Manejo pré -abate de suínos. e seus efeitos na qualidade
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- Eliana Rebeca da Silva Galvão
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1 Manejo Manejo pré -abate de suínos Manejo pré -abate e seus efeitos na qualidade de suínos e seus efeitos na qualidade da carcaça da carcaça e carne e carne Expedito Tadeu Facco Silveira Centro de Tecnologia de Carnes tadeu.s@uol.com.br Introdução O aumento expressivo no volume de carne produzida, 101,0 milhões de toneladas (suínos), 94,6 milhões de toneladas (aves), e 65,4 milhões de toneladas (bovinos) 15 combinados com o compromisso de atingir o mercado consumidor num curto período de tempo, modificaram marcadamente a tecnologia empregada no processo de abate e o gerenciamento da qualidade e quantidade do produto industrializado. Determinadas operações do processo de abate (coleta dos animais para a área de insensibilização; insensibilização elétrica e gasosa; divisão longitudinal da carcaça e resfriamento rápido das mesmas); equipamentos para cortes primários; sistemas de embalagem e congelamento foram automatizados objetivando viabilizar altas capacidades produtivas e maior eficiência dessas operações. Mesmo com a automação presente, a indústria da carne é responsável por um grande número de empregos diretos e indiretos. Operacionalmente, o contínuo fornecimento de suínos para atender altas capacidades de abate por hora é fundamental para maximizar a mão de obra e os equipamentos empregados. Este trabalho requer um planejamento cuidadoso, coordenação e execução de operações pré-abate que seguem rigorosamente horários préestabelecidos. Os procedimentos de manejo pré-abate englobam diferentes fatores estressantes para os animais, os quais são considerados uns dos mais importantes influenciadores nos aspectos qualitativos da carne 11. Entre as etapas componentes do manejo no transporte, o embarque/ desembarque dos animais, é considerado o momento de maior estresse, devido à interação do homem com o suíno, mudanças de ambiente e as dificuldades dos animais de deslocar-se sobre rampas, que na maioria das vezes, se encontram com ângulo de inclinação além do permitido (20º). Nesse momento predominam medo, esforço e maus-tratos com a utilização excessiva do bastão elétrico 16. Os aspectos econômicos envolvidos no manejo pré-abate já foram avaliados em alguns paises. No Canadá os prejuízos decorrentes do manejo inadequado, corresponderam a perdas da ordem de 1.500t 20 ; nos EUA os defeitos com carne PSE geraram perdas de US$ 0.34 por animal 19. Na Europa o transporte representa 0,1-1% da mortalidade dos suínos 32. Suínos abatidos na Espanha e EUA apresentam 1-4% escoriações severas, devido ao sistema de transporte, método de movimentação e insensibilização inadequada 18, 44. Na Austrália perde-se aproximadamente US$ 20 milhões / ano, com o manejo inadequado de suínos (WHAN,1993). Diante do exposto, o presente trabalho objetiva rever os principais aspectos envolvidos no manejo do suíno durante o preparo e transporte até o abatedouro e suas interações com a qualidade da carcaça e carne. Programação de abate O peso de abate é definido pelo mercado consumidor e torna-se complexo para a indústria em determinadas situações quando diversas classes de peso são requeridas. Para atender a esse tipo de demanda as empresas utilizam dados de produção na granja (ganho de peso médio diário em função da linhagem, sexo, alimentação e programas de manejo) e periodicamente executam amostragens aleatórias para conferir esses pesos. Esse procedimento auxilia na estimativa do peso final de abate requerido pelo mercado com uma margem de segurança. Após a definição do peso de abate e identificação das granjas fornecedoras estabelece-se uma programação para efetuar a coleta dos suínos. Recomenda-se lavar os animais na granja para melhorar a higiene e qualidade microbiológica bem como proceder à tatuagem do lote de suínos objetivando minimizar 24 Suínos & Cia Ano VI - nº 34/2010
