SENTENÇA

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1 rocesso Judicial Eletrônico: de 5 03/06/ :58 Processo eletrônico nº Autor: PAULO FRANCO MARX Réu: ESTADO DA BAHIA SENTENÇA RELATÓRIO SUCINTO Alega o Autor que é investigador de polícia, servidor integrante do sistema da Polícia Civil do Estado da Bahia, há mais de 30 (trinta) anos, em efetivo exercício, fazendo jus ao benefício do abono de permanência, tendo em vista que a lei nº 51/85, alterada pela lei complementar nº 144/2014, institui que servidores do sexo masculino com 30 anos de contribuição e 20 anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial poderão receber o abono. Requerido o benefício administrativamente, foi-lhe negado sob o argumento de que não há previsão constitucional para a concessão do abono de permanência para aposentadorias voluntárias alcançadas com base na Lei Complementar. Em razão disso, ajuizou ação ordinária com pedido de liminar inaudita altera pars contra ato do Delegado Geral da Polícia Civil a fim de, após concessão da gratuidade da justiça, declarar a ilegalidade praticada pelo Réu ao negar o direito do Autor de perceber a parcela do abono de permanência, determinando, ainda, que a mesma seja deferida de forma retroativa, desde a data em que o Autor fez jus à parcela. Antecipação de tutela negada com fundamento nos 2º e 5º do art. 7º da Lei /2009. Devidamente citado, o Réu apresentou contestação, alegando, em síntese: ausência de previsão constitucional e necessidade de obediência ao princípio da legalidade; requisitos para a aposentadoria voluntária especial previstos no art. 1º, II, a, da Lei nº 51/85 são próprios e estanques, distinguindo-se daqueles necessários à aposentadoria prevista no art. 40, 1º, III, a, da carta magna; ausência de preenchimento dos requisitos exigidos pela LC n 51/85; não comprovação de desempenho de atividade de natureza estritamente policial. Instalada a audiência, foi proposta tentativa de conciliação, sem acordo, não tendo as partes manifestado interesse na produção de provas em audiência de instrução e julgamento. É o que importa circunstanciar. DECIDO. Cinge-se a presente demanda à insurgência do Autor que almeja o recebimento de abono de permanência, uma vez ter direito à aposentadoria voluntária especial, com base na Lei Complementar nº 51/1985, mas ter optado por continuar no exercício

2 2 de 5 03/06/ :58 de suas funções. Inicialmente, cumpre observar a possibilidade se gozo de abono de permanência para policiais civis, sendo certo que a Lei Complementar nº 51/85 foi recepcionada pela Constituição Federal. É o que se extrai de julgados recentes do Supremo Tribunal Federal: EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo. Administrativo. Policial civil. Aposentadoria especial. Lei Complementar nº 51/85. Recepção pela CF/88. Abono de permanência. Percepção. Possibilidade. Requisitos para concessão do benefício. Preenchimento. Legislação infraconstitucional. Ofensa reflexa. Fatos e provas. Reexame. Impossibilidade. Precedentes. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o art. 1º, inciso I, da Lei Complementar nº 51/85 foi recebido pela Constituição Federal. 2. A Corte já se pronunciou no sentido de que a Constituição não veda a extensão do direito ao abono de permanência para servidores públicos que se aposentam com fundamento no art. 40, 4º, da CF. 3. Inadmissível, em recurso extraordinário, a análise da legislação infraconstitucional e o reexame de fatos e provas dos autos. Incidência das Súmulas nºs 636 e 279/STF. 4. Agravo regimental não provido. (ARE AgR/RS; Relator: Min. DIAS TOFFOLI; Julgamento: 24/11/2015; Órgão Julgador: Segunda Turma). AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. SERVIDOR PÚBLICO. APOSENTADORIA ESPECIAL. CONCESSÃO DE ABONO DE PERMANÊNCIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. No entendimento da jurisprudência do STF, ao policial aposentado nos termos da LC 51/85 é devido o abono de permanência. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (ARE AgR/RS; Relator: Min. EDSON FACHIN; Julgamento: 10/11/2015; Órgão Julgador: Primeira Turma). Com efeito, o Supremo Tribunal Federal entendeu pelo recebimento da Lei Complementar nº 51/85 que, em seu art. 1º, define os critérios para a aposentadoria voluntária do policial, in verbis: Art. 1 o O servidor público policial será aposentado: II - voluntariamente, com proventos integrais, independentemente da idade: Complementar n 144, de 2014) (Redação dada pela Lei a) após 30 (trinta) anos de contribuição, desde que conte, pelo menos, 20 (vinte) anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial, se homem; (Incluído pela Lei Complementar n 144, de 2014)

