Requerente: Leon Rivail de Andrade Assis Requerido e Réu: Municipio de Mogi das Cruzes e outros Juiz(a) de Direito: Dr(a). Marcos Alexandre Santos Ambrogi Vistos. LEON RIVAIL DE ANDRADE ASSIS, qualificado na inicial, ajuizou a presente AÇÃO POPULAR em face de MUNICÍPIO DE MOGI DAS CRUZES E OUTROS sustentando, em síntese, que por força do Decreto Municipal de nº. 2282/01, os advogados do Município, bem como suas autarquias, estão percebendo valores constantes em honorários derivados de sucumbência, acordo ou arbitramento, sendo que a percepção de tal verba tem causado prejuízos ao erário, porquanto a lei que ampara tal ganho refere-se ao advogado autônomo. Pleiteia, liminarmente, a suspensão do repasse de quaisquer valores oriundos de honorários, e que seja declarada a inconstitucionalidade do art. 1º de referido Decreto Municipal, por violação à Constituição Federal e ao art. 4ª Lei nº. 9527/97. Juntou documentos (fls. 21/31). A decisão de fls. 93/94 antecipou parcialmente os efeitos da sentença, limitando o rateio da verba honorária. Houve recurso, suspendendo tal decisão Citados,, os réus ofereceram contestação arguindo, de maneira geral, preliminares de ilegitimidade passiva, litisconsórcio passivo necessário, prejudicial de prescrição. Ainda, sustentam a inexistência de ilegalidade; não comprovação de lesão ao patrimônio público; não cabimento de aplicação do art. 4º da Lei nº. 9527/97, assim com inconstitucionalidade deste, ante o princípio da moralidade administrativa; exceção à regra do art. 23 da Lei nº. 8906/94; além de carência da ação. Ainda, aduzem que não há norma que determine que os honorários advocatícios pertençam ao Poder Público; que o direito aos honorários é reconhecido pelo Decreto Municipal nº. 2282/01, situação esta referendada pela jurisprudência; que o recebimento de honorários pelos Procuradores Municipais já fora analisado pela Ordem dos Advogados do Brasil; litispendência; lançam arguição de prejudicial externa; que o alcance d art. 4º da Lei nº. 9527/97 é limitado; dentre outros argumentos que debatem sobre a natureza dos honorários advocatícios, da violação ao princípio da isonomia e da não discriminação, que maculam de inconstitucionalidade os preceitos do artigo supramencionado e da ilegalidade do desvio da verba honorária para lauda 1

2 fls. 2 outros fins que não o rateio entre os procuradores. Houve réplica. O representante do Ministério público manifestou-se pela decretação da nulidade do Decreto Municipal nº. 2282/01, bem como a condenação dos réus à restituição dos honorários recebidos. V. Acórdão do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo deu provimento a recurso, determinando a suspensão do processo por prejudicialidade externa. Decorrido o prazo de um ano, as partes se manifestaram. É o relatório. DECIDO. 1- Passo ao julgamento no estado em que se encontra o processo, tendo em vista que bastam os documentos que constam dos autos e a aplicação do Direito, sendo impertinente a produção de prova oral, nos termos dos arts. 330, I, e 400 do Código de Processo Civil. 2- Não há mais de se falar em suspensão do curso do processo por prejudicialidade externa, na medida em que o V. Acórdão é claro no sentido de que, transcorrido o prazo legal de um ano da suspensão, necessário o julgamento da pretensão. Inclusive é o que decorre do 5º do art. 265 do CPC. 3- Pois bem, conquanto sejam várias defesas contra o processo, ou seja, preliminares de contestação, ou mesmo prejudicial de mérito, fato é que esse Juízo não conhecerá de tais alegações, na medida em que o julgamento do mérito favorece o arguente. Aplicação teleológica do art. 249, 2º do CPC, ou seja, quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a declaração de nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandar repetir o ato ou suprir-lhe a falta. Isso decorre do fato de que o processo é mero instrumento para resolução da lide (esse o principal escopo), de modo que, se esta pode ser enfrentada, inclusive, sem a necessidade de leitura das contestações, ou seja, tão-somente pelas teses trazidas pela inicial, desnecessário o desperdício de tempo com questões que não influenciarão à convicção do Juiz. Portanto, em razão de tal motivação, afastam-se as preliminares e prejudiciais de mérito. Impertinente também discussões acerca do fato de determinada peça dever ou não ficar nos autos, em razão do que acima já disposto. 4- Pois bem. Os pedidos devem ser julgados improcedentes. De fato, muito embora possa o Juízo de 1º grau reconhecer, de forma incidental, a inconstitucionalidade de espécie normativa (controle difuso), fato é que não se lauda 2

