PLANEJAMENTO E GESTÃO DO ARRANJO FÍSICO: ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL VETERINÁRIO
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- Emanuel Morais Klettenberg
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1 ISSN PLANEJAMENTO E GESTÃO DO ARRANJO FÍSICO: ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL VETERINÁRIO Área temática: Gestão da Produção Rafael José Santana Souza eps.rafael@gmail.com Carlos Cézar Rodrigues Santos carlosrodrigues.eps@gmail.com Juliano Zaffalon Gerber juliano_zg@hotmail.com Luane Alcântara Nunes luane_alcantara@hotmail.com Resumo: O planejamento e gestão do arranjo físico em processos de serviços é de fundamental importância na busca da melhor qualidade do ambiente de trabalho e desempenho do processo como um todo. Além de simplificar o gerenciamento, facilitar a movimentação dos materiais e pessoas, é possível obter benefícios com redução de custos e de tempo nas operações. No Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus BA), foi identificado o tipo de arranjo físico, cuja organização foi avaliada e uma proposta de um novo arranjo físico foi realizada, com o propósito de reduzir a movimentação interna e aumentar a eficiência da organização. Palavras-chaves: Arranjo Físico, Eficiência dos Processos, Redução de Movimentação
2 1. INTRODUÇÃO A eficiência nas operações em organizações de serviços é um fator cujo sucesso está atrelado à organização ótima de diversas variáveis, dentre as quais as que se referem ao arranjo físico, pois há uma significativa interferência, tanto quantitativa quanto qualitativa, na estrutura da organização em relação aos serviços prestados e suas operações. Segundo Chiavenato (2005), arranjo físico refere-se ao planejamento, gestão e controle do espaço físico que será ocupado, além da disposição de equipamentos, máquinas e postos de trabalho necessários para a produção de produtos/serviços em uma organização. Para Toledo Júnior (2007), o planejamento de arranjo físico é recomendável a qualquer empresa, grande ou pequena, pois com um bom arranjo físico, obtém-se resultados surpreendentes na redução de custos de operações, no aumento da produtividade e eficiência da organização. Mesmo em organizações cuja transformação de matérias primas em produtos predominem, os serviços também fazem parte de suas operações, contribuindo com o abastecimento de insumos e prestações de serviços fornecidos, tanto na manufatura propriamente dita quanto no atendimento aos clientes. É essencial para elas considerarem as fontes de insumos, a localização da demanda, a disposição dos equipamentos, das ferramentas, dos postos de trabalho e é especialmente importante em operações que requerem a presença do cliente (CORRÊA e CORRÊA, 2012). Sendo assim, o objetivo deste artigo é avaliar o arranjo físico interno de um hospital veterinário para, através da analise da atual configuração, pesquisar e identificar instrumentos de planejamento e gestão do arranjo físico alinhados com o ambiente analisado e desta forma propor uma alternativa de melhoria no hospital através da minimização de movimentos e fluxo de pessoas. Para tal propósito, será realizado um estudo de caso a fim de coletar dados para a constituição de uma matriz que correlaciona fluxo e distância percorrida por departamento, e a partir desta quantificação, determinar um modelo mais eficiente de disposição física que minimize a movimentação interna no hospital veterinário. 2
3 2. Arranjo Físico nas Organizações O planejamento e gestão do arranjo físico são significativos instrumentos utilizados na adequação das operações à estratégia competitiva das organizações, tal que haja minimização de atividades que não agregam valor ao processo, tais como manuseio desnecessário de materiais, más alocações e excesso de movimentação de pessoas. Neste sentido, segundo Slack, Jones e Johnston (2013), o arranjo físico de uma operação ou de um processo, significa como os seus recursos transformadores são posicionados entre si e como as varias tarefas das operações são alocadas a esses recursos transformadores. Essas decisões irão ditar o padrão do fluxo dos recursos transformados à medida que eles progridem pela operação ou processo. De acordo com Corrêa & Corrêa (2012), o arranjo físico de uma operação é a maneira segundo a qual se encontram dispostos fisicamente os recursos que ocupam espaço dentro da instalação. Tais recursos englobam pessoas, materiais e equipamentos. As decisões sobre arranjo físico são de