AGROECONÔMICA CONSULTORIA MEIO AMBIENTE E PECUÁRIA
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- Augusto Maranhão Brunelli
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1 PASTAGENS: INTENSIDADE DE MANEJO E ADEQUAÇÃO ESTRATÉGICA. O que mais impressiona na nossa pecuária de corte é a possibilidade de um uso bastante conveniente e de baixo custo das pastagens. O Brasil, um país de clima tropical e sub-tropical tem abundancia de terras cultiváveis e um clima amistoso a produção na maior parte do seu território. Porém, o inverno costuma modular e limitar a produção das pastagens e por conseqüência o ganho de peso vivo bovino/ha/ano. É interessante notar que mesmo em regiões com pluviosidade elevada, como o município de Manacapuru-AM, com média anual de chuvas superior a 3 mil mm/ano, a estiagem de inverno que se verifica em alguns anos, mesmo curta, trás impacto significativo na produtividade das pastagens em função da elevada evapotranspiração registrada nos veranicos da região norte. A sazonalidade das pastagens ainda é na pecuária de corte, um obstáculo à manutenção da produtividade anual de peso vivo, a qualidade do acabamento na engorda, da taxa de desmama e a competitividade econômica da fazenda de pecuária de corte. Este obstáculo se acentua nas fazendas que intensificam o uso das pastagens no verão sem um programa de suplementação nutricional de inverno adequado a este aumento da produtividade pasto/peso vivo realizado no chamado verão agrostológico caracterizado pelo período de chuvas. PRODUTIVIDADE E DISPONIBILIDADE DAS PASTAGENS NO MANEJO ROTACIONADO. As espécies de gramíneas disponíveis para pastejo no Brasil exibidas na tabela 1 têm um potencial produtivo elevado, porém este potencial não representa a quantidade de capim efetivamente consumida pelos bovinos na grande prática. Com qualidade nutricional da dieta crescente para as fases de alta exigência como a recria de novilhas, o pós-parto de vacas e a engorda de machos, o déficit de pastagem, quantitativo e qualitativo, requer uma adequação da estratégia de suplementação alimentar para a manutenção da performance da produtividade do peso vivo e do resultado do manejo de pasto. O projeto de produção da fazenda deve organizar o foco de curto e longo prazo, viabilizando decisões de qualidade. A ausência de um planejamento 1
2 agroeconômico consistente nos sistemas de produção na pecuária de corte esta refletido, em parte, nos baixíssimos níveis de ganho de peso vivo na pecuária brasileira estimado em 80 kg /ha/ano no Brasil. TABELA. 1 PRODUTIVIDADE DAS ESPÉCIES FORRAGEIRAS MAIS COMUNS NO BRASIL. FORRAGEM/ PARÂMETROS Produtividade (toneladas de ms/ha/ano) Produtividade (toneladas de mo/ha/ano) BRACHIARÃO DECUMBENS ANDROPÓGON TANZÂNIA TIFTON 10 a a 18 8 a a a a a a a a 50 ms=matéria seca mo=matéria original fonte: Fabricantes de Sementes; Pedreira e Tonato A eficiência de pastejo, parâmetro que começou a ser estudado com mais rigor na última década no Brasil, muito importante do ponto de vista conceitual, é trabalhosa para de ser medida a régua no campo. O parâmetro estima o percentual de capim colhido pelos bovinos sobre uma dada quantidade de capim disponível no piquete. Medir a produtividade de um hectare de pasto é bem mais impreciso do que 1 hectare de soja ou milho, por exemplo. A universalização deste parâmetro ainda procura soluções mais práticas. O controle visual da altura do capim e do seu estado geral acompanhado do controle de peso do rebanho, é uma boa alternativa para checar a eficiência do manejo de pasto e seus resultados no rebanho. A variabilidade do tipo e da qualidade nutricional dos tecidos vegetais encontrados num dossel forrageiro de gramíneas tropicais é fortemente relacionada à época do ano, umidade do solo e manejo utilizado. Numa mesma touceira, encontram-se tecidos de folhas jovens, mais palatáveis e nutritivos junto com hastes, tecidos velhos e mortos, de menor valor nutritivo. O consumo voluntário de forragem é diretamente relacionado à qualidade e a quantidade 2
