O TEOREMA DO VALOR MÉDIO E APLICAÇÕES DAS DERIVADAS

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5.7 Aplicações da derivada ao estudo das funções.

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Transcrição:

14 O TEOREMA DO VALOR MÉDIO E APLICAÇÕES DAS DERIVADAS Gil da Costa Marques 14.1 Introdução 14. O crescimento/decrescimento de uma função num intervalo e os pontos de etremo 14.3 A concavidade do gráfico de uma função num intervalo contido em seu domínio e os pontos de infleão 14.4 O Teorema do Valor Médio 14.5 Determinação dos pontos de máimo, mínimo e de infleão 14.6 Um estudo de caso: o gráfico de uma função 14.7 Taa de variação média e instantânea 14.8 Geometria: a reta tangente a uma curva 14.9 Determinação dos Pontos de Máimo, Mínimo e de Infleão 14.10 Cinemática: velocidade e aceleração 14.10.1 Velocidade 14.10. Velocidade escalar 14.10.3 Aceleração escalar 14.11 Dinâmica: A Lei de Newton 14.1 Cinética química 14.13 Tendências de mercado Licenciatura em Ciências USP/ Univesp

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 307 14.1 Introdução Na formulação newtoniana, as primeiras aplicações do cálculo diferencial eram voltadas para a dinâmica. O problema de encontrar as tangentes das curvas se revestia de uma grande relevância naquela época, e se transformou rapidamente numa importante aplicação do cálculo. Hoje em dia, são muitas as aplicações do cálculo diferencial nas ciências, nas áreas tecnológicas e em outras áreas do conhecimento. Podemos citar a cinética química, a física, a meteorologia, a economia e a geometria, entre outras. Em tetos anteriores, quando foram introduzidas as primeiras ideias a respeito da derivada de uma função de uma variável real, já foram apresentadas algumas aplicações do cálculo diferencial, especificamente no que diz respeito à taa de variação de uma grandeza em relação a outra, bem como ao considerar a reta tangente num ponto de uma curva, que é o gráfico de uma função. Antes de apresentar outras aplicações, vamos introduzir um importante teorema do cálculo diferencial, que é o Teorema do Valor Médio e que permitirá entender o comportamento de uma função que é derivável e, portanto, contínua em seu domínio. 14. O crescimento/decrescimento de uma função num intervalo e os pontos de etremo Em primeiro lugar, vamos retomar os conceitos de função estritamente crescente ou estritamente decrescente num intervalo a fim de fiar tal nomenclatura.

308 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Definição: Uma função f é dita estritamente crescente num intervalo I quando, para quaisquer 1 e, com 1 <, temos f ( 1 ) < f ( ). a b Gráfico 14.1: a) A função eponencial f ( ) = e é uma função estritamente crescente em seu domínio, bem como b) a função logarítmica g() = ln também é estritamente crescente em seu domínio. Analogamente, temos: Definição: Uma função f é dita estritamente decrescente num intervalo I quando, para quaisquer 1 e, com 1 <, temos f ( 1 ) > f ( ). a b Gráfico 14.: a) A função eponencial f ( ) = e é uma função estritamente decrescente em seu domínio, bem como b) a função logarítmica g() = ln( ) também é estritamente decrescente em seu domínio. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 309 Uma função pode ser estritamente crescente num intervalo e estritamente decrescente em outro, como é o caso, por eemplo, das funções trigonométricas y = sen ou y = cos. Outro conceito importante no estudo da variação de uma grandeza é o de ponto de etremo num intervalo contido no domínio. Definição: Seja I um intervalo aberto, tal que I Dom f, e seja 0 I. Dizemos que 0 é um ponto de máimo local para f quando eiste uma vizinhança V de 0 tal que f ( ) f ( 0 ), para todo em V. Analogamente, 0 é um ponto de mínimo local para f quando eiste uma vizinhança V de 0 tal que f() f( 0 ), para todo em V. Vale observar que nem sempre eiste algum ponto de máimo ou de mínimo e, quando eiste, não necessariamente é único. As funções dos Gráficos 14.1 e 14. não têm ponto de máimo ou de mínimo. As funções trigonométricas y = sen ou y = cos possuem infinitos pontos de máimo e infinitos pontos de mínimo. O ponto 0 é um ponto de máimo global quando f() f( 0 ) para todo pertencente ao domínio da função. Analogamente, o ponto 0 é um ponto de mínimo global quando f () f ( 0 ) para todo do domínio. Gráfico 14.3: A função f ( ) = possui um ponto de mínimo local em seu domínio, que é o ponto (0, ) e esse ponto é também o ponto de mínimo global. Gráfico 14.4: O ponto ( 3, ) é um ponto de máimo local para f ( ) = ( + 3) e esse ponto é também o ponto de máimo global.

