Supremo Tribunal Federal

Transcrição

1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO MINAS GERAIS RELATORA RECTE.(S) RECDO.(A/S) INTDO.(A/S) INTDO.(A/S) : MIN. CÁRMEN LÚCIA :MUNICÍPIO DE PASSOS : JOSÉ NILO DE CASTRO E OUTRO(A/S) :ANDREA CRISTINA DO NASCIMENTO : CRISTIANE FERREIRA SILVA E OUTRO(A/S) :DANIELE PEREIRA : ANA CÉLIA QUERINO E OUTRO(A/S) :LIDIANE DE MOURA SOUZA : VIANEY AUGUSTO DE ANDRADE E OUTRO(A/S) DECISÃO AGRAVO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. COMUNICAÇÃO DA NOMEAÇÃO AO CANDIDATO APROVADO. ENVIO DE TELEGRAMA PARA ENDEREÇO DIVERSO DO INDICADO. IMPOSSIBILIDADE DO REEXAME DE CLÁUSULAS EDITALÍCIAS, DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO E DA ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL. SÚMULAS N. 279 E 454 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AUSÊNCIA DE OFENSA CONSTITUCIONAL DIRETA. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Agravo nos autos principais contra decisão que não admitiu recurso extraordinário, interposto com base na alínea a do inc. III do art. 102 da Constituição da República.

2 O recurso extraordinário foi interposto contra o seguinte julgado do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: ADMINISTRATIVO - AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO - CONCURSO PÚBLICO - COMUNICAÇÃO DA NOMEAÇÃO AO CANDIDATO APROVADO - ENVIO DE TELEGRAMA PARA ENDEREÇO DIVERSO DO CONSTANTE DO REGISTRO DO CANDIDATO - FALHA DA ADMINISTRAÇÃO - ATO INVÁLIDO - RESTABELECIMENTO DA NOMEAÇÃO - SENTENÇA MANTIDA. 1- Tem a Administração Pública a obrigação de convocar a parte autora para tomar posse, pelo mesmo meio através do qual convocou os demais candidatos nomeados. O envio de telegrama convocatório para endereço diverso daquele constante da inscrição do candidato é ato falho da Administração, pelo que deve ser anulado e restabelecida a nomeação. 2- Conforme a jurisprudência consolidada do Superior Tribunal de Justiça, O candidato aprovado em concurso público e nomeado tardiamente em razão de erro da Administração Pública, reconhecido judicialmente, faz jus à indenização por dano patrimonial, consistente no somatório de todos os vencimentos e vantagens que deixou de receber no período que lhe era legítima a nomeação, à luz da Teoria da Responsabilidade Civil do Estado, com supedâneo no art. 37, 6ª da Constituição Federal (REsp /RS) (fl. 43, doc. 2 grifos nossos). Os embargos de declaração opostos foram rejeitados. 2. A decisão agravada teve como fundamento para a inadmissibilidade do recurso extraordinário a incidência das Súmulas n. 279 e 283 do Supremo Tribunal Federal (fls , doc. 2). 3. No recurso extraordinário, o Agravante alega que o Tribunal a quo teria contrariado os arts. 5º, caput, e 37, caput, da Constituição da República. 2

