Enfim, o digital: expectativas dos ouvintes da Itatiaia diante da chegada do novo rádio

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1 Enfim, o digital: expectativas dos ouvintes da Itatiaia diante da chegada do novo rádio Nair Prata 1 Wanir Campelo 2 Maria Cláudia Santos 3 Resumo: O rádio digital chega, finalmente, ao Brasil. Em nosso país, as discussões acerca da nova mídia são marcadas, principalmente, pelos aspectos tecnológicos e pouco se debate sobre a produção de conteúdo e sobre as novas formas de jornalismo. Mas o que o público espera do rádio digital? Esta é a questão central deste trabalho. Este artigo tem o objetivo de sistematizar argumentos teóricos acerca do rádio digital e, a partir disso, fazer um balanço do processo de implantação dessa nova mídia em Minas Gerais, buscando entender, a partir de uma pesquisa de recepção realizada com ouvintes da rádio Itatiaia, quais são as expectativas do público, em termos de conteúdo, com a chegada do digital. Palavras-chave: Radiojornalismo, Rádio Digital, Recepção, Ouvintes, Rádio Itatiaia Introdução Com a chegada do rádio digital ao Brasil, uma discussão se faz necessária: Qual será o conteúdo desse novo modelo de radiofonia? Como será o jornalismo do novo rádio? Quando se fala em digitalização, o tema recorrente é sempre o aspecto tecnológico e pouquíssimo se debate sobre os novos conteúdos e o novo jornalismo advindos do modelo digital de radiofonia. Neste trabalho, começamos a busca dessas respostas pela Rádio Itatiaia, a maior emissora jornalística de Minas Gerais, que se prepara para implantar a tecnologia digital. Conversamos com dirigentes da Associação Mineira das Emissoras de Rádio e Televisão (Amirt), com a direção da Rádio Itatiaia e tentamos falar com o ministro das Comunicações, Hélio Costa, mas não obtivemos retorno. Mas o nosso foco é, sobretudo, no ouvinte: perguntamos ao receptor o que ele espera do digital e as respostas, muitas vezes surpreendentes, demonstram que o governo, as emissoras e os jornalistas devem se preparar, pois um novo público, ávido por novidades, se avizinha com a digitalização do rádio. 1 Jornalista, doutora em Lingüística Aplicada (UFMG), professora do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). nairprata@uol.com.br 2 Jornalista, mestre em Comunicação (Universidade São Marcos), professora do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH). wanircampelo@uai.com.br 3 Jornalista, mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (UNA), coordenadora de Jornalismo da Rádio Itatiaia. mariaclaudiasantos@yahoo.com.br

2 I. O que é o rádio digital A digitalização das transmissões radiofônicas no Brasil deve proporcionar mudanças tanto no aspecto técnico, quanto no conteúdo. No campo técnico, a principal transformação é o som de primeira, isto é, o AM com som de FM e o FM com som de CD. Mas também devem chegar, possivelmente, novidades no campo da linguagem, com novas possibilidades interativas, novos canais de transmissão e, certamente, um novo jornalismo. Candelas (2001) fala sobre os novos tipos de serviços que podem ser prestados pelo rádio digital: transmissão de uma imagem fixa, paralelamente com a notícia falada do programa; transmissão de mapas de tempo detalhados, com explicações e alta resolução gráfica; sistemas de informação de trânsito, incluindo recomendações sobre possíveis desvios, mostrando a forma de um mapa apresentado num pequeno monitor; sistemas de controle de trânsito em display, para o público em geral ou para