suma importância, pois podem afetar a capacidade de instalação e a produtividade das operações, e se mal projetadas e geridas, podem implicar em prejuízos financeiros e elevados custos (MOREIRA, 2011). No que tange aos custos relacionados aos arranjos físicos, Neumann e Scalice (2015) alertam que um projeto de arranjo físico adequado muitas vezes tem um custo superior ao arranjo físico mal estudado e projetado, no entanto, o segundo passa a afetar continuamente para cima os custos da produção. Corrêa & Corrêa (2012), apontam que o objetivo primordial das decisões sobre arranjo físico é, acima de tudo, apoiar a estratégia competitiva da operação, ou seja, deve haver um alinhamento entre as características do arranjo físico e as prioridades competitivas evitando conflitos entre a obtenção de flexibilidade e de eficiência. Daí resulta a necessidade de subordinar a decisão de arranjo físico à estratégia competitiva da operação. Ainda segundo Corrêa & Corrêa (2012), há, fundamentalmente, três tipos clássicos de arranjos físicos: por processo, produto e posicional, além de outros ditos híbridos, que procuram de certa forma, aliar características de dois ou mais arranjos clássicos. O arranjo físico por processos apresenta alto grau de dedicação dos funcionários e especialização na utilização de equipamentos em geral, que são agrupados por semelhanças na funcionalidade. Já o arranjo físico por produto, recebe essa denominação porque a lógica utilizada para arranjar a posição relativa dos recursos é a sequência de 3
4 etapas do processo de agregação de valor. Finalmente têm-se o arranjo físico posicional, que caracteriza-se pelo objeto da operação ficar estacionário, seja por impossibilidade ou por inviabilidade de fazê-lo mover-se entre as etapas do processo. Para Slack, Jones e Johnston (2013), são quatro os arranjos físicos possíveis: o funcional, o por produto, o posicional e o do tipo celular. O arranjo físico funcional é assim denominado pelos autores porque está de acordo com as necessidades e a conveniência das funções desempenhadas pelos recursos transformadores que constituem o projeto, já o arranjo físico por produto dependerá do tipo de processo característico a ser utilizado, em vista a organizar seu fluxo de atividades para a concepção de um item específico. O arranjo físico posicional, por sua vez, estabelece uma relação diferente, pois equipamentos, materiais, pessoas e todos os agentes transformadores se movem em direção ao que sofre o processamento, recebendo também, o nome de arranjo físico por posição fixa. O arranjo físico do tipo celular é aquele no qual os recursos transformados são pré-selecionados para movimentar-se a uma parte específica da operação (célula) na qual todos os recursos transformadores necessários a atender suas necessidades imediatas de processamento estão localizados. Concluída a primeira etapa, os recursos processados na célula anterior passam para a célula posterior. Fernandes e Godinho Filho (2010) por sua vez entendem que o arranjo físico faz parte da caracterização do processo produtivo e sugerem que são cinco os tipos de arranjos físicos: o de estação de trabalho única, por produto, funcional ou por processo, por grupo e por de posição fixa. Similar a classificação de Fernandes e Godinho Filho (2010) têm-se a de Tubino (2009) que detalha cada tipo da seguinte forma: Arranjo Físico de Processo ou por Função é aquele em que equipamentos e máquinas similares ou idênticos são agrupados, de maneira a otimizar sua localização relativa, uma peça sendo trabalhada passa de área em área; Arranjo Físico de Produto é aquele em que a forma é definida pela sequência necessária para fazer o produto, frequentemente chamado de linha de montagem; Arranjo Físico de Tecnologia de Grupo ou Célula coloca juntas máquinas distintas em centros de trabalho ou células para trabalhar em produtos que tem formas e necessidades de processamento similares; e finalmente Arranjo Físico de Posição Fixa que devido ao volume ou seu peso, o produto permanece em um local somente. Neumann e Scalice (2015) lembram que para cada tipo de arranjo físico é permitido o uso de diferentes técnicas e ferramentas. Os autores reuniram as principais técnicas e ferramentas que têm sido utilizadas nos diferentes processos de arranjos físicos. A tabela 1 apresenta esta compilação com a descrição e aplicação de cada uma. 4
