Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 1ª Composição Adjunta da 4ª Câmara de Julgamento

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1 Ministério da Previdência Social Conselho de Recursos da Previdência Social 1ª Composição Adjunta da 4ª Câmara de Julgamento Número do Processo: / Unidade de Origem: Benefício: 87/ Espécie: Recorrente: Recorrido: Assunto: Relator: AGÊNCIA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL CANELA BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL À PESSOA COM DEFICIÊNCIA INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS ROSA MARIA WOLF - Titular Capaz INDEFERIMENTO RAFAEL SCHMIDT WALDRICH Relatório Cuida-se de recurso especial interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS, doravante denominada recorrente, contra a decisão proferida pela 18 a. JRPS, que pelo acórdão 1648/2014 deu provimento ao recurso ordinário interposto por Rosa Maria Wolf, doravante denominada recorrida, que busca a concessão de amparo assistencial, espécie 87, NB Utilizo-me do relatório feito pela JRPS: ROSA MARIA WOLF,inconformada com o indeferimento do seu pedido de benefício assistencial, NB no. 87/ , interpôs recurso tempestivo no item 01 do histórico de eventos, protocolo no / à 18a JRPS/RS. O pedido do benefício foi indeferido tendo em vista não há enquadramento no 2 do Art. 20 da Lei 8.742/93, tendo em vista que não há incapacidade para a vida, não atende ao requisito de impedimentos de longo prazo, conforme comunicação de decisão. A recorrente recorre, e alega que deseja apresentar exames, não analisados no momento do protocolo da perícia médica do Benefício Assistencial. Em item 12 consta parecer social em fase recursal, onde o parecer: Observa-se que requerente apresenta um sério prejuízo emocional pelo rompimento da relação conjugal. Fragilizada emocionalmente, requerente não dispõe, neste momento, de subsídios próprios para reverter sua situação, sendo agravada pelas suas condições de saúde. Neste caso, a situação econômica é conseqüência de todo o contexto vivido pela mesma. Baseado neste posicionamento, entende-se pela concessão do benefício, uma vez que requerente é a responsável pela sua própria manutenção. Ressalta-se a importância em realizar a revisão bienal, prevista legalmente. Consta despacho da assistência social: Em relação a Avaliação Social da Pessoa com Deficiência, ratificamos a Avaliação Social realizada em 08/08/2013. Esta avaliação pontuou preliminarmente como Grave o qualificador Fatores Ambientais (produtos e tecnologia; condições de moradia e mudanças ambientais; apoio e relacionamentos; atitudes; serviços, sistemas e políticas. No item 15 consta parecer medico onde o parecer consta que: A requerente não preenche os requisitos determinados pelo Art. 20, 2o, da Lei 8.742/93, de incapacidade para vida independente para o trabalho. Instruído o processo quando do indeferimento conforme contra razoes item 16. Encaminhado o pedido para parecer social, e feita nova perícia médica, restou mantido o indeferimento, de acordo com as fls. 029 do processo. Vieram os autos a esta Junta de Recursos. Ao analisar os autos, a JRPS a quo deu provimento ao recurso com base no parecer social. A perícia médica se manifesta por não concordar com a decisão proferida pela JRPS pois constam dois exames normais que não justificam deficiência.

2 A recorrente interpõe recurso especial a esta Câmara de Julgamento CAJ alegando não foi comprovada a deficiência. A recorrida não foi cientificada. Os autos foram convertidos em diligência com os seguintes termos: Conforme se verifica nos autos, após a interposição do recurso especial por conta da recorrente esta não oportunizou a recorrida em apresentar suas contrarrazões. Alega que encaminhou comunicação mas que retornou sem o recebimento. Para que se tenha um processo legítimo, a recorrida deverá, mesmo que por edital, ser cientificada. Nos termos do art. 5o. LV da CRFB/88 é garantida a ampla defesa e contraditório a todos, inclusive, e principalmente, ao segurado, ora recorrida. Ainda, traz o art. 13, III da Portaria 548/2011: Art. 13o. Incumbe ao Conselheiro relator das Câmaras e Juntas:... III - verificar se as partes foram regularmente cientificadas de todos os atos processuais praticados no curso do processo, a fim de que aos litigantes sejam assegurados o pleno exercício do contraditório e ampla defesa; A mesma portaria, pelo art. 31, também prescreve: Art. 31o. É de trinta dias o prazo para a interposição de recurso e para o oferecimento de contra- razões, contado da data da ciência da decisão e da data da intimação da interposição do recurso, respectivamente. Assim, antes que se julgue o mérito, há de se respeitar o prescrito na CRFB/88 bem como nas linhas do Regimento Interno, devendo a recorrida ser oportunizada a apresentar suas contrarrazões no prazo regimental de 30 dias, devendo ser juntado o AR ou comprovante de publicação em edital. Agora cientificada, a recorrida alega que está passando pelas mesmas dificuldades que tinha na época em que pediu o benefício. Diz que fez exames e que terá que fazer cirurgia na vesícula, tem tumor no seio e que foi abandonada pelo ex-marido, que até ganha bem mas que não a ajuda em nada. Junta cópia da CTPS constando vínculo de 03/10/2013 a 23/05/2014. Assim retornaram os autos conclusos para julgamento. Inclusão em Pauta Incluído em Pauta no dia 26/11/2014 para sessão nº 0338/2014, de 11/12/2014. Voto DA TEMPESTIVIDADE DO RECURSO Conforme se verifica nos autos, considerando a data da ciência do voto de primeira instância, trata-se de demanda tempestiva, na forma do 1 do art. 305 do Decreto 3048/99. DO CASO CONCRETO O benefício assistencial está previsto no art. 203, V da CRFB/88: Art A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. A diante, a matéria veio prevista na Lei 8.742/93, trazendo aqui os requisitos para o benefício assistencial: Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao

