COMUNICAÇÃO. Senhor Presidente, Senhores Ministros, Senhor Procurador-Geral,

Transcrição

1 COMUNICAÇÃO Senhor Presidente, Senhores Ministros, Senhor Procurador-Geral, Comunico a este Colegiado que, na data de ontem, 13/4/2010, ao examinar o Processo TC /2010-3, que trata de representação formulada pela empresa HRCS Conservação e Serviços Ltda. dando notícia da ocorrência de supostas irregularidades no Pregão Eletrônico nº 76/2009 conduzido pela Fundação Universidade do Amazonas FUA, adotei medida cautelar com fundamento no art. 276, caput, do Regimento Interno do TCU e determinei à referida Universidade que se abstivesse de adotar quaisquer atos administrativos decorrentes do citado pregão até ulterior deliberação desta Corte. 2. O certame licitatório tem por objeto a obtenção de registro de preços destinado à contratação de empresa especializada na prestação de serviços de almoxarife, recepcionista e apoio administrativo, a serem executados em diversas unidades da FUA, com dispêndio orçado de recursos da ordem de R$ , Em resumo, a irregularidade que estaria a macular o pregão é a quebra do princípio básico da licitação de seleção da proposta mais vantajosa para a administração, sem justificativa aparentemente robusta, já que a proposta tida como vencedora representa um dispêndio adicional de mais de 20% se comparada com o valor total da menor proposta apresentada pela representante, e esta teria comprovado possuir a cobertura securitária bastante exigida no edital. 4. Registro que informações mais detalhadas acerca da matéria constam do despacho que fundamenta a adoção da medida cautelar que ora submeto à apreciação deste Plenário, nos termos do 1º do art. 276 do Regimento Interno desta Casa. Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 14 de abril de AUGUSTO NARDES Relator

2 MIN-AN Fls. 96 TC / Natureza: Representação. Unidade Jurisdicionada: Fundação Universidade do Amazonas - MEC. Representante: HRCS Conservação e Serviços Ltda. ( / ). Interessada: Apta Terceirização Ltda. ( / ). DESPACHO Trata-se de representação formulada pela empresa HRCS Conservação e Serviços Ltda. comunicando a ocorrência de supostas irregularidades no Pregão Eletrônico nº 76/2009, que tem por objeto a obtenção de registro de preços destinado à contratação de empresa especializada na prestação de serviços de almoxarife, recepcionista e apoio administrativo, a serem executados em diversas unidades da Fundação Universidade do Amazonas FUA, com dispêndio orçado de recursos da ordem de R$ , Em apertada síntese, a representante noticia que, na data de 4/3/2010, participou do referido certame licitatório, tendo sido inicialmente declarada vencedora, mas posteriormente desclassificada sob a alegação de que sua proposta não cumpria a formalidade exigida no item seguro de vida, por não ter conseguido constatar o valor informado na proposta (R$ 15,18), invalidando, desse modo, a memória de cálculo nesse aspecto. 3. Alega a representante que teria recebido ligações e mensagens de celular propondo-lhe negociações espúrias e fazendo-lhe ameaça de desclassificação, fato que acabou se concretizando. Ressalta que, desabilitada, sagrou-se vencedora a empresa Apta Terceirização Ltda., cujo representante legal é o Sr. César Augusto Correa de Oliveira, pessoa que teria sido mencionada nas supostas mensagens telefônicas citadas anteriormente. Além disso, informa que a pregoeira desrespeitou o disposto no art. 11 do Edital, não permitindo que a empresa recorresse da decisão que a desclassificou. 4. A representante apresenta cópia do extrato do seguro de vida juntada à memória de cálculo, onde foi descrita a forma utilizada para encontrar o valor do prêmio para cada segurado. Explicita o cálculo, esclarecendo que se divide o valor total do prêmio (R$ ,78) pela quantidade de empregados registrados na relação de FGTS (216), resultando no valor anual de R$ 182,16, que, dividido por 12 meses totaliza R$ 15,18. Considerando seu cálculo correto, enfatiza que outras empresas, no mesmo certame, apresentaram planilha de cálculo semelhante e não foram desclassificadas, desatendendo-se o princípio da impessoalidade. 5. Afirma a representante, adicionalmente, que há erro grosseiro na planilha de cálculo da empresa Apta Terceirização, fato desconsiderado pela comissão julgadora, e que aquela empresa apresentou uma única proposta, quando deveria ter apresentado 4 (quatro), uma vez que teria declarado funções e salários distintos. 6. Assegura que existem vários indícios de irregularidades no processo licitatório e que não saiu vencedora porque não se sujeitou às exigências daqueles que estavam à frente da licitação, não compactuando com nenhum tipo de irregularidade para firmar seus contratos com a Administração Pública. 7. Com essas considerações, requereu a apuração das irregularidades apontadas.

