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Transcrição:

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões e de outras parcelas do rendmento domclar per capta Rodolfo Hoffmann 2 Resumo Incalmente são dscutdos problemas metodológcos relaconados com a mensuração da progressvdade ou regressvdade de uma parcela da renda, ou seja, da sua contrbução para reduzr ou acentuar a desgualdade da dstrbução da renda. Em seguda, os dados da Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos (PNAD) de 2007 são usados para analsar a dstrbução do rendmento domclar per capta no Brasl, verfcando como o rendmento do trabalo (de mltares e funconáros públcos, de outros empregados, dos conta-própra e dos empregadores), as aposentadoras e pensões, o rendmento de alugués e outras parcelas do rendmento afetam a desgualdade de renda no Brasl. Fnalmente, é analsada a contrbução dessas parcelas para a redução do índce de Gn da dstrbução do rendmento domclar per capta (RDPC) no Brasl entre 200 e 2007. Verfca-se que quase 50% dessa redução no índce de Gn está assocada a modfcações no rendmento dos saláros no setor prvado. Outra conclusão é a de que as aposentadoras e pensões ofcas são regressvas, anda que as alterações ocorrdas nos últmos anos tenam contrbuído para a redução do índce de Gn. Palavras-cave: Desgualdade; Progressvdade; Decomposção do índce de Gn; Dstrbução da renda Brasl 2007. Abstract Inequalty of ncome dstrbuton n Brazl: te contrbuton of pensons and of oter components of per capta ouseold ncome Te paper starts wt a dscusson of metodologcal problems tat arse wen measurng weter a component of total ncome s progressve or regressve, v.g., weter suc component contrbutes to reduce or to ncrease te nequalty of te ncome dstrbuton. Next, t examnes te data of te last Natonal Sample Survey of Houseolds of Brazl (PNAD, 2007), to update te analyss of te dstrbuton of per capta ouseold ncome n Brazl and verfy ow ncome from work (of te mltary and cvl servants, of oter employees, of self-employed and of employers), from pensons, from rents and from oter components of ncome nfluence ncome nequalty n Brazl. Fnally, t examnes ow eac of tese components contrbuted to reduce te Gn ndex of te dstrbuton of per capta ouseold ncome n Brazl n te perod 200-2007. It becomes evdent tat about 50% of suc reducton n te Gn ndex s assocated wt canges n te ncome component wages n te prvate sector. Anoter concluson s tat te pensons provded by te offcal system are regressve, even toug canges n te ncome from pensons n te last years ave contrbuted to te reducton of te Gn ndex. Key words: Inequalty; Progressvty; Gn ndex decomposton by factor components; Brazl Income dstrbuton 2007. JEL D3, D33. () Trabalo recebdo em dezembro de 2008 e aprovado em feverero de 2009. (2) Professor do Insttuto de Economa da Unversdade Estadual de Campnas (Uncamp. IE), Campnas, SP, Brasl. O autor contou com apoo do CNPq e agradece a Fernando Gager Slvera e Cela Lessa Kerstenetzky pela letura crítca de versão prelmnar do texto. E-mal: <roffman@eco.uncamp.br>. Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Rodolfo Hoffmann Introdução De acordo com os dados da Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos (PNAD), a desgualdade da dstrbução de renda no Brasl sofreu substancal redução nos últmos anos, mas contnua sendo muto elevada em comparação com outros países (IPEA, 2008a). O rendmento de aposentadoras e pensões é uma parcela mportante dos rendmentos declarados, tendo aumentado de 5,2% em 997 para 8,5% em 200 e 9,8% em 2003 e 2005. Na PNAD de 2007, as aposentadoras e pensões representam 9,4% da renda total dos domcílos. As aposentadoras e pensões pagas por nsttuto de prevdênca ou pelo governo são as predomnantes, representando 4,% de toda a renda declarada dos domcílos em 997; 7,% em 200; 8,5% em 2003 e 7,9% em 2007. Há controvérsa sobre a contrbução das aposentadoras e pensões para a desgualdade da dstrbução da renda no Brasl. Alguns trabalos ndcam que aposentadoras e pensões, no Brasl, contrbuem para reforçar a desgualdade [Hoffmann (2003), Hoffmann e Leone (2004), Ferrera (2006) e Ncolson (2007)], enquanto outros ndcam que aposentadoras e pensões contrbuem para reduzr a desgualdade (Dedecca et al., 2007 e IPEA, 2008b). Cabe menconar, também, os trabalos que procuram destacar os efetos das aposentadoras e pensões guas a um saláro mínmo (Soares et al., 2007 e Hoffmann, 2007b), cujo efeto é claramente progressvo (contrbuem para reduzr a desgualdade). Neste artgo, os dados da PNAD de 2007 são usados para atualzar a análse da contrbução de váras parcelas do rendmento domclar per capta (RDPC) para a desgualdade total e dscutr algumas questões metodológcas relatvas à caracterzação de uma parcela como progressva ou regressva. Fnalmente, é analsada a contrbução dessas parcelas do rendmento famlar para as mudanças no índce de Gn da dstrbução do RDPC no Brasl, no período 200-2007, dando contnudade a dversos trabalos sobre esse tema publcados em Barros; Foguel e Ulyssea (2006, 2007). Decomposção do índce de Gn e a medda da progressvdade de uma parcela da renda Nesta seção apresenta-se a metodologa que permte determnar as frações do índce de Gn assocadas a dferentes parcelas da renda para, em seguda, mostrar como se pode mensurar o grau de progressvdade ou regressvdade de uma parcela, sto é, avalar em que medda uma parcela contrbu para reduzr ou para acentuar