MATERIAIS DIDÁTICOS: ALTERNATIVAS À PRÁTICA DE GEOGRAFIA
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- Milton Nunes Paixão
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1 1 MATERIAIS DIDÁTICOS: ALTERNATIVAS À PRÁTICA DE GEOGRAFIA Bárbara de Oliveira Flores Felipe Akauan da Silva Misael Beskow dos Santos Ronell da Cunha INTRODUÇÃO A escola é um espaço essencialmente diverso, congregador de realidades distintas em torno da difusão do conhecimento. Cada aluno e cada professor são indivíduos e, como tais, vêm de realidades diferentes, com perspectivas, visões e interesses essencialmente distintos. É na prática do ensino que se refletem essas visões de mundo, ou mesmo, esses mundos diferentes, pois cada indivíduo traz consigo um conjunto de idéias e valores que vão refletir na sua interação com o conhecimento. Um dos trabalhos do professor é, então, em função dessa grande diversidade de realidades do ambiente escolar, instigar o interesse dos alunos em torno da construção dos conhecimentos. Isso compreende integrar as percepções de mundo e procurar relacioná-las com os conteúdos programáticos, favorecendo uma visão mais analítica sobre a realidade e despertando, assim, a vontade de saber. O que percebemos, contudo, é que a escola brasileira não representa, em sua prática, esse ideal de integração entre o conhecimento e o cotidiano dos alunos. Pensamos que um dos principais problemas a esse respeito encontra-se no apego excessivo dos professores aos livros didáticos, como se esses fossem o único recurso existente para o trabalho em sala de aula. 1
2 2 OBJETIVO Objetivamos, com a realização desse trabalho, construir de forma conjunta um arcabouço de práticas de ensino instrumentalizadas pela utilização de materiais didáticos alternativos, que possibilitem avaliar a aplicação desses buscando propiciar uma maior eficiência na contextualização dos conteúdos abordados em sala de aula. Para isso, pretende-se partir do reconhecimento de referenciais teóricos e, através da discussão desses referenciais, formular planos de aula pertinentes à realidade dos alunos com a utilização de recursos que se aproximem da sua linguagem cotidiana, tais como filmes, músicas, poesias, reportagens jornalísticas, livros de literatura etc. Com a construção e aplicação dessas práticas, vamos, posteriormente, analisar os resultados e idéias surgidas a partir de discussões conjuntas que, em alguns momentos, contaram com a participação de todos os envolvidos, tanto educandos quanto (futuros) educadores. Tem-se, portanto, a pretensão de encontrar novos meios para o fortalecimento do diálogo geográfico em sala de aula, auxiliando os alunos na consistente estruturação de conceitos e de instrumentos para a análise crítica da realidade que a esses é apresentada. METODOLOGIA Para atingir os objetivos citados anteriormente, partimos de uma revisão bibliográfica acerca de práticas de ensino em geografia, sempre buscando fundamentar essa pesquisa na compreensão das concepções político-pedagógicas presentes na escolha dessa bibliografia. Após a revisão teórica que vem sendo feita com a participação dos integrantes do grupo, são discussões com a finalidade de proporcionar a troca de entendimentos em relação às leituras realizadas, para, então, elaborar as atividades propostas. Com o desenvolvimento dessas atividades, estamos elaborando, de forma conjunta, planos de aula que aproveitam a utilização de ferramentas didáticas diferenciadas, possibilitando a aproximação com a linguagem cotidiana. A escolha dessas ferramentas tem que estar de acordo com a realidade oferecida pelo ambiente escolar onde as atividades são realizadas, propondo-se a utilizar os mais variados recursos. 2
3 3 Com a construção dos planos de aula, buscamos realizar oficinas onde os mesmos são aplicados em turmas, as quais cursam, majoritariamente, cursos preparatórios para o vestibular de caráter popular. Esse trabalho também será aplicado com turmas de primeiro e segundo grau, as quais têm finalidades diferenciadas na construção dos conhecimentos de geografia. As oficinas devem ser ministradas por alguns integrantes do grupo, parte deles como educadores atuantes e parte como observadores da atividade, para que esses participem da avaliação dos resultados alcançados e idéias surgidas dessas oficinas. MATERIAIS DIDÁTICOS: PLANEJAMENTO E PRÁTICA O ensino dos conteúdos de geografia possibilita, por essa ser uma disciplina que trata de conteúdos atuais e presentes no cotidiano de todos, a criação de oportunidades didáticas inovadoras e atrativas para o