ACÓRDÃO A. A. Poder Judiciário do da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D.

Transcrição

1 4 AC no /001 A. A nv1r-m i Poder Judiciário do da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL No /001 - CAPITAL RELATOR: Juiz Marcos William de Oliveira, convocado para substituir a Desembargadora Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira APELANTE: Maria Helena Martins da Rocha ADVOGADO: Wamberto Balbino Sales APELADO: Itati Seguros S/A ADVOGADO: Samuel Marques C. de Albuquerque APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO JÁ EFETIVADA PELA VIA ADMINISTRATIVA. COMPROVAÇÃO. ALEGAÇÕES EM SEDE DE APELO DIVERSAS DAQUELAS LEVANTADAS NA INICIAL. DESIDERATO RECURSAL QUE CONSUBSTANCIA INOVAÇÃO PROCESSUAL. DESPROVIMENTO. - Os recursos não comportam ineditismo. A Corte só pode deliberar matérias trazidas a lume na inicial ou na contestação, com exceção das matérias de ordem pública, cuja cognição se opera ex officio. Agir de forma diversa configura supressão de instância. Precedentes do STJ. VISTOS, relatados e discutidos estes autos. ACORDA a Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, negar provimento à apelação clive!.

2 AC no /001 2 Trata-se de apelação cível interposta por MARIA HELENA MARTINS DA ROCHA buscando reformar sentença (fls. 118/119) proferida pelo Juízo de Direito da 3a Vara Distrital de Mangabeira, que julgou improcedente o pedido formulado na ação de cobrança de seguro obrigatório DPVAT, ajuizada contra ITAU SEGUROS S/A. O Juiz a ipo entendeu que, embora a autora reclame o recebimento do seguro DPVAT, ficou claro nos autos que o pagamento já havia sido realizado, tendo, inclusive, a seguradora que efetuou o pagamento, anexado aos autos o recibo respectivo, bem como procuração pública da parte outorgando poderes ao advogado, José Ribeiro Campos, para receber a verba, concluindo pela má-fé da autora. vergastada: Não constitui demasia reproduzir a ementa da sentença SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT Ação de cobrança Seguro pago ao procurador da genitora da promovente Litigância de má-fé Condenação da autora em multa improcedência da ação. Havendo prova cabal de que houve o pagamento do seguro ao procurador da genitora da autora, que cedeu os direitos sobre o seguro à filha, é de se julgar improcedente a ação, devendo a autora ser condenada ao pagamento de multa de 1% sobre o valor da causa por ter agido de má-fé ao postular em juízo direito que sabia não lhe caber. Inconformada, a autora apelou, aduzindo que, mesmo que a indenização tenha sido paga, não estaria em conformidade com a norma jurídica que disciplina a matéria, e que o valor deve ser corrigido monetariamente e acrescido de juros. Ao final, pugnou pela reforma da sentença, para que a indenização seja acrescida de 25,93 salários mínimos, aplicando-se o que dispõe o art. 3 0, "a", da Lei n 6.194/74 (fls. 121/127). Contrarrazões (fls. 130/147), sustentando, preliminarmente, a ilegitimidade ativa (uma vez que a demandante não provou condição de única beneficiária, tendo em vista que a certidão de óbito não deixa claro quantos filhos o falecido deixou); a substituição do polo passivo da demanda pela Seguradora Líder de Consórcios DPVAT S/A, bem ainda carência de ação por falta de interesse de agir. No mérito, defende que o salário mínimo não pode ser vinculado para qualquer fim oriundo da Constituição Federal, sendo incabível o valor da indenização fixado com base em salário mínimo, e que a sentença deve ser mantida por seus próprios termos.

3 AC no /001 3 O Parquet, instado a manifestar-se, opinou pelo provimento parcial do recurso, para que a seguradora pague a diferença da indenização, perfazendo o quantum de 40 (quarenta) salários mínimos. É o relatório. VOTO: Juiz MARCOS WILLIAM DE OLIVEIRA Relator O recurso há de ser desprovido, pois a apelação trata de assunto diverso daquele exposto na petição inicial. Compulsando os autos, observa-se que a apelante, na inicial, afirma que seu pai, Pedro Ferreira Rocha, faleceu em 02 de fevereiro de 1990, vítima de acidente automobilístico, juntando inquérito policial e certidão de óbito para comprovar a veracidade de seus argumentos. Juntou, também, precisamente às fls. 31, documento (termo de cessão de direito) por meio do qual sua genitora cedeu e transferiu o direito do benefício (seguro DPVAT), em virtude do falecimento de seu esposo, para sua filha, ora apelante. À primeira vista, parece que a autora teria seu direito garantido. Ocorre que a seguradora apelada, realizando minuciosa busca no sistema conhecido como MEGADATA, onde estão cadastrados os sinistros regulados e todas as informações sobre seus respectivos pagamentos, banco de dados mantido pela FENASEG, detectou pagamento realizado pela Sul América Companhia Nacional de Seguros, tendo como favorecida Maria da Penha M. da Rocha (mãe da autora/apelante), conforme recibo de fls. 106, e procuração dando poderes ao advogado José Ribeiro Campos, OAB/PB no1852, para receber seguro (fls. 107/108). Verifica-se, então, que a autora omitiu que sua mãe já teria recebido administrativamente o valor da indenização ora pleiteada, desde 12/06/1990. Assim, analisando detidamente os autos, resta claro que o pedido constante da inicial, qual seja, o recebimento da totalidade da indenização, diverge da apelação. Isso porque, comprovado pelo apelado, conforme dito, que o seguro já havia sido quitado, a apelante requereu, então, o reajuste do valor pago anteriormente, argumentando que seria inferior a 40 salários mínimos.

