Uma Década De Medicamentos Genéricos: Sucesso Relativo E Progressiva Perda De Eficiência?

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Transcrição:

Uma Década De Medicamenos enéricos: Sucesso Relaivo E Progressiva Perda De Eficiência? Thiago Caliari Douorando em Economia UFM caliari@cedeplar.ufmg.br Ricardo Machado Ruiz Professor Adjuno UFM rmruiz@cedeplar.ufmg.br Ana Maria H. C. Oliveira Professora Adjuna UFM ahermeo@cedeplar.ufmg.br Resumo A regulação pública que criou os medicamenos genéricos inha o inuio de induzir uma queda nos preços dos medicamenos e um conseqüene aumeno do acesso da população aos mesmos. Ese arigo analisa esses esperados efeios, uilizando um modelo de série emporal auo-regressivo com defasagens disribuídas (ADL) para um modelo de ajuse de preços ipo CobWeb, adequado para uma concorrência em preços a la Berrand. Os resulados sugerem correlação negaiva enre os genéricos e o nível de preços do seor, mas ambém indica que essa influência em diminuído de inensidade no decorrer do período, o que sinaliza a necessidade de revisão dessa políica. Palavras-chave: medicamenos genéricos, indúsria farmacêuica, índice de preços. Absrac The public policy ha creae generic drugs had aimed o reduce prices and increase he populaion consumpion of drugs. This aricle discuss hese effecs applying a model of ime series wih auoregressive disribued lags (ADL) for a model CobWeb. I is appropriae for price-compeiion like in Berrand models. The resuls sugges a negaive correlaion beween generic drugs and general price level of he secor, bu also indicaes ha his influence has diminished in inensiy over ime. These resuls indicaes he need o review his policy. Key-Words: generic drugs, pharmaceuical indusry, price index. JEL: I18 overnmen Policy; Regulaion; Public Healh, L16 Indusrial Price Indices. Área ANPEC: 8 Economia Indusrial e da Tecnologia 1

1. Inrodução A indúsria farmacêuica é ceramene inensiva em ecnologia, onde o P&D in house é um imporane deerminane do desempenho das firmas. A largamene uilizada proeção paenária é um dos principais mecanismos de apropriação de rendas derivadas da inovação, ou seja, garane em grande medida o reorno dos invesimenos aplicados no processo de desenvolvimeno. Durane o período de validade da paene, o produor-invenor em um poder de mercado elevado e ende a praicar preços acima daqueles preços que vigorariam em siuações de maior concorrência, ou seja, quando a paene perde validade ou expira. O mercado farmacêuico é, dessa forma, caracerizado por um oligopólio diferenciado, inensivo em P&D e com um ciclo de vida do produo foremene marcado pelo prazo de vigência da proeção paenária. Além dessa clássica barreira à enrada, exisem ouras, mais relacionadas às esraégias das firmas, como o conrole de marcas e rede de fornecedores e que são muias vezes subesimadas. Em seu conjuno, essas barreiras esruurais criam grandes monopólios e oligopólios por classes e subclasses erapêuicas (Rego, 2000; Kremer, 2002). A dinâmica concorrencial reflee essas dimensões ecnológicas e de conrole da demanda. Após o período de proeção, a empresa deenora do medicameno (mais especificamene do princípio aivo) perde a exclusividade ecnológica, o que facilia a enrada de novos concorrenes. Essa concorrência é, em geral, liderada por firmas da própria indúsria que procuram ampliar seu escopo de ofera. No caso brasileiro, esse movimeno de enrada inra-indusrial foi faciliado pela criação dos produos genéricos em 1999, quando se reduziu o poder de mercado das firmas decorrenes do conrole das marcas e da rede de fornecedores. Os genéricos são medicamenos similares a um produo de referência que se preende ser com ese inercambiável, e ainda, com embalagens padronizadas, efeios erapêuicos especificados e sem marcas. Em suma, um produo homogêneo. A influência dos genéricos nos preços dos produos aos quais eles referenciam em sido basane esudada (Saman, 1981; Caves e al 1991; rabowski & Vernon, 1992; riliches & Cockburn 1993; Franck & Salkever 1997; Fiúza e Lisboa, 2001; Hasenclever, 2002; Nishijima, 2008). Há um consenso de que o impaco será negaivo sobre o nível geral de preços (pró-baraeameno dos medicamenos), mas não se em claro a magniude desse impaco nos preços da indúsria como um odo. Por exemplo, o Minisério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Saniária (ANVISA) sugerem que os preços dos genéricos sejam 40% inferiores aos preços dos medicamenos de referência, porém a influência desse valor no índice geral de preços do seor pode ser maior caso haja uma pressão baixisa nos preços dos medicamenos de referência, os produos para os quais os genéricos seriam subsiuos próximos. O inuio desse arigo foi avaliar se houve um impaco significaivo dos genéricos nos preços da indúsria e verificar a imporância desse impaco no empo, ou seja, no período de vigência da políica no Brasil. Por meio de um modelo de ajusameno dinâmico via CobWeb, considerando mercados oligopolizados, foram enconradas evidências de correlação negaiva enre genéricos e preços, porém com diminuição da mesma ao longo do empo. Ou seja, em um primeiro momeno há uma influência muio grande dessa linha de medicamenos no preço final ao consumidor, mas com o passar do empo o efeio é aenuado. Esse resulado parece mimeizar uma dispua de mercado a la Berrand e replicam em grande medida para o caso brasileiro os resulados enconrados por Caves e al (1991) em esudo para a indúsria americana. O rabalho enconra-se dividido em 9 seções, a conar desa inrodução. Na seção 2 apresenamos um breve hisórico da regulação brasileira que resulou na políica dos genéricos. Na seção 3 caracerizamos a indúsria de fármacos desacando os efeios da enrada dos genéricos. Na seção 4 apresenamos uma revisão de lieraura sobre preços no seor farmacêuico. Na seção 5 emos os esudos empíricos com a evolução de preços do seor farmacêuico e a meodologia uilizada para o esudo. Na seção 6 apresenamos os resulados enconrados. Na seção 7 esão as conclusões. Nas seções 8 e 9 enconram-se, respecivamene, a bibliografia e os anexos. 2. Breve Hisórico da Indúsria Farmacêuica Brasileira nos Anos 90 2