2 o efeito de estresse dessa operação normalmente realizada durante o desembarque dos animais no abatedouro 37. A programação de abate é influenciada por alguns fatores tais como tipo de contrato estabelecido com os fornecedores (independentes, integrados, cooperados) e número de pessoas envolvidas no processo de coleta na propriedade. Manejo no transporte dos suínos O abate de suíno é usualmente precedido pelo transporte o qual normalmente está associado a um esforço físico, que pode prejudicar o bem estar animal. Como consequência, danificações na carcaça e alterações nas condições do tecido muscular podem também ocorrer. Investigações científicas realizadas nas décadas de 70 e 80 26, 38 procuraram analisar o tipo de estresse decorrente do transporte a fim de desenvolver soluções para evitá-lo. Os princípios mais importantes requeridos para reduzir o estresse no transporte são hoje conhecidos e estão sendo implementados na prática, particularmente na construção de veículos. A preparação para o transporte inicia-se fixando a data da coleta. Normalmente os animais são submetidos ao jejum na granja no galpão da crescimento/terminação e este deve ser projetado em local de fácil acesso ao caminhão para proceder à operação de embarque. Recomenda-se que o transporte seja efetuado à noite ou nas primeiras horas da manhã quando o clima não estiver quente ou abafado. Jejum alimentar É classificado como o primeiro ponto crítico de controle, pois a sua pratica minimiza a taxa de mortalidade durante o transporte; melhora a segurança alimentar (diminui os riscos de extravasamento do conteúdo intestinal durante a evisceração e disseminação de bactérias patogênicas através das fezes) e ambiental (menor volume de dejetos no abatedouro). O tempo de jejum influencia as outras condições do estresse do transporte e pode ser responsável por um aumento no total de perdas. Na pratica recomenda-se um tempo de jejum total entre 16 a 24 horas 14 para esvaziar o conteúdo gástrico e minimizar os riscos de contaminação fecal. No entanto, tem sido reportada uma ampla variação no peso do conteúdo estomacal, independentemente do tempo de jejum aplicado 39. Assim o tempo de jejum total sugerido pela França (24 horas 09 ), Reino Unido (12 a 18 horas 42 ) e Espanha (22 a 28 horas 30 ) teve como referencia um conteúdo estomacal menor que 1,4kg. As perdas de peso durante o jejum variam entre 0,12 a 0,20 % / hora e são inicialmente causadas pela excreção de fezes e urina. As perdas de peso na carcaça concentram-se no período entre 9 a 18 horas após o ultimo arraçoamento e, dependendo do fator estressante adicional, essas perdas variam entre 0,06 a 0,14%/hora durante o período de 48 horas de jejum. A reserva do glicogênio muscular é reduzida em 10% do nível considerado normal para o jejum correspondente a 21 horas. Dessa forma, WARRISS & BEVIS (1987) recomendam para jornadas que excedam este período a inclusão da alimentação e de um período de descanso antes de proceder ao abate 21. Os trabalhos realizados por BEATTIE et al., (1999) e BROWN et al., (1999) aplicando jejum total até 24 horas em suínos mostraram que as perdas de peso corporal e de carcaça variaram entre 5 a 6% e 1 a 2%, respectivamente, porém não foram significativas. No entanto, alimentar os animais até antes do transporte não é econômico, pois o estresse digestivo normalmente leva o animal à morte, a ração administrada nas últimas 10 horas não é convertida em ganho de carcaça e o estresse do transporte combinado com estomago cheio promove a proliferação de espécies de salmonelas no intestino e sua excreção no ambiente, comprometendo a segurança alimentar. O jejum alimentar combinado com outros fatores estressores aplicados durante o manejo pré-abate afetam negativamente a qualidade da carne suína. Suínos que não foram submetidos ao jejum e abatidos imediatamente após a chegada no abatedouro