TC / Natureza: Representação Entidade: Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão Fapex Interessado: Edwin Gomes Santos, CPF

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1 MIN-JJ Fls. TC / Natureza: Representação Entidade: Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão Fapex Interessado: Edwin Gomes Santos, CPF DESPACHO Trata-se de representação formulada por Edwin Gomes Santos, nos termos do 1º do art. 113 da Lei nº 8.666/93, acerca de possíveis irregularidades no edital da Concorrência Pública nº 01/2012, realizada pela Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão da Universidade Federal da Bahia Fapex, objetivando a contratação de serviço de realização de eventos. 2. Segundo o representante, o referido edital contém cláusulas restritivas à competitividade, a saber: (a) exigência de, no mínimo, três atestados de capacidade técnica, sendo um deles emitido por órgão ou entidade da capital do Estado da Bahia; e (b) exigência de apresentação de certificado de cadastro junto a International Air Association IATA e Associação Brasileira de Agência de Viagens ABAV. 2.1 Ressaltou o interessado que essa última exigência é relativa a apenas uma ( aquisição de passagens nacionais e internacionais, preferencialmente adquiridas junto às companhias, bem como reserva de hospedagens ) dentre as outras 26 obrigações da futura contratada. Informou, também, que a Fapex lançou licitação com vistas à contratação de empresas para "fornecimento de passagens e serviços correlatos à agência de viagem" (Concorrência nº 02/2012). Assim, ainda segundo o representante, tal fato demonstraria que a inclusão desse mesmo objeto na licitação em discussão tem como único objetivo restringir seu caráter competitivo. 2.2 Por fim, registrou que apresentou impugnação ao edital em foco, tendo sido suas alegações acolhidas pela Procuradoria Jurídica da Fapex, à exceção da necessidade de cadastro junto à IATA. Entretanto, apesar da sugestão daquele órgão no sentido da retificação e republicação do edital, a comissão de licitação assim não procedeu, limitando-se a fazer constar, na página da internet, o novo posicionamento daquela procuradoria. 3. A Secex/BA, após análise dos autos, destacou dois pontos a serem examinados a publicidade dada ao acolhimento da impugnação ao edital e a necessidade de apresentação de registro na IATA. 3.1 Quanto ao primeiro ponto, ressaltou a unidade técnica que a comissão de licitação, mesmo não tendo adotado a medida que entendia cabível (aviso de correção de edital), acabou por dar publicidade a todos os termos da impugnação e da sua decisão, de forma que o fato não se constituiu em irregularidade que maculasse a competitividade do certame. 3.2 No tocante ao segundo, manifestou-se pela sua irregularidade, ante o entendimento deste Tribunal sobre a matéria de que tal exigência extrapola o texto legal e afigura-se restritiva ao caráter competitivo do certame (Acórdãos nºs 1677/2006 e 1230/2008, ambos do Plenário) Quanto à alegação da Procuradoria Jurídica da Fapex, bem assim da comissão de licitação, de que as empresas aéreas somente emitem bilhetes aéreos internacionais a agência inscrita na IATA, frisou que não pode ser acatada, pois dentro do objeto de serviços de realização de eventos é perfeitamente factível a terceirização da emissão de bilhetes aéreos ou ainda a compra de tais bilhetes