o grau de desgualdade da dstrbução da renda. Seja x a renda da -ésma pessoa em uma população com n pessoas. Admte-se que as rendas estão ordenadas de manera que x x 2 K x n () 24 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... A renda méda é n µ = x (2) n = Agregando as pessoas da mas pobre até a -ésma posção na sére (), a proporção acumulada da população é p = (3) n e a respectva proporção acumulada da renda é Φ = x (4) j n µ j= Sabe-se que a curva de Lorenz mostra como Φ vara em função de Admtndo que x 0 e sendo β a área entre a curva de Lorenz e o exo das abscssas ( p ), o índce de Gn pode ser defndo como G = 2β (5) Pode-se demonstrar que o mesmo índce é dado por 2 G = cov(, x ) nµ (6) p. que Consdere-se, em seguda, que a renda x é formada por k parcelas, de manera com k x = x (7) = x representando o valor da -ésma parcela da renda da -ésma pessoa. A méda da -ésma parcela é n µ = x (8) n = e a proporção acumulada do total dessa parcela até a -ésma pessoa na sére () é Φ = x nµ j= j Analogamente à defnção da curva de Lorenz, denomna-se curva de concentração da -ésma parcela a curva que mostra como Φ vara em função de p. Cabe ressaltar que na construção da curva de concentração de x é utlzada a ordenação dos x (e não a ordenação dos x, que pode ser dferente). (9) Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 25

Rodolfo Hoffmann Admtndo que x 0 e sendo β a área entre a curva de concentração de e o exo das abscssas ( p ), a respectva razão de concentração é defnda como x C = 2β (0) que Note-se a semelança entre (5) e (0). Analogamente a (6), pode-se demonstrar C = 2 cov(, x ) nµ () Verfca-se que + C +. n n A partcpação da -ésma parcela na renda total é n x = ϕ = n x = µ = µ (2) Pode-se demonstrar que o índce de Gn é a segunte méda ponderada das razões de concentração: k G = ϕ C (3) = Como ϕ =, pode-se escrever k G = G ϕ ( G C ) (4) = Com ϕ > 0, o snal de G C é que determna se a parcela contrbu para reduzr ou aumentar o valor do índce de Gn. Se C < G, a parcela x está contrbundo para reduzr o índce de Gn. Se C > G, a parcela x está contrbundo para aumentar o índce de Gn. Para uma parcela x 0 da renda x, defne-se a medda de progressvdade de Lerman-Ytzak como π = G C (5) Um trbuto ( t ) pode ser consderado uma parcela negatva da renda fnal, sto é, t = (6) x A curva de concentração do trbuto é construída usando os valores de t e a respectva razão de concentração pode ser obtda por meo de (0) ou (). Note-se que 26 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... nesta últma expressão a troca de snal de snal da covarânca e de µ. x não afeta o resultado, pos ocorre troca do De acordo com (4), um trbuto contrbu para reduzr a desgualdade se C > G, pos o respectvo ϕ será negatvo. Então, para nclur o caso dos trbutos, a medda de progressvdade de Lerman-Ytzak deve ser defnda como π = snal de ϕ )( G C ) (7) ( O nome dado a essa medda de progressvdade é um reconecmento do ponersmo de Lerman e Ytzak (985 e 995), que ressaltaram a mportânca de consderar a ordenação das rendas fnas e demonstraram que, dado um pequeno acréscmo proporconal em x, sto é, multplcando x por + θ, com θ arbtraramente pequeno, a varação G causada no índce de Gn é tal que G lm = ϕ ( C θ 0 θ G) = π ϕ (8) com ϕ ndcando o valor absoluto de ϕ. Essa expressão mostra que a elastcdade de G em relação a x é C π ϕ ϕ = (9) G G As expressões (8) e (9) mostram como o efeto de um pequeno acréscmo proporconal na parcela x sobre o índce de Gn depende do grau de progressvdade da parcela e do valor absoluto da sua partcpação na renda total. Na realdade, são esses resultados que justfcam consderar a expressão (7) como uma medda aproprada da progressvdade da parcela x. Para lustrar a decomposção do índce de Gn conforme (3) e a nterpretação da medda de progressvdade (7), será analsado um exemplo artfcal muto smples, de uma socedade com 2.000 pessoas, sendo 800 da categora A e.200 da categora B. Há dos tpos de renda: e 2. As pessoas da categora A recebem $ 2.025 por mês da renda tpo, e nenuma renda tpo 2. As pessoas da categora B não recebem nenuma renda tpo, mas recebem $ 450 por mês da renda tpo 2. As pessoas da categora A estão em stuação prvlegada, com uma renda mensal 4,5 vezes maor do que as pessoas da categora B. Nesse exemplo artfcal, as pessoas recebem apenas um dos dos tpos de renda. É óbvo que essa não é uma stuação usual: no Brasl á domcílos cujo RDPC é formado exclusvamente por rendmento de aposentadoras, mas, na maora dos domcílos com aposentados, a renda de aposentadoras é apenas uma fração da renda total. Não se dscute, aqu, se a dferença de renda entre as duas categoras é ou não justa. Para sso sera ndspensável nformar os crtéros que defnem quem faz parte de Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 27