3 3 de 5 03/06/ :58 b) após 25 (vinte e cinco) anos de contribuição, desde que conte, pelo menos, 15 (quinze) anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial, se mulher. Referido dispositivo caminha, como bem apontou o Supremo Tribunal Federal, com o art. 40, 4º, da Constituição Federal, que assim afirma: Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. [...]. 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: I portadores de deficiência; II que exerçam atividades de risco; III cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Assim, a exigência de 30 anos de contribuição e, pelo menos, 20 anos de exercício no cargo para aposentadoria voluntária, no caso de servidor, é legitimada pela Constituição Federal e pelo Supremo Tribunal Federal, sendo certo que, caso tais requisitos estejam presentes e o servidor optar pela continuidade na prestação dos seus serviços, o abono de permanência será devido. Percebe-se a existência do direito pleiteado pelo Autor. Entretanto, para sua correta aplicação, necessário, ainda a análise dos elementos fáticos trazidos por ele aos autos os quais julgo estarem presentes. Com efeito, do contracheque juntado pelo Autor, datado de fevereiro de 2015, (ID Pág. 1), este teria feito exatos 30 anos de carreira naquele mês, tendo em vista a sua data de admissão ter se efetivado em 08/02/1985 no cargo de investigador de polícia. Assim sendo, constata-se, através do contracheque referido, haver o Autor preenchido os requisitos necessários para a percepção do abono de permanência: 30 anos de contribuição e 20 anos de exercício. O Réu, por sua vez, limitou-se a negar o direito do Autor, notadamente, a impossibilidade de tais servidores obterem abono de permanência, mesmo com decisão em sentido contrário do Supremo Tribunal Federal, e que o Autor não exercia atividade estritamente policial. Entretanto, sequer juntou aos autos prova de que o Autor não exercia a atividade condicionante do benefício, plenamente ao seu alcance por ser detentora de todas as informações profissionais do Autor.

4 4 de 5 03/06/ :58 Assim, nos termos do art. 373 do NCPC, cabe ao Réu o ônus de provar a existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do Autor, tarefa esta não cumprida pelo Réu, tendo o Autor, por sua vez, comprovado os fatos constitutivos do seu direito. Destarte, no caso em comento, percebe-se que assiste razão ao Autor, preenchidos que estão os requisitos necessários para sua aposentadoria voluntária e, bem assim, para o gozo do abono de permanência, não sendo legítima a negativa do Réu ao seu pleito. CONCLUSÃO Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO DA EXORDIAL, tendo em vista o preenchimento dos requisitos necessário para aposentadoria voluntária em fevereiro de 2015 e, portanto, do gozo de abono de permanência, devendo o Réu conceder esse benefício desde aquela data. Assistência judiciária indeferida tendo em vista não haver nos autos prova da miserabilidade do Autor, notadamente diante da atividade profissional desenvolvida por ele e o valor da sua remuneração colacionada aos autos, o que, diante do baixo custo de eventual recurso a ser utilizado, não justifica a concessão do benefício. O acesso ao Juizado Especial, em primeiro grau de jurisdição, independe do pagamento de custas, taxas ou despesas, bem como a sentença de primeiro grau não condenará o vencido nas custas processuais e honorários de advogado, ressalvados os casos de litigância de má-fé; com esteio nos arts. 54 e 55, da Lei N.º 9.099/95. Após certificado o prazo recursal, arquivem-se os presentes autos. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Salvador/Ba, 20 de março de (Documento assinado eletronicamente) Josevando Souza Andrade Juiz de Direito M

5 5 de 5 03/06/ :58 Assinado eletronicamente por: ALBENIO LIMA DA SILVA HONORIO ID do documento: