Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba Gabinete da Desa. Maria das Graças Morais Guedes

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1 Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba Gabinete da Desa. Maria das Graças Morais Guedes ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL NQ /001 Relatora Apelante Advogada Apelada Desembargadora Maria das Graças Morais Guedes Município de Campina Grande, representado por seu procurador Herlaine Roberta Nogueira Dantas Maria do Socorro Raia Advogados Ana Brigida X. F. Siqueira e outro APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO. VALOR DESCONTADO E NÃO REPASSADO À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. DÉBITO QUITADO. COBRANÇA INDEVIDA. ATO PASSÍVEL DE DANO MORAL. DESPROVIMENTO. - Estando devidamente comprovados os descontos efetuados no contracheque de servidor pelo município, referentes a parcelas de empréstimo consignado, a cobrança indevida pela instituição financeira de débito já quitado, caracteriza o dano moral, impondo-se o dever de indenizar. - Em sendo o município responsável pelo repasse das parcelas do empréstimo, descontadas dos vencimentos do servidor, à instituição bancária, não há dúvida de que a responsabilidade pela manutenção do débito também deve ser àquele atribuída, por não haver comprovação dos devidos repasses ao banco. APELAÇÃO CÍVEL N /001 1

2 referenciados. VISTOS, relatados e discutidos estes autos acima ACORDAM os eminentes Desembargadores integrantes da Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, seguindo o voto da Relatora, à unanimidade, em conhecer do Recurso e negar-lhe provimento. RELATÓRIO Trata-se de apelação cível interposta contra sentença que julgou procedente o pedido realizado na Ação de Danos Morais c/c Declaratória de Inexistência de Débito proposta por Maria do Socorro Raia, ora apelada, contra o Banco Santander (Brasil) S.A. e o Município de Campina Grande-PB, sendo este último o apelante, declarando "inexistente o débito cobrado pelo Banco Santander, constante à fl. 19, relativo ao empréstimo em consignação realizado em 2002" e condenando "cada demandado, a pagar a promovente uma indenização a título de dano moral, na quantia de R$ 2.730,00 (Dois mil setecentos e trinta reais), correspondentes a 14 (quatorze) vezes o valor de uma prestação do empréstimo, já corrigidos monetariamente e juros de mora de 0,5% (meio por cento) ao mês, estes a partir da citação." Inconformado, o Município de Campina Grande-PB, ora apelante, alega que cumpriu estritamente as regras do contrato, efetuando os repasses junto à instituição financeira, não tendo cometido nenhum ato omissivo ou comissivo, que tenha causado lesão ou abalo moral à apelada. Afirma ainda que não foi a edilidade que negou a contratação de novo empréstimo à recorrida, requerendo, por fim, a reforma da decisão proferida pelo juízo "a quo", julgando improcedente o pedido da autora. Contrarrazões às fls. 149/154. O Ministério Público em parecer encartado às fls. 165/168, opinou pelo desprovimento do recurso, mantendo-se integralmente a sentença prolatada pelo juízo da V Vara da Fazenda Pública da Comarca de Campina Grande. É o relatório. APELAÇÃO CÍVEL /001 2

