Supremo Tribunal Federal

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1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO RIO GRANDE DO SUL RELATORA RECTE.(S) PROC.(A/S)(ES) RECDO.(A/S) ADV.(A/S) : MIN. CÁRMEN LÚCIA :MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE :PROCURADOR-GERAL DO MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE :FERNANDA GARAY & CIA LTDA :VALQUIRIA DOS REIS SILVA DECISÃO AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 1) TRIBUTÁRIO. LEI COMPLEMENTAR N. 116/2003: QUESTÃO INFRACONSTITUCIONAL. 2) CONTROVÉRSIA SOBRE FATO GERADOR DE TRIBUTO: SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Agravo nos autos principais contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da Constituição da República. 2. O recurso inadmitido tem por objeto o seguinte julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA. INCIDÊNCIA DE ISSQN SOBRE CESSÃO DE DIREITO DE USO DE IMAGEM DE ATLETA. DESCABIMENTO. AFRONTA AO ART. 156, III, DA CF. TRANSMISSÃO TEMPORAL DE DIREITO. OBRIGAÇÃO QUE NÃO CONFIGURA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO.

2 A cessão de marca ou imagem configura nítida obrigação de dar, que se opera pela simples transmissão temporal do direito para que outrem tenha a fruição mediante certa remuneração; verdadeiramente, locação (C.Civ. art. 565), que não importa ou demanda de parte do cedente qualquer outra atividade que não a de dar ou ceder. O cedente não serve, não presta atividade de qualquer ordem que implique obrigação de fazer, a que se possa considerar locação de serviços. É que não importa esteja listado o serviço; importa, sim, se o fato que lá está descrito se caracteriza como tal. A Lista não é critério ou não é o único critério para descrever o fato gerador do ISS, até porque não define o tipo, não conceitua o que seja prestação de serviço. Portanto, quando a Lista inclui fatos que não configuram prestação de serviço, por afastada a idéia de trabalho, de esforço humano, de um facere, afronta o disposto no artigo 156, III da Constituição Federal. Assim se dá na locação de bens móveis, como já proclamou o Supremo Tribunal Federal. Assim também, e por identidade de razões, na cessão de direito de marca ou de imagem. Apelo provido. Unânime (fl. 86). 3. No recurso extraordinário, o Agravante alega que o Tribunal a quo teria contrariado o art. 156, inc. III, da Constituição da República. Requer seja declarada a plena incidência do ISS sobre o contrato de cessão de direito de uso de marca ou imagem, descrito no subitem 3.02 da Lista anexa de Serviços à Lei Complementar nº 116/2003 (fl. 105). 4. A decisão agravada inadmitiu o recurso extraordinário pelo seguinte fundamento: ao invés de ensejar qualquer maltrato ao dispositivo constitucional invocado, o aresto combatido, nada mais fez do que aplicar o regramento, porquanto a atividade sobre a qual o Município postula tributação não se configura como prestação de serviço (fl. 132). 2

3 Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO. 5. O art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n /2010, estabeleceu que o agravo contra decisão que inadmite recurso extraordinário processa-se nos autos do processo, ou seja, sem a necessidade de formação de instrumento, sendo este o caso. Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso extraordinário. 6. Razão jurídica não assiste ao Agravante. 7. Ressalte-se, inicialmente, não ter sido objeto do recurso extraordinário inadmitido a questão relativa à taxatividade, ou não, da lista anexa à Lei Complementar n. 116/2003, cuja repercussão geral foi reconhecida no Recurso Extraordinário n , Relatora a Ministra Ellen Gracie, Dje O Relator, Desembargador Genaro José Baroni Borges, afirmou: Cuida saber da incidência de ISSQN sobre a cessão de uso de marca ou de imagem, constante da Lista Anexa à Lei Complementar 116/03, item 3, subitem 3.02, repetido pela Lei Complementar Municipal nº 07/73: ( ) Na verdade, a noção de serviço, TRAÇO ESSENCIAL DO ISSQN, não dispensa e idéia de trabalho, de esforço humano, como dispõe o Código Civil (artigos 593 e seguintes), ao qual há de socorrerse o intérprete em obediência ao artigo 110 do CTN, ante o vazio normativo tributário. (...) Por último, mas de igual importância, a cessão do direito de 3

4 imagem não se deu entre a Atleta FERNANDA GARAY RODRIGUES e a entidade esportiva com a qual mantém contrato de trabalho (fl. 18), mas entre aquela, pela pessoa jurídica, e a montadora de veículos automotores FIAT AUTOMÓVEIS S/A (fls. 15/17), não se enquadrando no item 37 da Lista Anexa à LC 116/2003 (fls v.). Concluir de forma diversa do que decidido pelas instâncias originárias demandaria a análise prévia da legislação infraconstitucional aplicada à espécie (Lei Complementar n. 116/2003, Código Civil e Código Tributário Nacional) e do conjunto fático-probatório dos autos. Assim, a alegada contrariedade à Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria indireta, o que inviabiliza o processamento do recurso extraordinário. Nesse sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DE IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS - ISS SOBRE SERVIÇO DE RETÍFICA, REPARO E REVISÃO DE AERONAVES CONTRATADO POR EMPRESA ESTRANGEIRA. LEI COMPLEMENTAR N. 116/2003. IMPOSSIBILIDADE DA ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA CONSTITUCIONAL INDIRETA. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO (AI AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, Dje grifos nossos). TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ISS. CONTRATO DE FRANQUIA. ARTIGO 156, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS STF 282 E 356. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. PRECEDENTES. 1. Não houve o prequestionamento do artigo 156, III, da CF, porque não abordado pelo acórdão recorrido, nem suscitado nos embargos de declaração opostos (Súmulas STF 282 e 356). 2. O Supremo Tribunal Federal, em princípio, não admite o "prequestionamento implícito" da questão constitucional. 4

5 Precedentes. 3. A controvérsia foi decidida com base na legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Lei Complementar 116/2003, Lei Complementar Municipal 482/2003, Lei 8.955/94 e Decreto-Lei 406/68), cuja análise é inviável em sede extraordinária. Assim, eventual ofensa à Constituição, se existente, seria meramente reflexa ou indireta. Precedentes. 4. Agravo regimental improvido (AI AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, Dje grifos nossos). AGRAVO REGIMENTAL. ISS. OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. ÔNUS DA PROVA. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. ENUNCIADO 279 DA SÚMULA/STF. ART. 204, CTN. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. Para se chegar a conclusão diversa daquela a que chegou o tribunal de origem, seria necessário reexaminar os fatos e provas da causa, o que é vedado em sede extraordinária, consoante o Enunciado 279 da Súmula/STF. Ademais, não há questão constitucional em debate, uma vez que o acórdão fundou-se na presunção de veracidade da certidão de dívida ativa (art. 204, CTN). Agravo regimental a que se nega provimento (AI AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, Dje grifos nossos). 7. Nada há, pois, a prover quanto às alegações do Agravante. 8. Pelo exposto, nego seguimento ao agravo (art. 544, 4º, inc. II, alínea a, do Código de Processo Civil e art. 21, 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Publique-se. Brasília, 21 de junho de Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 5