Uma leitura sobre a propriedade do conhecimento no software livre e copyleft a partir de conceitos da filosofia grega.
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- Micaela Farinha Avelar
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1 XXVII Cngres de la Asciación Latinamericana de Scilgía. VIII Jrnadas de Scilgía de la Universidad de Buens Aires. Asciación Latinamericana de Scilgía, Buens Aires, Uma leitura sbre a prpriedade d cnheciment n sftware livre e cpyleft a partir de cnceits da filsfia grega. Alves, Daniel Figueiras. Cita: Alves, Daniel Figueiras (2009). Uma leitura sbre a prpriedade d cnheciment n sftware livre e cpyleft a partir de cnceits da filsfia grega. XXVII Cngres de la Asciación Latinamericana de Scilgía. VIII Jrnadas de Scilgía de la Universidad de Buens Aires. Asciación Latinamericana de Scilgía, Buens Aires. Dirección estable: Acta Académica es un pryect académic sin fines de lucr enmarcad en la iniciativa de acces abiert. Acta Académica fue cread para facilitar a investigadres de td el mund el cmpartir su prducción académica. Para crear un perfil gratuitamente acceder a trs trabajs visite:
2 Uma leitura sbre a prpriedade d cnheciment n sftware livre e cpyleft a partir de cnceits da filsfia grega Alves, Daniel Figueiras PAIDÉIA-Unicamp/Capes danielfigalves@gmail.cm Intrduçã Prque cnheciment deve ser livre? Este artig parte de uma retmada filsófica sbre a questã d cnheciment em seus mldes clássics a qual é uma das matrizes para pensament cntemprâne sbre as discussões acerca d cnheciment livre, em especial relativas a sftware livre e as licenças cpyleft. A discussã sbre a prpriedade d cnheciment ganha crp na medida em que se desenvlvem e aperfeiçam as técnicas de reprduçã em larga escala, cnferind ppularidade e ampliaçã d cnheciment e da infrmaçã. 1. O cnheciment clássic Abbagnan em seu dicinári de filsfia (Cf; 1998 p.174) define cnheciment enquant técnica para a verificaçã de um bjet qualquer, u a dispnibilidade u psse de uma técnica semelhante. Pr técnica de verificaçã deve-se entender qualquer prcediment que pssibilite a descriçã, cálcul u a previsã cntrlável de um bjet; e pr bjet deve-se entender qualquer entidade, fat, cisa, realidade u prpriedade. Nã bstante, a própria nçã de cnheciment na Grécia antiga transcendia à cndiçã de mecanism de investigaçã, situand-se na própria relaçã entre a natureza (physis) e hmem. O cnheciment pr mei d mit - transmitid ralmente a lng das inúmeras gerações sb a frma de narrativa pética cnsistiu n mais efetiv mdel educativ da antiguidade. Ademais, a própria cndiçã de existência deste cnheciment, assim cnfigurad, esteve atrelada à liberdade que permitia na cndiçã de dmíni públic permear imaginári ppular da épca e imprimir nele seus valres. A cncepçã de cnheciment ferecida pr Platã, mediada pela razã filsófica, se pauta pela nçã de cnhecer, u seja, pr uma faculdade da alma u psique, utilizada para prcess de aprendizagem. Se é e está na alma, há relaçã entre ser e cnhecer. Esta faculdade é um prcess verificadr de um bjet qualquer cm qual me defrnt. Para platnism, tal relaçã entre quem cnhece e bjet é de identidade u semelhança, dependend d grau de cnheciment pssível cm grau de ser: há cnheciments que sã certs e indubitáveis, que mais se identificam cm ser e sã s mais cgnscíveis; que é incgnscível se assemelha a nã-ser. Uma verdade é descberta e nã criada, pis já existe n mund das idéias. Lg, cnheciment é pssível através da teria da reminiscência, vist que a alma já cntemplu mund das idéias. Quand cnheç, estabeleç uma relaçã de identidade cm bjet, ist é, minha ciência, meu cnheciment verdadeir expressam ser de alg e pr cnseqüência meu ser, que é capaz de - 1 -