5 Tabela 1: Principais técnicas e ferramentas para projetos e gestão de arranjos físicos. Técnicas e Ferramentas PERT/CPM (Program Evaluation and Review Technique/Critical Path Method) Balanceamento de Linhas de Produção Diagrama P-Q (Produto Quantidade) ou Gráfico P-V (Produto Volume) Curva ABC ou Curva de Pareto Diagramas de Processo, Carta de Processo ou Folha de Processo Carta Multiprocesso ou Carta de Processos Múltiplos Mapofluxograma ou Mapa-Fluxograma Cartas De-Para ou Carta From-To Diagrama de Afinidades ou Carta de Interligações Preferenciais Diagrama de Inter-Relações ou Diagrama de Fluxo Fonte: adaptado de Neumann e Scalice (2015). Aplicação Técnicas de planejamento, sequenciamento e controle de grandes projetos. Diagramas de redes, permitem evidenciar relações de precedência entre atividades, calcular tempos, atividades principais e de apoio, etc. Método de dimensionamento de capacidade de produção para se obter melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Realiza a distribuição de atividades por posto de trabalho, minimizando o tempo ocioso. Gráficos do volume de produção de cada produto ou família de produtos, iniciando pelo de maior volume, seguindo para os de menor volume. Auxilia na priorização de foco do projeto. Ferramenta para a determinação das prioridades entre os produtos. Com base no Princípio de Pareto, aponta os 20% dos produtos que correspondem a 80% da importância do fator analisado. Registra a sequencia de tarefas dos principais elementos de um processo, as relações de tempo, o fluxo de materiais, movimento de pessoas ou informações no trabalho. Técnica que representa em uma única carta o roteiro de fabricação de diferentes produtos ou de atendimento a diferentes serviços. É aplicada na avaliação comparativa de diversas alternativas de arranjos físicos. Desenhada na planta da organização, representa a movimentação física de um ou vários itens através dos centros de processamento disponíveis no arranjo físico de uma instalação produtiva, numa sequência de rotina fixa. Cartas estruturadas na forma de matrizes, em que a primeira linha possui o mesmo conteúdo da primeira coluna, sendo os cruzamentos entre linhas e colunas o local de registro das quantidades de produtos ou movimentos que ocorrem de um local para outro. Ferramenta que utiliza escala de afinidades apresentadas por representações gráficas. É estruturada na forma de matriz triangular, onde nas linhas são listadas as unidades de espaço físico e nas intersecções as afinidades entre as unidades. Representa graficamente as afinidades existentes entre as diversas unidades de planejamento de espaço, sendo utilizado um processo de graduação de confecção baseado nas intensidades de relacionamentos. Acrescenta-se a lista das principais técnicas e ferramentas para projetos e gestão de arranjos físicos o método de balanceamento de arranjo físico de processo de Tubino (2009). Neste método o autor organiza etapas e incorpora a sua proposta as ferramentas PERT/CPM, Balanceamento de Linha de Produção, Mapofluxograma e Cartas De-Para. Os detalhes de cada etapa do método de Tubino (2009) e o uso das ferramentas são apresentados no tópico a seguir. 5
6 3. Gestão do Arranjo Físico de Processo/Por Função Na gestão do Arranjo Físico de Processo/Por Função, equipamentos e máquinas similares ou idênticos são agrupados, como em uma seção/departamento de máquinas, de maneira a otimizar sua localização relativa. Neste sentido, Tubino (2009) propôs um método de balanceamento de arranjo físico de processo, com objetivo principal de minimizar os custos de movimentação nas organizações. As etapas do método de planejamento e gestão de arranjo físico de processo/por função são apresentadas na figura 1 e detalhadas no momento seguinte. Figura 1: Etapas do método de planejamento e gestão de arranjo físico. Fonte: Adaptado de Tubino (2009). A figura 1 apresenta o fluxograma com o sequenciamento simplificado que compõe e estrutura do método proposto, cuja execução considera que limitações prediais serão respeitadas, bem como indica que possa existir a inviabilidade de alteração na posição de instalações que possuam estruturas complexas, como banheiros, por exemplo, tendo em vista que isso acarretaria altos custos na execução do projeto. Além disso, o sequenciamento de atividades também é considerado e a interdependência de departamentos para a execução das atividades da organização é mantida, a fim de não descaracterizar o serviço prestado. Sendo assim, Tubino (2009) sugere que a primeira etapa seja de avaliação dimensional onde as dimensões do prédio devem ser analisadas e registradas adequadamente, repeitando restrições. O uso da planta da organização, assim como sugere o Mapofluxograma é uma alternativa aceitável. Em seguida o autor sugere que seja realizado o levantamento dos fluxos de cargas e/ou movimentos de materiais e pessoas entre os departamentos e então seja montada uma matriz nos moldes das Cartas De-Para. De posse da movimentação quantificada, deve-se então, especificar, se 6
