TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO ALVES DA SILVA ACÓRDÃO MINUTA DE VOTO APELAÇÃO CÍVEL NQ /001 RELATOR : Desembargador João Alves da Silva APELANTE: Adalberto Cavalcanti Vitorio (Adv. Guthemberg C. Agra de Castro) APELADO : Unimed Campina Grande Cooperativa de Trabalho Médico Ltda. (Adv. Ramona Porto Amorim Guedes) APELAÇÃO CÍVEL. PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA DE COBERTURA. CLÁUSULA ABUSIVA. INDENIZAÇÃO. DANO MATERIAL. NÃO COMPROVAÇÃO. D O MORAL REFLEXO, OU EM RICOCHETE. INOCORRÊN NO CASO. SENTENÇA MANTIDA. RECURS DESPROVIDO. - Muito embora a recusa injustificada de cobertura por parte de plano de saúde possa dar ensejo ao ressarcimento do que foi pago indevidamente, no caso dos autos, não há prova de que o desembolso para realização dos exames de que necessitava a titular do plano, mãe do promovente, ora apelante, foi realizado por ele. Outrossim, é do espólio, dos herdeiros ou do inventariante a legitimidade para a propositura da ação para cobrança de indenização por danos materiais e morais, no caso de falecimento do titular do plano, ex vi do art. 943 do Código Civil. - Malgrado seja possível que aquele que se sinta atingido pelo ato lesivo, ainda que de forma indireta, pleiteie dano moral, conhecido pela doutrina como dano moral indireto, reflexo ou por-ricochete, no caso dos autos não se verifica tenha o recorrente enfrentado situação aflitiva, ante a recusa de cobertura dos exames de que necessitava sua mãe, que justificasse ser elevada a dor moral, uma vez que não consta sequer tenha tido dificuldade para obter o montante necessário para o respectivo pagamento, ou mesmo que o

2 estado de saúde de sua mãe tenha se agravado em razão da negativa de cobertura. VISTOS, relatados e discutidos estes autos, em que figuram como partes as acima nominadas. ACORDA a Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator, integrando a presente decisão a súmula de julgamento de fl RELATÓRIO. Trata-se de apelação cível interposta por Adalberto Cavalcanti Vitorio contra sentença que julgou improcedente o pedido formulado nos autos da ação ordinária por ele promovida contra Unimed Campina Grande Cooperativa de Trabalho, visando indenização por danos materiais e morais. Na sentença, o magistrado considerou que "a mera r parental não pressupõe, por si só, a extensão reflexiva do evento danoso patrimônio ideal dos familiares da vítima direta, fazendo-se mister a efetiva comprovação do dano" e que o autor não produziu prova alguma de que "o dano moral sofrido por sua genitora tenha, de algum modo, refletido em seu patrimônio imaterial", julgando-se improcedente o pedido de dano moral. Outrossim, por entender que "nenhum dos recibos que instruem o pedido se acham em nome do autor, mas em nome do de cujus e de terceira pessoa", e que "não tendo o autor comprovado ter, efetivamente, despendido qualquer importância para o custeio dos exames em questão", indeferiu o pedido de indenização por danos materiais. Nas razões do recurso, o apelante sustenta que sua mãe, titular de plano de saúde oferecido pela recorrida, teve negada a requisição de exames necessários para diagnóstico da doença que a acometia, sob o fundamento de que a cota disponível de exames já havia se esgotado, a configurar conduta abusiva. Diante disso, não apenas ela, como o ora recorrente e demais familiares, sofreram "grande humilhação", "visto que estava com a sua saúde muito debilitada, necessitando fazer tais exames em caso de emergência e teve que esperar a sua família tentar conseguir o dinheiro necessário para pagar os exames a parte". Assevera que os exames pagos por ele e suas irmãs totalizaram o valor de R$ 2.459,71 (dois mil, quatrocentos e trinta e cinco reais e quarenta e quatro centavos), cujos comprovantes estão em nome de sua mãe apenas por questões burocráticas.