Rodolfo Hoffmann cada categora. Mas aqu nteressa analsar apenas como cada tpo de renda contrbu para o valor do índce de Gn da desgualdade da dstrbução da renda na socedade toda. A Tabela mostra como a população e a renda dessa socedade artfcal estão dvddas pelas duas categoras. Tabela A dstrbução da renda em uma socedade artfcal com dos tpos de renda. Categora de Pessoas Renda mensal $ Renda total pessoas N o % Tpo Tpo 2 $.000 % A 800 40 2.025 0.620 75 B.200 60 0 450 540 25 Total 2.000 00 2.60 00 Pode-se verfcar que a renda méda é µ = $. 080 e que o índce de Gn é G = 0,35. Verfca-se, também, que µ = 80, µ = 2 270, ϕ 75 = 0,, ϕ 2 = 0, 25, C = 0, 6 e C 2 = 0, 4. De acordo com a expressão (3), verfca-se que ϕ C + C = 0,75 0,6 + 0,25 ( 0,4) = 0, 35 = G ϕ2 2 A medda de progressvdade para a renda tpo é π = G C = 0,35 0,6 = 0,25, mostrando que essa parcela é regressva, contrbundo para aumentar a desgualdade. A medda de progressvdade para a renda tpo 2 é π = G C = 0,35 ( 0,4) 0,75, 2 2 = mostrando que essa parcela é progressva. Um aumento de % nas rendas tpo faz com que o índce de Gn aumente para 0,359, que é, aproxmadamente, a mudança prevsta por meo de (8) para θ = 0, 0. Há artgos em que se procura avalar a natureza regressva ou progressva de uma parcela da renda calculando o índce de Gn na stuação potétca em que essa parcela é elmnada. 3 No exemplo artfcal em análse, se fosse elmnada a renda tpo, as pessoas da categora A fcaram com renda gual a zero, a renda méda da socedade cara para $ 270 e o índce de Gn aumentara para 0,40. Pode-se dzer, então, que a nclusão da renda tpo faz o índce de Gn dmnur de 0,40 para 0,35. Mas sso não permte conclur que a renda tpo é progressva, contrbundo para reduzr a desgualdade, pos a stuação potétca em que essa parcela da renda total é elmnada é rreal e nverte a posção relatva das duas categoras de pessoas. Smplesmente não é razoável consderar uma stuação potétca em que a maor parte da renda é jogada fora. Economstas estão acostumados a analsar os efetos de mudanças margnas. No caso do exemplo analsado, (3) Ver IPEA (2008b). 28 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... se a renda tpo for reduzda de % para todas as pessoas que a recebem, o índce de Gn se reduz de aproxmadamente 0,009, passando a ser 0,35 0,009 = 0,348, mostrando a natureza regressva dessa parcela da renda. Outro erro metodológco consste em avalar a natureza progressva ou regressva de uma parcela calculando o índce de Gn apenas para as pessoas que recebem aquele tpo de renda. No exemplo artfcal analsado, o índce de Gn da dstrbução da renda entre pessoas da categora A é gual a zero, mas não faz sentdo conclur, a partr desse fato, que a renda tpo contrbu para reduzr a desgualdade. 2 Análse dos dados da PNAD de 2007 O rendmento domclar per capta (RDPC) é defndo como a razão entre o rendmento domclar e o número de moradores, exclundo as pessoas cuja condção no domcílo é pensonsta, empregado doméstco ou parente de empregado doméstco. São consderados apenas os domcílos partculares permanentes com declaração do rendmento domclar. Antes de 2004, a PNAD não abranga a área rural da antga regão Norte (RO, AC, AM, RR, PA e AP). Então, quando são fetas comparações ao longo do tempo, é necessáro exclur, nas PNADs de 2004 em dante, os dados referentes a essa área rural. Como nesta seção são utlzadas somente as PNADs de 2006 e 2007, a análse é feta consderando os dados de todo o terrtóro naconal. A Tabela 2 mostra dversas característcas da dstrbução do RDPC no Brasl, em 2006 e 2007, de acordo com os dados da PNAD. Os valores de rendas de 2006 foram colocados na mesma undade monetára de 2007, consderando, nos dos anos, a méda geométrca do INPC de setembro e outubro (o que corresponde a centrar o deflator em prmero de outubro). 4 Cama a atenção a queda no valor do 5 o percentl, apesar do crescmento de 2,7% no rendmento per capta médo. Barros (2008) e Ner e Carvalaes (2008) já assnalaram que, entre 2006 e 2007, a mudança na dstrbução da renda fo desfavorável aos 0% mas pobres (especalmente para os 5% mas pobres), contrarando o que vna ocorrendo desde 200. A proporção do total de pessoas cujo RDPC declarado é gual a zero passa de 0,66% em 2006 para,7% em 2007. Observa-se, na Tabela 2, que a proporção da renda total que fca com o décmo mas pobre ca de 0,94% em 2006 para 0,89% em 2007. A proporção da renda total aproprada pelos 20% mas pobres também se reduz um pouco, passando de 2,96% para 2,93%. Mas a proporção da renda total correspondente à metade mas pobre da população sobe de 4,6% para 4,9% e dmnu a proporção aproprada pelos 20% mas rcos ou por grupos menores da cauda dreta da dstrbução. Ocorre redução tanto no índce de Gn como na medda T de Tel. (4) Os valores monetáros de 2006 foram multplcados por,048480. Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 29

Rodolfo Hoffmann Tabela 2 A dstrbução do RDPC no Brasl em 2006 e 2007. Estatístca Ano Varação 2006 2007 % N o de pessoas (.000) 82.342 83.662 0,72 N o de domcílos (.000) 53.455 54.84 2,6 Pessoas por domcílo 3,4 3,35,8 RDPC médo () 53,8 527,8 2,7 Percentl () 5 o 52,4 5,4,9 0 o 8,3 83,2 2,3 20 o 25,3 29,8 3,6 25 o 48, 54,3 4,2 40 o 222,8 236,7 6,2 50 o 283, 300,0 6,0 60 o 367,0 380,0 3,5 75 o 54,0 570,0 5,4 80 o 65,6 670,0 2,8 90 o.048,5.00,0 4,9 95 o.698,5.700,0 0,09 99 o 3.984,2 4.000,0 0,4 % da renda aproprada pelos 0% mas pobres 0,94 0,89 20% mas pobres 2,96 2,93 40% mas pobres 9,68 9,80 50% mas pobres 4,6 4,9 20% mas rcos 60,5 59,6 0% mas rcos 44,5 43,6 5% mas rcos 3,7 30,9 % mas rco 2,7 2,4 Índce de Gn 0,560 0,553 T de Tel 0,636 0,67 () Em reas de setembro-outubro de 2007. A segur será analsada a contrbução de váras parcelas do rendmento domclar para o índce de Gn da dstrbução do RDPC. Cabe ressaltar que na termnologa adotada pelo IBGE, denomna-se rendmento do trabalo o rendmento obtdo por meo do exercíco de uma atvdade, como empregado (públco ou prvado), conta-própra ou empregador. Apesar da semelança das expressões, não se deve confundr o rendmento do trabalo do IBGE com o conceto de remuneração do trabalo em teora econômca. O rendmento total (ou rendmento de todas as fontes), além do rendmento de todos os trabalos, nclu aposentadoras, pensões, rendmentos de alugués, doações recebdas, juros, dvdendos e transferêncas do governo, como as do programa Bolsa 220 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... Famíla. Entre as aposentadoras e pensões, a PNAD permte dstngur as aposentadoras e pensões ofcas (recebdas de nsttuto de prevdênca ou do governo). 