grupos reduzidos (táxis ou carros de aluguel); sistema pago e de transmissão e dados a grupos específicos de usuários, por exemplo, informações sobre cartões de crédito, informações do tempo, educação à distância (p.100). São conhecidos hoje três sistemas de transmissão de rádio digital: DAB (Digital Audio Broadcasting): é constituído de duas variações, uma para cada serviço, o DAB para FM e o DRM (Digital Radio Mondiale) para AM; IBOC (In-Band O Chanel): pode ser utilizado tanto para FM quanto AM, por via terrestre ou por satélite, nas atuais freqüências, sem faixas adicionais e transmitindo áudio e dados simultaneamente, permitindo às emissoras se digitalizarem com um processo rápido e simples de migração e ISDB (Integrated Services Digital Broadcast): sistema japonês, já é considerado uma convergência tecnológica de rádio com TV digital. No Brasil, a opção será possivelmente pelo IBOC, pois parece ser esta a tendência apontada pelo Ministério das Comunicações. II. A implantação do rádio digital em Minas Gerais Em Minas Gerais apenas duas emissoras, das 350, têm dado passos concretos rumo à implantação do rádio digital, a Rádio Globo AM, que já iniciou os testes em 2005 e a Rádio Itatiaia FM que, neste semestre, deve fazer o mesmo, com quase dois

3 anos de atraso. Como nos casos das outras emissoras brasileiras autorizadas pela Anatel, as experiências em Minas são com o IBOC. De acordo com a diretoria da Associação Mineira das Emissoras de Rádio e Televisão (Amirt), o digital em Minas não vai chegar no prazo previsto. Segundo o diretor Luiz Carlos Gomes, em 2007 os trabalhos não avançaram e isso, certamente, vai impedir que o rádio digital se torne uma realidade em Belo Horizonte nos próximos cinco anos. Ele afirma que o governo federal tem falado em avanços, mas, na prática, não se observou qualquer andamento significativo no último ano. Só as Rádios Globo e Itatiaia estão participando, de fato, da tentativa de implantação da novidade. Ele observa que a evolução do processo tem sido impedida em todo o Brasil pelo atraso na escolha do sistema de transmissão e pela limitação de recursos, principalmente, por parte das pequenas e médias emissoras. Gomes explica que, apesar do investimento médio mínimo ser de cerca de R$ para uma emissora que já conta com base física bem estruturada, há aquelas que já investiram mais de R$ , só neste período de testes, ainda sem saber, oficialmente, se o modelo que o Brasil vai adotar será mesmo o IBOC. Gomes afirma que para os radiodifusores, está difícil até calcular os custos da empreitada. Segundo ele, a Amirt fez uma tentativa, frustrada, de consultar nas indústria brasileira e americana os custos para a implantação de transmissores digitais. Gomes explicou: Observamos que investir no rádio digital envolve muito dinheiro e apostas no escuro em um projeto cercado de informações imprecisas. Todos os preços passados pelos fornecedores eram hipotéticos, impossibilitando as emissoras de terem, previamente, uma noção do quanto precisariam dispor para a implantação do sistema digital. O balanço da atual situação da implantação do rádio digital em Minas Gerais aponta outros problemas comuns em todo o país, como a falta de acesso e o alto custo dos receptores. De acordo com dados da Amirt, apesar da tendência de queda no preço, atualmente, um receptor digital não pode ser comprado por menos de R$ Além disso, o aparelho não tem sido encontrado facilmente no Brasil, com exceção de alguns fornecedores do Rio de Janeiro.