7 houver, as relações sequenciais entre os departamentos utilizando um diagrama de precedência. Os métodos de montagem de diagrama de rede propostos pela ferramenta PERT/CPM são indicados nesta etapa. Ao fim da etapa de mapeamento da situação atual, inicia-se a etapa de quantificação de custos, a partir da realização do levantamento dos custos dos fluxos de movimentos de pessoas entre os departamentos, cujos valores constituirão uma Matriz de Custos. A etapa final, por sua vez, consiste na avaliação e revisão dos fluxos de movimentos e pessoas entre os departamentos, em busca de uma aproximação dos departamentos com maior quantidade de movimentos entre si. A partir da elaboração e análise de novas distribuições físicas realiza-se a montagem de novas matrizes de fluxo e custos até uma configuração que permita que os custos sejam efetivamente minimizados. A revisão do arranjo físico e fluxos é uma das principais formas de melhorar processos e reduzir custos (KRAJEWSKY, RITZMAN e MALHOTRA, 2009), e a execução do método descrito configura um planejamento e gestão de arranjo físico, cuja aplicação culmina, inevitavelmente, na redução de custos de movimentação a partir da determinação de um cenário ideal para a instalação em detrimento das suas operações e estratégia organizacional (SILVA e RENTES, 2012; TUBINO, 2009). 4. Método da Pesquisa Esta pesquisa se classifica como quantitativa exploratória, em função de apresentar características que objetivam proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses, conforme cita Gil (2002). Considerando o objetivo geral, inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a análise, planejamento e gerenciamento de arranjos físicos, visto que os efeitos da decisão destes são bastante importantes, porém, via de regra não são objetos de avaliação periódica no gerenciamento de organizações. Segundo Corrêa & Corrêa (2002), as análises de localização vão de simples análises superficiais até longos estudos, levando em conta numerosas variáveis. Ponderando esta complexidade na avaliação de arranjos físicos, foi realizado um estudo em campo para diagnóstico do cenário atual do objeto de pesquisa. O método adotado é classificado como estudo de caso, pois representa uma estratégia eficiente para a elaboração de estudos organizacionais e de planejamento. Yin (2001) define estudo de caso 7
8 como uma estratégia de pesquisa que compreende um método que abrange tudo, com a lógica de planejamento incorporando abordagens específicas à coleta de dados e análise de dados. O estudo do arranjo físico neste trabalho foi realizado a partir da observação da disposição dos departamentos no Hospital Veterinário Universitário - HVU, considerando como unidade de medida de distância o número de departamentos e a recepção. Adotou-se a metodologia proposta por Tubino (2009) para arranjos físicos por processo, sendo executadas as etapas: avaliação das dimensões prediais do HVU, elaboração da matriz de fluxo de movimentos atual, e por fim, avaliação e revisão de fluxos. A partir da coleta de dados sobre o fluxo de pessoas para cada departamento, foram utilizados os softwares: AutoCAD 2014 para a elaboração da planta situacional atual e futura do HVU; e Microsoft Office Excel 2013 para a elaboração das matrizes que correlacionam fluxo e distância por departamento, quantificando assim a movimentação no ambiente estudado, cuja otimização é o foco do trabalho. 