A esruura da indúsria farmacêuica brasileira nos anos 90 esá inimamene ligada às políicas indusriais horizonais implemenadas no início da década. Denre essas políicas, as de maior impaco para o seor foram: (a) a redução das arifas aduaneiras, em paricular a parir de 1994, (b) as fluuações na axa de câmbio, (c) a liberalização dos preços a parir de 1992, (d) a implanação da nova legislação paenária em 1997 e (e) a redução significaiva dos insrumenos financeiros de supore ao invesimeno seorial (e.g. recursos do BNDES e da FINEP) (Queiroz & onzáles, 2001; Romano, 2005). Tais políicas, que não consideravam as especificidades seoriais e não propunham insrumenos focados para um conjuno definido das indúsrias, produziram modificações imporanes na esruura indusrial. Alguns resulados conhecidos são: aumeno das imporações com modeso crescimeno das exporações, aquisições de empresas nacionais por esrangeiras, aumeno significaivo dos preços, desvericalização e especialização produiva, esagnação da produção nacional e mesmo conração da produção em alguns segmenos (Frenkel, 2002; adelha, 2002). A incipiene esruura produiva nacional sofre no início da década um processo de compeição relaivamene predaório pela redução das arifas aduaneiras. Segundo Oliveira (2005), somene na área de química fina 1.096 esruuras indusriais foram fechadas, bem como 355 projeos cancelados. Esse desmone da indúsria nacional combinado com aberura comercial e liberalização de preços não levou a um aumeno no consumo e com redução de preços, pelo conrário. Para enender a dinâmica do seor, apresenamos a figura 1, que ilusra a evolução de preços no período. Figura 1: Evolução dos Preços dos Produos Farmacêuicos (1989-2007) 180 160 140 120 100 Fim do conrole de preços pós Plano Collor I URV Plano Real Inícioda Desvalorização Cambial enéricos 80 60 40 Congelameno do Plano Collor II Liberação pós Plano Collor II 20 0 IPA-O Produos Farmacêuicos / IP -M IP-M / IP-M Fone: Elaboração própria a parir de dados do IPEADaa. A figura compara os preços dos produos farmacêuicos ao índice geral de preços de mercado (IP-M). O aumeno de preços no seor é acima do índice de inflação geral e, somene após o plano Real e uma esabilização da axa de câmbio (que esabelecia o câmbio fixo aproximadamene na axa de um real para menos de um dólar), o seor vivenciou uma redução significaiva nos seus preços em comparação aos preços médios. Conudo, após o primeiro efeio do plano, o seor foi marcado pela liberalização de preços aliada a um leve aumeno da axa de câmbio, no ambiene macroeconômico. Viso que a esruura produiva nacional era incipiene, o seor é profundamene dependene de imporações, o que faz com que mudanças na axa de câmbio provoquem aumeno de cusos. A junção desses dois efeios rouxe novamene à ona o processo de aumeno dos preços dos remédios. Nesse cenário, uma políica regulaória mais aiva mosrava-se progressivamene mais imporane. O aumeno nos preços dos medicamenos impacava nos orçamenos públicos (municipal, esadual e federal) e impunha pleios maiores no orçameno fiscal, além de gerar um desconenameno da população 3

em função do crescene peso nos orçameno domiciliar. Essa inervenção eve início com a políica dos genéricos e criação da Agência Nacional de Vigilância Saniária (ANVISA), ambas em 1999, inensificando-se na criação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamenos (CAMED) em 2001. 3. A Indúsria Farmacêuica e os Medicamenos enéricos A indúsria farmacêuica se desaca como uma das mais inovadoras enre os seores produivos. No Brasil, segundo dados da Pesquisa Indusrial de Inovação Tecnológica (PINTEC) 1 do ano de 2003, a indúsria farmacêuica figurou enre as quaro maiores em esforços de inovação, arás apenas de máquinas de escriório/equipamenos de informáica, máquinas/maerial elerônico básico e aparelhos/equipamenos de comunicação (Basos, 2005). Na indúsria de fármacos e de medicamenos, as empresas mulinacionais de grande pore são as maiores inovadoras de produos e processos. É pare cenral da esraégia dessas empresas a conínua inrodução de novos medicamenos no mercado. Tais esraégias exigem inensa aividade em P&D em diversos programas de pesquisa. Uma siuação comum nesse seor é a consiuição de redes de P&D organizadas por uma empresa-líder, em geral deenora de elevada capacidade ecnológica, mas ambém de um eficiene e amplo processo de disribuição e de markeing (rabowski, 2003; Albuquerque & Cassiolao, 2002). Essa complexidade ecnológica e comercial, presene nas inerações enre as firmas, as insiuições de P&D e a rede disribuidora consiui as principais barreira à enrada de imiadores. A imporância da inovação de produo e de processo se reflee nos cusos de financiameno elevados para as empresas que auam na liderança ecnológica. Alguns projeos de pesquisa podem cusar US$ 800 milhões para a obenção de um único componene aivo ou subsância farmacêuica (PhRMA, 2007) 2. A renabilidade depende, porano, da capacidade das empresas de alocar recursos financeiros para pesquisa em grande escala e lançar coninuamene novos produos no mercado. Ao adquirir direios de propriedade inelecual, as empresas passam a ser capazes de ober lucros exraordinários de monopólio, que são necessários à manuenção dos elevados invesimenos em P&D. Em 2006, segundo esimaivas da Pharmaceuical Research and Manufacurers of America (PhRMA), a indúsria farmacêuica invesiu, somene nos EUA, cerca de US$ 42,9 bilhões 3 em P&D, para uma receia anual de US$ 274,8 bilhões 4, ou seja, 15,6% das receias com vendas em 2006 foram desinadas à pesquisa (Sanos, 2007). Em conrase aos invesimenos americanos, no Brasil, segundo dados da PINTEC 2003, apenas 0,53% da receia de vendas foi aplicada em P&D (adelha, 2006). Na PINTEC 2005 esses valores aumenam, mas coninuam muio baixos: próximos a 1,23% do faurameno. Além do baixo nível de invesimeno em P&D, segundo Bermudez (1994) rês ouros aspecos devem ser ressalados ao analisar a siuação dessa indúsria farmacêuica nacional: a dependência de insumos imporados, a limiada exporação e a oligopolização. Algumas iniciaivas públicas buscaram reduzir a dependência exerna do complexo indusrial nacional, principalmene no ocane à produção de medicamenos negligenciados e vacinas (Oliveira e al, 2006). É o caso da Farmobrás e da Codeec, projeos já exinos (Bermudez, 1994), e de laboraórios públicos que auam aé hoje na sínese de fármacos que hoje são produzidos em larga escala nacional; mas o foco das aividades desses laboraórios são os medicamenos esraégicos para as políicas públicas (Temporão, 2003; adelha, 2003). Ademais, o país conava em 2006 com dezoio (18) desses laboraórios esaais, produzindo 11 milhões de unidades farmacêuicas por ano (Oliveira e al, 2006). Porém, como bem desaca a auora, há nesses laboraórios ainda baixa capaciação ecnológica e escassez de recursos humanos qualificados que os permia oferecer um supore essencial no opo da cadeia produiva, a pesquisa e desenvolvimeno de produos com alo eor ecnológico. Quano a amanho de mercado, em 2005 o Brasil possuía a décima colocação mundial, com um monane de mercado da ordem de US$ 6,978 bilhões (IMS, 2006). Foi ainda o país que apresenou o maior crescimeno percenual no período recene: 38% comparando-se os anos de 2005 e 2004. É um 1 Dados fornecidos pelo Insiuo Brasileiro de eografia e Esaísica (IBE). 2 Pharmaceuical Indusry Profile 2007 (PhRMA, 2007). Valor para o ano de 2001. 3 Ibidem. 4 Dados do IMS Healh para o ano de 2006. Disponível em: hp://www.imshealh.com/ims/poral/fron/indexc/0,2773,6599_5264_0,00.hm 4