4 O diretor da Amirt destaca ainda que, dos obstáculos que o processo de implantação digital vem enfrentando desde o início, o que parece mais perto de ser superado é a escolha do sistema ideal de transmissão. Gomes afirma que as discussões já apontam para a preferência da maioria pelo modelo IBOC, considerado o mais adaptável por poder ser transmitido pelo mesmo aparelho que transporta o sistema analógico. Para a direção da Amirt, as preocupações com a escolha do sistema, os custos e a complexidade do processo de implantação têm superado outras questões que, anteriormente, eram consideradas inibidoras do avanço do rádio digital no Brasil. O temor da divisão do bolo publicitário figurava entre elas. O diretor Luiz Carlos Gomes destaca que este ponto, agora, deixa de ser visto pelas emissoras como complicador e já começa a ser analisado como uma possível saída para a crise que a publicidade no rádio enfrenta, com a migração dos anúncios para outras mídias como a internet. Já o vice-presidente técnico da Amirt, Victor Purri Netto, evita precisar data para que o rádio digital comece a fazer parte, de fato, da vida dos mineiros. Ele destaca que só um aspecto pode ser dado como certo, por enquanto, quando se fala de balanço da implantação do rádio do futuro : as emissoras estão com todas as atenções voltadas para as vantagens do ponto de vista técnico. Netto explica que o foco, no momento, está na possibilidade de aumentar o alcance e de promover melhoria da qualidade do som. Ele afirma: Não teremos nada a mais que isso, muito menos discussão sobre novos conteúdos. III. A Rádio Itatiaia e a digitalização 3.1 A Itatiaia no cenário radiofônico A rádio Itatiaia, sediada em Belo Horizonte, possui números importantes para qualquer veículo de mídia: 69,9% dos ouvintes de AM estão ligados na rádio; a emissora detém o 1º lugar de audiência nas classes A e B; tem uma audiência de 94,5% nas transmissões esportivas; a cobertura da Itatiaia atinge 90% das cidades mineiras; a Rede Itasat, com 51 cidades-pólo, cobre 767 municípios mineiros. A rádio Itatiaia foi fundada em 1951 pelo jornalista Januário Carneiro, na cidade mineira de Nova Lima, a 30 quilômetros de Belo Horizonte. Hoje, 57 anos depois, a emissora opera com 100 KW, com cobertura num raio de 200 quilômetros. A

5 programação da emissora é também transmitida em tempo real pela internet, pelo site: Até o início da década de 60, a Itatiaia baseou sua programação sobre dois pilares: esportes e jornalismo, a partir de grandes coberturas locais e internacionais. No final de 1960, a emissora decidiu ampliar sua programação, com a criação de quadros musicais voltados para o ouvinte que não tinha tanto interesse pelo noticiário e pelo futebol. Na década de 70, a rádio Itatiaia já estava consolidada como emissora importante no cenário radiofônico mineiro, mas só no final da década de 80 conseguiu chegar ao primeiro lugar de audiência. A rádio Itatiaia é uma empresa particular, sem ligação com grupos religiosos ou políticos, de administração tipicamente familiar. O irmão do fundador da empresa, Emanuel Carneiro, dirige a emissora e seu filho mais velho, Cláudio Carneiro, é o vicepresidente da empresa e, certamente, o sucessor. A Itatiaia foi a primeira emissora mineira a contratar um canal de satélite para expandir o alcance da sua programação, através da Rede Itasat. A Rede trabalha com emissoras próprias e com estações filiadas, que captam as transmissões via satélite da rádio Itatiaia e as retransmitem para sua região. Cada emissora que faz parte da rede é responsável pela cobertura de uma determinada região do Estado. A Rede tem 51 afiliadas (a mais recente é Rádio Caratinga), 6 emissoras próprias e abrange 90% do território mineiro Por contrato, as emissoras que fazem parte da Rede são obrigadas a transmitir parte do Jornal da Itatiaia 1ª Edição e o Jornal da Itatiaia 2ª Edição completo. Mas, na realidade, a maioria das emissoras acaba utilizando de boa parte do restante da programação. A Rádio Itatiaia é transmitida, simultaneamente, em AM (610) e FM (95,7). Em 2000, a direção da empresa possuía duas emissoras diferentes, ambas chamadas Itatiaia, com transmissão em AM e FM, cada uma com um tipo de programação. Com a queda cada vez mais acentuada da audiência do AM em Belo Horizonte, a direção da empresa decidiu extinguir um modelo de emissora e a Itatiaia, com foco no jornalismo e no esporte, passou a ser transmitida em ambas as freqüências.