3 fls. 3 vislumbra qualquer arranho aos princípios constitucionais administrativos. De fato, os honorários advocatícios devidos à Fazenda Pública Municipal podem ser, por opção legislativa, objeto de rateio entre os procuradores municipais, desde que seja reconhecido seu caráter não-pessoal, como no caso do Decreto combatido pelo requerente. De fato, embora o art. 4º da Lei Federal 9527/97 exclua a aplicação das regras da Lei 8906/94 (Estatuto da Advocacia), referentes ao regime de partilha dos honorários, aos advogados que integram quadros da Administração Direta ou Indireta da União, Estados, Distrito Federal e Municípios (com o consequente afastamento da previsão de partilha de honorários pelos advogados empregados, cf. art. 21 do Estatuto da Advocacia), isso não afasta a autonomia Municipal (CF, art. 18) para regulamentar a matéria por meio de lei local, como de fato fora feito, agora, inclusive, por Lei Complementar Municipal. A propósito, o art. 4 da Lei 9.527/97 prevê que as disposições constantes do Capítulo V, Título I, da Lei 8.906/94, não se aplicam à Administração Pública direta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como às autarquias, às fundações instituídas pelo Poder Público, às empresas públicas e às sociedades de economia mista. Ou seja, tal dispositivo refere-se à inaplicabilidade das disposições contidas no Capítulo V, quais sejam os arts. 18 a 21 que disciplinam o Advogado Empregado. Já o art. 23, que disciplina a titularidade dos honorários de sucumbência, encontra-se no Capítulo VI do mesmo Título I, e, portanto, não é atingido pelo art. 4 da Lei n 9.527/97. jurídica. Os honorários sucumbenciais não constituem, portanto, patrimônio público. Aliás, quem os paga é a parte contrária. E, por terem fontes completamente distintas, não tem a mesma natureza A remuneração, parte fixa, certa e invariável, paga pelo ente público empregador como retribuição pecuniária pelo exercício do cargo é uma coisa. A sucumbência, no entanto, decorre da lei processual civil e é eventual, incerta e variável, paga pela parte sucumbente no processo. Ou seja, é outra coisa. Portanto, os valor decorrentes de sucumbência não se inserem no conceito de remuneração. O trabalho exercido por advogados públicos nas causas e que atuam na representação dos entes públicos em nada difere do trabalho exercido pelo Advogado privado a não ser pelo mandante e ao fato de que a não faz jus o procurador público a honorários contratuais, mas sim a uma remuneração lauda 3

4 fls. 4 Os honorários de sucumbência estão relacionados ao sucesso do profissional que aturou na causa, sendo devidos apenas ao Advogado vitorioso. Portanto, em razão do fato de não se estar diante de verba pública, não há de se falar em ofensa a qualquer princípio previsto no art. 37 da CF ou lesividade, por qualquer razão, ao patrimônio público. A propósito, em razão de tal motivação, tem-se que os valores recebidos a título de sucumbência não compõem os vencimentos para efeitos de incidência de teto remuneratório. Repita-se, tais honorários não são pagos pelo ente público que os remunera. Nesse sentido: STF (RE AgR /SP): Recurso extraordinário. 2. Teto Constitucional. Art. 37, XI, da Constituição Federal. 3. Vantagens pessoais. Exclusão. 4. Os honorários advocatícios não constituem situação funcional própria do servidor, mas, sim, vantagens gerais percebidas por todos os procuradores que exerçam atividade contenciosa. Precedentes. 5. Agravo Regimental a que se nega provimento. Relator Min. Néri da Silveira, DJ 26/10/2001. De resto, não houve, de parte a parte, qualquer ofensa a princípio éticoprocessual. Ou seja, não há litigância de má-fé, inclusive relacionada ao autor, o qual se baseia em tese que tem respaldo jurídico, muito embora não adotado pelo Juízo. Nesse sentido: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTROVÉRSIA QUANTO À EXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO DE ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. QUESTÃO DECIDIDA À LUZ DA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E DO CONJUNTO FÁTICO- PROBATÓRIO DOS AUTOS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 283 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AÇÃO POPULAR. NÃO COMPROVADA A LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ PELO AUTOR POPULAR. EXONERAÇÃO DO PAGAMENTO DE CUSTAS E DOS ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. 1. No tocante à exigibilidade de licitação, para se chegar a conclusão diversa da adotada pela Instância Judicante de origem, são necessários a análise da legislação infraconstitucional pertinente e o reexame do conjunto fáticoprobatório dos autos, providências vedadas neste momento processual. Incide, além disso, a Súmula 283 desta nossa Corte, in verbis: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles". 2. Não comprovada a litigância de má-fé, é de se afastar a condenação do autor popular ao pagamento das custas processuais e dos ônus da sucumbência. Precedente. 3. Agravo regimental parcialmente provido para afastar a condenação nos ônus das custas e da sucumbência (STF - AI AgR, Relator o Ministro Ayres Britto, Segunda Turma, DJe grifos nossos) lauda 4

5 fls. 5 Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos veiculados nessa ação popular, pondo fim ao processo, com resolução do mérito, nos termos do art. 269, I, do CPC. Sem condenação em custas ou honorários, conforme acima mencionado. P. R. I. Mogi das Cruzes, 03 de agosto de DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI /2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA lauda 5