mercado ainda pequeno se comparado com a movimenação mundial de US$ 602 bilhões no seor, mas que possui um grande poencial de crescimeno (Capanema & Filho, 2007). Frene a essa esruura produiva, ao amanho de mercado, às demandas políicas de orçameno público e da opinião pública, a políica dos remédios genéricos foi mais uma políica social do que uma políica indusrial propriamene dia. Seu objeivo era o baraeameno de compras com visas a reduzir as despesas com medicamenos e favorecer o acesso à população. Foi dessa forma que se insiuiu no mercado brasileiro os medicamenos genéricos em fevereiro de 1999, aravés da lei 9.787 5. O medicameno genérico é um medicameno similar a um produo de referência ou inovador, que se preende ser com ese inercambiável, geralmene produzido após a expiração ou renúncia da proeção paenária ou de ouros direios de exclusividade, comprovada a sua eficácia, segurança e qualidade, e designado pela Denominação Comum Brasileira (DCB), ou na sua ausência, pela Denominação Comum Inernacional (DCI) (Brasil, 2003). Os genéricos são, porano, produos similares aos produos que os referencia, mas que já iveram sua proeção paenária expirada. Sendo a indúsria farmacêuica dependene foremene de inovações, é de se esperar que produos que já expiraram suas paenes sejam produos que uilizem ecnologias e conhecimenos mais difundidos e homogêneos. Os medicamenos de referência a esses genéricos são, dessa maneira, produos que se enconram há muio empo no mercado e que, na maioria das vezes, êm marcas reconhecidas por inermédio de esraégias de diferenciação de produo via markeing e conrole da rede de disribuição. Nessas circunsâncias concorrenciais, o objeivo principal dessa políica foi a redução do poder de mercado decorrene dessa diferenciação dos produos de marca para, assim, ober um menor preço ao consumidor final, o que inclui um paciene ou mesmo uma prefeiura e hospial. Esse viés próbaraeameno de preços era, naquele momeno, um aspeco cenral da políica, dada a pressão exercida pelo governo Minisério da Saúde e pela Comissão Parlamenar de Inquério dos medicamenos em 1999 6. Porém, a insiuição dos genéricos no Brasil aconece ardiamene se comparado com ouros países do mundo. Nos EUA a lei dos genéricos daa de 1984, com o Hach-Waxman Ac (Bernd, 2002). Já na Índia, a insiuição do Indian Paens Ac em 1970 só criou proeção paenária para processos ainda assim por apenas 3 anos, o que permiiu engenharia reversa e aprendizado ecnológico de fabricação de drogas já exisenes (Fink, 2000; Kremer, 2002; race, 2004). A abela 1 mosra a paricipação dos genéricos na ofera oal dos medicamenos de alguns países selecionados. Tabela 1: enéricos na Ofera de Medicamenos (países selecionados, Junho 2008) País % em Valor EUA 13 60 Alemanha 26 60 Reino Unido 26 60 Canadá 22 45 França 14 35 Espanha 13 30 Brasil 14 17 Fone: Pró-enéricos (acesso jan. 2009) % em unidades 5 Mesmo que o inuio inicial da políica dos genéricos enha sido o cunho social, isso não quer dizer que a mesma não produziu efeios não inencionais na aividade produiva nacional. Mosraremos um pouco desses efeios mais abaixo, mas para uma visão um pouco mais profunda desses resulados não esperados sugerimos a leiura de Quenal e al (2008). 6 O enão minisro da Saúde José Serra freqüenemene se manifesava sobre a necessidade de que:...o acesso à ofera de medicamenos pela população brasileira é uma das condições fundamenais para a implanação de uma políica de saúde para o país (Relao exraído da CPI dos Medicamenos, 1999, p.141). 5