6 A programação da Itatiaia é baseada no tripé: jornalismo, esporte e prestação de serviços - o perfil news-talk, segundo Howard et al (1995). No mercado mineiro há duas emissoras no modelo all news, a CBN e a Band News, mas a Itatiaia tem mais audiência e respaldo popular do que as duas, porque alia tradição, respeitabilidade do povo mineiro e uma programação que mistura jornalismo, programação esportiva intensa e talk shows que atraem a fidelidade do público. 3.2 O rádio digital na Itatiaia A Rádio Itatiaia deve começar a testar o modelo IBOC de rádio digital ainda em O cronograma de implantação da mídia digital conta com certo atraso. Os testes estavam previstos para o segundo semestre de 2006, mas só agora parecem estar perto da concretização. Diferentemente da pioneira nos testes do tipo, a rádio Globo Minas, a Itatiaia já dará início ao procedimento testando na FM. O engenheiro e técnico responsável pelos testes com o rádio digital na Itatiaia, Severino Dias Carneiro, garante que agora está tudo pronto para a primeira fase de testes: os transmissores foram trocados, o que falta é apenas uma antena FM que já foi adquirida nos Estados Unidos e que está chegando ao Brasil. Na fase de testes, a emissora deverá observar o alcance da transmissão, a qualidade do som, a possibilidade de interferência, assim como instabilidades que o sistema, eventualmente, possa apresentar. Para facilitar a aferição dos testes, serão instalados receptores digitais na frota de veículos da rede Itatiaia. O engenheiro explica que os testes começam pela FM porque experiências americanas já mostraram que na AM têm sido verificados muitos problemas de interferência. O delay, oito segundos maior do que o verificado nas transmissões analógicas, não tem sido apontado como problema pelo departamento técnico da emissora, mas sim como uma característica do sistema que ainda levará tempo para ser modificada. Para o diretor de Jornalismo da Itatiaia, Márcio Doti, apesar de todos os atrasos, em cinco anos, o rádio digital fará parte da vida dos mineiros. Ele prevê que hoje, esse tempo é suficiente para as pessoas se adaptarem. Provocadas para algo que mexe com a vida delas, como é o caso do rádio, ainda mais com a promessa de interatividade do digital, logo essa tecnologia estará no cotidiano de cada um. As emissoras e a indústria se apressarão para dar uma resposta ao ouvinte. Doti lembra, ainda, que esta resposta pode ser vital para o rádio continuar tendo condições de participar da divisão do bolo

7 publicitário, cada vez mais disputado por outros tipos de mídias, com destaque para a internet. Quanto à inexistência de discussões sobre o conteúdo das programações que deverão ser criadas ou reformuladas para o aproveitamento real das possibilidades que o rádio digital oferece, o jornalista avalia que isso é assunto para um segundo momento. Nesta primeira fase, que será marcada pela implantação, Doti acredita que o esforço será em torno da ampliação de programações atuais por meio do uso de transmissão de dados no display do rádio e explica que de início, será o grande apelo da novidade. As informações de trânsito, por exemplo, poderiam ser mais decodificáveis se parte delas pudesse aparecer escrita no display. O diretor de Jornalismo deixa claro que, na emissora, não existem discussões, no momento, sobre modificações na produção de conteúdo devido à chegada do rádio digital. Ele enfatiza que a grande preocupação atual deve ser com a implantação técnica do novo sistema de transmissão e com o desafio de levar o ouvinte a buscar o receptor digital: esta é a grande dificuldade e isso é que levará algum tempo para fazer funcionar esse novo rádio, o conteúdo, virá depois. IV. A pesquisa com os ouvintes da Itatiaia Para a elaboração deste trabalho, definiu-se que seria realizada uma pesquisa de recepção com ouvintes da rádio Itatiaia, para se saber quais as expectativas do público, em termos de conteúdo, com a chegada do digital. A escolha do tipo de abordagem com o ouvinte recaiu sobre a entrevista padronizada ou estruturada. De acordo com