apresentaram um ph inicial muito baixo no lombo, aumentando a incidência de carne PSE (MARIBO, 1994). Os experimentos realizados por EIKELENBOOM et al. (1989) indicaram que jejum total correspondente a 24 horas reduz a incidência de PSE e melhora a cor, maciez e retenção de água na carne. Estes autores recomendaram períodos de jejum entre 16 e 24 horas objetivando minimizar a diminuição no rendimento da carcaça. Jejum prolongado combinado com manejo pré-abate inadequado, reduziu o nível de carboidrato e aumentou a incidência de carne DFD (escura, firme e ressecada na superfície), especialmente nos músculos que sustentam a postura e o peso do animal (Adductor e Semispinalis capitis). Constatou-se neste trabalho uma redução na incidência de carne PSE e no rendimento de carcaça 12. Ano VI - nº 34/2010 Suínos & Cia 25
3 Figura 1. Embarque dos animais em carroceria de piso móvel. Embarque As situações de máximo estresse correspondem ao período de embarque e desembarque dos animais, devido à interação homem animal e da mudança de ambiente. Quando o suíno é conduzido fora das instalações criatórias, seu batimento cardíaco pode dobrar em relação ao período de descanso (80 batimentos/minuto). Quando as condições de condução do animal até o veículo de transporte e o subsequente embarque são inadequados, um acréscimo adicional no batimento cardíaco pode ocorrer (250 batimentos/minuto). Assim que os animais estão acomodados no interior da carroceria o batimento cardíaco cai consideravelmente (150 batimentos/ minuto) e continua cair ligeiramente durante o transporte. Mesmo após 100 minutos do início do transporte, o batimento cardíaco permanece entre 20 a 50 batimentos/minuto acima do valor de descanso 36. Preferencialmente, a condução dos animais para o veículo de transporte deve ser realizada através de corredores limitados lateralmente por paredes sólidas de 80 cm de altura. As mudanças de direção devem ser arqueadas ou formando ângulos maiores que 90. A largura desse corredor deve permitir aos animais caminharem ou correrem lado a lado sem comprimirem-se excessivamente. O piso deve ser de material antiderrapante em toda sua extensão. JONGMAN et al., (2000) demonstraram que a utilização de bastão elétrico na condução de suínos é mais aversiva do que inalar 90% de CO 2. Assim, o uso de bastão elétrico ou varas deve seve ser evitado devido ao seu efeito prejudicial sobre o bem estar (frequência cardíaca), equimoses na carcaça e qualidade da carne (salpicamento e hematomas). Recomenda-se, portanto, conduzir grupos pequenos compostos de 3 a 5 animais com o auxilio de uma prancha de alumínio ou plástico resistente. Os animais embarcam com maior facilidade no veículo de transporte quando rampa de acesso e carroceria está no mesmo nível. Isto pode ser conseguido através de carrocerias dotadas de piso móvel (Figura 1). No caso de ser utilizado rampas para o embarque dos animais, em carroceria de piso fixo (Figura 2) o ângulo de inclinação entre a plataforma de embarque e a carroceria não deve exceder 20 (15 é considerado o melhor). O piso deve ser antiderrapante e possuir faixas de 2 cm de altura, Figura 2. Embarque dos suínos e carroceria de piso fixo. fixadas a cada 20 cm de distância. As rampas ou plataformas devem possuir proteção lateral (cerca) com altura mínima equivalente a 0,90cm. WARRISS (1994) constatou que a inclinação de 20, da rampa utilizada para o embarque e desembarque de suínos, mostrou-se adequada para movimentar os animais durante essas operações. As soluções apresentadas para minimizar ou eliminar o esforço físico e o estresse imposto aos animais nessas situações variam entrem os países 05. Em Portugal, as grandes granjas possuem plataformas de embarque que se ajustam à altura do veículo de transporte. O desembarque é efetuado através de elevador (gôndola hidráulica) localizado na plataforma de recepção do abatedouro. Na Itália, o embarque é realizado através de uma rampa portátil (inclinação de 15 ) e o desembarque nas instalações de abate por meio de elevador. Na Bélgica e Holanda as granjas possuem um elevador junto à plataforma de embarque para executar a operação e utiliza rampas para o desembarque dos animais. Os veículos de transporte dinamarqueses possuem um elevador localizado na parte traseira da carroceria, que é utilizado no embarque dos animais; rampas ajustáveis com a altura da carroceria são empregadas durante o desembarque no abatedouro. Os sistemas descritos anteriormente contribuem para o bem estar animal, uma vez que resulta, em reduções no batimento cardíaco e temperatura 26 Suínos & Cia Ano VI - nº 34/2010
4 corporal, beneficiando positivamente a qualidade da carne. Após o embarque é recomendável que os animais sejam molhados com o auxilio de aspersores de água localizados na carroceria do caminhão (Figura 3). Este procedimento ajuda reduzir a temperatura corporal imposta pela atividade física que os animais foram submetidos no corredor de condução do galpão de terminação bem como pelo estresse imposto pelo novo ambiente do caminhão. O período de 30 minutos com aspersão após o embarque é sugerido para que os animais fiquem menos agitados, segundo observações realizadas por SILVEIRA (2006). Misturar animais de grupos sociais diferentes na mesma baia induz altos níveis de agressão em função do estabelecimento de uma nova hierarquia social. Interações agressivas dos animais resultam maiores pontuações de escoriações na pele, especialmente em machos bem como defeitos na qualidade da carne 44. Se a mistura for inevitável, este autor recomenda que a mesma seja realizada no embarque do que mais tarde, pois os animais brigam menos no caminhão em movimento e tem mais tempo para descansar depois da briga. A manutenção e a adequação das instalações devem ser consideradas no embarque. Especial atenção deve ser dada ao longo dos corredores de condução dos animais na granja criatória. Os seguintes fatores são importantes: falta de portas nas unidades de terminação; iluminação inadequada; falta de laterais que permitam aos animais olharem para fora e, portanto serem advertidos; mudanças no ângulo reto ou mesmo agudo na direção que faz os animais perderem o contato visual ou corporal; piso demasiadamente liso ou feito de vários materiais. Figura 3. Aspersão de água após o embarque na granja. As falhas de manejo executadas pela mão de obra são oriundas de diversos fatores: frequentemente trabalham sobre pressão; pode haver falta de conhecimento etológico e experiência prática. Portanto, torna-se um desafio adotar um manejo para conduzir os animais, aproveitando a vantagem de sua curiosidade natural (comportamento exploratório) e do seu instinto de rebanho. Os funcionários encarregados dessa tarefa, não encontrando alternativa, tomam medidas coercitivas devido a falta de conhecimento aplicando manejo inadequado como bater nas partes sensíveis do corpo do animal ou aplicar choques através de bastões elétricos. O choque elétrico é doloroso para o animal e podem resultar reações de pânico e afetar negativamente a qualidade da carne. Veículo de transporte O tipo de veículo, piso e condições de ventilação desempenha um importante papel no bem estar animal. Os veículos maiores (carroceria articulada) minimizam os efeitos traumatizantes do transporte (impactos e/ou deslocamento dos animais para frente e para trás). Carrocerias compartimentadas (Figura 4) têm seu espaço interno definido fisicamente, oferecendo maior conforto aos animais, pois limita o seu número e diminui o estresse social (ao evitar a mistura de rebanhos diferentes). A localização dos animais nos diferentes compartimentos da carroceria tem efeitos no bem estar animal e qualidade da carne. BARTON GADE et al., (1996) constataram que suínos transportados no piso inferior apresentaram maior temperatura corporal e maiores níveis sanguíneos de cortisol. Animais localizados nos compartimentos da frente e de trás tiveram pior qualidade de carne (DFD ou PSE) e maiores níveis de lactato em comparação aos que estavam posicionados nos compartimentos centrais. Estes autores reportaram que os suínos transportados no piso inferior apresentaram uma maior incidência de carne PSE especialmente se a baia for mal ventilada, ou uma tendência à carne DFD, devido aos efeitos do estresse físico causado pela necessidade de manter-se em pé para Ano VI - nº 34/2010 Suínos & Cia 27