3 de capim disponível no piquete. Quanto maior a qualidade e a disponibilidade de pasto, maior é o consumo voluntário. Em geral, o consumo voluntário dos bovinos vai de 1,5 a 3 % do seu peso vivo em matéria seca de forragem. Um consumo ao redor de 2 a 2,3% do peso vivo em pastejo pode ser considerado excelente para animais em engorda e crescimento. Quanto maior o consumo voluntário de forragem, maior é o potencial de desempenho animal. Estima-se que a eficiência de pastejo com manejo rotacionado no Brasil esteja ao de 30%. Isto significa que este percentual é colhido pelo bovino, o restante permanece no sistema solo/planta. O material não pastejado é reciclado e tem importante papel na reposição dos minerais do solo como N, P, K, Ca e Mg. As sobras de capim também viabilizam um maior vigor das rebrotas. No manejo contínuo, onde os animais permanecem por longo tempo no piquete a eficiência de pastejo perde sentido como parâmetro. Fazendas que conseguem atingir eficiência de pastejo superior a 40% se encontram num patamar excepcionalmente alto. Para chegar a estes níveis adotam o manejo de pasto necessariamente rotacionado, na maioria das vezes suportado por um programa de adubação anual de reposição e, em tese, por um programa de suplementação alimentar para suprir a deficiência das pastagens no inverno e viabilizar o controle do desfrute do rebanho. Como o manejo rotacionado de pasto permite um controle do acesso dos lotes de animais há uma maior controle da qualidade do capim consumido pelo rebanho e um crescimento mais homogêneo da rebrota no período de descanso e maior controle sobre as perdas de pasto. No manejo contínuo de pasto na maioria das vezes a taxa de lotação tende a ser mais baixa, o animal seleciona o capim de maior qualidade a ser ingerido em função da baixa competição por pasto entre os animais dentro do mesmo piquete. Nesses casos, o ganho de peso individual pode ser maior, porém associado a baixas taxas de lotação, resulta numa produção agregada de peso vivo/ha/ano geralmente baixa. Para o manejo rotacionado de pasto o número de piquetes depende do período de descanso e de pastejo que serão submetidos os pastos. Em projetos médios e grandes é recomendável período de pastejo não muito curto, 3
4 de 5 a 7 dias, visando á racionalização dos investimentos na distribuição de água, cercas, áreas de lazer ( mangas ) e maior flexibilidade de manejo. O período de descanso para as brachiarias esta ao redor de 30 dias e para o Tanzânia ao redor de 35 dias. Mostramos abaixo a fórmula para cálculo do número de piquetes para divisão das pastagens no manejo rotacionado. Número de piquetes = (período de descanso / período de ocupação) + 1 (Fonte: Balsalobre&Menezes, 2.004, FERTILIDADE DO SOLO: INVESTIMENTO E CUSTEIO. A correção do ph e adição de fósforo, elemento de fundamental importância para as forrageiras e os microorganismos que decompõem a matéria orgânica no solo, é recomendável na maioria dos casos na formação das pastagens com espécies de capim mais produtivas. A redução da atividade microbiológica esta diretamente relacionada ao manejo ineficiente de pasto e a níveis insuficientes de P no solo, gerando elevadas perdas da matéria orgânica por oxidação. As perdas de pastagem, que retornam ao solo em condições de baixos níveis de fósforo são incorporadas lentamente, reduzindo o nível de matéria orgânica humificada, importante fonte de reposição da fertilidade do solo, especialmente do N e da sua qualidade físico-química e microbiológica. Altas taxas de lotação exigem maior produtividade da pastagem, que devem ser sustentadas por adubações anuais de reposição, feitas em cobertura. É de fundamental importância, para um planejamento e gestão consistente, separar a adubação usada na forma ou reforma de pasto, adubação tipicamente de investimento, recomendável para diversos níveis produtividade das pastagens, das adubações anuais ou de reposição, que se caracterizam como custeio, financiadas como capital de giro, usadas para sustentar altas taxas de lotação das pastagens no verão. As pesquisas indicam uma relação de 50 a 60 kg/ua/ha/ano para reposição do nitrogênio em sistemas intensivos, principal elemento mineral a ser reposto em sistemas com altas taxas de lotação das pastagens no verão. As análises de fertilidade de solo não estimam o nível de nitrogênio no solo, e o teor de matéria orgânica é, indiretamente, um indicador da disponibilidade de nitrogênio no solo. 4