310 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Gráfico 14.5: A função f ( ) = ( 1)( 3) possui um ponto de máimo local no intervalo [0, 1] e um ponto de mínimo local no intervalo [1, 3]. Não tem ponto de máimo global, nem ponto de mínimo global. Temos ainda a seguinte propriedade: sendo f uma função contínua com um máimo ou um mínimo local num ponto 0, no qual f é derivável, então, f ʹ( 0 ) = 0, isto é, 0 é um ponto crítico para f, ou seja, a reta tangente ao gráfico de f no ponto ( 0, f ( 0 )) é horizontal. Convém observar, porém, que o fato de a derivada ser nula num ponto não garante que esse ponto seja um ponto de etremo. É o caso da função f ( ) = 3, por eemplo, cuja derivada se anula na origem, mas esse ponto não é nem de máimo nem de mínimo. 14.3 A concavidade do gráfico de uma função num intervalo contido em seu domínio e os pontos de infleão A fim de introduzir o conceito de concavidade do gráfico de uma função, consideremos f uma função derivável num intervalo aberto e seja 0 um ponto desse intervalo. Lembramos que a reta tangente ao gráfico de f no ponto ( 0, f ( 0 )) tem a seguinte equação: ( ) y f ( ) = f ( ) 0 0 0 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 311 Isso significa que a reta tangente pode ser vista como o gráfico de uma função polinomial de primeiro grau T, assim definida: ( ) = ( )+ ( ) ( ) T f f 0 0 0 Definição: Dizemos que o gráfico de f tem concavidade para cima no intervalo aberto I quando f ( ) > T() para todos e 0 em I, sendo 0. 1 Gráfico 14.6: O gráfico da função f ( )= +, 1 no intervalo, 5, apresenta concavidade voltada para cima. Definição: Dizemos que o gráfico de f tem concavidade para baio no intervalo aberto I quando f ( ) < T() para todos e 0 em I, sendo 0. Observação análoga à de cima. 1 Gráfico 14.7: O gráfico da função g( )= +, 1 no intervalo, 5, apresenta concavidade voltada para baio.

31 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Evidentemente, o gráfico de uma função pode apresentar concavidade para baio em algum intervalo do domínio e concavidade para cima em outro intervalo, havendo, portanto, um ou mais pontos de mudança de concavidade. Gráfico 14.8: No gráfico de y = sen, podemos observar que, nos intervalos do tipo [kπ, (k + 1)π, k, a concavidade do gráfico é para baio, ao passo que, nos intervalos do tipo [(k + 1)π, kπ], k, a concavidade do gráfico é para cima. Definição: Seja f uma função contínua e 0 um ponto do domínio. O ponto 0 é denominado um ponto de infleão de f quando nele ocorre mudança de concavidade do gráfico. a b 1 Gráfico 14.9: a) O gráfico da função f ( )= ( ) ( 6 ), definida no intervalo [0, 6], possui um ponto de 10 infleão em = 8/3; ( ) se 0 b) o gráfico da função g( )=, definida no intervalo [0, 4], também possui um ponto de 4 ( 4) se < 4 infleão em =. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 313 Numa linguagem mais simples, podemos dizer que: Se o gráfico de uma função f se situar acima das retas tangentes, cada uma traçada em um ponto da curva num intervalo I, para todo ponto de I, dizemos que sua concavidade é positiva ou que a curva é côncava nesse intervalo, ou ainda que ela é côncava para cima em I. Se, por outro lado, a curva estiver sempre abaio das retas tangentes, cada uma traçada em um ponto da curva no intervalo considerado, para todo ponto pertencente a esse intervalo, dizemos que a concavidade da curva é negativa, ou que, nesse intervalo, ela é convea, ou ainda que ela é côncava para baio em I. 14.4 O Teorema do Valor Médio O Teorema do Valor Médio (TVM), como já foi anunciado, é de grande importância no Cálculo Diferencial e permitirá que se relacione o sinal da derivada de uma função com seu crescimento ou decrescimento em determinado intervalo, bem como que se relacione o sinal da derivada segunda com a concavidade do gráfico da função. Teorema Se f é uma função contínua num intervalo fechado [a, b] e derivável no intervalo aberto ]a, b[, então eiste c pertencente a ]a, b[ tal que a reta tangente ao gráfico de f traçada pelo ponto (c, f ( c)) é paralela à reta que passa por (a, f ( a)) e (b, f ( b)), f ( b) f ( a) isto é, f ( c)=. b a A demonstração desse teorema pode ser encontrada em tetos específicos de Cálculo e não será apresentada aqui. Entretanto, é conveniente observar no Gráfico 14.10 uma situação em que se aplica o TVM. A função considerada é f ( ) = ( + )( 3) no intervalo [ 3, 4]. Observamos que a reta que passa pelos pontos ( 3, 18) e (4, 4), etremidades do gráfico de f, é a reta de equação y = 6. (Verifique!) Uma vez que fʹ() = 3 6, podemos determinar os pontos do gráfico de f em que a reta tangente tem coeficiente angular 6, isto é, é paralela à reta y = 6.