3 idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. (Redação dada pela Lei nº , de 2011) 2 o Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (Redação dada pela Lei nº , de 2011) 3 o Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. (Redação dada pela Lei nº , de 2011) 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do 2 o deste artigo, aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. (Inclído pela Lei nº , de 2011) A recorrida não apresenta nenhum atestado médico que comprove qualquer deficiência por longo prazo. Apesar de ser um defensor da incapacidade (deficiência) social, entendo que a decisão proferida pela JRPS, que tutelou a deficiência justamente pela questão social deve ser reformada. Em vistas a cópia da CTPS juntada aos autos, se verifica que a recorrida tem capacidade de produção, pois, após o requerimento desse benefício ficou quase 1 ano empregada. Assim, entendo que não cabe a concessão do benefício pois não ficou comprovada nos autos qualquer tipo de necessidade especial. DISPOSITIVO Pelo exposto, VOTO por conhecer do recurso e, no mérito, DAR-LHE PROVIMENTO. RAFAEL SCHMIDT WALDRICH Relator(a) Voto divergente vencedor EMENTA: BENEFÍCIO ASSSITÊNCIAL. ART.203, INCISO V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REQUISITOS PREENCHIDOS. DEFICIÊNIA MAIS CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE. RECURSO CONHECIDO E NEGADO AO INSS Com a respectiva vênia, esta Conselheira profere Voto Divergente por discordar do voto emitido pelo relator. DO DIREITO:

4 Destaco que pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. Neste sentido, destaco o artigo 203, "caput", e inciso V, da Constituição Federal os quais determinam que: "a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social", tendo por objetivos, dentre outros, "a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei". Regulamentando o dispositivo constitucional, a Lei n.º 8.742, de 07/12/1003 (Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS), estabeleceu em seus artigos 20: "Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um) salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família. 1º Para os efeitos do disposto no caput, entende-se como família o conjunto de pessoas elencadas no art. 16 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto. 2º Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o trabalho. 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo. 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo o da assistência médica. 5º A situação de internado não prejudica o direito do idoso ou do portador de deficiência ao benefício. 6º A deficiência será comprovada através de avaliação e laudo expedido por serviço que conte com equipe multiprofissional do Sistema Único de Saúde (SUS) ou do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), credenciados para esse fim pelo Conselho Municipal de Assistência Social." Percebe-se da disciplina legal que a concessão de benefício assistencial em princípio é cabível para as pessoas com deficiência ou com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, desde que não possuam meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Quanto aos requisitos, algumas observações são necessárias. No que toca à deficiência, estabelece o 2º do artigo 20 da LOAS que deve ser entendida como aquela que acarreta "impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas", entendido o longo prazo, nos termos do 10 do mesmo dispositivo, como "aquele que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos". O conceito de deficiência saliente-se, está intimamente ligado ao impedimento efetivo ou potencial para o exercício de atividade que garanta a própria subsistência. Com efeito, a lei, e bem assim sua respectiva interpretação, não podem conduzir a um conceito restritivo de deficiência, pois um dos objetivos constitucionais que deve servir de base à organização da seguridade social é o da universalidade da cobertura e do atendimento (Constituição Federal, art. 194, parágrafo único, inciso I). Assim, o requisito incapacidade para a vida independente indica que a pessoa beneficiária não possui condições de autodeterminar-se completamente ou se torna dependente de algum auxílio, acompanhamento, vigilância ou atenção de outra pessoa, para viver com dignidade. No que se refere ao requisito econômico tem-se o novo entendimento, visto que ao apreciar a Ação Direta de Inconstitucionalidade /DF, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do art. 20, 3º, da LOAS. A decisão do Supremo Tribunal Federal, entretanto, não pôs termo à controvérsia quanto à aplicação em concreto do critério da renda familiar per capita estabelecido pela LOAS. Segundo o Ministro Marco Aurélio: Em síntese, consigno que, sob o ângulo da regra geral, deve prevalecer o critério fixado pelo legislador no artigo 20, 3º, da Lei nº 8.742/93. Ante razões excepcionais devidamente comprovadas, é dado ao intérprete do Direito constatar que a aplicação da lei à situação concreta conduz à inconstitucionalidade, presente o parâmetro material da Carta da República, qual seja, a miserabilidade, assim frustrando os princípios observáveis solidariedade, dignidade, erradicação da pobreza, assistência aos desemparados. Em tais casos, pode o Juízo superar a norma legal sem declará-la inconstitucional, tornando prevalecentes os ditames constitucionais. (grifei)