Pode-se ver, principalmene para os primeiros países da abela, que há grande paricipação dos genéricos em unidades consumidas e preço relaivamene modeso, o que sinaliza um viés próbaraeameno: grande paricipação na ofera oal em unidades e a baixa paricipação em valor. A mesma análise só não é válida para o Brasil, viso que a paricipação em unidade e valor é praicamene a mesma. Além disso, no período enre 2002 e 2008 o crescimeno da paricipação no mercado brasileiro em valor e unidade foi praicamene o mesmo, da ordem de 150%. Isso pode indicar um resulado menos saisfaório da políica no Brasil? Além desse aspeco, vale desacar os efeios da políica sobre a esruura produiva, mesmo que o inuio inicial enha sido o cunho social de baraeameno 7. Isso pode ser viso na abela 2. Tabela 2: Paricipação no mercado nacional das empresas farmacêuicas (1998 e 2005) Empresa Paricipação no mercado (1998) Empresa Paricipação no mercado (2005) Novaris 6,3% Aché 6,9% Roche 5,5% Sanofi-Avenis 6,8% Brisol-Meyers Squibb 5,4% EMS Sigma Pharma 5,1% Hoechs Marion Roussel 5,2% Pfizer 5,0% Aché/Prodome 4,7% Novaris 4,8% Jansen Cilag 3,7% Medley 3,7% Boehringer Ingleheim 3,7% Boehringer Ing. 2,9% laxo Wellcome 3,5% Schering Plough 2,9% Schering Plough 3,2% Eurofarma 2,8% Eli Lilly 3,0% Schering do Brasil 2,7% Demais empresas 55,8% Demais empresas 56,4% Fone: Callegari (2000) para 1998 e Capanema & Filho (2007) para 2005 A abela apresena as maiores empresas operando no mercado brasileiro em paricipação de mercado nos anos de 1998 e 2005. Pode-se noar que a concenração do mercado nacional pouco mudou, com as 10 maiores empresas conrolando 44,2% de paricipação de mercado em 1998 e 43,6% em 2005. Além disso, em 2005, dos 56,4% resanes, 38% esão disribuídos enre ouras 22 empresas; os demais 18,4% enconram-se pulverizados enre 470 empresas (Capanema & Filho, 2007). Em suma, a concenração nacional maneve-se próxima à mundial, viso que em 2002 as 10 maiores empresas do mundo deinham 48% do mercado (Danzon e al, 2004). Porém, em 1998 somene a empresa Aché possuía capial nacional e figurava enre as maiores do seor. Já em 2005, cinco das dez maiores empresas possuíam paricipação de capial nacional, a saber: Aché, EMS Sigma Pharma, Medley, Eurofarma, Schering do Brasil e rupo Casro Marques, sendo que as quaro primeiras são fabricanes de medicamenos genéricos. Esse aumeno de paricipação nacional via fabricanes de genéricos caminha conjunamene com o aumeno de paricipação dos medicamenos genéricos na ofera oal nacional. Segundo o sie Pró-genéricos (2009), 88% da ofera de genéricos no mercado nacional no ano de 2008 advêm de empresas de capial brasileiro. É nesse conexo de pró-baraeameno e aumeno de capial nacional que realizamos nossas análises, e é jusamene a averiguação da hipóese de baraeameno que dá susenação ao esudo aqui apresenado. Uma esraégia básica para avaliar a eficácia da políica dos genéricos seria ober indícios de uma redução nos preços da indúsria em sincronia com o aumeno de paricipação desses produos no mercado. Ao mesmo empo, seria necessário invesigar se ouros faores não concorreram com o suposo efeio pró-baraeameno, seja confirmando-o ou negando-o. 7 É nesse aspeco que pode ser inserido o conexo de Complexo Indusrial de Saúde, viso que políicas sociais de desenvolvimeno da saúde e políicas de desenvolvimeno indusrial e de inovação seoriais fazem pare de uma mesma cadeia produiva e de serviços (Albuquerque & Cassiolao, 2002; adelha, 2003; adelha, 2006; Quenal e al, 2008; enre ouros). 6

4. Os preços dos genéricos e dos medicamenos de referência A influência dos medicamenos genéricos sobre os índices de preços ao consumidor é conroversa. Exisem poucos esudos sobre a magniude do impaco desses medicamenos nos índices de preço do seor, mas uma quanidade considerável em pesquisas que demonsram o impaco dos genéricos sobre o medicameno ao qual eles se referenciam. Nessa linha, observa-se que alguns esudos inernacionais enconram resulados ineressanes e difusos. Saman (1981) pesquisa o comporameno de preços de doze produos de marca anes e depois da expiração de suas paenes. Conclui que a paricipação de mercado em valor desses produos diminui para 96% do seu nível inicial e apenas um dos doze produos apresenou queda significaiva no preço. A pequena mudança na paricipação de mercado sugere baixa elasicidade preço-genérico na demanda de produos de marca. rabowski & Vernon (1992) esudaram o efeio da enrada de genéricos em dezoio (18) produos que sofreram a expiração de paene enre 1983 aé 1987. Esimando o impaco do número de oferanes de genéricos no mercado e o impaco do preço do genérico no preço do produo de marca, enconraram como resulado que o preço dos produos de marca aumena relaivamene ao preço dos genéricos após a enrada deses no mercado. Franck & Salkever (1997) chegam a uma conclusão parecida. Ao esudar uma amosra de rina e duas (32) drogas que expiraram paene durane meados dos anos 80, os auores enconraram resulados que comprovam a evidência de aumeno nos preços dos produos de marca após a enrada no mercado dos genéricos, acompanhados por grande queda geral de preços devido aos baixos preços das drogas genéricas. Exemplo de esudos que chegam a um resulado oposo são os de Caves e al (1991) e riliches & Cockburn (1993). Caves e al (1991) sugerem que a simples comparação pré e pós-enrada dos genéricos pode razer resulados inconsisenes porque omiem faores que causam mudança nos preços dos produos de marca aravés do empo. Suas regressões, conroladas para essas variáveis, esimaram que uma inicial enrada dos genéricos reduz o preço dos produos de marca em 2%. A enrada de vine (20) produos genéricos reduzia o preço em 17%. Ainda esimando uma regressão próxima à proposa por rabowski & Vernon (1992) enconraram que o efeio dos genéricos nos preços dos produos de marca diminuía à medida que aumenava o numero de oferanes de genéricos; algo esperado em um modelo a la Berrand. riliches & Cockburn (1993) discuem sobre os problemas de mensuração dos indicadores oficiais nos EUA, por não raar os genéricos e os produos de marca como bens subsiuos. Sugerem uma reformulação dos mesmos, indicando que a enrada de genéricos no mercado experimena um significaivo período de declínio de preços no inicio do ciclo de vida. O resulado dos auores mosra que enquano os índices padrão de inflação mosram um viés de aumeno de preços nos medicamenos de referência após a enrada dos genéricos, suas reformulações desses índices mosram uma diminuição no preço dos produos de marca. No âmbio nacional, podem-se desacar as conribuições de Fiúza e Lisboa (2001), Hasenclever (2002) e Nishijima (2008). Fiúza e Lisboa (2001) sugere que, após a enrada de genéricos, as empresas produoras dos medicamenos de referência adoam uma forma de Ramsey pricing. Elas diferenciam seus produos elevando ainda mais o preço de vendas, visando exrair excedenes do consumidor em segmenos com elasicidade-preço da demanda inferior, delegando aos genéricos os segmenos de maior elasicidade-preço da demanda. Hasenclever (2002) e Nishijima (2008) consaam resulados diferenes. Ambos enconram viés negaivo nos preços dos medicamenos de referência pelo aumeno de ofera de genéricos. Porém, para Hasenclever (2002), o efeio é indireo, via efeio dos genéricos na diminuição de concenração de mercado. Para a auora é a desconcenração do mercado nas classes erapêuicas, independene se em decorrência da grande presença de similares ou como conseqüência da inrodução de genéricos, que parece conduzir à redução dos preços dos medicamenos de referência, ou seja, é um efeio mais inenso na ineração compeiiva enre empresas do que um efeio subsiuição por pare do consumidor. 7