314 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Efetuando 3 6 = 6, encontramos: = 1+ 37 3 ou = 1 37 3 Gráfico 14.10: O gráfico da função f ( ) = ( + )( 3) no intervalo [ 3, 4]. que são os possíveis valores de c mencionado no TVM, pertencentes ao intervalo ] 3, 4[. Sendo assim, a reta tangente ao gráfico de f que passa 1+ 37 1+ 37 pelo ponto, f 3 3 é paralela à reta tangente ao gráfico de f que passa pelo ponto 1 37 1 37, f e ambas têm coeficiente 3 3 angular igual a 6. É importante observar que o TVM não garante a unicidade do ponto c, mas apenas a eistência. No caso da função apresentada no Gráfico 14.10, foram dois desses pontos. Observemos agora uma primeira consequência do TVM, que relaciona o sinal da primeira derivada da função com o seu crescimento/decrescimento. 1. Seja f uma função contínua num intervalo I, derivável no interior de I: a. Se fʹ() > 0 para todo interior a I, então, f será estritamente crescente em I. b. Se fʹ() < 0 para todo interior a I, então, f será estritamente decrescente em I. a. De fato, basta verificar que, quaisquer que sejam 1 e em I, com 1 <, temos f ( 1 ) < f ( ). Como f é contínua em I e derivável no interior de I, pelo TVM, eiste c ] 1, [ tal que f ( ) f ( 1) f ( c) =. Logo, como fʹ(c) > 0, temos: f ( f ) ( 1) > 0 e, como 1 1 <, 1 temos 1 > 0 e, portanto, f ( ) f ( 1 ) > 0, isto é f ( ) > f ( 1 ). b. A argumentação, nesse caso, é análoga. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 315 Eemplos Eemplo 1: Vamos encontrar os intervalos de crescimento/decrescimento da função: + f ( )= 1 Resolução: Em primeiro lugar, Dom f =,, +. Vamos determinar a derivada de f e estudar o seu sinal. Temos: ( + 1) ( 1 ) ( + ) 4 f ( )= 1 ( ) ( ) + + 1 = 1 ( ) Uma vez que o denominador é sempre positivo, o sinal de fʹ depende apenas do sinal do numerador. Como o trinômio do numerador também é sempre positivo (verifique!), o sinal de fʹ é sempre positivo em todo o domínio. Logo, a função f é estritamente crescente em cada subintervalo do domínio. Uma observação importante é a de não podemos simplesmente afirmar que a função é estritamente crescente, pois isso é falso! Gráfico 14.11: O gráfico de + f ( )=. 1

316 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Eemplo : Vamos encontrar os intervalos de crescimento/decrescimento da função: f ( )= Resolução: O domínio da função é: Dom f =, pois o denominador nunca se anula. Como e f ( )= e e e = observamos que o denominador nunca se anula e o sinal de fʹ depende apenas do sinal do numerador. Uma vez que fʹ() = 0 para = 1, temos: para < 1, fʹ() > 0; logo, f é estritamente crescente nesse intervalo; e para > 1, fʹ() < 0; logo, f é estritamente decrescente nesse intervalo. Consequentemente, = 1 é um ponto de máimo local para f, que também é global. Podemos observar esses fatos no gráfico de f : e ( 1 ) 1 = e ( ) e Gráfico 14.1: O gráfico de f ( )= e. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 317 Uma segunda consequência do TVM relaciona o sinal da segunda derivada da função com a concavidade de seu gráfico.. Seja f uma função derivável pelo menos até segunda ordem num intervalo aberto I. a. Se fʺ() > 0 em I, então, o gráfico de f terá concavidade para cima em I. b. Se fʺ() < 0 em I, então, o gráfico de f terá concavidade para baio em I. a. De fato, basta verificar que, quaisquer que sejam 1 e em I, com 1 <, temos fʹ( 1 ) < fʹ( ) e, portanto, a concavidade do gráfico é para cima. Como fʹ é contínua em I e derivável no interior de I, pelo TVM, eiste c ] 1, [ tal que f = ( f c f ) ( 1) f ( ). Logo, como fʺ(c) > 0, temos: ( ) f ( 1) > 0 e, como 1 1 <, 1 temos 1 > 0 e, portanto, fʹ( ) fʹ( 1 ) > 0, isto é, fʹ( ) > fʹ( 1 ). b. A argumentação, nesse caso, é análoga. Eemplo 3: Vamos estudar a concavidade do gráfico de f( )=. Já vimos que o domínio da função é: Dom f =, pois o denominador nunca se anula. Como e e. e ( 1 ) ( 1 ) f ( ) = = = e e e temos que a derivada segunda de f é dada por: = = + e ( 1 ) e e e. ( ) f ( ) = e e e Observamos que o denominador nunca se anula e o sinal de fʺ depende apenas do sinal do numerador. Uma vez que fʺ() = 0 para =, temos: para <, fʺ() < 0; logo, fʹ é estritamente decrescente nesse intervalo e a concavidade do gráfico é voltada para baio; e para >, fʺ() > 0; logo, fʹ é estritamente crescente nesse intervalo e a concavidade do gráfico é voltada para cima. Consequentemente, = é um ponto de infleão para f, pois nele ocorre mudança de concavidade no gráfico. Podemos observar tais fatos no gráfico de f (Gráfico 14.1). e