3 Por fim, pleiteia o provimento do recurso, com a condenação da recorrida ao pagamento de indenização por danos materiais e morais. Nas contrarrazões, pugna a recorrida pelo desprovimento do recurso, com consequente manutenção da sentença. mérito (fls. 117/119). A Procuradoria-Geral de Justiça não se manifestou acerca do É o relatório VOTO Consoante constou da inicial, a mãe do promovente, ora apelante, em decorrência de seu grave estado de saúde, pois estava acometida por câncer de ovário, foi internada no hospital da recorrida, necessitando realizar exames para melhor diagnóstico da enfermidade. Contudo, embora fosse titular de plano de saúde junto recorrida, teve negada a autorização para realização de tais exames, haja vista limitação contratual, razão pela qual o apelante e suas irmãs necessitaram efetuar previamente o pagamento. Por entender ser abusiva a limitação contratual referente ao número de exames, o apelante promoveu a presente ação, visando à indenização por danos materiais e morais, que, como relatado, foi julgada improcedente. De inicio, adianto que o recurso não merece prosperar. No tocante à indenização por danos materiais, destaco que os documentos colacionados aos autos, comprobatórios do pagamento para realização dos exames apontados, estão ou em nome dela ou em nome de terceira pessoa, não havendo nenhum comprovante de que o pagamento foi efetuado pelo apelante (fls. 18/23). Assim, muito embora a limitação contida no contrato relativa ao número de exames possa configurar cláusula abusiva, ensejando a declaração de nulidade bem como o ressarcimento dos valores pagos indevidamente, entendo que a legitimidade ativa ad causam para a propositura da correspondente ação seria da titular do plano de saúde, no caso, a mãe do promovente, uma vez que deve haver correspondência entre os sujeitos do processo e os integrantes da relação substancial referida. Contudo, diante de seu comprovado falecimento, a demanda deveria ser proposta pelo espólio, por todos os seus herdeiros ou mesmo pelo

4 inventariante nomeado em eventual procedimento de inventário, mas não apenas pelo recorrente que, embora comprove ser filho da titular do plano, não comprova essa condição. Com efeito, tendo os valores sido pagos indevidamente, e estando os comprovantes de pagamento em nome da falecida, é certo que constituíam parte de seu patrimônio. Sendo assim, com a sua morte, transmitir-seiam ao patrimônio de seus herdeiros, nos termos do art. 943 do Código Civil. Aliás, a transmissão, para os herdeiros, do direito à reparação que era do de cujus ocorre, inclusive, em se tratando de dano moral, consoante entendimento consolidado do Colendo STJ: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. MORTE DA VÍTIMA. LEGITIMIDADE ATIVA DO ESPÓLIO. 1 - Na linha da jurisprudência desta Corte, o espólio detém legitimidade ara suceder o autor na ação de indenização por danos mor Precedentes. 2 - Recurso não conhecido'. Destarte, não havendo documento nos autos que comprove o pagamento dos exames realizados pela mãe do promovente por parte deste, e não detendo o apelante legitimidade ativa para requerer o ressarcimento do que foi pago indevidamente, deve ser mantida a sentença no tocante ao indeferimento do pedido de indenização por danos materiais. Quanto aos danos morais, versa a hipótese a respeito do denominado dano moral indireto, ou reflexo, ou em ricochete, é dizer, a possibilidade de os parentes do ofendido e a esse ligados afetivamente postularem em nome próprio compensação pelo prejuízo experimentado, quando atingidos de forma indireta pelo ato lesivo. A propósito, nossa melhor doutrina nos ensina que: "Além do próprio ofendido, poderão reclamar a reparação do dano moral, dentre outros, seus herdeiros, seu cônjuge ou companheira e os membros de sua família a ele ligados afetivamente (...) por dano direto, ou mesmo por dano indireto, é possível haver titulação jurídica para demandas reparatórias. Titulares diretos são, portanto, aqueles atingidos de frente pelos reflexos danosos, enquanto indiretos os que sofrem, por consequência, esses efeitos (assim, por exemplo a morte do pai provoca dano moral ao filho; mas o ataque lesivo à mulher pode ofender o marido, o filho ou a própria família, suscitando-se, então, ações fundadas em interesses indiretos. REsp RS, 4a Turma, Rel. Min. Jorge Scartezzini, j , DJe