Lakatos (1986), este tipo de entrevista é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido; as perguntas feitas ao indivíduo são predeterminadas. Ela se realiza de acordo com um formulário elaborado e é efetuada de preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano (p. 165). Thiollent (1985) também observa que questionários e entrevistas são considerados como técnicas de observação direta pelo fato de estabelecerem um contato efetivo com as pessoas no problema investigado (p. 32) Para definir a amostra a ser pesquisada, optou-se pelo público voluntário, uma modalidade de investigação na qual as pessoas se oferecem para participar. A partir daí, elaborou-se o seguinte texto-convite, veiculado nos dias 1º e 2 de Julho de 2008, em 7

8 programas da emissora, entre 9 e 23 horas, e que foi lido pelos próprios apresentadores em seus respectivos horários. Um grupo de pesquisa quer saber o que os ouvintes esperam do rádio digital. Este grupo quer ouvir, até mesmo, quem não sabe nada sobre o assunto. Os interessados em participar desta pesquisa devem enviar para pesquisaradio@yahoo.com.br dizendo que querem participar. Estas pessoas vão receber, depois, um pequeno questionário para responder. Os s devem ser enviados até, no máximo, quintafeira, dia 3 de Julho. Ao final do prazo estabelecido, 117 ouvintes aceitaram o convite e enviaram e- mails se oferecendo para participar da pesquisa. Os questionários foram encaminhados aos interessados e, na data limite para a devolução, dia 6 de Julho, 64 questionários haviam sido respondidos, o que corresponde a 54,70%. Pode-se considerar que esta pesquisa obteve uma alta taxa de retorno dos questionários pois, de acordo com Lakatos (1986), em média, os questionários expedidos pelo pesquisador alcançam 25% de devolução (p. 46). A pesquisa foi dividida em duas partes, totalizando 30 perguntas, todas de múltipla escolha, sendo apenas a última aberta: 1) Sobre você (14 questões) e 2) Sobre o rádio digital (16 questões). A seguir, apresentamos a análise das respostas dos ouvintes. A primeira parte da pesquisa, intitulada Sobre Você, mostrou que, dos 64 ouvintes que responderam ao questionário, a maioria é do sexo masculino (70%) e com faixa etária predominante entre 21 e 30 anos (34,3%). Um ouvinte de 16 anos foi o participante mais novo, enquanto um de 67 anos foi o mais velho. Dez pessoas não quiseram responder a esse item e preferiram omitir a idade. Houve um certo equilíbrio na quantidade de solteiros e casados que contribuíram com a pesquisa. Na primeira categoria, houve a participação de 28 pessoas e na segunda, 29. A renda mensal da metade dos respondentes é de até três salários mínimos, e ainda assim, mais de 70% declararam que moram em casa própria. Somando-se o número de pessoas que concluíram o ensino médio ao número de pessoas que concluíram o ensino superior, o que se verifica é uma alta porcentagem no grau de instrução, que chega bem próxima a 90%. Dos 64 participantes da pesquisa, 30

9 têm o segundo grau completo e 26 já se graduaram. Também é relevante a quantidade de fontes utilizadas para a busca de informação. Os 64 entrevistados disseram que utilizam uma ou mais de uma fonte diariamente. A mídia rádio foi, sem dúvida, a mais citada: 96,8% dos entrevistados disseram que se informam pelo rádio, mas a televisão e a internet também foram lembradas pela maioria deles. A busca pela informação nos meios de comunicação é bastante diversificada e, no caso do rádio, apenas uma pessoa declarou não ouvi-lo todos os dias. Além disso, mais de 60% têm o rádio como companhia por mais de três horas diárias. Menos da metade dos respondentes ouve rádio pela internet. Desse total, apenas um terço o faz diariamente e a maioria, por até 3 horas, no máximo. Na segunda parte da pesquisa, intitulada Sobre o rádio digital, o que se percebe é que, dos 64 ouvintes que responderam ao questionário, 31 disseram saber o que é o rádio digital, enquanto 33 disseram desconhecê-lo. Ainda assim, mesmo aqueles que não sabem o que é o digital, não se furtaram a responder a todas, ou