5 A Tabela 3 mostra a decomposção do índce de Gn da dstrbução do RDPC no Brasl em 2007, de acordo com a metodologa apresentada na seção anteror. Na Tabela 3 á nformações sobre nove parcelas mutuamente exclusvas do rendmento domclar, uma lna referente ao rendmento de todos os empregados (agregando mltares, funconáros públcos estatutáros e outros empregados) e um subtotal mas abrangente que nclu rendmento do trabalo de empregados, conta-própra e empregadores. Tabela 3 Decomposção do RDPC e do correspondente índce de Gn, consderando 9 parcelas do rendmento domclar. Brasl, 2007 Parcela do rendmento Partcpação ( ϕ ) Razão de concentração ( C ) Parcela de G ϕ C % Progressvdade G C ) ( Rend. de todos os trabalos 0,7694 0,5577 0,429 77,6 0,0044 Empregados () 0,535 0,539 0,2639 47,7 0,0394 Mltar e func. públco () 0,084 0,7443 0,0807 4,6 0,9 Outros empregados () 0,405 0,4522 0,832 33, 0,0 Conta-própra () 0,554 0,523 0,0796 4,4 0,040 Empregador () 0,005 0,855 0,0856 5,5 0,2983 Aposent. e pensões ofcas 0,79 0,5652 0,02 8,3 0,09 Outras aposent. e pensões 0,044 0,556 0,0079,4 0,007 Doações de outros domc. 0,0054 0,446 0,0022 0,4 0,387 Renda de alugués 0,043 0,7837 0,02 2,0 0,2304 Juros, Bolsa Famíla e outros 0,074 0,0890 0,005 0,3 0,4643 Total,0000 0,5533 0,5533 00,0 () Rendmento de todos os trabalos de pessoa do domcílo classfcada nessa categora de posção na ocupação. O rendmento do trabalo de empregados é um pouco progressvo, fazendo com que sua partcpação no índce de Gn (47,7%) seja menor do que sua partcpação na renda total (5,4%). Entre as parcelas analsadas, o rendmento do trabalo de empregadores é a mas regressva, fazendo com que sua contrbução para o índce de Gn (5,5%) seja substancalmente maor do que sua partcpação na renda total (0,0%). Outra parcela bastante regressva, como esperado, é o rendmento de alugués. A parcela mas progressva é a últma, que mstura rendmentos regressvos, como juros e dvdendos, e (5) O rendmento de abono de permanênca (varável V264 da PNAD) é uma parcela desprezível que fo agregada ao tem aqu denomnado outras aposentadoras e pensões. Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 22

Rodolfo Hoffmann rendmentos claramente progressvos, como os provenentes de programas de transferênca de renda, especalmente o Bolsa Famíla (ver Soares et al., 2007). G C As aposentadoras e pensões ofcas são lgeramente regressvas, com = 0,02, fazendo com que sua partcpação no índce de Gn (8,3%) seja maor do que sua partcpação na renda total (7,9%). Dada a predomnânca das aposentadoras e pensões ofcas, quando se consdera o agregado de aposentadoras e pensões, a razão de concentração é gual a 0,5642, o que leva a uma medda de progressvdade negatva ( G C = 0,0), ndcando o caráter regressvo da parcela, que corresponde a 9,3% da renda total declarada e contrbu com 9,7% do índce de Gn. Não é dfícl, no computador, recalcular as prncpas característcas da dstrbução do RDPC no Brasl anulando todos os rendmentos de aposentadoras e pensões ofcas. O valor médo do RDPC ca de R$ 527,80 para R$ 433,30, a proporção de pessoas com RDPC gual a zero aumenta de,7% para 6,6% e o índce de Gn passa de 0,5533 para 0,5966. De acordo com o que fo dscutdo no fnal da Seção 2, não tem sentdo, com base nesses resultados, conclur que as aposentadoras e pensões ofcas contrbuem para reduzr a desgualdade. Trata-se de uma smulação sem nenuma correspondênca com alguma modfcação vável nas regras prevdencáras. Pode nteressar, sso sm, saber o efeto que tera uma pequena redução proporconal em todas as aposentadoras e pensões ofcas. De acordo com a expressão (8), com θ < 0, esse efeto é proporconal à medda de progressvdade π = G C. Os dados da PNAD de 2007 ndcam que essa medda de progressvdade é negatva ( π = 0,02), ou seja, que uma pequena redução proporconal no valor de todas as aposentadoras e pensões ofcas causara uma redução no índce de Gn da dstrbução do RDPC no Brasl. 6 Verfca-se que 34,9% dos domcílos do país, com 33,0% das pessoas, têm algum rendmento de aposentadora ou pensão (ofcal ou não). A dstrbução do RDPC nessa parte da população apresenta méda gual a R$ 632,90 (acma da méda geral, que é R$ 527,80) e índce de Gn gual a 0,50 (substancalmente abaxo do valor referente a toda a população, que é 0,553). Por outro lado, em 65,% dos domcílos, com 67,0% das pessoas, não á nenuma pessoa recebendo aposentadora ou pensão. Nessa parte da população, a méda do RDPC é R$ 476,0 e o índce de Gn é gual a 0,57. Conforme o que fo dscutdo no fnal da Seção, não tem sentdo conclur, com base nesses resultados, que as aposentadoras e pensões contrbuem para reduzr a desgualdade (consderando que a desgualdade é menor dentro do grupo que recebe aposentadoras e pensões). 7 Cabe ressaltar que, quando a população é dvdda em grupos, a desgualdade total depende da desgualdade dentro dos grupos, mas também é afetada pela desgualdade entre os grupos. 