3 8. A unidade técnica que instruiu o feito, qual seja, a Secretaria de Controle Externo no Estado do Amazonas Secex/AM, analisou o feito às fls. 91/95, apontando a existência dos requisitos necessários à medida de urgência fumus boni iuris e periculum in mora e propôs que se determine cautelarmente à FUA que se abstenha de assinar o contrato relativo ao Pregão Eletrônico nº 76/2009 até que o Tribunal se manifeste sobre o mérito da questão, sem prejuízo da realização de oitiva da Reitora, da pregoeira e da empresa Apta Terceirização Ltda., além de diligência à Universidade. 9. A Secex/AM ampara sua proposta nas seguintes análises: a) conforme consta no registro da Ata de Realização do Pregão, a representante HRCS Conservação e Serviços Ltda. ofertou na fase de lances, valores menores que a vencedora do certame para todos os itens que compunham o objeto, quais sejam: 1) serviços de almoxarife; 2) serviços de auxiliar de almoxarife; 3) serviços de apoio administrativo; e 4) serviços de recepção; b) a proposta da representante foi recusada porque no item seguro de vida não se conseguiu constatar o valor informado, o que, segundo entendimento da pregoeira, invalidou a memória de cálculo desse item da planilha de custos. A memória de cálculo apresentada pela representante, extraída do sistema Comprasnet, demonstra que houve equívoco em seu preenchimento. Foi informado o valor do capital segurado da apólice (R$ ,78), em vez do valor do prêmio, R$ 422,80; c) o item 4.13 do Edital estabelece que: Serão desclassificadas as propostas que não atenderem às exigências do presente Edital e seus Anexos, sejam omissas ou apresentem irregularidades na composição dos preços ofertados, especialmente quanto à memória de cálculo. d) em que pese a existência desse dispositivo na regra interna do certame, não se pode deixar de considerar outros normativos que regem as licitações e contratos da administração pública, entre os quais o princípio da seleção da proposta mais vantajosa contido no art. 3º da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993; e) os valores dos itens adjudicados à empresa Apta Terceirização Ltda., sendo superiores aos ofertados pela empresa desclassificada HRCS Conservação e Serviços Ltda., estariam em desacordo com o aludido princípio licitatório. f) o Decreto nº 5.450, de 31 de maio de 2005, regulamentador do pregão eletrônico, no art. 9º, inciso V, dispõe: Art. 9º Na fase preparatória do pregão, na forma eletrônica, será observado o seguinte: I (...) V - definição das exigências de habilitação, das sanções aplicáveis, inclusive no que se refere aos prazos e às condições que, pelas suas particularidades, sejam consideradas relevantes para a celebração e execução do contrato e o atendimento das necessidades da administração. g) o erro cometido pela empresa HRCS Conservação e Serviços Ltda., na informação da memória de cálculo dos insumos de mão de obra, correspondente ao item seguro de vida em grupo, não compromete a execução do contrato e o interesse da administração, não podendo ser considerado como relevante; h) o aspecto de maior relevância a ser considerado, no caso, é que a licitante dispõe de cobertura securitária para fazer face aos encargos indenizatórios decorrentes de eventual acidente de trabalho de seus empregados, o que se constitui em salvaguarda da administração concernente à responsabilidade subsidiária do contratado; i) a recusa da proposta mais vantajosa da HRCS Conservação e Serviços Ltda., e a sua consequente desclassificação do certame, desatenderia ainda os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade que devem informar os atos administrativos;