Ademais, não obsane as divergências enconradas nos rabalhos da área, a indicação do Minisério da Saúde e da ANVISA é a de que o preço de enrada dos genéricos seja 40% inferiores aos preços dos medicamenos de referência. Porém, a evolução dos preços dos medicamenos de referência após essa enrada e a definição dos preços dos genéricos após um horizone mais longo de empo viso que os mesmos passam a serem definidos, em algum ermo, pelo jogo de esraégias oligopolisas da indúsria, auação regulaória do governo e demanda, quer seja esaal ou privada são dúvidas cenrais para verificar a eficácia da políica. Torna-se relevane, porano, o esudo agregado desses efeios como forma de enender a dinâmica seorial. 5. A Evolução dos Preços O objeivo da seção é apresenar uma evidência inicial sobre a endência de baixa na evolução dos preços dos medicamenos. Para isso, mosramos abaixo, na figura 2, uma comparação da evolução de alguns índices de preços com o índice de preços dos medicamenos, o INPC Saúde. Figura 2: Evolução dos Índices de Preços dos Medicamenos (INPC-Saúde) e Ouros Índices de Preços (Base 100 para janeiro de 2000) 110 100 90 80 70 60 50 40 30 inpcsaude / inpcsaude inpcsaude / igp -m inpcsaude / inpc inpcsaude / ipa -m inpcsaude / ipca Fone: Elaboração própria dos auores a parir de dados do IPEADATA As comparações foram feias enre o INPC Saúde e quaro índices de inflação, a saber: IP-M, IPA-M e IPCA e INPC. A escolha desses índices foi proposial, pois o objeivo é analisar a evolução comparaiva por esraos de renda e seores econômicos. O IP-M, por exemplo, é uma média de índices aacado, varejo e consrução civil. O IPA-M mede apenas a variação de preços no aacado, foremene influenciado pela axa de câmbio. O IPCA mede o cuso de vida para uma faixa salarial de 1 a 40 salários mínimos, enquano o INPC mede de 1 a 6 salários mínimos. Seja qual for o índice de preços de referência, há um relaivo baraeameno dos gasos com saúde. Valores abaixo da base 100 de janeiro de 2000, porano, mosram que o INPC Saúde cresce em um rimo menor ao índice de comparação. Há, porano, uma deflação relaiva no seor farmacêuico que proporciona um crescimeno abaixo da média nacional. A quesão é saber se esse valor esá ligado à crescene paricipação dos genéricos no mercado nacional. Uma pare desse baraeameno pode ser resulado da ação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamenos (CAMED), que esabelece conrole de preços sobre o mercado. A lei que esabelece as funções legais da CAMED daa de 2001, mas o abelameno já vinha sendo feio de forma meódica desde o ano 2000, aravés da Medida Provisória 2063 (Silva, 2004). Porém, o enendimeno da ação regulaória do governo na políica dos genéricos nos faz acrediar que, fora esse conrole de preços, a políica dos genéricos é um dos principais responsáveis pelo 8

baraeameno. Para corroborar o argumeno, apresenamos abaixo a variação percenual mensal do INPC Saúde e a paricipação de mercado dos genéricos em unidades vendidas. O período compreendido na análise é o mesmo que será uilizado no modelo de regressão. Pode-se noar que em meses onde há variação percenual posiiva da paricipação de mercado por unidade dos genéricos há, via de regra, variação percenual negaiva da inflação, o que sinaliza algum peso dos genéricos nos índices de preços. Com a análise dos dados da própria pesquisa foi enconrada uma correlação negaiva de -0.2587 enre o INPC Saúde e o marke share por unidade dos medicamenos genéricos. Há, dessa maneira, uma correlação negaiva enre as duas variáveis, a qual implica que aumeno de paricipação dos genéricos na ofera diminui a inflação do período. Figura 3: Variação do INPC Saúde e Marke Share dos enéricos (unidades vendidas de Janeiro de 2002 a Dezembro de 2008) Além desse resulado, no começo do período as variações mensais da série dos genéricos eram mais suaves que as do INPC Saúde. Ou seja, crediando a exisência de influência dos genéricos no preço, um pequena variação daquele (genéricos) resulava numa grande variação dese (inflação seorial). O conrário aconece para o final do período, especificamene e com maior força a parir do final de 2006, no qual grandes variações mensais na paricipação de mercado dos genéricos são acompanhadas por pequenas variações no índice de inflação. Uilizaremos essa consaação inicial para verificar a hipóese de diminuição da influência emporal dos genéricos, como defendido por Caves e al (1991). 6. Meodologia 6.1. A Escolha do Índice de Inflação Inicialmene é prudene explicar a escolha do índice do seor. Os preços dos medicamenos, como exposo na seção anerior, são regulados e essa regulação aconece por meio de um preço máximo de venda ao consumidor reajusados anualmene, normalmene no mês de março. O IPA-O Farmacêuicos reraa exaamene essa dinâmica, como se pode ver na figura abaixo. O índice apresena uma cera consância nos preços para o período de um ano e picos nos meses de março. Figura 4: Evolução do INPC Saúde, IPA-O Farmacêuicos (Janeiro de 2000 a Dezembro de 2007, Base 100 para Janeiro de 2000) 9