318 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 14.5 Determinação dos pontos de máimo, mínimo e de infleão Como vimos, nos pontos de máimo ou de mínimo locais, a taa de variação pontual, ou instantânea quando for o caso, se anula. Assim, nesses casos, para o valor 0 da variável independente, a derivada da função f ( ) se anula: df ( ) d = 0 = 0 ou seja, tais pontos são pontos críticos para a função f. A partir de tudo o que foi desenvolvido neste teto, para decidir de que tipo é o ponto crítico, podemos recorrer à análise da derivada segunda calculada em = 0. Considerando-se, pois, o sinal da derivada segunda nesse ponto, temos as possibilidades: a. Se a derivada segunda no ponto for positiva, isto é, se: d f( ) d = f ( ) > 0, 0 = 0 então, o ponto de coordenadas ( 0, f ( 0 )) é um mínimo local da função f ( ). b. No caso em que a derivada segunda da função no ponto for negativa, isto é, se: d f( ) d = f ( ) < 0 0 = 0 então, o ponto de coordenadas ( 0, f ( 0 )) é um máimo local da função f ( ). Agora, se = 0 for um ponto crítico e também for um ponto de infleão, temos: d f( ) d = f ( ) = 0 0 = 0 Essa condição, porém, não é suficiente, pois, por eemplo, no caso de f ( ) = 4 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

temos fʹ() = 4 3 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 319 e, portanto = 0 é ponto crítico da f. Temos também fʺ() = 1 que se anula em = 0, mas (0, f ( 0)) = (0, 0) não é ponto de infleão. 14.6 Um estudo de caso: o gráfico de uma função Todos os conceitos que foram apresentados e os resultados que foram construídos nos permitem estudar o comportamento de uma função em seu domínio e elaborar o seu gráfico. ln Vamos fazer isso para o caso da função f( ) =. i. Domínio Nesse caso, temos Dom f = * + ii. Intersecções com os eios Como > 0, não há intersecção com o eio y. Por outro lado, y = 0 = 1; portanto, o gráfico intercepta o eio no ponto = 1. iii. A primeira derivada ln 1 Como f( ) =, temos f = ln ( ) e Dom fʹ = * +. iv. Pontos críticos da função, ou seja, pontos que anulam a primeira derivada Temos: fʹ() = 0 1 ln = 0 = e. Logo, no ponto ( e, f()) e = 1 e, a reta tangente ao gráfico é horizontal. e v. Estudo do sinal da primeira derivada 0 < < e: fʹ() > 0 e, portanto, f é estritamente crescente > e: fʹ() < 0 e, portanto, f é estritamente decrescente

30 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Logo, = e é um ponto de máimo local e, como é o único ponto critico, é também o ponto de máimo global. vi. A segunda derivada 1 Como f = ln ( ), temos = 3 + ln f ( ) e Dom fʺ = * 3 +. vii. Pontos que anulam a segunda derivada ou pontos críticos da primeira derivada Temos: f ( ) = 0 3+ ln = 0 = e viii. Estudo do sinal da segunda derivada 3. 0 < < e 3 : fʺ() < 0 e, portanto, fʹ é estritamente decrescente e f é côncava para baio > e 3 : fʺ() > 0 e, portanto, fʹ é estritamente crescente e f é côncava para cima Logo, = e 3 é um ponto de infleão, pois nele ocorre mudança de concavidade. Temos que i. Limites nas etremidades dos intervalos que constituem o domínio da função lim ln 1 =, uma vez que lim ln = e lim =+. 0 + 0 + 0 + lim ln 1 lim 1 = = lim = 0, pois, no limite inicial, o numerador e o denominador + + 1 + tendem a +, sendo então possível aplicar L'Hospital. ln. O gráfico de f( ) = Colocando todas as informações coletadas num sistema cartesiano, temos finalmente o Gráfico 14.13. ( ) = f e 3 3 3 e ln Gráfico 14.13: O gráfico da função f( ) = no qual podemos observar o ponto e, 1, que é o ponto de e 3 3 máimo global, e o ponto de infleão: e 3, e. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 31 A seguir, vamos apresentar aplicações do Cálculo Diferencial nas ciências. Algumas já foram vistas no decorrer do desenvolvimento em tetos anteriores e serão apenas retomadas; outras ampliam o conteto considerado, mostrando a potência do Cálculo. 14.7 Taa de variação média e instantânea Se uma grandeza física variar com o tempo, podemos definir duas taas de variação: a média e a instantânea. Para entender isso, consideremos a taa de variação de um índice como o Índice Bovespa. Representaremos tal índice pela letra I. Num dia típico, o índice Bovespa pode variar aproimadamente de acordo com o gráfico da Figura 14.1. Figura 14.1: Eemplo da variação do índice Bovespa. Podemos estar interessados na taa de variação entre dois instantes de tempo. Assim, imaginemos que, no instante de tempo t 1, o índice seja I 1, ou seja, I 1 = I(t 1 ). Imaginemos que no instante t, admitido posterior a t 1, o índice seja I, onde I = I(t ). Assim, no intervalo de tempo Δt, dado por Δt = t t 1, houve uma variação do Índice Bovespa dado por ΔI = I(t ) I(t 1 ). Definimos a taa de variação média como o quociente entre a variação do índice ΔI e o intervalo de tempo decorrido Δt: taa de variação média = I t 14.1 No entanto, muitas vezes, para fins de tomada de posição em relação a comprar ou vender ações, é mais importante saber a taa de variação num determinado instante de tempo. Tal grandeza recebe o nome de taa de variação instantânea. Para defini-la, introduzimos um conceito muito importante na matemática, que é o conceito de limite. Observemos primeiramente que a taa de variação média é definida tomando-se dois instantes de tempo. A taa de variação instantânea deverá ser definida num determinado instante