8 (6) Contraramente ao que se afrma em IPEA (2008b). (7) Argumento usado em Dedecca et al. (2007). (8) No caso do índce de Gn, anda á uma parcela referente à superposção das dstrbuções referentes aos dferentes grupos. 222 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... 3 Dferenças regonas e lmtações dos dados É mportante assnalar que a contrbução das parcelas analsadas para a determnação do índce de Gn da dstrbução do RDPC pode varar substancalmente entre as regões do Brasl, como mostra a Tabela 4. 9 Tabela 4 Decomposção do RDPC e do correspondente índce de Gn, consderando 9 parcelas do rendmento domclar, no Nordeste e no Estado de São Paulo, em 2007 Parcela do rendmento ϕ Nordeste C % de G ϕ SP C % de G Rend. de todos os trabalos 0,70 0,5804 73,2 0,8024 0,502 80,4 Empregados () 0,4702 0,566 46,8 0,5592 0,4353 48,5 Mltar e func. públco () 0,254 0,8086 8,0 0,083 0,6999,4 Outros empregados () 0,3448 0,478 28,8 0,4779 0,3902 37,2 Conta-própra () 0,624 0,486 4,0 0,42 0,5360 5,2 Empregador () 0,0784 0,8880 2,3 0,0 0,8245 6,6 Aposent. e pensões ofcas 0,259 0,5960 22,8 0,584 0,496 5,7 Outras aposent. e pensões 0,047 0,6296,6 0,039 0,4839,3 Doações de outros domc. 0,0084 0,3827 0,6 0,0029 0,34 0,2 Renda de alugués 0,0089 0,8235,3 0,044 0,7395 2, Juros, Bolsa Famíla e outros 0,040 0,0698 0,5 0,008 0,2063 0,3 Total,0000 0,564 00,0,0000 0,504 00,0 () Rendmento de todos os trabalos de pessoa do domcílo classfcada nessa categora de posção na ocupação. Consdere-se, ncalmente, o rendmento do trabalo de mltares e funconáros públcos estatutáros. No Brasl e em todas as regões analsadas, trata-se de uma parcela regressva, com razão de concentração substancalmente acma do índce de Gn, fazendo com que sua contrbução para a desgualdade seja maor do que sua partcpação na renda total. No Brasl, essa parcela está assocada com 4,6% do índce de Gn (ver Tabela 3), verfcando-se que essa percentagem é 8,0% no Nordeste, atnge 24,% no Centro-Oeste e é apenas,4% no Estado de São Paulo. Destacando os dados do Dstrto Federal, verfca-se que essa parcela consttu 3,5% da renda total declarada e está assocada com nada menos do que 38,9% do índce de Gn dessa undade da federação. Já fo vsto que, no Brasl, o rendmento de aposentadoras e pensões ofcas é lgeramente regressvo, o que também é observado no Nordeste, no conjunto dos Estados de MG, ES e RJ, no Centro-Oeste e no Estado do Ro de Janero. No Estado de São Paulo e na regão Sul, entretanto, essa parcela é lgeramente progressva, de acordo com os dados da PNAD de 2007. Sua contrbução para o índce de Gn é condconada, (9) Por lmtação de espaço, são apresentados, na tabela, apenas os resultados para o Nordeste e o estado de São Paulo. Resultados completos para as demas regões estão dsponíves com o autor. Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 223

Rodolfo Hoffmann bascamente, pela sua partcpação na renda total, sendo relatvamente baxa no Centro- Oeste (3,%) e no Estado de São Paulo (5,7%), e bem mas elevada no Nordeste (22,8%) e no Estado do Ro de Janero (27,8%). Para quem trabala com dados estatístcos sobre renda das pessoas obtdos por meo de questonáros, é óbvo que os resultados devem ser examnados tendo em vsta as lmtações dos dados. Há uma tendênca geral de subdeclaração dos rendmentos, que provavelmente tende a ser maor para rendmentos elevados. Mas os rendmentos de pequenos agrcultores famlares, que consttuem uma categora relatvamente pobre, também devem estar bastante subestmados devdo ao fato de o levantamento não levar em consderação o valor da produção para autoconsumo. Devdo a sua natureza formal, o valor de aposentadoras e pensões ofcas deve estar mas bem nformado do que o de város outros rendmentos e é provável, então, que os dados da PNAD levem a superestmar a natureza regressva das aposentadoras e pensões ofcas. Analsando os dados do Censo Demográfco de 2000, verfca-se que são regstrados rendmentos extremamente elevados, que não são captados na PNAD, e que a razão de concentração de aposentadoras e pensões fca abaxo do índce de Gn, ndcando que essa parcela do RDPC é progressva (Hoffmann; Ney, 2008). Mas, conforme os dados do Censo Demográfco de 2000, a razão de concentração de aposentadoras e pensões é substancalmente maor do que a razão de concentração dos saláros (rendmento do trabalo de empregados), de manera análoga ao que se observa na Tabela 3, ndcando que a dstrbução dos rendmentos prevdencáros está reforçando a desgualdade exstente no país. A Pesqusa de Orçamentos Famlares (POF) de 2002-2003 é outra fonte de dados recentes sobre a dstrbução da renda no Brasl. Em análse exaustva desses dados, Slvera (2008) verfca que a parcela da renda famlar per capta decorrente de aposentadoras e pensões é lgeramente progressva ( π = 0, 030). Combnando os dados da POF com nformações sobre despesas do governo e estmatvas do número de servdores públcos estaduas e muncpas aposentados, ele calculou meddas de progressvdade para os benefícos pagos pelo RGPS (Regme Geral da Prevdênca Socal) e pelos RPPSs (Regmes Própros de Prevdênca Socal), constatando que os prmeros são claramente progressvos ( π = 0, 2403) e os últmos são claramente regressvos ( π = 0, 282 ). Tendo em vsta que aposentadoras e pensões dos RPPSs estão dretamente relaconados com os saláros obtdos no fnal da vda atva, este últmo resultado é coerente com a regressvdade do rendmento do trabalo de mltares e funconáros públcos