dia-a-dia em sala de aula. Essas oportunidades, porém, expressam sempre a tomada de decisões político-pedagógicas que devem nortear as ações do ensino, partindo dos pressupostos de um planejamento escolar consciente de suas intenções. As propostas de construir conhecimentos em geografia através de materiais didáticos alternativos estão longe de ser novidade, mas essas aparecem, em sua maioria, como algo vago e despolitizado, que não esclarece os referenciais teóricos presentes por trás das decisões pertinentes ao ensino. Como sugestão para a discussão desses métodos e práticas, decidimos por partir de uma autocrítica: O que nós, enquanto professores em processo de (trans) formação, adotamos como referencial político pedagógico em nossa sala de aula, e como esses direcionam o planejamento e a ação, para assim atingirmos nossos objetivos? Os pressupostos de um ensino atraente e instigante demandam planejar e avaliar nossa atividade como professores... A escola é, por primazia, um ambiente diversificado e contraditório, onde todos os envolvidos possuem experiências que levam a diferentes concepções sobre as relações existentes entre o ensino e a aprendizagem. Em outras palavras, a escola não é espaço para uma realidade escolar, mas sim palco para uma diversificada rede de realidades escolares, onde, mesmo em uma única sala de aula, os indivíduos presentes representam diferentes percepções e experiências em relação aos conteúdos abordados. Estando inseridos nesse contexto, os professores têm que lidar cotidianamente com situações que desafiam a buscar 3
4 4 caminhos cada vez mais atuais e dinâmicos para despertar o interesse dos alunos para suas discussões. Esses novos caminhos para o ensino podem estar relacionados ao uso de instrumentos mediadores entre as informações e a compreensão do educando para com essas. Esses instrumentos, essencialmente culturais, aqui são definidos como aqui definidos como materiais didáticos (tais como filmes, músicas, poesias, reportagens jornalísticas, livros de literatura etc.) tendem a aproximar a linguagem escolar utilizada no trato com os conhecimentos científicos e a linguagem cotidiana dos alunos, facilitando assim a relação de aprendizagem. A utilização desses instrumentos, porém, não pode estar desvinculada aos trabalhos de planejamento e avaliação do ensino. Planejar é, antes de qualquer coisa, decidir. As decisões vinculadas ao planejamento e uso dos instrumentos são de fundamental importância para a constituição de algum método de ensino que propicie qualidade no ensino. Sendo assim, devemos partir da abordagem do planejamento, para depois abordarmos as lógicas de mediação entre o que se quer comunicar e o para quem se quer comunicar. Planejar é mediar os referenciais teóricos ao objetivo do ato de ensinar, significa assim preparar, realizar e acompanhar. A aplicação desses métodos relacionados aos instrumentos facilitadores faz parte do ato de planejar as práticas didáticas. Construindo métodos com a utilização dos meios oferecidos pelo uso de materiais didáticos alternativos, decidimos tornar essa uma discussão conjunta. Entendemos que quando feito de forma conjunta, os atos de planejar a avaliar as situações apresentadas em sala de aula tendem a constituir um trabalho mais completo, que possibilita a evidenciação das posturas e ideais adotados por cada participante da discussão. Com isso, podemos problematizar algumas situações colocadas no cotidiano escolar quando a proposta é de utilizar materiais didáticos alternativos e essa não é contemplada. Por exemplo, a exposição de um filme sem uma abordagem crítica por parte do professor que propõe a atividade. ENSINAR COMO ATO CRÍTICO A prática com materiais didáticos alternativos, além de facilitar a visualização dos assuntos abordados em aula e proporcionar a integração de todos os alunos, acaba 4
5 5 quebrando a monotonia de uma aula expositiva. Fazer o aluno pensar, refletir e se interessar pelos temas discutidos no programa de uma disciplina deve envolver práticas alternativas diferentes das convencionais que, por sua vez, tornam, muitas vezes, a aula pesada, com excessivas informações e pouco pensamento crítico a cerca dessas. Interdependência entre Materiais e Métodos É importante destacar também que a abordagem do método de análise do conteúdo é o que vai definir o papel do material didático. Sua função é ser usado para ilustrar, promover discussões e reflexões e posicionar o conteúdo de forma privilegiada em relação à realidade do aluno para explicitar que a geografia existe, também, fora