3 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 de tempo. Assim, para defini-la, recorremos ao artifício de tomarmos intervalos de tempo Δt cada vez menores. Portanto, estaremos falando, ao tomar o limite no qual o intervalo de tempo Δt tende a zero, de um só instante de tempo. Definimos, portanto, a taa de variação instantânea através do processo limite: taa de variação instantânea =lim t 0 I t 14. Eemplo 4: Um tanque tem 500 litros de água; por meio de uma torneira mal fechada, a água começa a escoar. O Gráfico 14.14 ilustra a variação do volume de água com o tempo. a. Calcule a taa de variação média do volume no intervalo Δt compreendido desde t = 0 até t = 10 min. b. Idem, para o intervalo t = 10 min até t = 60 min. Resolução: A taa de variação média do volume é determinada pela razão entre a variação de volume ΔV que ocorre num determinado intervalo de tempo Δt. Vamos denominar essa razão pela letra grega fi maiúscula; logo: Φ média = V Unid ( V ). A respectiva unidade de medida será: unid ( Φ média )=. t Unid ( t) No SI (Sistema Internacional de Unidades), ΔV é epresso em m³ e Δt, em s; logo, (Ф média ) será epresso em m³/s = m³.s 1. No caso presente, o volume é epresso em litros e o intervalo de tempo em minutos; nesses termos Unid(Ф média ) = litros/minuto. Vamos às respostas: ( ) litros a. Φ média = V l = V V 350 500 10 0 = = 15 itros minuto. O sinal negativo significa que t t10 t0 ( 10 0) minutos o volume de água contido no tanque diminui, em média, à razão de 15 litros por minuto. ( ) ( ) litros b. Φ média = V = V V 150 350 60 10 = = 4 litros minuto t t t 60 10 minutos 60 10 Gráfico 14.14: A variação do volume da água no tanque. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 33 14.8 Geometria: a reta tangente a uma curva a b Gráfico 14.15: (a) Reta tangente a uma curva; (b) A tangente como posição limite das secantes. Esse é um problema clássico da geometria. Assim, a busca por encontrar uma forma de se determinar a reta tangente a uma curva num ponto é resolvida com a descoberta do cálculo diferencial. Se a curva for representada no plano cartesiano pelo gráfico de uma função y = f ( ), temos: ( ) df tg θ 0 = d = 0 onde θ 0 é o ângulo formado pela reta tangente à curva no ponto cuja abcissa é 0 e o eio. Por eemplo, se quisermos determinar o coeficiente angular da reta tangente à circunferência de raio R e centro na origem (0,0), num ponto como aquele indicado na Figura 14.a, devemos começar com a função: 14.3 a b Figura 14.: (a) Reta tangente à circunferência num ponto e (b) retas tangentes em diferentes pontos de uma circunferência. y = R 14.4 que descreve a semicircunferência superior. A derivada da função é dada por: dy d R 14.5 e, portanto, num ponto da circunferência para o qual a coordenada = 0, a inclinação = tg θ 0 = R = 0 = R 0 0, 14.6 que é o coeficiente angular procurado. Verifique para o caso dos pontos da semicircunferência inferior.

34 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Assim, no caso do ponto de coordenadas isto é, quando 0 R R ( y, )=, 3 R =, o ângulo é dado por: 1 tg θ0 = θ0 = 150 3 14.7 14.8 e o coeficiente angular da reta tangente é: 1 3. Eemplo 5: Consideremos o problema de determinação do coeficiente angular da reta tangente por um ponto da curva que é o gráfico de y = cos. Resolução: Escrevemos: Nesse caso, ( ) y() = cos dcos tg θ 0 = = sen = sen = 0 0 d = 0 a b c Gráfico 14.16: a) reta tangente ao gráfico de y = cos no ponto em que = 0 b) reta tangente ao gráfico de y = cos no ponto em que = π/ c) reta tangente ao gráfico de y = cos no ponto em que = 3π/. Assim, no ponto em que = 0, o coeficiente angular à reta tangente ao gráfico de y = cos é nulo e o ângulo de inclinação da reta é de 0. Veja o Gráfico 14.16a. No ponto em que = π/: tgθ 0 = 1 isto é, θ 0 = 135 (veja Gráfico 14.16b). Para = (3π)/, por outro lado, a reta tangente à curva forma um ângulo de 45 com a horizontal (veja Gráfico 14.16c). 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Eemplo 6: Consideremos agora o problema de determinar a tangente à parábola, pelo ponto da curva cuja abscissa é dada por = 0. Resolução: Considerando-se a forma mais geral da parábola, temos: d tg θ 0 = ( a + b + c) = ( a+ b) = a0 + b = d 0 Por eemplo, no caso da posição dada em metros, dependente do tempo (em segundos) como um polinômio de segundo grau da forma: o gráfico tem uma inclinação que em cada instante de tempo t = t 0 varia de acordo com: = 0 yt ()= 5t 10t+ 5 tg θ 0 = 10t 0 10 ( ) Assim, a reta tangente à curva no instante t = 1 tem uma inclinação nula (ela é paralela ao eio dos tempos). Abaio desse tempo, a inclinação é tal que o ângulo é maior do que 90. Acima desse tempo, a inclinação assume valores que se aproimam cada vez mais de 90. Veja o Gráfico 14.17. 35 a b c Gráfico 14.17: Inclinação da tangente para diferentes valores do tempo.

