Supremo Tribunal Federal

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1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO SANTA CATARINA RELATORA RECTE.(S) ADV.(A/S) RECDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) : MIN. CÁRMEN LÚCIA :ERLON NATALINO CANTELLI : VANESSA REGIANINI SCHMITZ E OUTRO(A/S) :ESTADO DE SANTA CATARINA :PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE SANTA CATARINA DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. POLICIAL MILITAR. BASE DE CÁLCULO DAS HORAS EXTRAS. LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 266/2004 E LEI ESTADUAL N /1979. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da Constituição da República contra o seguinte julgado da 6ª Turma Recursal dos Juizados Especiais de Lages/SC: RECURSO INOMINADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENTE PÚBLICO. DIREITO INDISPONÍVEL. INDENIZAÇÃO DE ESTÍMULO OPERACIONAL. NATUREZA JURÍDICA. BASE DE CÁLCULO. REMUNERAÇÃO. CONCEITO IMPRECISO. PRECEDENTE. LEGISLAÇÃO ESTADUAL. COMPETÊNCIA E ESPECIALIDADE. SUBSÍDIO. CONTROVÉRSIA. VEDAÇÃO DE ACRÉSCIMO PECUNIÁRIO. PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PECULIARIDADES DA

2 LEGISLAÇÃO ESTADUAL. BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. QUESTÃO DIVERSA. VEDAÇÃO DO EFEITO CASCATA. INTERPRETAÇÃO O ART. 37, XIV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRECEDENTES DA QUINTA TURMA DE RECURSOS (JOINVILLE) E DA OITAVA TURMA DE RECURSOS (CAPITAL), BEM COMO DO GRUPO DE CÂMARAS DE DIREITO PÚBLICO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA (MS , REL. DES. JOSÉ VOLPATO DE SOUZA). SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO DESPROVIDO (fl. 288). Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (fl ). 2. O Recorrente alega que a Turma Recursal teria contrariado os arts. 7º, inc. XVI, 39, caput e 4º, e 144, 9º, da Constituição da República e a Súmula Vinculante n. 16 do Supremo Tribunal Federal. Argumenta que: A pretensão do recorrente e dos servidores vinculados à Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina é fundada na Carta da República, especialmente no sentido de que a remuneração é base de cálculo das horas extras desses servidores, policiais civis e militares, forte no art. 39, 3º, c/c art. 7º, XVI ambos da Carta Magna. A parte recorrente deveria receber seus rendimentos na espécie de subsídio, em parcela única, na forma inicialmente determinada no art. 144, 9º da CR/88, que remete a leitura do 4º do art. 39, também da Lei Maior. A remuneração pelo serviço extraordinário/noturno é devida por força da Lei Complementar Estadual nº 137/95, que instituiu a gratificação denominada Indenização de Estímulo Operacional. Como se não bastasse a Lei 6.218/83 (Estatuto da Polícia 2

3 Militar de Santa Catarina) colaciona o disposto no art. 53, que define o que é remuneração. Essa alegação - de que o Estado não utiliza corretamente o conceito de remuneração - é tão verdadeira, que o próprio Estado de Santa Catarina editou [a] Lei Complementar nº 556/2011, que irá incorporar as rubricas até agora nominadas, gradativamente, aos vencimentos dos servidores até o ano de Por essas razões acima invocadas, entende o recorrente que a remuneração integral do servidor é a base de cálculo das horas extras do policial catarinense (fls ). Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO. 3. Razão jurídica não assiste ao Recorrente. 4. A Turma Recursal de origem manteve sentença proferida nos termos seguintes: A divergência apontada pelas partes, reside, necessariamente, na definição do que é remuneração, adotando o autor o critério estabelecido no art. 4º da Lei Complementar Estadual 266/04 que estabelece que é a soma mensal paga ou devida em caráter continuado, como vencimento, salário, subsídios, adicionais, abonos, 13º salário, gratificações incorporáveis, disponibilidade ou reforma e quaisquer outros estipêndios, excluídas as verbas de caráter indenizatório. Por outro norte, o réu defende, e já adota este critério ao efetuar os pagamentos aos Policias Militares Rodoviários, os conceitos estabelecidos no art. 3º da Lei 5.645/79, que determina que a remuneração do policial-militar na ativa compreende: I vencimentos; II adicional por tempo de serviço; III adicional de permanência. A Legislação aplicada pelo autor (LCE 266/04) para apontar o equívoco no cálculo das horas extras e adicional noturno tem aplicação 3

4 específica para o cálculo da contribuição para o custeio do Regime Previdenciário dos servidores ativos, inativos e pensionistas do Estado de Santa Catarina, ao passo que a Lei utilizada como parâmetro pelo réu (Lei 5.645/79) dispõe sobre a remuneração da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. Ou seja, muito embora a LCE 266/04 seja aplicável aos Policiais Militares Rodoviários para calcular sua contribuição previdenciária, face a sua especificidade (criada exclusivamente para o fim de cálculo da contribuição da contribuição previdenciária), referida norma não pode ter seus termos, disposições e efeitos estendidos para ser adotada como critério de cálculo de pagamentos dispendidos pela Administração Pública a título de horas extras e adicional noturno, notadamente porque a Lei 5.645/79 trata de forma clara e específica (princípio da especificidade) sobre a matéria. Isso posto, porque aplicáveis ao caso as disposições da Lei Ordinária Estadual 5.645/79 e não da Lei Complementar Estadual 266/04 julgo improcedente o pedido inicial (fls ). 5. Concluir de forma diversa do que decidido pelas instâncias originárias demandaria a análise prévia da legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Leis Complementares Estaduais n. 266/2004 e 556/2011, e Lei Estadual n /79). Assim, a alegada contrariedade à Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria indireta, o que não viabiliza o processamento do recurso extraordinário, conforme, dentre outros, os seguintes julgados: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. AUXILIARES TÉCNICOS E MOTORISTAS POLICIAIS CIVIS. ADICIONAIS CONCEDIDOS COM BASE NA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N. 22/1994. ACÓRDÃO PROFERIDO COM BASE NA LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E NO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS N. 279 E 280 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO 4

5 REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO (AI AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJe ). AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. REAPRECIAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE NORMAS LOCAIS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 280 DO STF. NECESSIDADE DE REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 279. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. REAPRECIAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE NORMAS INFRACONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 636. AGRAVO IMPROVIDO. I O acórdão recorrido dirimiu a questão dos autos com base na legislação infraconstitucional local aplicável à espécie. Inadmissível o RE, ante a incidência da Súmula 280 do STF. IV Agravo regimental improvido (ARE AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe ). Não há, pois, o que prover quanto às alegações da parte recorrente. 6. Pelo exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 557, caput, do Código de Processo Civil e art. 21, 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Publique-se. Brasília, 15 de fevereiro de Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 5