da sala de aula. Poderíamos relacionar essa construção simplesmente ao significado corriqueiro da palavra alternar, o que já representaria grande avanço em relação ao que encontramos na realidade escolar brasileira. Esses materiais, porém, devem ser entendidos, principalmente, pelo seu método de abordagem e pela busca contínua de trazer a linguagem não científica, que é aquela que está presente no cotidiano do aluno, para dentro do conteúdo abordado. Práticas Alternativas Devemos aqui evidenciar que entendemos por práticas alternativas aquelas que, a nosso ver, propiciam uma leitura diferenciada e crítica da realidade, fazendo com que os alunos tenham interesse por pesquisar e discutir as questões levantadas. Para a construção dessas práticas, partindo de um planejamento que seja realizado de forma conjunta e utilize como recurso o que conceituamos acima por materiais didáticos alternativos, começamos o trabalho pela pesquisa de materiais e bibliografias que ajudassem na criação de propostas para elaboração das atividades. Após algumas leituras e discussões, abordamos em reunião do grupo de pesquisa, contando com a participação de outros colegas bolsistas do Programa de Educação Tutorial Geografia UFRGS, como deveríamos aplicar essas propostas e avaliar essa aplicação em uma oficina realizada pelo grupo para esse fim. RESULTADOS PRELIMINARES Em função do estágio inicial no qual se encontra esse trabalho, obtivemos, até então, a formulação e discussão dos conceitos trabalhados para a instrumentalização do plano de 5
6 6 ensino através de materiais didáticos alternativos. Com isso, conseguimos a estruturação de um plano de aula no qual utilizamos a mediação entre os conteúdos e os alunos, através do trabalho com o vídeo História das Coisas, documentário de Annie Leonard, e com a música Disneylândia de Arnaldo Antunes. Oficina Alternativa Na oficina foi possível aplicar a teoria discutida, observando na prática as possibilidades e dificuldades presentes na aplicação desse plano. Trabalhamos com os materiais cintados anteriormente (vídeo História das Coisas e a música Disneylândia), discutindo o tema de globalização e evolução dos processos sociais e econômicos nesse contexto. A proposta realizada na oficina se constituiu da seguinte maneira: 1. Após a exposição do vídeo História das Coisas, solicitamos aos alunos que expusessem seu ponto de vista sobre os temas apresentados; 2. Com a organização da idéias surgidas, realizamos a audição da música Disneylândia, pedindo que os alunos se organizassem em círculo e jogassem, a cada país citado na letra da música, um barbante de um para o outro, formando assim uma rede; 3. A partir disso trabalhamos com a idéia da globalização como uma rede de relações sociais, culturais, econômicas e políticas; 4. Em último momento, foi possível fomentar uma discussão resgatando os conceitos pertinentes a esse conteúdo, a partir dos instrumentos utilizados. A discussão e avaliação dos resultados obtidos ainda não foram realizadas, entretanto foi possível perceber, apenas com a realização das oficinas, que a busca de alternativas para educação deve ser constante. Nossa experiência mostrou uma mudança na postura dos alunos presentes frente à problemática proposta. Isso possibilitou que nossa prática atingisse melhores níveis de diálogo entre professores e alunos, do que usualmente, facilitando assim a criação de olhares críticos sobre a realidade. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS. CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (Org.); CALLAI, Helena Copetti; KAERCHER, Nestor André. Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Ed. Mediação,
7 7 CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos et al. Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: Ed. da Universidade/ UFRGS/ Associação dos Geógrafos Brasileiros Sessão Porto Alegre, MELO, Everton Rodrigues de. Diálogo sobre rap e o ensino de geografia. Porto Alegre: Boletim Gaúcho de Geografia, n 35, p , maio Entrevista concedida a Nola Patrícia Gamalho. OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. São Paulo: Editora Scipione, p RODRIGUES, Maria Bernadete Castro. Planejamento: em busca de novos caminhos. In: XAVIER, Maria Luisa Merino; DALLA ZEN, Maria Isabel. (orgs). Planejamento em Destaque. Cadernos de Educação Básica. Porto Alegre: Mediação, VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Interação entre aprendizado e desenvolvimento. In: A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, p
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