4 AC no /001 4 Dessa forma, vislumbramos que a questão trazida a debate pela apelação não foi objeto de análise pelo Juízo a quo, consubstanciando inovação recursal, o que é inviável, em face do princípio da eventualidade. O Superior Tribunal de Justiça, apoiando-se nos ensinamentos de José Frederico Marques, decidiu nos seguintes termos: - É dever das partes alegar, no momento próprio, toda a matéria de ataque e defesa, diante da utilidade que esse proceder irá produzir para o deslinde da controvérsia, sob pena de, deixando para outra oportunidade, ocorrer a preclusão. - "O princípio da eventualidade consiste em alegar a parte, de uma só vez, todos os meios de ataque e defesa como medida de previsão in eventum para o caso de não dar resultado o primeiro. Isso significa, como acentua Millar, que as partes, nas fases apropriadas, devem apresentar, simultânea e não sucessivamente, todas as suas deduções, sejam ou não compatíveis entre si, e ainda que o pronunciamento sobre uma delas torne prescindível considerar as subseqüentes. Por força do princípio da eventualidade, devem as partes produzir suas alegações, nos períodos correspondentes, para a eventualidade de que mais tarde lhes possam ser úteis, ainda que por momento não o sejam. O princípio da eventualidade está muito ligado à preclusão. Se a parte não alegou tudo o que lhe era lícito aduzir, no instante processual adequado, pode ficar impedida de suscitar uma questão relevante, em outra oportunidade, por ter ocorrido a preclusão. Esta última, aliás, como lembra Enrico Tullio Liebman, serve para garantir justamente a regra da eventualidade" (cf. José Frederico Marques in "Instituições de Direito Processual Civil", revista, atualizada e complementada por Ovídio Rocha Barros Sandoval, ia ed., Millennium Editora, 2000, Campinas SP). - Recurso especial não conhecido. - Decisão por unanimidade.' Lendo e relendo o caderno processual, constatei que o desiderato recursal não foi formulado na exordial da ação de cobrança c/c reparação de danos materiais, razão por que não pode a parte, em sede de apelação, inovar na lide, incluindo pedido que não fora feito no primeiro grau de jurisdição. Tal fato, se admitido fosse, seria uma verdadeira emenda extemporânea à inicial. Eis decisões do Superior Tribunal de Justiça acerca da matéria: 1 REsp /MS, Rel. Ministro Franciulli Netto, Segunda Turma, julgado em 12/06/2001, DJ 10/09/2001 p. 367.

5 AC no /001 5 O Tribunal não está obrigado a se manifestar sobre pedido trazido em apelação que não constou da petição inicial, uma vez que se constitui em inovação processual. Inexistência de ofensa ao art. 535 do CPC. 2 Os acórdãos proferidos pelo Tribunal de origem estão em perfeita sintonia com o entendimento desta corte no sentido de que a matéria trazida apenas nas razões de apelação constitui inovação recursa1. 3 A apelação devolve ao conhecimento do tribunal apenas as questões suscitadas e decididas no primeiro grau. Constitui inovação do pedido argüir, na apelação, matéria não ventilada na inicial e que, por isso, não foi decidida na sentença.' Não pode a parte, assim, trazer no apelo pedido não formulado na petição inicial, razão pela qual, com base nos argumentos expendidos, nego provimento à apelação, mantendo a sentença objurgada, por seus próprios fundamentos. É como voto. Presidiu a Sessão o Excelentíssimo Desembargador MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, que participou do julgamento com ESTE RELATOR (Juiz de Direito Convocado, em substituição à Excelentíssima Desembargadora MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA) e com a Excelentíssima Juíza de Direito MARIA DAS GRAÇAS MORAIS GUEDES (Revisora, convocada, em substituição à Excelentíssima Desembargadora MARIA DE FÁTIMA MORAES BEZERRA CAVALCANTI). Presente à Sessão o Excelentíssimo Doutor FRANCISCO ANTÔNIO SARMENTO VIEIRA, Promotor de Justiça Convocado. Sala de Sessões Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal d e Justiça do Estado da Paraíba, em Joã. 'éssoa/pb, 05 de março de Juiz MAR/OS)NZI 1 M DE OLIVEIRA Re tor 2 REsp /SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunija Turma, julgado em 20/05/2008, Dle 10/06/ AgRg no Ag /DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, QLInta Turma, julgado em 09/10/2007, D3 05/11/2007 p REsp /PI, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, julgado em 03/10/2000, DJ 05/02/2001 p. 90.

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