a quase todas as questões relacionadas ao assunto. A maior parte (40,6%) dos respondentes está otimista com relação à implantação dessa tecnologia no Brasil ainda este ano. Apenas três ouvintes disseram acreditar que o digital só deverá chegar ao país depois de Para a metade deles, o aparelho de rádio para a transmissão digital deverá ser semelhante aos analógicos e todos apostam em equipamentos portáteis: 31 ouvintes acreditam que haverá um visor na frente do rádio, como uma tela de telefone celular, por onde também irão receber outros tipos de informação. Dos 64 participantes da pesquisa, 49 (76,5%) disseram que comprariam um rádio digital para obter informações escritas em uma tela, como a previsão do tempo, a cotação do dólar, e até mesmo o nome do cantor cuja música estivesse no ar naquele momento. Além disso, 54,6% afirmaram que comprariam um rádio digital para receber clips de seus cantores favoritos. Os participantes da pesquisa também prometem não medir esforços financeiros para adquirir um aparelho que lhes permita ouvir o rádio digitalmente. Quase 78% afirmaram que pagariam até R$300,00 para comprar um rádio digital. Por outro lado,

10 nove ouvintes disseram que não pagariam nada a mais pelo aparelho, por não encontrarem vantagem nessa tecnologia, mas um respondente afirmou que estaria disposto a pagar mais de R$ para receber as transmissões digitais. A interatividade é a grande esperança dos ouvintes quando o tema é o conteúdo para o rádio digital: 47 dos 64 que colaboraram com a pesquisa estão acreditando que terão oportunidade de participar ativamente da programação das emissoras. Quase 94% dos ouvintes acreditam que poderão participar dos programas do rádio digital mandando mensagens e recebendo a resposta no ar, em tempo real. Já a música segmentada no digital divide opiniões: 46.8% dos ouvintes responderam que ouviriam uma emissora que tocasse exclusivamente um tipo de música, enquanto 53.1% disseram que não ouviriam. Os gêneros musicais escolhidos pelos ouvintes foram os mais diversificados. A MPB foi citada 34 vezes, o rock, 28 e a música sertaneja 16 vezes. Mas outras opções também foram lembradas por muitos deles como a música gospel, a música clássica e até o canto gregoriano, passando pelo axé, funk e hip hop. Emissoras especializadas em política e esportes foram citadas 33 vezes cada uma, quando a pergunta apresentada foi Você compraria um rádio digital para ouvir emissoras especializadas em quê?. Literatura, turismo e economia foram também lembrados. Os ouvintes mostraram interesse em receber programas sobre decoração, gastronomia, tecnologia, comportamento, negócios e humor, dentre outros. Quando a questão está diretamente ligada ao Jornalismo, o que se percebe é o grande interesse pela informação: 84,3% desejam receber notícias específicas pelo rádio digital e quase um terço dos respondentes espera que as notícias possam ser mais detalhadas. A expectativa dos ouvintes com relação às mudanças na parte jornalística é bastante significativa e atinge 79.6% dos entrevistados. A única questão aberta do questionário pediu a opinião dos ouvintes sobre o radiojornalismo na era digital. Para a pergunta: Em sua opinião, como deverá ser o jornalismo no rádio diante das possibilidades digitais? as respostas obtidas foram agrupadas da seguinte maneira:

11 4.1 Visibilidade: o radiojornalismo digital será imagético Um rádio provido de imagem é a expectativa de mais de 20% dos ouvintes que participaram dessa pesquisa. Em 14 depoimentos, apareceu a palavra imagem: Com imagens na tela do rádio; Com possibilidade de transmissão de imagens; Com informações ilustradas por imagens; Com fotos e imagens, dentre outros. Há quem espere um resumo das notícias na tela do rádio; ou a possibilidade de visualizar os repórteres quando estiverem no ar. Um ouvinte espera a possibilidade de acompanhar o trabalho de um repórter fazendo a cobertura de uma ação da Polícia Federal e paralelamente à sua narrativa, ter na tela, o nome e os dados pessoais dos envolvidos. Também apareceram respostas como Acredito na