5. Arranjo Físico do Hospital Veterinário Universitário: Estudo de Caso Neste tópico tem-se a apresentação das características gerais do ambiente de estudo, da aplicação do método de planejamento e gestão do arranjo físico, além dos resultados e discussão. a. Características Gerais do Ambiente de Estudo O Hospital Veterinário Universitário HVU é um órgão suplementar da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), localizado no Campus Soane Nazaré de Andrade, Rodovia Jorge Amado, Km 16, Bairro Salobrinho, na cidade de Ilhéus/Bahia. É essencialmente utilizado em atividades de ensino, pesquisa e extensão na área de Medicina Veterinária. Desenvolve trabalhos de pesquisa envolvendo docentes do curso de Medicina Veterinária e alunos da graduação e do programa de Pós-Graduação em Saúde Animal da Instituição. Na área de ensino, serve de base para o desenvolvimento das disciplinas das áreas: clínica médica e cirúrgica de pequenos e grandes animais, anestesiologia veterinária, patologia clínica veterinária, anatomia patológica veterinária e reprodução animal. Além disso, o HVU possui laboratórios de parasitologia e microbiologia que também são utilizados para as aulas da graduação e da pós-graduação. Como ação de extensão, o Hospital oferece à comunidade externa atendimento médico e cirúrgico a cães, gatos e grandes animais, bem como serviços de anestesiologia 8
9 e exames laboratoriais e de imagem tais como: histopatológico, radiológico e ultrasonográfico (UESC, 2014). b. Análise do Estado Atual O HVU caracteriza-se como um ambiente especializado, onde cada departamento executa uma função específica mesmo que haja variabilidade de clientes, onde, de acordo com os conceitos apresentados, pode-se classificá-lo como Arranjo Físico de Processo, Por Função ou simplesmente Funcional. Conforme apontam Corrêa & Corrêa (2012), no caso de organizações cujas operações não possam prescindir da presença do cliente, ou seja, para as quais o cliente, além de cliente, é um insumo, pode ser relevante minimizar não os custos com o transporte de insumos materiais, mas minimizar os transportes de insumos-clientes. Muitos fatores podem afetar a decisões de arranjo físico, e a natureza do negócio em que a operação atual se aplica definirá quais fatores deverão ser determinantes. No HVU, as operações englobam atendimento à demanda de aulas para turmas de graduação e pós-graduação, pesquisas e ações de extensão, que são os atendimentos à comunidade. Configurando atividades cuja presença do cliente é imprescindível, logo, a estratégia operacional no ambiente interno deve favorecer a minimização das atividades que não agregam valor para o insumo-cliente, no caso, a movimentação das pessoas. O fluxo interno do HVU é composto por professores, alunos e servidores. As aulas ministradas no local são referentes às seguintes disciplinas de graduação: Radiologia Veterinária, Prática Hospitalar em Medicina Veterinária e Ultrassonografia, além de Oncologia, ofertada para alunos de pós-graduação. Em se tratando dos servidores fixos do HVU, há somente quatro, são eles: um servidor público da UESC e um terceirizado responsáveis pela farmácia, um zelador e um recepcionista. É feita segurança em tempo integral, porém os responsáveis por este serviço ficam na área externa ao HVU. A planta da estrutura do HVU, proporcional a real, bem como a localização de cada setor, é apresentada na Figura 2. 9
10 Figura 2 Planta esquemática atual do HVU. Fonte: Adaptado de documentos internos da UESC (2014). O fluxo de movimentação regular no HVU inicia-se sempre pela recepção, ou seja, alunos, professores, servidores, eventualmente acompanhantes e seus animais, acessam o hospital pela recepção, que também recebe visitantes que buscam informações. As setas indicam que aquela é a 10
11 principal via de acesso, tanto entrada como saída, às instalações internas do HVU. As portas centrais são saídas de emergência, a dos fundos é utilizada também pela gerência do hospital e zeladores, que possuem acesso livre. As portas laterais são utilizadas para entrada de equipamentos de grande porte, logo, são vias bloqueadas na maior parte do tempo. Os ambulatórios são os recintos de maior fluxo de pessoas, pois é onde ocorrem as aulas práticas e atendimento a pequenos animais da comunidade. Outros locais onde são ministradas aulas são as salas de radiologia e ultrassom. A enfermaria é um caso particular de ambulatório praticamente inativo, visto que o hospital não realiza atualmente, atendimentos de emergência, sendo assim, esta área é utilizada esporadicamente. Na farmácia são estocados todos os materiais e medicamentos do hospital, atendendo a demanda diariamente. O setor de expurgo, por sua vez, é onde ocorre o tratamento dos rejeitos hospitalares, e possui uma estrutura específica para tal fim. Os canis e gatis do HVU estão desativados pelo fato de que não se trabalha mais com internações, porém a complexidade da estrutura torna inviável sua inclusão na aplicação do método. Esta característica de inviabilidade de inclusão pela complexidade da estrutura se aplica também aos banheiros. As outras salas menores são utilizadas como