2 diretamente nas empresas aéreas no nome dos beneficiários, não havendo necessidade de que tais bilhetes sejam obrigatoriamente emitidos por uma agência de viagem ou em nome desta, pois se assim fosse, pessoas físicas jamais poderiam realizar viagens internacionais comprando seus bilhetes diretamente junto às companhias aéreas E, ainda, analisando o rol de responsabilidades da futura contratada, a obrigação de emissão de bilhetes aéreos é completamente díspar de qualquer outra atividade ali descrita, da mesma forma que muitas das obrigações ali constantes não fazem parte do dia a dia de uma agência de viagens. 3.3 Por fim, informou que, após consulta na página da Fapex na internet, verificou que apenas três empresas participaram da licitação, já tendo, inclusive, ocorrido a homologação da licitação no último dia Assim, ante a análise que fez e considerando estar presente o fumus bonis iuris exigência de apresentação de certificado de registro junto à IATA, o que extrapola os requisitos de habilitação exigidos pela Lei 8.666/1993 e Acórdãos 1677/2006 e 1230/2008, ambos do Plenário, e restringe a competitividade do certame, e o periculum in mora homologação do certame em 05/03/2012, sendo iminente a contratação da empresa vencedora, a Secex/BA propôs a concessão de medida cautelar, para que se determine à Fapex, que não efetue contratação de empresa com base na concorrência pública nº 01/2012 até ulterior deliberação deste Tribunal sobre a regularidade do certame. 4.1 E, ainda, que seja feita oitiva do presidente da Comissão de Licitação, Sr. Roberto Rivelino Castro Dourado, para que apresente razões de justificativa para a exigência de apresentação de certificado de registro junto à International Air Association IATA, uma vez que tal exigência extrapola o texto legal (arts. 27 e 30 da Lei nº 8.666/93) e afigura-se restritiva ao caráter competitivo do certame. 5. Apresentado o resumo da matéria, passo a decidir. 6. Inicialmente, conheço da Representação, ante o preenchimento dos requisitos de admissibilidade previstos no art. 237, VII, do Regimento Interno/TCU. 7. No tocante à cautelar pretendida, acolho-a. Em cognição sumária, entendo que se mostram robustos os indícios de irregularidade aventados pelo representante. 8. Com efeito, a inclusão de exigência editalícia exagerada ou descabida - que culmina com a restrição à competitividade do certame e com a não seleção da proposta mais vantajosa para a administração pública - é prática condenada pela jurisprudência desta Casa e pela Lei nº 8.666/93 (art. 30, I 1º, I), uma vez que restringe o potencial universo de licitantes e a redução do preço a ser contratado. 8.1 Especificamente em relação à exigência de registro na IATA (associação de empresas aéreas atuando no mercado de transporte aéreo internacional), este Tribunal já se manifestou reiteradamente pela sua impropriedade, pois tal exigência favoreceria as grandes agências (Acórdãos nºs 1.677/2006-P, 3379/2007-1ªC, 1230/2008-P, 2188/210-P e 1285/2011-P). Vê-se que, no presente caso, das 10 licitantes que retiraram o edital, apenas 3 participaram do certame. 8.2 Ademais, como registrou o Ministro Ubiratan Aguiar, ao relatar o TC / (Acórdão nº 1.677/2006-P), o art. 5º do Decreto n.º /80, que Dispõe sobre as atividades e serviços das Agências de Turismo, regulamenta o seu registro e funcionamento e dá outras providências, estabelece que as agências de turismo só poderão funcionar no País após serem

3 registradas na Embratur. O citado dispositivo regulamentar não exige a obrigatoriedade de filiação a outras associações e/ou entidades de classe, como as mencionadas na representação em tela: International Air Transport Association - IATA, Associação Brasileira de Agências de Viagem - ABAV, Sindicato das Empresas de Turismo - SINDETUR e Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias - SNEA. Assim, a exigência editalícia de que as licitantes fossem filiadas às mencionadas entidades extrapola o texto legal e afigura-se restritiva ao caráter competitivo do certame ora examinado. 9. Ainda, a obrigatoriedade de que um dos atestados de capacidade técnica a ser apresentado deve ser emitido por órgão ou entidade da capital do Estado da Bahia contraria o 5 o do art. 30 da lei de licitações, que veda a exigência de comprovação de atividade ou de aptidão com limitações de tempo ou de época ou ainda em locais específicos, ou quaisquer outras não previstas nesta Lei, que inibam a participação na licitação (grifo nosso). 10. Além dos fatos supra comentados, entendo que outro merece um exame mais aprofundado Veja-se que o objeto que se pretende contratar - "serviço de realização de eventos", para os diversos projetos administrados pela Fapex, é definido, de acordo com o anexo 1 do edital, como: (a) coordenação e execução de todos os eventos a serem realizados pela entidade (concepção, planejamento e execução); (b) preparação da infra-estrutura física e logística (aluguel de estruturas, mobiliário, criação layout, projetos arquitetônicos, decoração, cenografia, serviço de montagem de feiras); (c) contratação de serviços terceirizados, quando necessário; (d) identificação de público-alvo e prospecção de parceiros estratégicos para eventos; (e) identificação de características regionais e locais que auxiliem na elaboração e temas dos eventos; (f) elaboração de relatórios, anais, sumários; (g) monitoramento e medição de resultados; (h) serviço de secretariado (com fornecimento de matéria de escritório), recepção, transporte, saúde, garçon, tradutores, manobristas, limpeza, segurança; alimentação; serviços de atividades recreativas e atrações artísticas para os eventos; fornecimento de material de apoio e gráficos tais como camisetas, sacolas, aventais e pastas, específicos para os eventos; (i) formalização de propostas e processos de apoio e patrocínio a entidades solicitantes ou aos promotores de eventos e promoções; (j) coordenação da criação, produção e distribuição de peças de comunicação relacionadas às ações de apoio e patrocínios, com utilização de agências de propaganda contratadas pela FAPEX; (k) visita a parceiros para a distribuição de materiais de divulgação e de informação; (l) cadastramento de participantes de acordo com as características do banco de dados da FAPEX; (m) visita para entrega de press-kit elaborado pela FAPEX; (n) assessoria durante a realização, com profissionais especializados; e (o) outros serviços correlatos, aquisição de passagens nacionais e internacionais, preferencialmente adquiridas junto às companhias, bem como reserva de hospedagens A vencedora do certame foi a empresa PLUS VIAGENS E TURISMO LTDA. Todavia, como se denota, o objeto acima descrito não é condizente, numa primeira aproximação, com o ramo de negócio próprio das agências de viagens (fornecimento de passagens aéreas e hospedagens) O objeto, da forma como foi constituído, deixa transparecer, na verdade, um aglutinamento de desejos da administração agrupados inapropriadamente em um único objeto - que deveriam ser