3 cnhecer aquil que é. O mei para se chegar a tal cnheciment é a dialética. Pela dialética, discípul tira d fund da sua alma, cnduzid retamente pel mestre, (cnfrme Ménn) tda a ciência. Neste sentid, cnheciment está n hmem cm uma faculdade da alma. É própri d hmem cnhecer, e, pr iss, tem relações cm seu ser. Para Platã tdas as cisas que existem estã divididas em duas rdens: as cisas sensíveis, u seja, que pdem ser captadas pels sentids e supra-sensíveis u inteligíveis, as quais só pdem ser alcançadas pela razã sb a frma de Idéias. Neste sentid, as Idéias nã sã simples cnceits u representações puramente mentais, mas representam entidades, substâncias. As Idéias, em suma, nã sã simples pensaments, mas aquil que pensament pensa quand libert d sensível: cnstituem verdadeir ser, ser pr excelência (...) representam mdel permanente de cada cisa (cm cada cisa deve ser) (Cf; Reale: 1990, p.137). 2. A cncepçã d cnheciment n sftware livre Sftware é cnstituíd, basicamente, pr infrmações e pel métd cm a qual elas se relacinam entre elas mesmas e cm exterir, u ainda, md cm estas infrmações estã dispstas e rganizadas, pr mei de uma linguagem específica. Nenhum utr bjet em cndiçã instrumental - pssui tamanha flexibilidade, e reprdutibilidade quant sftware (V.V.A.A. 2006, p. 21). Segund Stallman (2004, p. 72) a diferença fundamental estabelecida entre sftware livre e s demais sftwares situam-se em seus aspects legais a questã das licenças: cntrat jurídic entre autr (prprietári ds direits) e s usuáris, este cntrat estipula as cndições de us, redistribuiçã, mdificaçã. O tip de licença jurídica tds s direits reservads que regula sftware prprietári impede a cmpreensã, desenvlviment e divulgaçã de utras frmas de prgramas derivads, pis nã permite acess a seu códig fnte. Nesse sentid verifica-se uma barreira legal que impssibilita a reprduçã e circulaçã das infrmações e, assim, nã há liberdade para a prmçã de nvs cnheciments. O sftware livre é uma questã de liberdade, nã de preç. Assim, Stallman (Idem, p.45) delibera acerca das pretensões plíticas que bjetivam a livre circulaçã d cnheciment. A cncessã da liberdade a usuári é garantida e resguardada pela mesma matriz de licença jurídica que regula s direits d sftware prprietári, entretant, atuand de frma psta. As licenças estabelecidas para sftware livre cncedem a qualquer usuári certas permissões explícitas, quais sejam, pdem redistribuir u nã prgrama, mas se fazem devem cumprir tais licenças. Smente s autres pdem especificá-las, de acrd cm s direits de prpriedade intelectual, nã se trata assim de transferência de prpriedade, mas apenas direit a us e em alguns cass distribuiçã. Sã basicamente quatr as quatr liberdades elementares para sftware livre, send que, para exercíci das liberdades 1 e 3 é impreterível acess a códig fnte d prgrama: Liberdade 0: a liberdade de executar prgrama sem restrições e quaisquer fins. Liberdade 1: a liberdade de estudá-l e adaptá-l às necessidades particulares. Liberdade 2: a liberdade de cpiar e distribuí-l. Liberdade 3: a liberdade de melhrá-l e publicar tais melhrias. Cpyleft é um mdel de licença pública que visa trnar pssível a prteçã legal para cumpriment das liberdades de us e distribuiçã, abrange desde questões relativas a us de sftware livre, manuais, livrs de text u utrs dcuments, que assegura a qualquer a liberdade de cópia e - 2 -
4 distribuiçã, cm u sem mdificações, cm fins cmerciais u nã (Cf; Idem, p ). Estas licenças sb rótul de cpyleft permitem a distribuiçã d cnteúd intelectual na medida em que se garante que as liberdades e cndições para seu us, utrgadas pel autr sejam seguidas sb as mesmas cndições riginais. (V.V.A.A. 2006, p. 25) 3. As liberdades e cndições para cnheciment livre A nçã de direits reservads teve iníci cm a invençã e desenvlviment ds mecanisms e técnicas que permitiram u facilitaram prcess de reprdutibilidade material. As questões acerca da prpriedade intelectual só ganharam espaç e tmaram crp a partir d mment em que s cidadãs passaram a deter em suas mãs a pssibilidade de reprduçã das bras intelectuais. Antes tais ações nã eram tidas pr rub u aprpriaçã indevida de prpriedade alheia. A necessidade de determinar direits sbre as bras intelectuais nasceu d element técnica e cm intuit de resguardar pder avariads pr mei das desvantagens cmerciais e d descntrle quant a exclusividade de reprduçã material. A ppularizaçã da digitalizaçã permitiu a manutençã na cópia da mesma qualidade de sua matriz. A prpriedade intelectual trnu-se vlátil e escapa pr entre s deds daqueles que ntem a cntrlavam. Para frear esta situaçã as leis fingem de sólid que é gass e cnvertem em prpriedade privada alg que nã pdem mais pssuir. A ficçã criada em trn da prpriedade intelectual prmvida pel pânic gerad pela perda d cntrle técnic pr mei da demcratizaçã ds mesms e afã desesperad em estabelecer patentes cm frma preventiva