5 VARIAÇÃO DA TAXA DE LOTAÇÃO EM REBANHOS ESTABILIZADOS. O ajuste da taxa de lotação animal das pastagens, dentro do horizonte de um ano, portanto no curto prazo, é desafio decisivo na fazenda de pecuária de corte. A taxa de lotação tende a ser flutuante mesmo para um rebanho estabilizado. Em fazendas de ciclo completo, por exemplo, no período de desmama há um elevado aumento da carga animal nos patos de recria e engorda com a apartação dos lotes de bezerro na fazenda. O aumento instantâneo da redistribuição dos lotes de desmama acarreta um incremento próximo de 30% na taxa de lotação das pastagens para estes pastos. Para compensar esta flutuação da taxa de lotação, que muitas vezes coincide com o início do inverno, é preciso adotar estratégias para suplementação nutricional, em alguns casos com alto fornecimento de matéria seca diária, através de concentrado, volumoso ou ração completa, visando à sustentação da produtividade de peso vivo neste período adequada à produtividade realizada pelo rebanho no verão. Uma outra decisão possível é a venda imediata dos animais ou arrendamento de pasto. SIMULAÇÃO DA PRODUTIVIDADE E CONSUMO DE PASTO. A tabela 2 mostra uma simulação da oferta mínima de pastagem para uma desmama ir de 180 kg de peso vivo para 420 kg. Foi considerado um ganho de peso diário a pasto de 0,600kg/cabeça/dia no verão, 0,400 kg/cabeça/dia no outono e primavera e de 0,300 kg/cabeça/dia no inverno. Para o manejo rotacionado, estimou-se uma eficiência de pastejo de 30% e um consumo proporcional de forragem estável de 2,5% do peso vivo corporal. Para um rebanho com taxa de lotação de uma cabeça/ha a produtividade das pastagens deve ser de 18 toneladas, da desmama até os 15 meses, primeiro ano da simulação. No segundo ano, dos 16 aos 27 meses, para o mesmo rebanho, a oferta de pastagem deve ser de 31 toneladas. Se houver um aumento do rebanho e portanto da taxa de lotação, para 2 e 3 cabeças/ha por exemplo, a produtividade das pastagens, com este cenário deveria ser de 36 e 61 e 54 e 92 toneladas/ha/ano de capim respectivamente. Nos trabalhos científicos, a taxa de lotação costuma ser medida em Unidade 5
6 Animal/ha. Um UA equivale ao pastejo exercido por uma vaca de 450 kg de peso vivo com bezerro ao pé. Na simulação da tabela 2 a produtividade mínima é de 87 kg de peso vivo a máxima é de 918 kg/ha/ano. TABELA 2: SIMULAÇÃO DE OFERTA E CONSUMO DE FORRAGEM E GANHO DE PESO DE VIVO. PERIODO Ganho de Oferta de Produção de peso no pasto no pastagem para período/ha período atingir o consumo animal (kg/ha/ano) (tonelada de a 30% de para 1,2 e 3 MS/ha/ano) eficiência de cabeças/ha pastejo (tonelada de matéria original/ha/ano) 8 a 15 meses ,4 2,7 4,1 18,1 36,2 54,3 1 o ano* 16 a 27 meses ,3 4,6 6,9 30,8 61,2 92,3 2 o ano * No primeiro ano o pastejo é de 7 meses após a desmama. Outro aspecto muito importante a ser considerado é a sazonalidade das pastagens comentada inicialmente. Praticamente 80% da produtividade das pastagens se expressam no chamado verão agrostológico, que é o período de chuvas, com pico de produção nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. Isto exige, portanto, estratégias suplementares de inverno adequadas ao tamanho do rebanho a ser suportado no inverno e seu desempenho esperado para o ano todo. Programas agressivos de pastejo no verão, sem programas adequados de suplementação alimentar no inverno, que auxiliam a estabilidade da produção anual de peso vivo, aumentam o risco de mercado e de produtividade do sistema de produção da fazenda, característica também presente nos sistemas mais tradicionais, com a diferença de que um sistema 6