estatutáros constatada na Tabela 3. Embora os dados da PNAD ndquem que o rendmento de aposentadoras e pensões seja uma parcela levemente regressva da dstrbução do RDPC no Brasl, é provável que esse resultado seja afetado pelo fato de se tratar de um tpo de renda com grau de subdeclaração relatvamente baxo. Levando em consderação dados de outras 224 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... fontes, é razoável afrmar que a razão de concentração de aposentadoras e pensões é semelante ao índce de Gn da dstrbução do RDPC no Brasl. Mas sso já ndca um grau de concentração muto elevado das aposentadoras e pensões, pos o RDPC nclu parcelas claramente regressvas, como os alugués e o rendmento de empregadores. É claro que a natureza pouco progressva do rendmento de aposentadoras e pensões ofcas no Brasl se deve, em grande parte, à dualdade do sstema prevdencáro, nclundo o RGPS e os RPPSs, com normas muto dstntas. 4 Mudanças de 200 a 2007 Nesta seção são utlzados dados das PNADs de 200 a 2007 para examnar como as dversas parcelas do RDPC contrbuem para as mudanças no índce de Gn nesse período. Uma vez que até 2003 não foram coletados dados na área rural da antga regão Norte, para manter a comparabldade, os dados referentes a essa área foram excluídos das PNADs de 2004 em dante. A Tabela 5 mostra a partcpação das nove parcelas analsadas (e de dos subtotas) na renda total declarada. As pequenas dferenças entre os valores apresentados na últma coluna dessa tabela e os da prmera coluna da Tabela 3 se devem à exclusão dos dados da área rural de RO, AC, AM, RR, PA e AP. Tabela 5 Partcpação ( ϕ ) de cada parcela do rendmento domclar na renda total. Brasl (), 200-2007 Estatístca 200 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Renda de todos os trabalos 0,7794 0,7738 0,7667 0,7634 0,759 0,759 0,7692 Empregados (2) 0,4974 0,4972 0,4920 0,4994 0,5004 0,4999 0,542 Mltar e func. públco (2) 0,0997 0,0993 0,002 0,04 0,0986 0,067 0,088 Outros empregados (2) 0,3977 0,3979 0,398 0,3979 0,408 0,3932 0,4054 Conta-própra (2) 0,647 0,575 0,582 0,52 0,457 0,400 0,542 Empregador (2) 0,74 0,90 0,66 0,20 0,3 0,93 0,008 Aposent. e pensões ofcas 0,7 0,722 0,848 0,83 0,86 0,798 0,794 Outras aposent. e pensões 0,043 0,044 0,035 0,047 0,062 0,052 0,044 Doações de outros domc. 0,0067 0,0076 0,007 0,0073 0,007 0,007 0,0054 Renda de alugués 0,093 0,09 0,074 0,074 0,082 0,073 0,044 Juros, Bolsa Famíla e outros (3) 0,009 0,029 0,005 0,059 0,077 0,025 0,072 Total,0000,0000,0000,0000,0000,0000,0000 () Exclusve as áreas ruras de RO, AC, AM, RR, PA e AP. (2) Rendmento de todos os trabalos de pessoa do domcílo classfcada nessa categora de posção na ocupação. (3) Inclu outros programas de transferêncas do governo. A Tabela 6 mostra as razões de concentração de cada parcela ao longo do período analsado e, na últma lna, o índce de Gn da dstrbução do RDPC no país (exclusve a área rural da antga regão Norte). Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 225

Rodolfo Hoffmann Tabela 6 Razões de concentração ( C ) relatvas ao índce de Gn da dstrbução do rendmento domclar per capta. Brasl (), 200-2007 Estatístca 200 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Renda de todos os trabalos 0,5889 0,5834 0,5778 0,5668 0,5642 0,563 0,5566 Empregados (2) 0,5467 0,544 0,5347 0,5227 0,528 0,549 0,52 Mltar e func. públco (2) 0,7387 0,74 0,733 0,7332 0,7355 0,7455 0,7430 Outros empregados (2) 0,4986 0,4950 0,4840 0,4690 0,4693 0,4524 0,4490 Conta-própra (2) 0,5232 0,502 0,5043 0,4995 0,4863 0,4857 0,556 Empregador (2) 0,8599 0,8563 0,8596 0,8548 0,8527 0,8559 0,8508 Aposent. e pensões ofcas 0,60 0,5929 0,5938 0,5964 0,5850 0,5762 0,5620 Outras aposent. e pensões 0,6260 0,5870 0,5698 0,5678 0,642 0,584 0,5503 Doações de outros domc. 0,395 0,4294 0,4035 0,4625 0,435 0,4422 0,45 Renda de alugués 0,797 0,8030 0,8009 0,7863 0,7886 0,7904 0,7822 Juros, Bolsa Famíla e outros (3) 0,5394 0,522 0,3387 0,594 0,2384 0,230 0,090 Índce de Gn 0,5938 0,5872 0,5808 0,5687 0,566 0,5593 0,559 () Exclusve as áreas ruras de RO, AC, AM, RR, PA e AP. (2) Rendmento de todos os trabalos de pessoa do domcílo classfcada nessa categora de posção na ocupação. (3) Inclu outros programas de transferêncas do governo. A mudança no valor do índce de Gn em determnado período pode ser assocada às mudanças na partcpação ( ϕ ) e na razão de concentração (C ) de cada parcela, com base na expressão (3). Uma exposção dessa metodologa de decomposção das mudanças ( G ) no índce de Gn pode ser encontrada em Hoffmann (2007a) ou Hoffmann e Ney (2008). Denomna-se efeto-composção a parcela de G que pode ser assocada à mudança em ϕ e denomna-se efeto-concentração a parcela de G que pode ser assocada à mudança em C. A Tabela 7 mostra a contrbução de cada parcela da renda e os respectvos efetocomposção e efeto-concentração, quando se comparam as dstrbuções do RDPC em 200 e 2007, com todos os efetos meddos como percentagem da redução do índce de Gn no período, que é G = 0,559 0,5938 = 0, 049. Consdere-se, ncalmente, o rendmento do trabalo dos outros empregados (empregados do setor prvado e todos os celetstas). Sua partcpação na renda total cresce de 39,77% em 200 para 40,54% em 2007. Como sua razão de concentração é nferor ao índce de Gn, o crescmento de ϕ contrbu com,83% da redução do índce de Gn. Mas, a contrbução prncpal dessa parcela se deve à substancal redução da razão de concentração (de 0,4986 em 200 para 0,4490 em 2007) que, assocada com a sua elevada partcpação ( ϕ ) na renda total, leva a uma redução do índce de Gn que representa 47,55% da redução total observada. Assm, quase metade da redução do índce de Gn pode ser assocada ao rendmento do trabalo dos outros empregados. 