AÇÃO ORDINÁRIA (PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO) Nº /PR

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1 AÇÃO ORDINÁRIA (PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO) Nº /PR AUTOR : CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL DA 8ª REGIÃO - CREFITO/PR RÉU : CAMPINA GRANDE DO SUL PREFEITURA ADVOGADO : JEFFERSON ROSA CORDEIRO SENTENÇA 1.RELATÓRIO Trata-se de ação ordinária por meio da qual o CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL DA 8ª REGIÃO - CREFITO-8 pretende, inclusive por antecipação dos efeitos da tutela, a condenação do MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE DO SUL à adequação da jornada de trabalho dos profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, de modo que passem a cumprir a jornada de 30 horas semanais conforme determina a Lei nº 8.856/94. Relata, em síntese, que o Município réu vem descumprindo as determinações da jornada semanal máxima para tais profissionais, estabelecendo a carga horária de quarenta horas semanais para os fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais contratados. Sustenta que essa estipulação é manifestamente contrária à lei, motivo pelo qual o Conselho autor enviou ofício ao ente municipal solicitando a alteração da carga horária, entretanto, não obteve resposta. Diante disso, e dadas as competências e atribuições do Conselho, outra solução não lhe restou senão socorrer-se ao Judiciário por meio da presente demanda judicial. Requer, em sede de antecipação de tutela, seja determinado ao Município que limite a carga horária de referidos profissionais em no máximo trinta horas semanais, sem redução proporcional dos vencimentos. A antecipação de tutela foi deferida, nos termos da decisão de evento 03, motivo pelo qual o réu ingressou com agravo de instrumento, cujo provimento foi negado nos termos da decisão de evento 10.

2 O Município réu contestou a ação em evento 13, alegando preliminar de carência de ação por impossibilidade jurídica do pedido e de inadequação da via eleita para questionar a constitucionalidade de Lei Municipal. No mérito, defende a inaplicabilidade da Lei nº 8.856/94 ante o princípio da autonomia administrativa. Requer ainda que, em caso de procedência da ação, seja permitida a redução proporcional dos vencimentos dos profissionais vinculados ao Conselho autor. O autor apresentou réplica em evento 16. instrumento. Em evento 18, comunicado o não provimento do agravo de Vieram os autos conclusos para sentença. É o relatório. Decido. 2. FUNDAMENTAÇÃO Preliminares a) Impossibilidade jurídica do pedido O réu alega que o pedido formulado é juridicamente impossível considerando a alegada inaplicabilidade da Lei nº 8.856/94 aos servidores do Município de Campina Grande do Sul, os quais são regidos por estatuto próprio dentro do âmbito de autonomia conferido pela Constituição Federal aos entes municipais. Não acolho a preliminar, vez que o pertinência ou impertinência da aplicação da Lei nº 8.856/94 aos profissionais vinculados ao CREFITO/PR é matéria que diz respeito ao mérito da demanda e será com ele analisada. b) Inadequação da via eleita Entende o Município réu que a pretendida declaração de inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 09/2004 só pode ser promovida por controle concentrado de constitucionalidade, cuja competência para julgamento é do Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 101, VII, 'f' da Constituição do Estado do Paraná. Igualmente, a preliminar não merece prosperar porque a inconstitucionalidade de lei municipal também pode ser declarada pelo controle difuso, exercitável por qualquer juiz ou tribunal, exatamente como pretende a parte autora com a presente ação.

3 Mérito Conforme relatado, cinge-se a controvérsia dos autos à fixação da jornada de trabalho dos profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais ligados ao Município de Campina Grande do Sul. O Município réu, no uso da competência legislativa prevista no artigo 30 da Constituição Federal, editou a Lei nº 09/2004 que instituiu o regime jurídico dos servidores públicos do Município, digitalizado em OUT3 de evento 13. Nele, vê-se que a carga horária semanal máxima prevista para os servidores municipais é de 40 (quarenta) horas semanais, nos termos do artigo 22, cujo teor transcrevo: 'Art.22. O ocupante do cargo de provimento efetivo fica sujeito a 40 (quarenta) horas semanais de trabalho, salvo quando for estabelecida duração diversa.' A referida norma, contudo, contraria o que prevê a Lei nº 8.856/94, que fixa a jornada de trabalho dos profissionais fisioterapeuta e terapeuta ocupacional em âmbito federal,in verbis: Art. 1º Os profissionais Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional ficarão sujeitos à prestação máxima de 30 horas semanais de trabalho. Referida lei emana da competência privativa atribuída à União pelo artigo 22, XVI, da Constituição para legislar sobre condições para o exercício de profissões Trata-se, portanto, de conflito aparente de normas, cuja solução passa, no meu entender, pelo critério da especialidade. Vale dizer, reconheço que o Município de Campina Grande do Sul tem autonomia para legislar sobre o regime jurídico de seus servidores. Contudo, em se tratando de atividade profissional disciplinada por lei específica, como é o caso dos profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, entendo que a normativa municipal, destinada a servidores das mais diversas carreiras, não pode prevalecer. Nesse contexto, a exigência de jornada de trabalho de 40 horas semanais para os cargos de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional implica em impor carga de trabalho superior à fixada em lei, divergindo da legislação federal que a estabelece. Nesse sentido, tem se posicionado a jurisprudência do E. TRF da 4ª Região, inclusive a decisão proferida em face do agravo de instrumento movido em face da antecipação dos efeitos da tutela, nestes autos: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. FISIOTERAPEUTAS E TERAPEUTAS OCUPACIONAIS OCUPANTES DE CARGOS PÚBLICOS MUNICIPAIS. JORNADA DE TRABALHO. LEI 8.856/94. APLICABILIDADE.