5 Baseado em elo jurídico afetivo mantido com o lesado direto, o dirieto do titular indireto traduz-se na defesa da respectiva moralidade, familiar, pessoal ou outra. Trata-se, também, de jure próprio, que o interessado defende, na ação de reparação de danos denominada par ricochet ou réfléchis, a exemplo do que acontece em hipóteses como as de danos morais a empregados, por fatos que atingem o empregador; a sócio de uma sociedade, que alcança outro sócio; a mulher, que lesiona o marido; a concubina, que fere o concubino e assim por diante, como o tem apontado a doutrina e assentado a jurisprudência, delimitando as pessoas que a tanto se consideram legitimadas" 2. Assim, possível que aquele que se sinta atingido pelo ato lesivo, ainda que de forma indireta, pleiteie dano moral. No caso dos autos, busca o apelante indenização por danos morais em razão da situação aflitiva por que teria passado, ante a negativa de cobertura dos exames de saúde de que necessitava sua mãe, durante o perío que esteve internada em razão da enfermidade que a acometia. Muito embora a recusa injustificada do plano de saúde na cobertura de exames possa ensejar danos morais 3, no caso dos autos, não vislumbro tenha o apelante sofrido esse tipo de dano. É que, como constou da própria petição inicial, "a causa do falecimento da titular do plano de saúde Alice Cavalcanti Vitório não foi a demora em realizar tais exames porque o requerente e suas irmãs conseguiram o dinheiro para pagar os exames de sua mãe, sendo sua morte decorrente do seu estado grave canceroso" (fl. 06) (grifou-se). Como se vê, embora a mãe do apelante pudesse fazer jus ao recebimento de indenização a título de dano moral diante da abusiva negativa de cobertura por parte da demandada, o que, como referido anteriormente, poderá ser cobrado em eventual ação promovida por todos herdeiros ou pelo espólio, não se verifica tenha o recorrente enfrentado situação aflitiva que justificasse ser elevada a dor moral, ainda que indireta. Com efeito, não consta sequer tenha havido dificuldade por parte do apelante, ou de suas irmãs, para conseguir o montante necessário para o pagamento dos exames, ou que o estado de saúde de sua mãe tenha agravado em razão da negativa de cobertura. O dano moral, para que reste configurado, requer uma certa gravidade, um distúrbio realmente anormal na vida da pessoa lesada, o que, como visto, não se verifica no caso. 2 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil de acordo com o Novo Código Civil. Ed. Saraiva, 2002, p STJ, REsp RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, j

6 Nesse sentido, mutatis mutandis: "ILEGITIMIDADE DE PARTE - Dano moral - Pretensão da esposa do paciente à indenização pelos transtornos decorrentes de internação - Impossibilidade - Situação diversa daquela em que há dano moral indireto - Sentença mantida - PRELIMINAR ACOLHIDA e.)". Nestes termos, não restando comprovado que a recusa de cobertura por parte do plano de saúde à mãe do apelante lhe acarretou reflexos em seu patrimônio ideal, é de ser julgado improcedente o pedido de indenização por danos morais, como, aliás, constou da sentença. Diante de tais considerações, penso que a sentença não merece reparos, daí porque nego provimento ao recurso. É como voto. DECISÃO A Câmara decidiu, por votação unânime, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Desembargador João Alves da Silva, dele participando como relator. Participaram do julgamento a Excelentíssima Dra. Maria das Graças Morais Guedes (Juíza Convocada para substituir o Exmo. Desembargador Frederico Martinho da NObrega Coutinho) e o Excelentíssimo Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. Presente a representante do Ministério Público, na pessoa da Excelentíssima Dra. Jacilene Nicolau Faustino Gomes, Procuradora de Justiça. Sala das Sessões da Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, em 06 de dezembro de 2011 (data do julgamento). João Pessoa, 09 de deze,,, ro de i-, /1 Desembargador Alves da Silva lat e r 4 TJSP AC /0-00, 7 2 Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Elcio Trujillo, j

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