226 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... Tabela 7 Decomposção da mudança no índce de Gn ( G = 0, 049) da dstrbução do RDPC no Brasl () entre 200 e 2007 Parcela do RDPC Efetoconcentraçãcomposção Efeto- Efeto total % de G % de G % de G Renda de todos os trabalos 59,80 59,80 0,00 Empregados (2) 44,65 42,88,76 Mltar e func. públco (2) 4,73,08 3,65 Outros empregados (2) 49,38 47,55,83 Conta-própra (2),57 2,90,33 Empregador (2) 3,59 2,37,22 Aposent. e pensões ofcas 6,20 6,37 0,7 Outras aposent. e pensões 2,59 2,59 0,0 Doações de outros domc. 0,77 0,24 0,53 Renda de alugués 3,4 0,60 2,54 Juros, Bolsa Famíla e outros 9,04 4,09 4,95 Total (3) 00,00 85,6 4,84 () Exclusve as áreas ruras de RO, AC, AM, RR, PA e AP. (2) Rendmento de todos os trabalos de pessoa do domcílo classfcada nessa categora de posção na ocupação. (3) Consderando a dvsão do RDPC em 9 parcelas. Consderando apenas 6 parcelas, o efeto-concentração é 93,22% e o efeto-composção é 6,78%. Como outro exemplo, consdere-se a últma parcela, formada por juros, Bolsa Famíla e outros rendmentos. Sua partcpação ( ϕ ) na renda total é pequena, crescendo de 0,9% em 200 para,72% em 2007. Como sua razão de concentração é menor do que o índce de Gn, sso contrbu para reduzr a desgualdade geral (4,95% de G ). Mas o efeto-concentração é mas forte (4,09% de G ), uma vez que ocorre uma extraordnára redução da razão de concentração dessa parcela (de 0,5394 em 200 para apenas 0,090 em 2007), assocada à expansão do programa Bolsa Famíla no período. Assm, apesar de sua reduzda partcpação na renda total, essa parcela está assocada a 9,04% da redução do índce de Gn entre 200 e 2007. No caso das aposentadoras e pensões ofcas, a partcpação ( ϕ ) dessa parcela fca um pouco acma do valor de G, o crescmento de ϕ contrbu para aumentar lgeramente o índce de Gn ( 0,7% do G = 0, 049 ). Como a razão de concentração dessa parcela dmnu de 0,60 para 0,5620, á um efeto-concentração que representa 6,37% de G. Embora nos dos anos a razão de concentração das aposentadoras e pensões ofcas seja maor do que G, ndcando que, de acordo com os dados da PNAD, trata-se de uma parcela regressva da renda domclar per capta, no período 200-2007 essa parcela responde por 6,20% da queda observada no índce de Gn. É mportante não confundr a natureza progressva ou regressva de uma parcela da renda com o snal de sua contrbução para a mudança no valor do índce de Gn em Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 227

Rodolfo Hoffmann determnado período. Tanto parcelas regressvas como parcelas progressvas podem sofrer alterações que contrbuem para aumentar ou para reduzr a desgualdade. O rendmento dos empregadores, que é a mas regressva das parcelas analsadas, contrbu para a redução do índce de Gn no período 200-2007, prncpalmente devdo à redução de sua partcpação na renda total (efeto-composção). Na Tabela 8, a decomposção da mudança no índce de Gn é feta consderando dos períodos: 200-2004 e 2004-2007. No prmero período, G = 0,5687 0,5938 = 0, 025 e no segundo período, G = 0,559 0,5687 = 0,068. Tabela 8 Decomposção da mudança no índce de Gn da dstrbução do RDPC no Brasl () nos períodos 200-2004 e 2004-2007 Parcela do RDPC Período 200-2004 G = 0,025 Efeto Efetoconcentraçãcomposção total Efeto- Efeto total % de G % de G % de G % de G Período 2004-2007 G = 0,068 Efetoconcentração % de G Efetocomposção % de G Renda de todos os trabalos 67,9 68,3 0,22 46,47 46,5 0,05 Empregados (2) 48,6 47,79 0,37 38,40 34,57 3,83 Mltar e func. públco (2),2 2,20,08 3,93 6,5 7,78 Outros empregados (2) 47,04 46,94 0,09 52,33 47,82 4,5 Conta-própra (2),45 4,97 3,5 3,98 4,67 0,69 Empregador (2) 8,30 2,33 5,97 22,05 2,54 9,5 Aposent. e pensões ofcas 2,64 3,34 0,7 37,09 36,88 0,2 Outras aposent. e pensões 3,34 3,37 0,03,5,5 0,00 Doações de outros domc.,52,89 0,37 0,52,94,42 Renda de alugués 2,39 0,79,60 4,39 0,39 4,00 Juros, Bolsa Famíla e outros 25,24 8,97 6,27 0,02 6,74 3,28 Total (3) 00,00 9,02 8,98 00,00 77,0 22,99 () Exclusve as áreas ruras de RO, AC, AM, RR, PA e AP. (2) Rendmento de todos os trabalos de pessoa do domcílo classfcada nessa categora de posção na ocupação. (3) Consderando a dvsão do RDPC em 9 parcelas. Consderando apenas 6 parcelas, o efetoconcentração é 92,7% no prmero período e 93,98% no segundo período e o efeto-composção é 7,29% no prmero período e 6,02% no segundo período. São observadas mudanças mportantes na contrbução das dferentes parcelas para a redução do índce de Gn nos dos períodos. A mudança assocada às aposentadoras e pensões ofcas é pequena no período 200-2004 e se torna substancal no período 2004-2007, quando a respectva razão de concentração dmnu de 0,5964 para 0,5620. A contrbução da parcela que nclu juros e Bolsa Famíla é superor a 25% de G no prmero período e gual a apenas 0% no segundo período. 228 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