5 suportar o nível mais alto de vibrações. CHRISTENSEN e BARTON- GADE, (1996) reportaram que quando a temperatura exterior varia entre 12 a 16 C a temperatura no piso superior é 6 C mais alta do que o inferior. Como a zona de termoneutralidade dos suínos está entre 26 a 31 C, a temperatura do ar não deve exceder 30 C 33. O piso da carroceria está diretamente relacionado com o equilíbrio do animal e consequentemente seu conforto. O revestimento emborrachado (10 mm de espessura) com superfície de botões (1,5 mm de altura) diminui a possibilidade de o animal escorregar durante o movimento do veículo e reduz o barulho durante o embarque e desembarque. Densidade populacional A escolha da densidade populacional de suínos na carroceria do caminhão é determinada pelo custo de transporte combinado com o bem estar animal (mortalidade) e a qualidade da carcaça e da carne (Figura 5). Diante desse contexto, as recomendações de densidade populacional que se seguem devem ser ajustadas às condições de transporte (clima, tipo de estrada, distancia, linhagem e tamanho do suíno) encontradas nos diferentes paises. Figura 5. Densidade populacional utilizada na carroceria de transporte Figura 4. Portões sobre o piso inferior utilizados para compartimentar os Animais em três grupos de 20 animais. Quando a densidade populacional dos suínos transportados é alta resultará um desconforto, pois nem todos são capazes de deitar ao mesmo tempo. Nessa situação, alguns sentarão sobre os outros, posição essa que causa a dispnéia (dificuldade na respiração). Para livrar-se dessa situação, os animais fazem um tipo de alongamento, colocando seus pés dianteiros sobre outros. Outra dificuldade refere-se à troca térmica, a que o suíno é particularmente sensível. É óbvio que a temperatura ambiente e a ventilação afetam a densidade populacional. Animais transportados em temperaturas menores que 5 C mostram-se tranquilos durante a viagem mesmo quando a densidade populacional é alta, porque eles tentam evitar a perda de calor corporal através do contato físico. Já temperaturas maiores que 15 C promovem agitações e até mesmo pânico. A Legislação da União Européia (95/29/EC) especifica que a densidade populacional de suínos, considerando o peso aproximado de 100 kg, não deve exceder 235 kg/m 2 (0,425 m 2 /100 kg), admitindo-se um aumento maximo de 20% (0,510m 2 /100kg ou 196 kg/m 2 ) dependendo das condições climáticas e tempo de transporte. O Quadro 1 apresenta recomendações de densidade populacional adotada por vários paises. WARRISS, (1998) recomenda a densidade populacional de 250 kg/ m 2 (0,40 m 2 /100 kg ou 2,5 animais/ m 2 ) para suínos terminados de 90 a 100 kg, fundamentado nas medidas do espaço necessário para o decúbito esternal do animal. Os trabalhos realizados com transporte de suínos aplicando densidade populacional alta ou baixa evidenciam forte influencia no 28 Suínos & Cia Ano VI - nº 34/2010