170 160 150 140 130 120 110 100 inpc-saude ipa-og farm 6 por Média Móvel (ipa -og farm) Fone: IPEADATA Porém, acrediamos que a dinâmica de mercado dos preços dos fármacos não siga exaamene o reraado pelo IPA-O, mas seja muio mais parecida com o crescimeno do INPC Saúde. Como a regulação do IPA-O Farmacêuicos é dada pelo preço máximo de venda, a adequação do repasse de preços dos revendedores ao consumidor final não se dá de forma direa, proporcional e imediaa. Um repasse direo feio por odos os vendedores criaria condições de relações oporunísicas, nas quais se apenas um desses vendedores não realizasse al repasse poderia ganhar parcelas significaivas do mercado; como num ípico jogo de Berrand. Nesse caso, o INPC Saúde pode reraar com maior exaidão a dinâmica dos preços, com um crescimeno suave dos preços dos medicamenos aé aingir o pico, o valor máximo de revenda imposo pelo governo. A figura reraa exaamene essa rajeória, mosrando que al índice em uma dinâmica muio parecida com a média móvel do IPA-O Farmacêuicos. Acrediamos, assim, que esse índice capa com maior exaidão o crescimeno do preço dos medicamenos no mercado e será o índice que uilizaremos para o esudo economérico. 6.2. O Modelo de Preços e a Abordagem Economérica O modelo uilizado replica uma esruura de oligopólio com ajuses adapaivos do ipo de Berrand. Sendo os mercados de produos farmacêuicos alamene oligopolizados a suposição é razoável, principalmene se considerarmos a relação dos genéricos com os medicamenos de marca, onde exise elevada subsiuibilidade, o que amplifica a possibilidade de guerra de preços. Para uma melhor explicação, suponhamos que a quanidade oal oferada do seor possa ser desmembrada em duas pares: uma relaiva à ofera dos medicamenos genéricos ( Q ) e oura relaiva aos demais medicamenos ( Q ) de forma que Q = Q + S Q (1) Ainda, pode-se esabelecer que as quanidades oferadas de cada linha de medicamenos obedeçam a uma esruura de cusos como a seguine Q = f ( P, P, e, w ) Q = f P, P, e, w ) ( (2) (3) 10

Sendo P o preço dos genéricos no período, P o preço dos demais medicamenos no período, e a axa de câmbio no período e w os salários pagos aos rabalhadores no período. Ainda: Q Q Q Q P P e w > 0 < 0 < 0 < 0 Q Q Q Q P P e w > 0 < 0 < 0 < 0 Suponhamos ainda que P < < P. Dessa forma, há redução no índice de preços agregado fuuro P + 1 devido ao aumeno consane da paricipação dos genéricos no mercado. O preço fuuro porano, é o resulado da concorrência enre essas duas linhas de medicamenos, de al forma que P, + 1 P = f ( P, Q, Q, e, w ) + 1 (4) P P P P P + 1 + 1 + 1 + 1 + 1 / P / Q / Q / e / w Sendo < > > < 0 > 0 0 0 0 O modelo (4) será o modelo a ser esimado. Essa abordagem nada mais é do que um modelo CobWeb de preços com alguns deerminanes de cuso que consideramos imporane para o seor farmacêuico. Para realizar a análise economérica do modelo da equação (4) uilizaremos a écnica de séries emporais aravés de um modelo auo-regressivo de defasagem disribuída (ADL), basane uilizado na lieraura para previsões de axa de inflação aravés de modelos de curva de Philips (ordon, 1990; Alencar, 2006; Sock & Wason, 2008). A modificação da equação para a análise economérica dá-se apenas na inclusão do ermo de erro ε, suposo normal e que aende às condições de orogonalidade. Segundo reene (2003), modelos ADL são lineares com erros seguindo disribuição normal. Dessa forma, o esimador de MQO nesse ipo de análise é ainda um esimador eficiene, e os eses e de Wald podem ser usados. Ainda, como não se consaou a presença de auocorrelação residual 8, o MQO coninua a ser BLUE e é o esimador que deve ser usado. As variáveis uilizadas são as já expliciadas no modelo, com exceção da variável salários (w). Isso porque o nível de salários do seor ambém define a quanidade demandada, e isso causaria colinearidade na análise economérica. Dealhadamene apresenamos essas variáveis abaixo, bem como a fone das mesmas: (a) P + 1 = INPC-Saúde (% a.m.): Índice Nacional de Preços ao Consumidor produos saúde e cuidados pessoais (IBE); 8 Uilizamos para esar a auocorrelação residual a esaísica d de Durbin-Wason e regressões dos resíduos. Os resulados de ambos os eses são apresenados no anexo. Caso fosse deecada a presença de auocorrelação residual um caminho para corrigi-lo seria esimar a equação aravés do méodo Prais-Winsen. Também conhecido como Mínimos Quadrados eneralizados Facíveis (MQF), o méodo esima os parâmeros de um modelo de regressão linear em que os resíduos são serialmene correlacionados (ujarai, 2000). 11

(b) Q = Produção de medicamenos genéricos: É a muliplicação da paricipação de mercado dos genéricos pela Produção Indusrial Seor Farmacêuico. Essa muliplicação nos informa uma proxy de quano da variação na fabricação farmacêuica foi devida ao aumeno de quanidade de genéricos (Elaboração própria a parir de dados da Pró-enéricos e Pesquisa Indusrial Mensal PIM-IBE); (c) Q = Quanidade produzida dos demais medicamenos: É a Produção Indusrial Seor Farmacêuico subraída da produção dos medicamenos genéricos (Elaboração própria a parir de dados da PIM-IBE); (d) P = Para a definição do preço do período presene opamos por analisar a influência do próprio INPC-Saúde (% a.m.) e do Índice eral de Preços ao Consumidor (INPC (% a.m.)). A suposição é que a influencia do INPC-Saúde seja negaiva (replicando o modelo CobWeb) e do Índice eral seja posiiva (ou seja, os preços dos medicamenos caminhem junos com os preços dos bens em geral). As duas sereis são disponibilizadas pelo IBE; (e) e = Taxa de câmbio (R$/US$): Média da axa comercial de câmbio para venda (BACEN); O período de análise compreende janeiro de 2002 a dezembro de 2008, em um oal de oiena e quaro (84) observações. Esse foi o período considerado, pois só emos informações para quanidade de produção de genéricos a parir desa daa. Para a especificação economérica deve-se levar em cona ainda a esacionariedade do modelo. Conforme exposo em Johnson & Dinardo (1997), a imporância de rabalhar com séries esacionárias é que esa propriedade garane, possivelmene após um período de ajuse inicial, alcançar um equilíbrio dinâmico. Quando o processo esá em equilíbrio, qualquer observação, condicionada às observações passadas a ela, em uma mesma disribuição, ou seja, um subperíodo da série se compora como ouro qualquer. Por isso, a esacionariedade permie esimar parâmeros de um modelo para o processo esocásico 9. A hipóese de esacionariedade das séries é esada aravés do ese de Dickey-Fuller (DF), sendo o mesmo escolhido por não consaarmos a presença de auocorrelação nos resíduos da regressão proposa 10. Os valores para os eses DF esão exposos na abela abaixo. As séries de produção de genéricos e câmbio demonsraram raiz uniária. Tendo em visa que o cuso de se considerar uma série inegrada de ordem um (I(1)) sendo inegrada de ordem zero (I(0)) é maior do que considerar uma série I(0) como sendo I(1), opamos por rabalhar com odas as séries inegradas de primeira ordem. A perda de informação que pode advir da diferenciação é menos problemáica que o cuso de se ober uma regressão espúria. Analisamos os resulados do modelo na seção seguine. Tabela 3: Tese DF de raiz uniária Séries Tese P-valor I inpcsaude -5.246 0.0000 0 Δ inpcsaude -11.032 0.0000 0 inpc geral -3.321 0.0140 0 Δ inpcgeral -9.034 0.0000 0 qgenericos -1.079 0.7232 1 Δ qgenericos -9.482 0.0000 0 qdm -4.937 0.0000 0 Δ qdm -11.603 0.0000 0 cambio -1.349 0.6063 1 Δ cambio -10.943 0.0000 0 Período: 01.2002 a 12.2008 DF: valor críico 1%=-3.539 / valor críico 5%=-2.907 Fone dos dados básicos: BACEN, IBE, IPEADATA e Pró-enéricos 9 Séries emporais não-esacionárias podem, muias vezes, levar a uma regressão espúria, em que a provável endência no mesmo senido exisene enre as séries produz alas significâncias na regressão alos R 2 sem que ela mesmo enha algum significado econômico (reene, 2003). 10 Caso a mesma fosse consaada, o ese mais indicado para esar a esacionariedade seria o Dickey-Fuller Aumenado (ADF). 12