4 j) não foi analisada a afirmação da representante de que recebeu mensagens, via celular, do representante da empresa Apta Terceirização Ltda., propondo-lhe negociação espúria, tendo em vista não terem sido apresentados elementos palpáveis que permitam juízo avaliativo; k) não foram indicados pela Representante os vários indícios de irregularidades que afirma existirem no processo licitatório, razão pela qual não foram objeto de análise; l) há grande discrepância entre os valores orçados pela administração e os alcançados no pregão. Consta no termo de adjudicação que a Universidade estipulou o preço dos serviços em R$ ,72, enquanto que o objeto foi adjudicado pelo lance de R$ ,96 (cerca de 8,5% do valor orçado). 10. Passo a decidir. 11. A adoção de medida cautelar demanda, em juízo perfunctório, isto é, em sede cognição não-exauriente, a ocorrência simultânea dos requisitos do periculum in mora e do fumus boni iuris. 12. Dizer que o exame se dá em sede perfunctória não implica dispensa da análise atenta das alegações aduzidas nos autos, mas sim que esta ocorre sem instrução probatória completa, devendo o julgador valer-se dos elementos ali constantes para verificar a plausibilidade do direito invocado. 13. Tal exame deve ter por norte a ocorrência da fumaça do bom direito, caracterizada pela probabilidade, e não mera possibilidade, da verossimilhança do quanto alegado pelo requerente da medida excepcional. Na outra face da cautelar está o perigo de demora, que é o risco de ineficácia da decisão pela inércia do julgador em adotar a medida de urgência. 14. Vertidos tais conceitos para a processualística peculiar do TCU, tem-se que a adoção de medida cautelar deve ter por objetivo salvaguardar o erário de ato potencialmente causador de dano ao erário, ou, ainda, viciado por flagrante ilegalidade. 15. No presente caso, há possibilidade de prejuízo à administração, visto que o valor total de R$ ,96 da proposta vencedora representa um dispêndio adicional de mais de 20% para a administração, se comparada com o valor total da proposta apresentada pela representante, de R$ ,21. Nesse sentido, nas diligências a serem promovidas, há que se verificar por que motivo não consta da ata disponível no sistema, a negociação prevista no item do Edital. 16. Tal fato, aliado à quebra do princípio básico da licitação, e especialmente do pregão eletrônico, de seleção da proposta mais vantajosa para a administração, são fatos suficientes para evidenciar o fumus boni iuris. Nesse passo, observo que subsiste o periculum in mora, consistente na iminente contratação da empresa vencedora do certame objeto da presente representação. 17. Assim, em conclusão, penso que o caso enseja a imediata atuação desta Corte no sentido da adoção da medida extrema tendente a suspender a contratação da empresa vencedora do Pregão nº 76/2009, da Universidade Federal do Amazonas, até que este Tribunal decida a questão no mérito. 18. Não vislumbro, ainda, que a adoção da cautelar possa acarretar periculum in mora reverso, pois a sustação do contrato não implica diminuição da capacidade operacional da Universidade, uma vez que o objeto licitado visa à prestação de serviços de apoio administrativo, não sendo, em princípio, essencial ao funcionamento da gestão. 19. Por fim, assevero que caso este Tribunal decida, no mérito, anular o certame, não haverá grandes dificuldades ou obstáculos à realização de nova licitação, haja vista a celeridade do instituto do pregão. 20. Oportuno, ainda, em homenagem aos princípios da ampla defesa e do contraditório, dar ciência da presente decisão à empresa vencedora do certame, para que, caso entenda oportuno, aduza as questões de fato e de direito que lhe convier. 21. Dessarte, ante a presença da fumaça do bom direito e do perigo na demora, e com fulcro no art. 276 do Regimento Interno do TCU, adoto medida cautelar e determino à Fundação Universidade

5 Federal do Amazonas que se abstenha de adotar quaisquer atos administrativos decorrentes do Pregão nº 76/2009, inclusive efetivar a contratação da empresa vencedora do certame em comento, in casu a Apta Terceirização Ltda., até que o Tribunal decida ulteriormente. 22. Outrossim, determino à Secex/AM que adote as seguintes medidas: I) promova, com fulcro no art. 276, 3º, do Regimento Interno do TCU, a oitiva dos gestores e da pregoeira da Universidade Federal Amazonas para que se manifestem acerca da medida cautelar supramencionada, especialmente quanto aos fatos relacionados a seguir, encaminhando-lhes, a título de subsídio, cópia da peça vestibular da empresa HRCS Conservação e Serviços Ltda., da instrução de fls. 91/95, e deste despacho: I.1) recusa da proposta apresentada pela HRCS Conservação e Serviços Ltda., que ofertou preços inferiores aos apresentados pela licitante vencedora Apta Terceirização Ltda.; I.2) à ausência, na ata disponível no sistema, da negociação prevista no item do Edital; II) faculte à empresa vencedora do Pregão SRP nº 76/ Apta Terceirização Ltda. - a possibilidade de que, caso entenda oportuno, manifeste-se sobre a medida cautelar supramencionada, encaminhando-lhe, a título de subsídio, cópia da peça vestibular da empresa HRCS Conservação e Serviços Ltda., da instrução de fls. 91/95 e deste despacho; III) realize diligência à Fundação Universidade do Amazonas para que apresente informações/documentos justificando a grande discrepância existente entre os valores orçados pela Administração e os alcançados na fase de lances do Pregão nº 76/2009; IV) instrua os autos com a brevidade que o caso requer; e V) dê ciência do presente despacho à representante, encaminhando-lhe cópia. Restituam-se os autos À Secex/AM, para as medidas de sua alçada. Brasília, 13 de abril de AUGUSTO NARDES Relator