36 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 14.9 Determinação dos Pontos de Máimo, Mínimo e de Infleão Considere a determinação do ponto de máimo ou de mínimo das funções polinomiais de segundo grau y() = a + b + c, de onde yʹ() = a + b. Máimo ou mínimo de uma função polinomial do segundo grau ocorre para um valor m tal que: a + m b = 0 14.9 ou seja, para o valor m dado por: b = m a 14.10 e o valor do máimo, ou mínimo, correspondente será: b y = m 4a + c 14.11 Assim, o ponto de máimo, ou de mínimo, têm coordenadas dadas por: b b ( m, ym)=, + c 14.1 a 4a 3 Por eemplo, os pontos de mínimo das funções quadráticas y = + 1, y = ( 1) e 8 y = + 1, são dados, respectivamente, por (3/, 1/ 8 ); (1, 0) e (0, 1). a b c Gráfico 14.18: Pontos de mínimo de funções quadráticas. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 37 Temos assim uma forma de determinar os pontos de máimo e mínimo locais do gráfico de um polinômio de grau n Esses pontos serão designados por n n 1 P ( )= a + a + + a + a+ a n n n 1 1 0 (, y ) m m 14.13 onde o valor da variável independente m é tal que, para um polinômio de grau n, satisfaz à equação: n 1 n na. + ( n 1). a +... + a + a = 0 n m n 1 m m 1 14.14 isto é, m é raiz da derivada. Como vimos, nos pontos de máimo e mínimo, a derivada de uma função polinomial se anula. Escrevemos: dpn ( ) d = m O ponto ( m, y m ) será um ponto de máimo se, numa vizinhança dele, a concavidade do gráfico da função for voltada para baio, o que, como vimos antes, significa que a derivada segunda da função é negativa, isto é: = 0 14.15 n n 3 nn ( 1). a + ( n 1)( n ). a +... + a < 0 n m n 1 m 14.16 Se tal epressão for positiva, o ponto será um ponto de mínimo. Por eemplo, os pontos de máimo ou de mínimo do polinômio cúbico 3 P( )= + m n 3 14.17

38 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 são os pontos para os quais sua derivada se anula: 3 + m m = 0 14.18 Essa equação admite duas soluções para m < 0, uma solução para m = 0, e nenhuma solução para m > 0. Consideremos o caso do polinômio: P ( )= ( ) ( + ) ( 3) ( + 3)= 4 9 4 ( )( ) 14.19 Sua primeira e segunda derivadas são dadas, respectivamente, por: dp4 ( ) = ( 13) d dp4( ) = ( 13) +. 4 = 1 6 d 14.0 Portanto, os pontos de máimo ou de mínimo são aqueles para os quais: ( 13) = 0 m m 14.1 Donde concluímos que os valores de que satisfazem à condição 14.1 são dados por: m m = 0 =± 13 14. Tendo em vista que dp4 d = 0 = 0 6< 0 14.3 e dp4 d =± 13 = 1 ± 13 6 = 78 6 > 0 14.4 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 39 segue-se que o ponto cuja abscissa é m = 0 é um ponto de máimo local, ao passo que os pontos de abscissas =± 13 são pontos de mínimos locais. Gráfico 14.19: Pontos de máimo e mínimo locais da função 14.19. 14.10 Cinemática: velocidade e aceleração Algumas funções obtidas por meio da derivada de outras funções recebem nomes especiais. A seguir apresentaremos algumas delas. 14.10.1 Velocidade Muitas vezes referimo-nos a objetos que se movem lentamente e objetos dotados de movimentos rápidos. Os dois conceitos são relativos e se referem à taa segundo a qual um objeto muda de posição. Como visto antes, a taa de variação é um conceito utilizado com muita frequência e, por isso, muito importante na Física. A velocidade é definida como a taa de variação da posição de um objeto em função do tempo. Se a posição de um objeto mudar com o tempo, ele tem, portanto, uma velocidade. Se ele está em repouso, sua velocidade é nula. Um dos aspectos mais relevantes a respeito da grandeza física denominada velocidade é o fato de que, quando determinada Figura 14.3: Variação da posição de um objeto em função do tempo.