4 A Lei 8.856/94, diploma normativo federal de âmbito nacional que fixa a jornada de trabalho dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, aplica-se a esses profissionais ainda que ocupantes de cargo no serviço público municipal.(ai nº , Quarta Turma, Relator Des. Federal Luís Alberto D Azevedo Aurvalle, ADMINISTRATIVO. CONSELHO REGIONAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. FISIOTERAPEUTAS E TERAPEUTAS OCUPACIONAIS OCUPANTES DE CARGOS PÚBLICOS MUNICIPAIS. JORNADA DE TRABALHO. LEI 8.856/94. APLICABILIDADE. A Lei 8.856/94, diploma normativo federal de âmbito nacional que fixa a jornada de trabalho dos fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, aplica-se a esses profissionais ainda que ocupantes de cargo no serviço público municipal. (TRF4, AC , Quarta Turma, Relator p/ Acórdão Candido Alfredo Silva Leal Junior, D.E. 21/09/2012) CONCURSO PÚBLICO. CREFITO. ILEGITIMIDADE ATIVA PARA QUESTÃO AFETA A VENCIMENTOS. JORNADA DE TRABALHO ESTABELECIDA EM EDITAL. CONTROLE DE LEGALIDADE. 1. Cabe ao CREFITO fiscalizar e zelar pelo regular exercício das profissões de fisioterapeuta e de terapeuta ocupacional. Contudo, não são os conselhos profissionais entidades de defesa de direitos e interesses de classe ou categoria, atribuição conferida aos sindicatos pela CF (art. 8º, III). Reconhecida a ilegitimidade ativa do CREFITO para postular questão afeta a vencimentos dos servidores públicos municipais vinculados ao município réu. 2. Pelo disposto nos artigos 22, XVI e 37, I, da CF, no sentido de que os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, bem como a competência privativa da União para legislar sobre as condições para o exercício de profissões, é possível concluir pela observância das disposições da Lei n.º 8.856/94, que fixa a jornada de trabalho dos profissionais Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, quando se trata do preenchimento de cargo de profissional da respectiva área. 3. O edital do concurso, ao estabelecer jornada de trabalho de 44 horas semanais para o cargo de Fisioterapeuta, impôs carga de trabalho superior à fixada em lei, divergindo da legislação federal que a estabelece, podendo sofrer controle de legalidade pelo Poder Judiciário. (TRF4, AC /RS, Quarta Turma, Relator Juiz Federal GUILHERME BELTRAMI, D.E. 04/10/2010) No que concerne à redução proporcional dos vencimentos, melhor sorte não assiste o réu em virtude do princípio da irredutibilidade dos vencimentos dos ocupantes de cargos públicos, expresso no artigo 37, XV da Constituição Federal. Tal preceito teve seu alcance definido pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de corresponder à cláusula que 'veda a redução do que se tem' (RE 95971), de modo que, no caso presente, não há que se falar em minoração proporcional dos vencimentos. A respeito, colaciono: EMENTA: 1. Servidor público: irredutibilidade de vencimentos. Dada a garantia de irredutibilidade, da alteração do regime legal de cálculo ou reajuste de vencimentos ou vantagens funcionais jamais poderá ocorrer a diminuição do quanto já percebido conforme o regime anterior, não obstante a ausência de direito adquirido à sua preservação: precedentes. 2. Recurso extraordinário: descabimento: é da jurisprudência do Supremo Tribunal que, no recurso extraordinário, é vedado o reexame dos fatos da causa, que devem ser considerados 'na versão do acórdão recorrido' (Súmula 279).(RE AgR, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA

5 PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 17/10/2006, DJ PP EMENT VOL PP-00566) 3. DISPOSITIVO Ante o exposto, julgo procedente o pedido, extinguindo o feito nos termos do artigo 269, I do CPC, para o fim de determinar a adequação da jornada de trabalho dos profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais vinculados ao Município de Campina Grande do Sul ao artigo 1º da Lei nº 8.856/94, que estipula jornada máxima de trinta horas semanais, sem que haja redução proporcional dos vencimentos. Condeno o réu ao pagamento de custas e de honorários de sucumbência, os quais fixo em 10% sobre o valor da causa. P.R.I. Curitiba, 05 de novembro de 2012.