6 comportamento do suíno resultando maiores pontuações na escoriação da pele e prolapso retal. LAMBOOJ et al., (1985) constataram que os suínos tendem a se acalmar em duas horas do inicio da viagem quando são submetidos baixas densidades (0,66 m 2 /100 kg) durante o transporte. Já BARTON GADE & CHRISTENSEN, (1999) reportaram que diminuindo a densidade populacional de 0,42 a 0,50 m 2 /100 kg, especialmente em viagens curtas, não incrementou o número de animais deitados, mas evidenciou a dificuldade dos mesmos manter o equilíbrio principalmente nas curvas ou em estradas ruins. LAMBOOJ & ENGEL, (1991) estudaram a aplicação de densidades altas (> 250 kg/m 2 ou < 0,40 m 2 /100 kg) no transporte de suíno e reportaram uma agitação continua dos animais que estavam deitados em função daqueles que estavam procurando um lugar para deitar. Tal situação resulta em comportamento de monta e provoca interações agressivas entre os animais e consequentemente pontuações maiores de escoriações na pele 23. Países Quadro 1. Densidades populacionais sugeridas por alguns paises. A incidência de mortalidade de suínos terminados durante o transporte aumentou de 0,04 para 0,77% 22 quando se aplicou densidades maiores que 250 kg/m 2 (0,40 m 2 /100 kg ou 2,5 animais/m 2 ). RICHES et al., (1996) constatou essa mesma tendência para densidades maiores que 238 kg/ m 2 (0,42 m 2 /100 kg ou 2,38 animais/ m 2 ). Normalmente os suínos adultos são mais susceptíveis ao estresse pelo calor, incrementando assim a mortalidade, ferimentos (hematomas) e depreciando a qualidade da carne. Os trabalhos conduzidos por RICHES et al., (1998) mostraram que transportar suíno aplicando densidades maiores que 235 kg/m 2 (0,43 m 2 /100 kg ou 2,3 animais/m 2 ), limite estabelecido pela União Européia, Densidade Populacional Kg / m 2 m 2 / 100 kg Animais / m 2 Canadá a 243 0,34 (<16ºC) a 0,41 ( 24ºC) 3 a 2,5 Canadá a 312 0,34 a 0,32 3 a 3,1 EU 286 a 256 0,35 a 0,39 2,86 a 2,56 Alemanha a 200 0,43 a 0,50 2,33 a 2 1 AAC, varias regiões do Canadá, AALHUS et al., (1992) 3 WARRISS, 1998 resulta em maior sujidade e influencia na segurança alimentar. A aplicação de alta ou baixa densidade no transporte de suínos afeta negativamente a qualidade da carne. LAMBOOJ & ENGEL, (1991) reportaram que viagens longas (22 a 44 horas) e aplicação de alta densidade, ou seja, maior que 250 kg/ m 2 (0,40 m 2 /100 kg ou 2,5 animais/ m 2 ) prejudica a qualidade da carne e o rendimento de carcaça. Na Europa constatou-se que a densidade populacional inferior a 200 kg/m 2 (0,50 m 2 /100 kg ou 2 animais/m 2 ) resultou uma incidência de carne PSE em aproximadamente dois terços do rebanho de suínos e tal incidência foi ainda maior para densidades mais alta 03. Outros trabalhos realizados indicam que a densidade populacional deve ser limitada para 213 kg/m 2 (0,47 m 2 /100 kg ou 2,1 animais/m 2 ) quando se objetiva melhorar o bem estar animal e a qualidade da carne. Tempo e distância de transporte Figura 6. Transporte de suínos. Partindo do princípio que os animais não se apresentam totalmente tranquilos durante o transporte, viagens mais curtas são plenamente justificadas. Portanto, à distância percorrida é menos importante que o tempo de transporte, uma vez que os eventos que afetam o tempo (coleta de animais nas diversas granjas, trafego lento, engarrafamento etc.) Ano VI - nº 34/2010 Suínos & Cia 29
7 Figura 7. Plataforma de desembarque. podem ter um efeito mais adverso no estresse do animal (Figura 6). Suínos transportados a uma distância de 650 km apresentaram maiores valores de ph45 e ph24 do que aqueles que viajaram 180 km. O tempo de transporte contribui para elevar o ph24 quando é suficientemente longo para fadigar os suínos 41. A incidência de PSE foi mais elevada em transportes de curta duração (30 minutos) e mais baixa para transportes mais longos (80 minutos). A União Européia em sua legislação não fixa o tempo máximo de transporte, apenas intervalos após os quais deve ser oferecido aos suínos água e alimentação, isto é, após 8 e 24 horas, respectivamente 05. Figura 8. Carroceria piso fixo. O Quadro 1 mostra tempo de viagem e a distancia percorrida no transporte de suínos praticado em alguns países. BROWN et al., (1999) reportaram que o tempo total de transporte entre 8 e 16 horas, mesmo sem acesso a água, parece ser aceitável sob o ponto de vista de bem estar animal. Viagens mais longas, o tempo de transporte pode ser prolongado até 24 horas, desde que ventilação e densidade sejam adequadas e tenha água