para resguardar dmíni e cntrle pela frça e rigr da lei. (Cf; Buen. 2005, p ) As idéias u cnheciment em si mesm, para Platã, estã situads num univers integral, u seja, pertencem a natureza e estã dispsts nela da mesma frma que s bjets d mund a plen alcance de tds s indivídus. A regulamentaçã da prpriedade d cnheciment em cnfrmidade cm as licenças cpyleft, nã cmpartilha exatamente cm a mesma cncepçã filsófica platônica de acesse; tdavia, permite a cnfrmaçã mais aberta sbre us d cnheciment sbre bases livres e cmunitárias. A necessidade de se estabelecer tais bases jurídicas tem pr mtivaçã e intuit fazer valer, em âmbit de lei, a permissã de us e distribuiçã, ns mesms mldes d cpyright. As licenças cpyleft ferecem uma liberdade sintética e artificial, uma espécie de habeas crpus a cnheciment. A liberdade d cnheciment está cndicinada às licenças burcráticas que visam efeit cntrári. O mdel de cnheciment abert defendid pela ética hacker assemelha-se, segund Pekka Himanen (Cf; 2001, p. 61), à quil que própri Platã cncebeu em sua Academia nde s estudantes nã eram cnsiderads purs receptres d cnheciment transmitid, mas senã tratads cm cmpanheirs na aprendizagem. N âmbit da Academia nde s discípuls de Platã eram estimulads a desenvlver argumentaçã e pensament livre seria alg impensável recrrer-se a direit institucinal para resguardar us livre d cnheciment. As leis, que naquela épca em sua mairia pautavam-se pel cstume e sacralidade, pderiam cibir seus cidadãs quant a us da palavra u puni-ls cnfrme as regras; n entant assegurar a prpriedade d cnheciment seria alg extern e tirânic. A própria crítica de Platã a us pragmátic d cnheciment pels sfistas é cabível, na medida em que se aprxima da mesma crítica sbre mdel de cncentraçã e aprpriaçã d cnheciment prmvid pelas rígidas leis de prpriedade intelectual dispstas pela legislaçã cpyright. Para Platã cnheciment é cnheciment daquil que já existe e sempre existiu filósf nã admite autria mas precniza que esfrç de acesse é uma categria da alma d sujeit. Neste sentid existe um víncul entre sujeit e cnheciment universal u ainda uma - 3 -
5 pssibilidade de desvelament cletiv d cnheciment aprxima-se da defesa d cnheciment participativ, cletiv e de dmíni públic n cpyleft. Segund esta plítica, cnheciment deve ser dispst de frma aberta e flexível de md a cntribuir para a descberta de utras frmas de cnheciment. Cnclusã O cnheciment deve ser livre, pis, segund justificativa filsófica platônica, é parte de um rganism em que fazem parte dele tda a humanidade nã há dissciaçã entre s bjets e s seres que s pensam, bem cm nã há autria, mas, sim, acesse à ele. Para Platã cnheciment é cnheciment d que já existe, send transmitid a lng da humanidade através de uma subjetividade universal que, vedada sua fnte de cnheciment fica impssibilitada a sua existência. Ademais, se cnheciment é: sempre acerca daquil que já existe e sempre existiu, há nist uma cndiçã filsófica e mral em prl de sua difusã e distribuiçã. Trata-se prtant de uma situaçã de necessidade, é necessári que cnheciment seja livre para que adquira utrs frmats e se desenvlva em utras relações, pst que smente em âmbit cletiv e permanente a humanidade pde ser beneficiada. A cncepçã de cnheciment livre n cpyleft se alia a esta cncepçã cm ressalvas quant à autria na medida em que prpõe a cnstruçã cletiva d cnheciment basead num esfrç cletiv anterir. O cnheciment está na humanidade e na cntribuiçã dela para seu acréscim e pr iss, a defesa de sua circulaçã livre é cndiçã essencial para que a humanidade tenha assegurada as cndições de sua sbrevivência e emancipaçã similarmente àquil que cnteúd mític e pétic representu para a educaçã da Grécia filsófica, berç da razã cidental. Bibligrafia ABBAGNANO, N. (1998) Dicinári de filsfia. Traduçã Alfred Bsi, 2 ª ed. Sã Paul: Martins Fntes. BUENO, D. B. (2005) Cpia este libr. Madrid: Dmen SRL. HIMANEN, P. (2002) La ética del hacker y el espíritu de la era de la infrmación. Buens Aires: Editrial Planeta. REALE, G. ANTISERI, D. (1990) História da filsfia: antiguidade e idade média. Sã Paul: Paulus. STLLMAN, R. (2004) Sftware libre para una sciedad libre. Madrid: Traficantes de sueñs. VV.AA. (2006) Cpyleft: manual de us. Madrid: Traficantes de sueñs
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