possibilidade de ver o que está acontecendo em tempo real; Com possibilidades de se visualizar a temperatura e a umidade do ar e ainda Com possibilidade de focalizar os temas das notícias. Mas um dos ouvintes entrevistados deixou um comentário e uma intrigante pergunta em seu questionário: Não creio que haverá mudança no formato atual, senão o rádio vira TV. Afinal estamos falando de quê? O rádio com imagem não seria uma TV? 4.2 Interatividade: O radiojornalismo digital será colaborativo A palavra interatividade apareceu em 26 depoimentos, ou seja, em 40.6% das respostas. Embora tivesse havido outros depoimentos sem o uso literal da palavra, percebe-se claramente o desejo e/ou a certeza de que o radiojornalismo terá a efetiva participação do ouvinte. Os depoimentos apontam para a vontade do ouvinte em se tornar um colaborador permanente dos jornalistas que trabalham no rádio. Em 18 depoimentos, existe a intenção do ouvinte de colaborar com informações relevantes, definir temas de reportagem e pautar questões para entrevistados. Há quem espere poder dar opinião no formato dos programas e comentar diversos assuntos com os apresentadores, além de fazer prestação de serviço. Um dos ouvintes quer poder, ao vivo, prestar informações de momento, tais como congestionamentos de trânsito; acidentes; além de auxiliar com informações equivocadas que são prestadas pelos comunicadores em seus veículos. Para um outro ouvinte, haverá a possibilidade de qualquer pessoa apresentar uma matéria jornalística, que será imediatamente incluída na programação. Para ele, isso permitirá a formação de redes de discussões entre ouvintes, sobre determinados assuntos. Um outro ouvinte sugere que a emissora invista em novos formatos jornalísticos, aproveitando a chegada do digital: creio que a Rádio Itatiaia

12 precisa investir em outros formatos para atrair, principalmente, o público jovem-adulto (a partir dos 20 anos, por exemplo). Poderia ter programas de entrevista; sobre comunicação e jornalismo; programa feminino em formato de revista eletrônica com a presença de uma locutora frente à atração e um programa sobre tecnologia/informática. Ele argumentou que o jornalismo, não só no rádio, como nas outras mídias, está em processo de reformulação: o público não está mais passivo às informações e quer participar do processo noticioso. Para o ouvinte, o jornalista será um organizador de conteúdo, num futuro não tão distante - ele até será o responsável pela informação, mas o público terá uma participação cada vez maior. O ouvinte concluiu: creio que o jornalismo colaborativo, no qual o público participa, seja enviando denúncias, fotos, imagens ou depoimentos, irá ganhar mais respaldo, participação e amparo de muitos comunicadores. 4.3 Agilidade: o radiojornalismo digital será mais dinâmico Cerca de 20% dos ouvintes citaram o dinamismo como uma das características do jornalismo no rádio digital. Alguns tentaram explicar: penso que hoje o rádio já é o veículo que passa a informação de forma mais ágil. Com a implantação do rádio digital creio que as notícias chegarão de forma ainda mais rápida. Houve quem dissesse que com o digital o jornalismo radiofônico passará a ser mais eficiente em função da agilidade. Um ouvinte disse que, apesar de não entender nada a respeito de rádio digital, acredita que possa haver um jornalismo mais rápido e em tempo real. Quatro ouvintes responderam apenas que o jornalismo será mais dinâmico e um deles argumentou: o jornalismo no rádio já é super bem detalhado, mas acho que, com a opção digital, será melhor ainda, pois se tornará mais ágil e dinâmico por causa da tecnologia. Um dos respondentes disse que o jornalismo terá maior rapidez na narração dos fatos e outro argumentou que as informações serão imediatas, pois estarão mais próximas da realidade de cada um e do local de moradia dos ouvintes: teremos informação que nos interessa de perto em tempo recorde. Um outro ouvinte disse que, sendo o rádio mais ágil do que a televisão mesmo no sistema analógico, no sistema digital ganharemos agilidade e dinamismo.