3 VOTO Insurge-se o apelante contra a sentença proferida pelo juízo de primeiro grau que julgou procedente o pedido para declarar "inexistente o débito cobrado pelo Banco Santander, constante à fl. 19, relativo ao empréstimo em consignação realizado em 2002" e condenar "cada demandado, a pagar a promovente uma indenização a título de dano moral, na quantia de R$ 2.730,00 (Dois mil setecentos e trinta reais), correspondentes a 14 (quatorze) vezes o valor de uma prestação do empréstimo, já corrigidos monetariamente e juros de mora de 0,5% (meio por cento) ao mês, estes a partir da citação." Analisando-se detidamente os autos verifica-se que o empréstimo realizado foi devidamente quitado, tendo em vista que as parcelas do consignado foram descontadas dos vencimentos da apelada, cabendo ao Município de Campina Grande, ora recorrente, fazer o repasse ao credor, banco Santander. Por conseguinte, conclui-se que a conduta do apelante foi irregular, ilegal, ao não repassar os valores recolhidos do contracheque à instituição financeira, sendo a fixação dos danos morais medida que se impõe. Segundo as lições de Savatier, dano moral "é qualquer sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária, e abrange todo atentado à reputação da vitima, à sua autoridade legitima, ao seu pudor, à sua segurança e tranqüilidade, ao seu amor próprio estético, à integridade de sua inteligência, a suas afeições, etc" No caso sob exame, o constrangimento é patente, pois, a apelada saiu de uma situação de tranquilidade, com todas as suas obrigações devidamente cumpridas, tendo que buscar um advogado para patrocinar a causa, no sentido de ver restabelecida a normalidade, diante do ato ilícito praticado pelo Município de Campina Grande. Desta forma, estando o empréstimo devidamente quitado, e havendo a cobrança indevida da instituição financeira, havendo uma mudança de realidade, derivada de um ato ilícito, resta caracterizado o dano moral. (Traite de La Responsabilite Civile,. vol.ii, no 525, in Caio Mario da Silva Pereira, Responsabilidade Civil, Editora Forense, RJ, 1989) APELAÇÃO CÍVEL NP' /001 3

4 Vejamos julgados nesse sentido APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO QUITADO. COBRANÇA INDEVIDA. DANO MORAL CONFIGURADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. QUANTUM FIXADO COM MODERAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Se o banco requerido faz a cobrança de dívida já paga, age com culpa, por causar constrangimento ao consumidor, e tem o dever de compensar o dano moral. O dano moral deve ser arbitrado de acordo com as peculiaridades de cada caso, levando-se em conta a capacidade econômica das partes, em razão da inexistência de critérios objetivos para a sua quantificação. (TJMS; AC-Or / ; Campo Grande; Primeira Turma Cível; Rel. Des. João Maria Lós; DJEMS 14/02/2011; Pág. 12) APELAÇÃO. COBRANÇA INDEVIDA. EMPRÉSTIMO. NOVAÇÃO DA DÍVIDA. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR. HONORÁRIOS. MANUTENÇÃO. É indevida cobrança decorrente de empréstimo já quitado. Estando o valor fixado a título de dano moral, dentro dos parâmetros da moderação e razoabilidade ao caso concreto, não há que se falar em majoração. Impõe-se a manutenção do honorários advocatícios arbitrados pelo juízo de primeiro grau quando fixado dentro dos limites percentuais previstos na Lei Processual Civil e não se mostram excessivos. (TJRO; APL ; Rel. Des. Raduan Miguel Filho; Julg. 16/08/2011; DJERO 25/08/2011; Pág. 89) Por outro lado, em sendo o município responsável pelo repasse das parcelas do empréstimo descontadas dos vencimentos da servidora à instituição bancária, não há dúvida de que a responsabilidade pela manutenção do débito também deve ser àquele atribuída, pois não comprovou os devidos repasses ao banco. Assim têm decidido os Tribunais Pátrios APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA INDEVIDA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PRELIMINAR DE NULIDADE PROCESSUAL POR AUSÊNCIA DE CHAMAMENTO AO PROCESSO DO BANCO. REJEITADA. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. Empréstimo de consignação celebrado com a instituição financeira, em convênio com o município. Desconto efetivado. Retenção dos valores descontados pelo ente municipal. Inscrição do nome do autor nos cadastros de restrição ao crédito. Dano moral passível de reparação. Manutenção do quantum indenizatório arbitrado pelo juízo singular no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais). Critério para fixação do quantum que atende aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Honorários advocatícios. Pleito de APELAÇÃO CÍVEL N' /001 4