330 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 de uma forma matematicamente precisa, ela não só indica a taa segundo a qual a distância percorrida pela partícula varia com o tempo, como também indica a direção (bem como o sentido) que a partícula tomará a seguir. A caracterização de cada ponto no espaço se dá através das coordenadas do ponto. Portanto, o conceito de velocidade é um pouco mais compleo do que parece à primeira vista. Sua conceituação mais geral requer a análise do movimento no espaço tridimensional. A velocidade introduzida a partir do conceito de distância percorrida não permite indicar a direção do movimento da partícula. No entanto, ela dá a ideia de rapidez com que se dá o movimento. 14.10. Velocidade escalar Analisemos o movimento a partir de uma das suas propriedades, que é a taa de variação das distâncias percorridas pelo móvel. Quando um objeto se move ao longo de uma curva bem definida, a distância ao longo da curva até a origem varia com o tempo. A essa distância associamos o conceito de variável espaço. Portanto, dizemos que, num movimento, a variável espaço é função do tempo. Escrevemos: s = s() t 14.5 Digamos que, no instante de tempo t 1, a partícula estava em s 1 e que, no instante t, ela está em s. Admitiremos t > t 1 (Figura 14.3). Assim, no intervalo de tempo Δt, dado por t = t t 1 14.6 houve uma variação de espaços Δs, dada por s= s s 1 14.7 Definimos a velocidade escalar média como o quociente entre a variação de espaço e o intervalo de tempo decorrido: s v = m t 14.8 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Observe que a velocidade escalar média sempre faz referência a dois instantes de tempo (por isso, falamos em média). No entanto, a velocidade na qual temos maior interesse é a velocidade num determinado instante de tempo. Tal velocidade é denominada velocidade instantânea. Para definirmos a velocidade instantânea, devemos recorrer a um artifício matemático conhecido como limite. Observemos primeiramente que a velocidade média é definida tomando-se dois instantes de tempo. Para defini-la num determinado instante, Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Figura 14.4: O velocímetro determina a velocidade instantânea de um móvel. basta tomarmos intervalos de tempo Δt cada vez menores. Portanto, ao tomarmos o limite no qual o intervalo de tempo Δt tende a zero, estaremos falando de um só instante de tempo. Definimos, portanto, a velocidade instantânea através do processo limite: 331 s v = lim vm = lim t 0 t 0 t 14.9 Num certo número de casos, é relativamente simples calcular a velocidade instantânea. Queremos determinar a velocidade no instante de tempo t. Assim, calculamos a velocidade média entre os instantes t 1 = t e t = t + Δt: ( ) () s v = s t t s t m t = + t 14.30 e depois tomamos o limite quando Δt tende a zero: v t s lim t t ()= = 0 0 ( ) () s t+ t s t lim t t O processo-limite definido acima tem o nome de derivada da função s(t) com respeito ao tempo e se representa: 14.31 v t ()= ds() t s t t s t = ( + ) () lim dt t 0 t 14.3

33 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Considere o caso de um móvel cuja equação horária dos espaços é dada por: s t 5t 10t 8 ()= + 14.33 Sua velocidade escalar instantânea é, portanto, dada por: ds v()= t = 10t 10 dt 14.34 Considere agora o caso do movimento harmônico simples. De acordo com a definição de tal movimento, ele ocorre sempre que a solução das equações de movimento nos leva ao resultado ()= t Acos( ωt+ θ 0 ) 14.35 onde A é a amplitude do movimento, θ 0 é um ângulo denominado fase inicial, e ω é a frequência angular do mesmo. A velocidade do móvel que eecuta o movimento harmônico simples é dada por: v t d dt d ( Acos( ωt θ0) )= A( ω) sen( ωt+ θ0) dt ()= = + 14.36 Obtemos: v()= t Aωsen( ωt+ θ ) 0 14.37 de onde inferimos que a velocidade atinge um valor máimo dado por Aω e ela ocorre nos instantes em que o móvel se encontra na origem (os valores de = 0). Ademais, nos pontos para os quais a velocidade se anula, a posição atinge os valores máimos ou mínimos. 14.10.3 Aceleração escalar Se a velocidade de um objeto varia com o tempo, diz-se que ele tem aceleração. Se a velocidade é constante (isto é, não varia com o tempo), a sua aceleração é nula. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 333 Figura 14.5: Variação da velocidade e tempo decorrido. Supondo que, no instante t 1, a partícula tinha velocidade v 1 e no instante t tenha velocidade v (Figura 14.5), definimos a aceleração escalar média de uma partícula como o quociente entre a variação de velocidade (Δv) e o intervalo de tempo decorrido (Δt): v a = m t 14.38 onde Δv é a diferença de velocidades da partícula nos instantes t e t 1, isto é: v = v v1 14.39 Mais importante que a aceleração média é a aceleração instantânea. Como o nome indica, o interesse é a obtenção da aceleração num determinado instante de tempo. A maneira de defini-la, a partir da aceleração média, é tomar intervalos de tempo cada vez menores, isto é tomar o limite em que o intervalo de tempo se aproima de zero. Essa é a situação na qual t é muito próimo de t 1. Definimos, portanto, a aceleração escalar instantânea através do processo-limite: v a = lim t 0 t 14.40 A partir da velocidade instantânea v(t), podemos calcular a aceleração instantânea. Primeiramente, calculamos a aceleração média entre os instantes t e t + Δt: ( ) () v t t v t a = + m t 14.41