6. Resulados e Discussões Conforme expliciado no ópico 5, na análise da figura 4, a correlação enre os medicamenos genéricos e o índice de preços é negaiva e em perdido efeio nos úlimos anos. Para precisar essa percepção esimamos rês modelos diferenes. Um primeiro para odo o período (modelo 1) e ouros dois (modelos 2 e 3) pressupondo uma quebra esruural no final de 2006 jusamene o período onde consaamos pela figura 3 uma menor influência dos genéricos no INPC Saúde. Seguem na abela abaixo os resulados enconrados. Tabela 4: Regressões de série emporal pelo méodo ADL Variáve is M ode lo 1 (2002.01 a 2008.12) M ode lo 2 (2002.01 a 2006.12) l1.qgenericos -0.1049-0.1510-0.015 (-2.41) (-6.74) (-1.25) l1.qdm 0.0218 0.0281 0.0002 (3.48) (2.69) (0.04) l1.inpcsaude -0.2694-0.2938-0.2768 (-2.65) (-2.40) (-1.12) l1.inpcgeral 0.345 0.401 0.117 (2.18) (2.06) (0.49) l1.cambio 0.5476 0.601 0.080 (1.76) (1.35) (0.16) R2 0.2537 0.2923 0.1578 Tese F 4.25 3.51 0.48 Observações 84 60 24 / / Significane a 1%, 5% e 10% respecivamene Fone dos dados básicos: BACEN, IBE, IPEADATA e Pró-enéricos. M ode lo 3 (2007.01 a 2008.12) Os modelos 1 e 2 consiuem regressões válidas pelo ese F. A não significância esaísica do modelo 3 pode ser em pare pelo pequeno número de observações como já expliciado, isso diminui os graus de liberdade da regressão e a possibilidade de validade do modelo. Mesmo assim, opamos por apresená-lo pela averiguação de sua magniude. Na abela, mosramos primeiro os coeficienes das variáveis e logo abaixo, enre parêneses, suas esaísicas. Para validade economérica da diferença enre as regressões realizamos o ese de Chow, sendo o mesmo apresenado no anexo. Para o momeno, cabe desacar que o ese mosrou que as regressões são esaisicamene diferenes. Ainda, por um ese de comparação de médias, enconramos que a única série que mosrou coeficienes esaisicamene diferenes para odos os períodos da análise foi a de quanidade produzida de genéricos 11. O ese ambém é apresenado no anexo do arigo. As variáveis foram significanes para os modelos 1 e 2, com exceção da axa de câmbio para o modelo 2. O modelo 3 não mosrou significância em nenhuma de suas variáveis, provavelmene pelo pequeno número de observações. Ademais, odas as demais variáveis apresenaram o sinal esperado e descrio na meodologia, fornecendo indício de validação dos resulados. Como pode ser viso, o preço do período passado influencia negaivamene o preço aual, como um modelo clássico de CobWeb, no qual a dinâmica ende a esabilizar o mercado, ceeris paribus. Para a comparação com o nível de preço geral, a relação é inuiiva e mosra que os preços dos medicamenos êm uma endência igual aos demais preços do mercado. O câmbio influencia posiivamene os preços, ouro resulado esperado. O seor é predominanemene imporador de maérias-primas, principalmene de fármacos (princípio aivo na 11 Como uma forma alernaiva de esar a quebra esruural no período poderia ser inserida uma dummy para o período suposo. Porém, pelo pequeno número de observações as quais dispomos novamene nos apareceria o problema de provável não significância pelo pequeno número de graus de liberdade. Opamos, porano, pelo ese de Chow e pelo ese de comparação de médias, que nos pareceram mais confiáveis. 13