5 aplicação do parágrafo 4 9 do artigo 20 do CPC. Não acolhimento. Recurso que se conhece para lhe negar provimento. Decisão unânime. (TJSE; AC ; Ac. 7528/2012; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Cezário Siqueira Neto; DJSE 01/06/2012; Pág. 48) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. INDENIZAÇÃO. CONVÊNIO. EMPRÉSTIMO SOB GARANTIA DE CONSIGNAÇÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. SERVIDORES PÚBLICOS. MUNICÍPIO DE ALAGOA. AUSÊNCIA DE REPASSE À CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. OMISSÃO. NEGATIVAÇÃO DO NOME DO TOMADOR DO EMPRÉSTIMO. DANO MORAL CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Tendo o Município de Alagoa deixado de repassar à Caixa Econômica Federal, a tempo e modo, prestação relativa a empréstimo consignado em folha de pagamento, impõe-se o dever de indenizar pelos danos morais decorrentes da inserção indevida do nome da servidora pública nos cadastros de proteção ao crédito; 2. A responsabilidade do Município, no caso de omissão, é subjetiva; 3. A indenização por danos morais tem caráter dúplice, tanto punitivo-pedagógico para que o agente não volte a cometer igual e novo atentado, quanto compensatório em relação à vítima para minimizar o abalo experimentado; 4. Recurso parcialmente provido. (TIMG; APCV ; Sétima Câmara Cível; Rel. Des. Washington Ferreira; DJEMG 13/06/2012) CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DANO MORAL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO. Comprovação dos descontos efetuados no contracheque do devedor pelo município. Ausência de repasse dos valores à instituição financeira credora. Indevida inscrição nos cadastros de proteção ao crédito. Teoria do risco administrativo. Inteligência do art. 37, 6v, da CE Existência de nexo causal entre a ausência de repasse pelo município e o dano suportado pelo devedor. Dever de indenizar que se impõe. Manutenção da sentença. Conhecimento e improvimento do recurso precedente. (TJRN; AC ; João Câmara; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. João Rebouças; DJRN 10/05/2012; Pág. 61) Embora, o nome da apelada não tenha sido negativado nos serviços de proteção ao crédito, entendo que, estando devidamente comprovados os descontos efetuados no contracheque da servidora pelo município, a cobrança indevida de débito já quitado, caracteriza o dano moral, impondo-se o dever de indenizar. Neste norte, vejamos julgado desta Corte APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO COM CONSIGNAÇÃO EM FOLHA. APELAÇÃO Cá/EL NIQ /

6 VALOR DESCONTADO E NÃO REPASSADO À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ATO PASSÍVEL DE DANO MORAL. CARÁTER PEDAGÓGICO. FIXAÇÃO. MINORAÇÃO. PROVIMENTO PARCIAL DO APELO. - O constrangimento existente no caso em tela é patente, pois, a apelada saiu de uma situação confortável de inércia, dentro de sua normalidade, com todas as obrigações devidamente cumpridas, para uma atuação positiva, diante do ato ilícito praticado Município. O dano moral fixado, revela um caráter eminentemente pedagógico, com o fim específico de combater a impunidade, desestimular a reincidência, proteger a sociedade e compensar, ao menos minimamente, a vitima do ato ilícito. (TJPB - Acórdão do processo nq Órgão (2 CAMARA CIVEL) - Relator DES. MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE - j. Em 26/05/2011) Por tudo exposto, NEGO PROVIMENTO AO APELO, mantendo incólume a sentença vergastada, em plena harmonia com o parecer ministerial. É como voto. Presidiu o julgamento, realizado na Sessão Ordinária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, no dia 08 de outubro de 2012, conforme certidão de julgamento de f. 177, o Exmo. Des. Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, dele participando, além desta Relatora, o eminente Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. Presente à sessão, o Exmo. Sr. Dr. José Raimundo de Lima, Procurador de Justiça. Gabinete no TJ/PB em João Pessoa, 09 de outubro de ç r Desa. 1\14ria das Graças Morais Guedes Relatora APELAÇÃO CÍVEL N' /001 6

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