5 Portanto a renda per capita igual ou superior a ¼ de salário mínimo, não deve ser o único critério a ser observado para aferir a miserabilidade. Verifica-se que no Relatório de Avaliação Social, realizada em 20/11/2013 ficou evidenciado a questão de miserabilidade da segurada visto que assistente social declara que a segurada não possui nenhuma renda, que sofreu violência física e psicológica quando conviveu com o ex-companheiro, possui diagnóstico de diabetes e problemas cardíacos, refere dor na mama direita decorrente de lesão em razão das agressões físicas sofridas, afirmações de que já realizou tratamento de câncer de mama e faz uso de medicação e não possui apoio/ajuda da família, e que sofre de quadro depressivo, sendo concluído os qualificadores pessoais socioambientais como sendo de Barreira Grave. Diante desse quadro, considero que a segurada preenche o requisito previsto no caput do art. 20 da Lei n.º 8.742/1993, considerando neste caso, a situação econômica a qual lhe impede de procurar trabalho em razão do tumor na mama, tendo em vista que, diante de sua momentânea condição de saúde, a mesma não consegue se fixar em um trabalho, nem mesmo exercer demasiados esforços físicos. Considerando ainda, as alegações apresentadas em contrarrazões de que a mesma realizará cirurgia de vesícula. Com relação a condição de miserabilidade da segurada, o parecer social é conclusivo ao afirmar a condição de vulnerabilidade social em que vive. Portanto restou demonstrado nos autos o atendimento aos requisitos previstos no artigo 203 da Constituição Federal e no artigo 20 da Lei nº 8.742/93, quais sejam, deficiência física momentânea e o estado de miserabilidade. Aplicando-se os princípios da razoabilidade e da dignidade da pessoa humana, previstos constitucionalmente, impõe-se o deferimento do pedido de concessão do benefício assistencial a recorrida. Nesse contexto, tenho que se impõe, quanto ao mérito, o acórdão proferido pela Junta de Recursos, a fim de conceder o benefício assistencial, desde a data do requerimento. Ressalto ainda a necessidade de avaliação do caso após 2 anos. Ante o exposto, voto por CONHECER do recurso interposto pelo INSS para no mérito NEGAR PROVIMENTO e conceder o benefício a segurada nos termos da fundamentação. LUSIA MASSINHAN Conselheiro(a) Suplente Representante das Empresas Voto divergente Conselheiro(a) discorda do voto do relator(a). MARILEIA TONIETTO Conselheiro(a) Suplente Representante dos Trabalhadores Voto divergente Presidente discorda do voto do relator(a). PAULO VITOR NAZARIO SERMANN Presidente Decisório Nº Acórdão: 3896 / 2014 Vistos e relatados os presentes autos, em sessão realizada hoje, ACORDAM os membros da 1ª Composição Adjunta da 4ª Câmara de Julgamento do CRPS, em CONHECER DO RECURSO E NEGAR PROVIMENTO AO INSS, POR MAIORIA, de acordo com o voto vencedor do (a) Conselheiro (a) LUSIA MASSINHAN e sua fundamentação. Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros LUSIA MASSINHAN e MARILEIA TONIETTO. LUSIA MASSINHAN PAULO VITOR NAZARIO SERMANN

6 Conselheiro(a) Suplente Representante das Empresas Presidente