4 licitados separadamente. Uma licitação com tal envergadura está lidando com vários ramos de expertise (publicidade, consultorias técnicas, turismo, eventos) Veja-se que, a princípio, empresas do ramo de eventos não realizam muitas das tarefas descritas acima, como, por exemplo, a identificação de público-alvo e prospecção de parceiros estratégicos para eventos; identificação de características regionais e locais que auxiliem na elaboração e temas dos eventos; formalização de propostas e processos de apoio e patrocínio a entidades solicitantes ou aos promotores de eventos e promoções; coordenação da criação, produção e distribuição de peças de comunicação relacionadas às ações de apoio e patrocínios, com utilização de agências de propaganda contratadas pela FAPEX; visita a parceiros para a distribuição de materiais de divulgação e de informação Por outro lado, agências de viagens, em tese, limitar-se-iam ao fornecimento de passagens aéreas e hospedagens, não possuindo competências institucionais para, por exemplo, formalizar propostas e processos de apoio e patrocínio a entidades solicitantes ou aos promotores de eventos e promoções; ou, coordenar a criação, a produção e a distribuição de peças de comunicação relacionadas às ações de apoio e patrocínios, com utilização de agências de propaganda contratadas pela FAPEX; ou, ainda, identificar público-alvo e prospectar parceiros estratégicos para eventos e características regionais e locais que auxiliem na elaboração e temas dos eventos. 11. Dessa forma, sobressaem, no objeto licitado, características distintas que requerem competências específicas de vários ramos de atividades, que, muito dificilmente, poderão ser albergadas por uma só fornecedora. Ou a empresa vencedora, que é uma agência de viagem, subcontrará total ou parcialmente a execução, o que, aliás, é vedado pelo edital, ou essa quedará prejudicada. Ante o exposto, estando presentes os pressupostos do fumus boni iuris e do periculum in mora, determino: (a) à Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão da Universidade Federal da Bahia Fapex que, cautelarmente, abstenha-se de praticar quaisquer atos decorrentes da Concorrência Pública nº 01/2012; ou, caso já tenha firmado contrato com a empresa PLUS VIAGENS E TURISMO LTDA, abstenha-se de dar prosseguimento a sua execução, até que haja decisão de mérito deste Tribunal no presente processo; (b) a oitiva, nos termos do art. 276, 3º, do RI/TCU, do Sr. Marcelo Veras, Diretor- Executivo da Fapex, e do Sr. Roberto Rivelino Castro Dourado, presidente da Comissão de Licitação para que, em até quinze dias da ciência, manifestem-se acerca da presente medida cautelar, em especial: (b.1) sobre a realização e homologação do certame, bem assim a adjudicação do objeto da Concorrência Pública nº 01/2012, cujo edital apresentou cláusulas restritivas à competição, a saber: (b.1.1) exigência de apresentação de certificado de registro junto à International Air Association IATA; (b.1.2) obrigatoriedade de que um dos atestados de capacidade técnica a ser apresentado deve ser emitido por órgão ou entidade da capital do Estado da Bahia, contrariando o 5 o do art. 30 da lei de licitações;

5 (b.1.3) não parcelamento do objeto contratado, que engloba vários ramos de expertise; (b.2) sobre a adjudicação à empresa PLUS VIAGENS E TURISMO LTDA de objeto não condizente, em sua parte mais relevante (realização de eventos), com seu ramo de negócio (agência de viagens - fornecimento de passagens aéreas e hospedagens); (d) dar ciência da presente medida cautelar à empresa PLUS VIAGENS E TURISMO LTDA para que, se desejar, aduza a este Tribunal, no prazo de até 15 (quinze) dias, razões que entender necessárias acerca da medida cautelar; e (e) a remessa de cópia deste despacho aos Srs. Marcelo Veras e Roberto Rivelino Castro Dourado, bem assim à empresa PLUS VIAGENS E TURISMO LTDA. Brasília, de de (Assinado Eletronicamente) JOSÉ JORGE Relator