copa e depósito de materiais para manutenção interna, acessadas somente pelo zelador. Os recintos sem identificação, por sua vez, são atualmente aproveitados como armazéns, seja de equipamentos inutilizados ou arquivos. Logo, por questões estratégicas, o foco do estudo são as salas de aula, enfermaria e farmácia, pois possuem características dimensionais semelhantes e não contém equipamentos e/ou estruturas complexas que inviabilizam possíveis modificações. A disciplina de radiologia tem em média 40 alunos, além do professor, e é dividida em duas turmas, ambas com aulas ministradas no setor de radiologia em horários diferentes. A disciplina prática hospitalar em medicina veterinária é composta por até 50 alunos, divididos em duas turmas, que por sua vez são divididas em cinco ambulatórios (do A ao E), logo, em cada espaço durante as aulas ficam cinco alunos, o professor, o animal, e normalmente dois acompanhantes, totalizando oito pessoas por ambulatório por turma em média. As disciplinas de ultrassonografia e oncologia são ministradas no mesmo espaço, a sala de ultrassonografia. As turmas possuem vinte e quatro alunos respectivamente, além do professor. 11
12 c. Resultados e Discussão A partir do levantamento de dados, foi possível elaborar uma matriz do tipo de / para de movimentação, considerando como unidade de medida de distância percorrida a quantidade de departamentos no decorrer do caminho partindo da Recepção, até os setores indicados na Tabela 2. Tabela 2 Fluxo de movimentação atual. Recepção Distância Fluxo Movimentação (Departamentos) (Pessoas/Semana) Semanal Radiologia Ambulatório A Ambulatório B Ambulatório C Ambulatório D Ambulatório E Ultrassom Farmácia Enfermaria Total 1048 Fonte: Autores. É importante observar que no caso da sala de ultrassom, foi considerado um departamento a mais devido ao fato de que deve-se entrar em uma porta posterior à localização da sala para cruzar novamente o departamento e ter acesso à instalação. A distância entre departamentos representa a quantidade de departamentos que existem entre a recepção e o destino. O fluxo representa a quantidade de pessoas que acessam os departamentos durante a semana, considerando a quantidade de vezes que o acesso é feito, e o fato de que toda entrada implica em uma saída obrigatoriamente pelo mesmo caminho. Por exemplo, há somente dois funcionários na farmácia, porém os mesmos acessam o recinto cinco dias por semana, e percorrem o caminho duas vezes por dia, na entrada e saída, visto que o regime de trabalho é turno único e não há saídas para alimentação. A enfermaria não possui fluxo fixo e nem uma média considerável de acesso semanal, porém é um espaço potencial a ser melhor aproveitado devido a proximidade com a entrada, logo, foi considerado na análise. 12
13 A leitura do resultado é feita da seguinte maneira: foram identificadas 1048 cruzamentos semanais entre departamentos no HVU. Considerando as dimensões prediais e características do ambiente, bem como a matriz de fluxo de movimentos, é possível identificar pontos críticos que aumentam a quantidade de movimento excessivo no recinto para posterior avaliação e revisão de um fluxo que seja melhor organizado, principalmente visto que grande parte das dependências do HVU são inutilizadas, o que facilita a transferência da estrutura para melhoria no fluxo de pessoas. A partir do método proposto por Tubino (2009), foi elaborada uma nova configuração, a saber: A substituição do Ambulatório D e Farmácia, pelos Ambulatórios C e D, respectivamente, de forma que o espaço anteriormente ocupado pelo Ambulatório C, o mais próximo da Recepção, passe a ser a sala de Radiologia, setor de maior fluxo de pessoas semanalmente e que exige um espaço considerável para as práticas. O segundo ambiente de maior movimentação, a sala de Ultrassonografia, foi alocada imediatamente ao lado da entrada principal, no espaço anteriormente ocupado pelo Ambulatório E, transferido, por sua vez, para a anterior sala de Enfermaria. O recinto alocado como Ultrassonografia representa o ponto mais próximo da principal via de acesso, porém possui dimensão limitada, o que inviabiliza a alocação da Radiologia, que seria a opção inicial em vista do maior fluxo. A Farmácia foi alocada na ala direita do HVU, porém no ponto mais próximo aos corredores principais, enquanto que a Enfermaria, no ponto de acesso mais distante, por apresentar pequeno fluxo. Desta forma, a aplicação do método sugere a concentração dos setores de maior fluxo, em torno da via de acesso principal, enquanto que a ala direita, mais distante, aloque os setores desativados e/ou de menor fluxo, facilitando manutenção e gerenciamento do ambiente. A figura 3 apresenta a planta esquemática futura do HVU, onde as áreas que receberam alterações são marcadas com asterisco. 13