fabricação de medicamenos). Assim, um aumeno da axa de câmbio eleva o cuso de fabricação, que é repassado para o nível de preços ao consumidor. Mais imporane é a análise do coeficiene de quanidade produzida de genéricos. Pode-se consaar diferença para os rês modelos da análise, mesmo que o úlimo não enha sido significaivo. Essa diferença foi validada pelo ese, como dio acima, e mosra que a influência dos genéricos nos preços foi maior para o período aé o fim de 2006 que no agregado do período. O coeficiene enre esses dois períodos modelos 1 e 2 difere esaisicamene na ordem de aproximadamene 50%. Vale lembrar que na comparação de coeficienes para as demais variáveis, nenhuma delas mosrou diferença significaiva em seus coeficienes para odos os modelos, principalmene na comparação enre modelo 1 e 2. Ou seja, o coeficiene dos genéricos foi o único que variou, demonsrando mudança na magniude da imporância dos mesmos sobre o nível de preços no período. Assim, noa-se pelo modelo que há uma diferença clara enre a influência inicial que os genéricos inham sobre o nível de preço e a influência de longo prazo dos mesmos. No esudo de Caves e al (1991) para a indúsria americana, ocorria uma diminuição do efeio dos genéricos nos preços dos produos de marca à medida que aumenava o número de oferanes de genéricos, e parece que o caso brasileiro é similar a esse resulado. A despeio da indicação do governo, no qual o preço dos genéricos seja 40% inferior ao dos medicamenos que os referenciam, o aumeno da quanidade de oferanes genéricos e as inerações de concorrência de mercado pós-enrada parecem provocar uma diminuição da força de pressão sobre o índice. 7. Conclusões Vários esudos nacionais e inernacionais avaliaram o poder de influência dos genéricos nos medicamenos de marca não esabelecendo, porém, a magniude dessa influência e qual a endência dos preços de marca após a enrada dos genéricos. Essa influência pode ser primordial, viso que define o poder dos genéricos no nível de preço geral do seor e, de modo geral, mosra a eficácia da políica pública em eliminar resrições concorrenciais que majoram preços finais ao consumidor. Nesse rabalho, procuramos capar essa relação enre genéricos e remédios de marca em uma análise emporal mosrando que durane odo o período a influência dos genéricos no nível de preços é de baixa, mas apresena um efeio que diminui de inensidade com o decorrer do empo. Esses resulados do esudo mosram uma progressiva convergência para um preço mais compeiivo, al qual guerras de preços em um modelo de Berrand? Ou seja, a influência de queda nos preços dos medicamenos gerada pela paricipação dos genéricos vai se dissipando e a esraégia de compeição de preços força uma convergência para níveis próximos aos cusos? De qualquer forma, os resulados parecem indicar uma possível esagnação de influência da políica: uma perda de eficiência. A despeio dos resulados alcançados por países como EUA e Alemanha, onde exise uma grande diferença enre a paricipação em unidades vendidas e em valor dos genéricos, os resulados brasileiros para 10 anos de políica não parecem ser ão saisfaórios quano os dos países supraciados. A conclusão é imporane, viso que capa a eficiência da políica e seus limies. A parir de cero momeno, para uma nova rodada de redução de preços, avaliamos que a políica deve focar em faores mais críicos e ípicos dessa indúsria: a inovação ecnológica recorrene, sisemáica e esruurada. Sobre esse ema ouras dimensões e relações inra e iner indusriais devem ser consideradas, algo que poderíamos chamar de um sisema seorial de inovação no complexo saúde, ema esse amplo e que foge do escopo desse rabalho 12. Vale noar que essas considerações são parciais e exploraórias. Há que se verificar ainda a influência do conrole de preços no seor e, mais imporane, esabelecer os pares de produos subsiuos para se dimensionar com maior precisão o efeio subsiuição. Em suma, comparaivamene a políica dos genéricos apresena sinais de exausão e um sucesso relaivamene mais modeso quando comparada a políicas similares em ouros países. Esse sucesso modeso pode ser explicado por vários aspecos, sendo porém dois deles os mais imporanes. Primeiro, a 12 Para um aprofundameno sobre o sisema seorial de inovação no complexo saúde, ler Albuquerque & Cassiolao (2002), adelha (2003) e adelha (2006), enre ouros. 14

regulação da indúsria farmacêuica e de medicamenos mudou subsancialmene depois do Acordo sobre os Aspecos dos Direios de Propriedade Inelecual Relacionados ao Comércio (Acordo TRIPS, de 1994), o que resringiu o escopo da políica de genérico pós-trips quando comparada a ouras implemenadas nos períodos aneriores. Essa regulação é paricularmene imporane, pois resringe a possibilidade de se expandir a lisa de medicamenos genéricos. Um segundo que deve ser considerado especulaivamene é o modo como os preços dos medicamenos são regulados no Brasil. A Lei n. 10.213, de março de 2001, esabeleceu a CAMED e o processo de correção pública dos preços dos medicamenos, o que pode ser considerado um padrão de referência para o mercado e, poencialmene, um mecanismo de coordenação. Esse é um ema imporane que deveria ser avaliado: aé que pono essa regulação não esaria funcionando como um mecanismo de coordenação de preços e resringindo a dispua em preços? Esse é um ema complexo, para qual novas pesquisas são necessárias. 8. Referências Bibliográficas ALBUQUERQUE, E. M., CASSIOLATO, J. E. As Especificidades de inovação do Seor Saúde. Revisa de Economia Políica, vol. 22, nº 4 (88), ouubro-dezembro. 2002. ALENCAR, B. K. Modelos de Previsão de Inflação: uma análise comparaiva no curo prazo. 2006. 78 f. Disseração (Mesrado) IBMEC-RJ, Rio de Janeiro, 2006. BASTOS, V. D. Inovação farmacêuica: padrão seorial e perspecivas para o caso brasileiro. BNDES Seorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 271-296, se. 2005. BERMUDEZ, J. Medicamenos enéricos: Uma Alernaiva para o Mercado Brasileiro. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 10 (3): 368-378, jul/se. 1994. BERNDT, E. R. Pharmaceuicals in U.S Healh Care: Deerminans of quaniy and price. Journal of Economic Perspecives, v.16, n.4, fall 2002, p. 45-66. BRASIL. Congresso Nacional. Relaório da CPI dos medicamenos. Brasília, DF 2000. 420 p. BRASIL. Lei n. 9.787, de 10 de fevereiro de 1999. Alera a Lei nº 6.360, de 23 de seembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância saniária esabelece o medicameno genérico, dispõe sobre a uilização de nomes genéricos em produos farmacêuicos e dá ouras providências. In: BRASIL. Conselho Nacional de Secreários de Saúde. Legislação do SUS. Brasília: 2003. p. 182. CAPANEMA, L. X. L.; PALMEIRA FILHO, P. L. Indúsria farmacêuica brasileira: reflexões sobre sua esruura e poencial de invesimenos. In: TORRES FILHO, E. T.; PULA, F. P. (Ed.). Perspeciva do Invesimeno 2007/2010. Rio de Janeiro: BNDES, 2007. p. 163-206. CAVES, R. E., WHISTON, M. D., HURWITZ, M. A. Paen Expiraion, Enry, and Compeiion in he U.S. Pharmaceuical indusry. Brookings Papers: Microeconomics, 1991. DANZON, P. M., EPSTEIN, A., NICHOLSON, S. Mergers and acquisiions in he pharmaceuical and bioech indusries. NBER Working Papers n. 10536, may 2004. Disponível em <hp://www.nber.org/papers/w10536> FINK, C. How Sronger Paen Proecion in India Migh Affec he Behavior of Transnaional Pharmaceuical Indusries. World Bank Policy Research Working Paper No. 2352, may 2000. 15

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