disponível. Tempos de viagem superiores a 24 horas, os animais devem ser desembarcados, descansados por 24 Figura 9. Carroceria piso móvel. horas e receber ração antes de continuar a viagem (95/29/EC). Já no Canadá o tempo mínimo de descanso é de 5 horas 01. Esta diferença está fundamentada no fato de que ainda não foi estabelecido um tempo de descanso mínimo após uma viagem longa que concilie o bem estar animal e os custos da empresa transportadora. O tempo de viagem influencia o comportamento e a qualidade da carne suína. GRANDIN, (1994) observou que os suínos submetidos a períodos curtos de viagem (< 30 minutos) mostraram-se mais difíceis de serem manejados do que aqueles transportados por períodos mais longos. GISPERT et al., (2000) constataram que viagens curtas (< 2 horas) incrementaram a incidência de carne PSE em 2,3% e viagens mais longas (> 2 horas) a susceptibilidade de desenvolvimento de carne DFD aumentou concomitantemente com a taxa de mortalidade dos suínos 04. Condições climáticas As condições climáticas influenciam na intensidade do estresse que o animal é submetido durante o transporte e também determina a condição na qual os animais iniciam o transporte, além de sua capacidade de recuperação nas instalações do abatedouro. Temperaturas acima de 18 C aumentam as perdas ocasionadas durante o transporte dos suínos 41, 42. Este fato torna-se agravante quando predomina o calor úmido, pois o animal apresenta maior dificuldade de eliminar o calor corporal, aumentando assim sua temperatura interna e, consequentemente, prejudicando seu bem estar. Em situações mais drás- 30 Suínos & Cia Ano VI - nº 34/2010
8 Quadro 1. Tempo e distancia de transporte praticada em alguns paises. Países ticas, o incremento do batimento cardíaco pode levar o animal à morte. A qualidade da carne (incidência de PSE/ DFD)é prejudicada com a adição de fatores estressantes, tais como temperaturas mais elevadas predominantes durante os períodos mais quentes do ano 17, como também temperaturas muito baixas. Desembarque Até 2 horas 100 km 200 km 3 horas Autores UE X X* Warriss, 1996 Espanha X Faucitano, 1996 Canadá X Aalhus et al., 1992 *Limite aceitável recomendado do grupo de trabalho sobre transporte de suínos Chegando ao abatedouro os suínos devem ser desembarcados para evitar desconforto e agitação dos animais em função de um tempo muito prolongado de espera. Nesse sentido, a logística de transporte deve contemplar horário de embarque na granja, distancia percorrida, número de animais transportados e tempo de transporte que combinado com um número adequado de plataformas reduziria o tempo de espera de desembarque e contribuiria com o bem estar animal. (Figura 7). Na pratica esse tempo é variável podendo estender-se de 5 minutos a varias horas (JONES, 1999), 4 horas 02 entre 3 a 4 horas 37. O estresse durante o desembarque é considerado menor ou semelhante ao do embarque, no entanto o manejo inadequado durante esse processo resulta hematomas e ferimentos. A exposição dos animais ao vento, chuva ou sol forte devido à falta de cobertura na plataforma de desembarque ou mesmo iluminação inadequada na pocilga de repouso dificulta a condução dos animais e o consequente desembarque. Assim, a adequação das instalações da plataforma de recepção dos animais do abatedouro é de suma importância. A interação homem-animal também se faz presente muito forte durante o desembarque e nesse sentido é importante conhecer o comportamento do suíno, que apresenta uma dificuldade natural em descer rampas, principalmente com inclinações superiores a (Figura 8). Assim essa operação torna-se mais difícil se os animais forem forçados para frente aplicando manejo inadequado por meio de varas, choques e gritos. A utilização de carrocerias móveis facilitaria essa operação, pois coloca os animais no mesmo nível da plataforma de desembarque (Figura 9). Ano VI - nº 34/2010 Suínos & Cia 31
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