14 Figura 3 Planta esquemática futura do HVU. * * * * * * * Fonte: Autores. 14
15 A partir das modificações propostas espera-se obter uma redução significativa no fluxo interno de pessoas. Para tanto, a revisão indicada pela teoria define que deve-se reelaborar a matriz para então quantificar a viabilidade do estudo. Isto posto, obtêm-se os seguintes resultados apresentados na tabela 3. Tabela 3: Fluxo de movimentação futuro. Recepção Distância Fluxo Movimentação (Departamentos) (Pessoas/Semana) Semanal Radiologia Ambulatório A Ambulatório B Ambulatório C Ambulatório D Ambulatório E Ultrassom Farmácia Enfermaria Total 528 Fonte: Autores. Observa-se, portanto uma potencial redução de pouco mais de 50% por cento na movimentação interna no HVU, o que implica diretamente na otimização da utilização do espaço e recursos, e reduz o gasto com movimentos improdutivos na realização dos serviços, de tal forma a gerar impacto positivo nos custos de manutenção, e melhoria nas condições de gerenciamento visto que com a reorganização proposta, a ala direita do hospital ficará praticamente desativada, o que torna a área ativa de execução de serviços mais compacta, e, portanto, mais fácil de ser gerenciada. 6. Considerações Finais As características de um arranjo físico devem favorecer o tipo de finalidade proposta pelo ambiente, no caso do HVU, foi identificado um arranjo físico por processo/função. A proposta sugerida apresenta vantagens no que tange a simplicidade no gerenciamento, redução de custos e eliminação de movimentação improdutiva em excesso, o que culmina em maior probabilidade de eficiência nos serviços. Rawabdeh e Tahboub (2005) reforçam que a eficiência do arranjo físico é um dos mais importantes aspectos das organizações contemporâneas, em vista da abrangência dos benefícios atados ao bom planejamento neste campo. Para tal, foram realizadas as 15
16 ações de análise dimensional e condicional do ambiente, elaboração da planta situacional, quantificação de fluxo de movimentação semanal, preparação de matrizes de / para e realocação estratégica dos departamentos, que permitiram reduzir em 50,38% a movimentação interna semanal. Considerando a categoria do serviço prestado, onde a presença dos envolvidos é imprescindível, o foco do estudo foi a diminuição da movimentação, de tal forma que haja implicação direta na melhoria do processo. Quantitativamente, os métodos utilizados resultaram em implicações significativas, e que representam uma melhoria na qualidade não só do serviço, mas também na execução por parte dos realizadores das operações, professores, alunos e servidores. 16
17 Referências CHIAVENATO, I. Administração de Materiais: Uma abordagem introdutória. Rio de Janeiro: Campus, CORRÊA, L. H.; CORRÊA, C. A. Administração de Produção e Operações: Manufatura e Serviços - Uma Abordagem Estratégica. 3. ed. São Paulo: Atlas, FERNANDES, F.; GODINHO FILHO, M. Planejamento e Controle da Produção: Dos Fundamentos ao Essencial. São Paulo: Atlas, GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, KRAJEWSKI, L., RITZMAN, L., MALHOTRA, M. Administração de Produção e Operações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, MOREIRA, D. A. Administração da Produção e Operações. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, NEUMAN, C.; SCALICE, R.K. Projeto de Fábrica e Layout. Rio de Janeiro: Elsevier, RAWABDEH, I.; TAHBOUB, K. A new heuristic approach for a computer-aided facility layout. Journal of Manufacturing Technology Management, v. 17, n. 7, p , SILVA. A; RENTES. A. Um modelo de projeto de layout para ambientes job shop com alta variedade de peças baseado nos conceitos da produção enxuta. Gestão e Produção, v. 19, n. 3, p , São Carlos, SLACK, N.; JONES, A. B.; JOHNSTON, R. Princípios de Administração da Produção. São Paulo: Atlas, TUBINO, D. F. Planejamento e Controle da Produção: Teoria e Prática. São Paulo: Atlas, TOLEDO JR., I. F. B. LAYOUT - Arranjo Físico. 9. ed. São Paulo: Itys Fides, (UESC, 2014) Hospital Veterinário: Apresentação. Disponível em < Consultado em 29 de Outubro de YIN, R. K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,
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