Desgualdade da dstrbução da renda no Brasl: a contrbução de aposentadoras e pensões... No caso do rendmento do trabalo dos conta-própra, o efeto-concentração contrbu para reduzr o índce de Gn no período 200-2004 (4,97% de G ), mas está assocado a um aumento do índce de Gn no período 2004-2007 ( 4,67% de G ). Note-se, na Tabela 6, que a razão de concentração dessa parcela ca de 0,5232 em 200 para 0,4857 em 2006, mas cresce abruptamente para 0,556 em 2007. Entre as 9 parcelas da dvsão ncal do RDPC, aquela com maor efeto sobre o índce de Gn é o rendmento do trabalo dos outros empregados (empregados do setor prvado e todos os celetstas), correspondendo a 47,04% de G no prmero período e a 52,33% de G no segundo período. Em geral, o efeto-concentração é bem maor do que o efeto-composção. Ocorre o oposto no caso do rendmento do trabalo de empregadores, cuja razão de concentração permanece entre 0,85 e 0,86 em todo o período analsado. Como se trata de uma parcela com razão de concentração muto maor do que o índce de Gn, sua contrbução para a redução da desgualdade se deve à dmnução de sua partcpação na renda total, que ca de,74% em 200 para,20% em 2004 e para 0,08% em 2007 (ver Tabela 5). Prncpas conclusões a) Para uma parcela postva da renda per capta, a dferença entre o índce de Gn global e a razão de concentração da parcela π = G C ) é uma medda aproprada de ( sua progressvdade, ndcando o snal e a ntensdade do efeto, sobre o índce de Gn, de um pequeno acréscmo proporconal em todos os valores dessa parcela. b) Em todo o período analsado, de acordo com os dados da PNAD, a razão de concentração de aposentadoras e pensões ofcas fca um pouco acma do índce de Gn, ndcando o caráter regressvo dessa parcela do RDPC no Brasl. c) Há substancas dferenças regonas na contrbução de dferentes parcelas do rendmento domclar para o índce de Gn (G) da dstrbução do RDPC. O rendmento do trabalo de mltares e funconáros públcos estatutáros, por exemplo, está assocado a,4% de G no Estado de São Paulo, mas essa percentagem é 38,9% no Dstrto Federal. Aposentadoras e pensões ofcas respondem por 5,7% de G no Estado de São Paulo e por 27,8% de G no Ro de Janero. d) Provavelmente os dados da PNAD levam a superestmar a regressvdade de aposentadoras e pensões, por serem menos subdeclaradas do que outras parcelas do rendmento domclar. A análse de outras nformações (nclundo o Censo Demográfco de 2000 e a POF de 2002-2003) permte afrmar que aposentadoras e pensões ofcas não contrbuem, como poderam, para mnorar o elevado grau de desgualdade da dstrbução da renda no país, bascamente devdo à dualdade do sstema prevdencáro, com normas especas para os mltares e funconáros públcos estatutáros. e) O fato de o índce de Gn da dstrbução observada ser menor do que o índce de Gn de uma dstrbução potétca em que são elmnadas as aposentadoras e pensões não permte conclur que essa parcela da renda é progressva. Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009. 229

Rodolfo Hoffmann f) O fato de o índce de Gn da dstrbução do RDPC em toda a população ser maor do que o índce de Gn da dstrbução do RDPC consderando apenas domcílos que recebem aposentadoras ou pensões também não permte conclur que essa parcela é progressva. g) Entre as nove parcelas do RDPC analsadas, a que mas contrbu para a redução da desgualdade no período 200-2007 é o rendmento dos empregados do setor prvado (nclundo todos os celetstas), representando quase 50% da redução do índce de Gn no período. ) A contrbução das mudanças no rendmento de aposentadoras e pensões ofcas para reduzr a desgualdade é pequena no período 200-2004 (2,6% de G = 0,025), mas se torna substancal no período 2004-2007 (37,% de G = 0,068). ) A contrbução das alterações na parcela que nclu o Bolsa Famíla alcança 25,2% da redução do índce de Gn no período 200-2004, mas se reduz a 0,0% de G no período 2004-2007. Referêncas bblográfcas BARROS, Rcardo Paes de. Resultados de pesqusa dvulgados em reportagem de Fernando Dantas nttulada Renda dos mas pobres cresce abaxo da méda da população. O Estado de São Paulo, 2 nov. 2008, p. B0. ; FOGUEL, Mguel Natan; ULYSSEA, Gabrel (Org.). Desgualdade de renda no Brasl: uma análse da queda recente. Brasíla: IPEA, 2006, 2007. 2 v. DEDECCA, Cláudo Salvador; BALLINI, Rosângela; MAIA, Alexandre Gor. Rendmentos prevdencáros e dstrbução de renda. In: FAGNANI, E.; POCHMANN, M. (Org.). Debates contemporâneos: economa socal e do trabalo, n. : Mercado de trabalo, relações sndcas, pobreza e ajuste fscal. São Paulo, LTr, 2007. p. 72-79. FERREIRA, Carlos Roberto. Aposentadoras e dstrbução da renda no Brasl: uma nota sobre o período 98 a 200. Revsta Braslera de Economa, v. 60, n. 3, p. 247-260, jul./set. 2006. HOFFMANN, Rodolfo. Inequalty n Brazl: te contrbuton of pensons. Revsta Braslera de Economa, v. 57, n. 4, p. 755-773, out./dez. 2003.. Transferênca de renda e redução da desgualdade no Brasl e em cnco regões, entre 997 e 2005. In: BARROS, R. P.; FOGUEL, M. N.; ULYSSEA, G. (Org.). Desgualdade de renda no Brasl: uma análse da queda recente. Brasíla: IPEA, 2007a. v. 2, p. 7-40.. Desgualdade de renda no Brasl em 2005 e sua decomposção. In: ANÁLISE da Pesqusa Naconal por Amostra de Domcílos PNAD 2005. Lvro 3: Pobreza e Desgualdade. Brasíla: CGEE, 2007b. p. 57-83. (Centro de Gestão e Estudos Estratégcos), em CD. ; LEONE, Eugêna Troncoso. Partcpação da muler no mercado de trabalo e desgualdade da renda domclar per capta no Brasl: 98-2002. Nova Economa, Belo Horzonte, v. 4, n. 2, p. 35-58, mao/ago. 2004. 230 Economa e Socedade, Campnas, v. 8, n. (35), p. 23-23, abr. 2009.

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