334 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 e, a partir daqui, tomamos o limite quando Δt 0 a t v lim t t ()= = 0 0 ( ) () v t+ t v t lim t t Esse processo-limite define a função de a(t) (com respeito ao tempo) e se representa: a t ()= dv() t v t t v t = ( + ) () lim dt t 0 t No caso do móvel, cuja equação horária dos espaços é dada por 14.33, e a velocidade dada em 14.34, sua aceleração escalar instantânea é dada por: 14.4 14.43 a t ()= dv() t d = ( 10 t 10)= 10 dt dt 14.44 ou seja, sua aceleração é constante. Retornando ao caso do movimento harmônico simples, vemos que a sua aceleração instantânea é dada por: dv d a()= t = ( ωasen( ωt+ θ0) )= ωa( ω) cos( ωt+ θ0) dt dt 14.45 cujo resultado pode ser epresso como: a t Aω cos( ωt θ ) ω t ()= + = () 0 14.46 Donde inferimos que a aceleração atinge os valores máimos, dados por Aω, os quais ocorrem nos instantes para os quais o móvel se encontra nos pontos mais distantes da origem. 14.11 Dinâmica: A Lei de Newton Na dinâmica, lidamos com duas taas de variação: uma taa de variação associada à posição e uma taa de variação instantânea. De acordo com a lei de Newton, escrevemos: F = ma 14.47 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 335 onde a força pode depender eplicitamente do tempo e implicitamente da posição. Assim, escrevemos no caso de forças que dependem apenas de uma variável: F = F( ) 14.48 Para o caso de forças conservativas (a maioria dos casos), a força é dada como a derivada da energia potencial. Assim, forças como a elétrica e a gravitacional são definidas como taas de variação instantâneas da energia potencial (U()). Nesse caso, escrevemos: ( ) du F( )= d 14.49 A aceleração, por outro lado, se escreve como uma derivada segunda da posição, ou seja: a t ()= d t dt () 14.50 Assim, a lei de Newton epressa relações entre taas de variação. Por eemplo, a energia potencial de uma mola, como função da coordenada do móvel, é dada por: U( )= 1 k 14.51 onde k é a constante elástica da mola. Portanto, a força eperimentada por uma partícula presa à mola depende da sua posição de acordo com a epressão: du F( )= d ( ) = ( ) = 1 k d d k 14.5 Consequentemente, a segunda lei de Newton corresponde a encontrar uma solução para (t) de tal forma que: m d () t = k () t dt 14.53

336 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 Não é difícil verificar que a solução é da forma prevista pela epressão 14.35, desde que a frequência seja dada por: ω = k m 14.54 14.1 Cinética química A área da química denominada Cinética química se preocupa com a determinação da velocidade com que as reações químicas ocorrem. A partir delas podemos determinar, a cada instante de tempo, a composição de uma mistura. No conteto da cinética química preocupamo-nos com o comportamento das concentrações molares dos reagentes (R(t)) ou dos produtos da reação (P(t)). Quando do início da reação química encontramos apenas os reagentes. Depois de um determinado tempo, encontraremos apenas os produtos da reação. Assim, os reagentes desaparecem à medida que surgem os produtos da reação. Considerando-se um intervalo de tempo Δt = t t 1, definimos a velocidade média de desaparecimento de um reagente (V R ) como a que é dada pelo quociente. V R R( t) R( t1) R = = t t t 1 onde o sinal negativo se trata apenas de uma convenção, de tal forma que as velocidades resultem positivas, enquanto a velocidade instantânea de desaparecimento é determinada pelo processo-limite: 14.55 V R R lim = δ t 0 t dp dt 14.56 Para a velocidade de surgimento dos produtos, aplica-se o mesmo raciocínio. Assim, para o mesmo intervalo de tempo Δt = t t 1, definimos a velocidade média de surgimento de um produto de reação (V P ) a partir do quociente: V P P( t) P( t1) P = = t t t 1 14.57 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas

Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 337 enquanto a velocidade instantânea de surgimento de um dado produto da reação é dada pela derivada da concentração molar do produto da reação: V P P = lim = t 0 t dp dt 14.58 14.13 Tendências de mercado No mercado de capitais, é de grande interesse estabelecer as tendências do mercado. A melhor maneira de estabelecer uma tendência (mas que pode não se confirmar na prática) é analisar sua taa de variação. Consideremos o caso do comportamento do preço da saca de soja na bolsa de mercadorias, cujo gráfico é apresentado no Gráfico 14.0. A inclinação da curva no último dia analisado, ou num determinado instante do dia, estabelece uma tendência, salvo variações inesperadas (como informações recentes sobre aumento ou diminuição da safra), ou seja, o preço no instante seguinte aos últimos preços analisados é dado por: dp t P()= t P( t )+ dt ( t t ) Assim, o preço no instante seguinte é determinado pelo preço presente acrescido da taa de variação instantânea no instante imediatamente anterior. Dependendo da inclinação da tangente, o preço pode ser superior ou inferior no instante imediato ao considerado. () 0 0 t= t0 14.59 Gráfico 14.0: Gráfico do comportamento do preço da saca de soja na bolsa de mercadorias.

338 Licenciatura em Ciências USP/Univesp Módulo 1 As previsões feitas pelo método acima são tanto mais confiáveis quanto maior for o conjunto de dados (obtendo uma curva mais e mais contínua) e quanto menor for o intervalo de tempo considerado. Previsões para o futuro não imediato requerem um formalismo matemático mais sofisticado. 14 O Teorema do Valor Médio e Aplicações das Derivadas