3 Argumenta que não poderiam uns aprovados serem convocados por meio do aviso e outros por meio de publicação em jornal ou correspondência, sob pena de afronta ao princípio da igualdade. 4. Assim procedera a Administração Municipal, convocando todos os aprovados no certame por meio da publicação de avisos no quadro da Prefeitura Municipal. Portanto, perfeita a conduta do Município (fl. 92, doc. 2). Examinados os elementos havidos no processo, DECIDO. 4. O art. 544 do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n /2010, estabeleceu que o agravo contra decisão que inadmite recurso extraordinário processa-se nos autos do processo, ou seja, sem a necessidade de formação de instrumento, sendo este o caso. Analisam-se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja decisão se terá, na sequência, se for o caso, exame do recurso extraordinário. 5. Razão jurídica não assiste ao Agravante. 6. O Relator, Desembargador Maurício Barros, afirmou: Inicialmente, não se verifica ilegalidade na conduta do réu, pois a forma de convocação dos candidatos está prevista no item 10.1 do edital nº 1/2005 (fl. 26/39), segundo o qual os candidatos serão convocados para nomeação por meio de Edital a ser publicado no Quadro de Avisos da Prefeitura. Todavia, restou provada nos autos a utilização de método de convocação diverso, ou seja, o envio de telegrama para convocação dos candidatos. E a autora, confiante na conduta da Administração, aguardou tal procedimento. Entretanto, como provado nos autos, apesar de ter endereço atualizado, o telegrama convocatório foi 3

4 enviado para endereço totalmente diverso. Assim, a partir do momento que o réu, ainda que por mera liberalidade, passou a convocar os candidatos aprovados através de telegrama enviado para o endereço informado na inscrição, vinculou aquele ato a todos os demais candidatos, sob pena de infringência dos princípios da igualdade e da impessoalidade. Já que houve quebra nas regras do edital, caberia, portanto, ao réu, garantir a isonomia na convocação dos candidatos, certificando-se se todos os candidatos foram encontrados e não presumindo a desistência da autora. Se diversos outros candidatos foram convocados por telegrama, forma diversa da inicialmente prevista no edital, lícito entender que a autora igualmente esperava ser convocado dessa forma. E está provado - repito - que o endereço da autora, constante da inscrição e do contrato administrativo de trabalho celebrado com o réu, era totalmente diferente daquele para o qual foi enviado o telegrama, não se justificando o erro exclusivo da Administração, erro esse que trouxe sérios prejuízos para a autora (fl. 46, doc. 2). Concluir de forma diversa do que decidido pelas instâncias originárias demandaria a interpretação da legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Código de Processo Civil), do conjunto fáticoprobatório dos autos e de cláusulas do Edital n. 1/2005 do Município de Passos-MG. Assim, a alegada contrariedade à Constituição da República, se tivesse ocorrido, seria indireta, o que inviabiliza o processamento do recurso extraordinário. Incidem na espécie as Súmulas n. 279 e 454 do Supremo Tribunal Federal. Nesse sentido: AGRAVO REGIMENTAL. CONCURSO PÚBLICO. PROVA DE TÍTULOS. CARÁTER ELIMINATÓRIO. REGRA CONSTANTE DO EDITAL. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. SÚMULA 279 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. Os 4

5 requisitos estabelecidos em edital de concurso constituem matéria de âmbito infraconstitucional. Por essa razão, incabível o recurso extraordinário, visto que não há ofensa direta à Constituição federal. Reexame de fatos e provas vedado pela Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal. Agravo regimental a que se nega provimento (AI AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJ grifos nossos). AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. EXIGÊNCIA EDITALÍCIA. NÃO ATENDIMENTO. ANÁLISE DE CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO E INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS EDITALÍCIAS. SÚMULAS N. 279 E 454 DO SFT. AGRAVO IMPROVIDO. I Para se chegar à conclusão contrária à adotada pelo acórdão recorrido, necessário seria o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos e a interpretação de cláusulas editalícias. Súmulas n. 279 e 454 do STF. Precedentes. II A alegada inconstitucionalidade da regra de edital que exige experiência profissional sem prévia previsão legal traduz inovação recursal, posto que a alegada afronta à Constituição não foi mencionada nas razões do apelo extremo. III Agravo regimental improvido (AI AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJe grifos nossos). Nada há, pois, a prover quanto às alegações do Agravante. 7. Pelo exposto, nego seguimento a este agravo (art. 544, 4º, inc. II, alínea a, do Código de Processo Civil e art. 21, 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Publique-se. Brasília, 12 de dezembro de Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora 5