7 tradicional registra um risco financeiro menor por demandar menos capital de giro. ESTRATÉGIAS DE SUPLEMENTAÇÃO NO INVERNO. Costumamos definir 3 tipos de risco na pecuária: o risco de produção, o risco de produtividade e o risco de mercado. O risco de produção está associado a uma intempérie ou acidente climático/zootécnico que comprometa toda produção de um período ou parte relevante dela. Isto é mais raro na pecuária de corte, e normalmente está associado a uma seca prolongada, uma geada ou uma endemia pasto/animal inesperada. O risco de produtividade está ligado ao resultado obtido perante o resultado planejado. Um ganho de peso de 0,700 kg/cabe/dia a pasto pode ser considerado excepcional isoladamente. Porém se a meta esperada é de 0,800 a produtividade planejada não foi alcançada, a meta proposta não foi atingida e o risco de produtividade não foi controlado, comprometendo a relação custo receita do sistema de produção adotado na fazenda. O risco de mercado está diretamente ligado ao preço de venda do bezerro ou do boi gordo perante o custo de produção do kilograma de peso vivo. Pode ser gerenciado através de um eficiente controle do custo de produção do peso vivo, e noutra ponta, através de contratos de preços futuros da BM&F ou parcerias de fornecimento. Dos 3 riscos acima, o risco de produtividade é o risco mais importante a ser administrado por uma gestão eficaz que tenha um planejamento de qualidade. Controlar o custo e estabelecer metas de produtividade é uma das rotinas da gestão em qualquer tipo de negócio. Uma estratégia de suplementação alimentar no inverno contribui para a redução do risco de produtividade de peso vivo anual, ajudando a sustentação da produção de peso vivo no inverno melhorando a relação desfrute do estoque de animais/fluxo de caixa da fazenda. A tabela 3 mostra as estratégias de suplementação alimentar no inverno mais comuns e sua aplicação de acordo com o desempenho e a categoria animal esperada no inverno. A escolha de uma delas depende dos preços relativos produto/insumo a cada ano, das metas estabelecidas para o rebanho e da condição de fluxo de caixa da fazenda. 7
8 TABELA 3: SUPLEMENTAÇAO ALIMENTAR NO INVERNO. ESTRATÉGIA DE SUPLEMENTAÇÃO CATEGORIA ANIMAL OBJETIVOS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS NO INVERNO Sal mineral +Uréia Todas Manutenção de peso Exige macega e não reduz presão de pastejo Sal Proteinado Animais em crescimento Ganho moderado Exige macega, 10 cm linear de cocho/cabeça e não reduz presão de pastejo Concentrado (quantidade moderada) Animais em crescimento de maior valor agregado (tourinhos e novilhas) Ganho de peso médio Auxilia na redução da presão de pastejo pelo efeito da substituição de consumo concentrado/pasto, exige 15 cm linear de cocho/cabeça. Concentrado (alta quantidade/semiconfinamento) Engorda de machos e fêmeas a pasto. Ganho de peso alto Reduz a pressão de pastejo, exige 30 cm linear de cocho/cabeça e boa macega de pasto. Volumoso (cana, capineira,silagens e feno) Vacas Manutenção de peso. Reduz bastante a pressão de pastejo, exige 40 cm linear de cocho/cabeça. Confinamento Engorda de macho e fêmeas Ganho de peso alto, excelente rendimento de carcaça. Reduz a pressão de pastejo a zero" ; exige investimento. 8
9 CONCLUSÕES As pastagens são à base da produção na nossa pecuária, porém sistemas de produção exclusivamente pastoris têm menor flexibilidade e competitividade econômica. O uso de modernas técnicas de produção como o pastejo rotacionado e adubações de reposição, com elevada expressão dos resultados de ganho de peso no verão, exige uma adequação estratégica da suplementação alimentar no inverno, harmonizando a produtividade das pastagens e do peso vivo anual do rebanho. Como o mercado da pecuária de corte tem tendências de preço de curto e longo prazo bastante típico, alterações da tecnologia de produção da fazenda devem ser planejadas também com foco no longo prazo e calibrado ano a ano de acordo com os preços relativos dos concentrados, do bezerro e do boi gordo, viabilizando uma gestão eficaz dos riscos de produtividade e de mercado que se abrem na modernização do sistema de produção nas fazendas de pecuária de corte. Ari José Fernandes Lacôrte Engenheiro Agrônomo, Mestres em Agronomia Consultores Sênior Fones (19)
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