13 4.4 Diversidade: a informação no radiojornalismo digital será mais segmentada A segmentação foi outra característica citada pelos ouvintes. Alguns deles acreditam em canais específicos para gêneros e subgêneros radiofônicos. Um respondente citou a possibilidade de escolher, na grade de programação da emissora, aquilo que ele deseja ouvir, mas não explicou como isso poderia ser feito: não precisarei ouvir aquilo que não quero, pois muitos conteúdos, assim como na própria televisão, não têm qualidade. Segundo um dos ouvintes, é possível que tenhamos uma gama maior de opções quanto à programação nos permitindo conhecer, antecipadamente, aquilo que será transmitido naquele dia e aí sim definir o que mais nos interessar em matéria de entretenimento, informação e música. Acredito que, com a chegada desta nova tecnologia, teremos inúmeras opções consolidando, definitivamente, o rádio, como o maior meio de comunicação entre as massas, sem distinção de poder aquisitivo e classe social. Outro ouvinte disse que a banda de freqüência será dividida e, com isso, a rádio poderá transmitir programas variados: vamos poder escolher o tipo de programa que queremos ouvir naquele horário. Um dos ouvintes detalhou o que espera do digital: ao optarmos por determinado assunto não significa dizer que não estamos interessados em outros, então é importante que, de qualquer forma, como acontece hoje, tenhamos notícias com assuntos diversificados em qualquer canal de nossa escolha. Sugestão: Em todos os canais deverá ter as últimas notícias da hora, ou as principais manchetes de todas as áreas, de forma tal que possamos mudar nossas escolhas de acordo com nosso interesse no momento. Isso nos manterá informados conforme nossas necessidades. 4.5 Imparcialidade: o radiojornalismo digital será verdadeiramente tridimensional Precisamos de um jornalismo verdadeiramente tridimensional, visto de todos os ângulos possíveis através de opiniões, fontes e cenários diversificados. Assim respondeu um dos participantes da pesquisa à questão Em sua opinião, como deverá ser o jornalismo no rádio diante das possibilidades digitais?. Segundo ele, vai sair na frente aquele que for imparcial na política, na economia, na religião. Às vezes a sensação que tenho é de ainda ser uma "criança" ouvindo "historinhas" de jornalismo, que já vêm manipuladas com o elenco dos "bonzinhos" e dos "malvados"! Nós ouvintes

14 é quem devemos decidir entre chapeuzinho vermelho e lobo-mau: o vilão! Quatro respondentes apostam na imparcialidade como uma das principais características desse novo tempo. 4.6 Veracidade: o radiojornalismo digital terá mais qualidade As palavras verdade, precisão, confiança e credibilidade apareceram em doze depoimentos, implicando na qualidade do que deverá continuar sendo produzido pelo rádio digital. Um dos entrevistados justificou a sua resposta afirmando que espera um jornalismo mais verdadeiro: é a noticia passando para o rádio digital no momento em que a informação estiver sendo passada ao jornalista. Tudo muito preciso e bem feito. Um outro entrevistado afirmou: espero que esse novo modelo de rádio possa melhorar a forma como as pessoas absorvem uma notícia, zelando sempre pela veracidade da informação e o que isso pode causar na vida dessas pessoas. Claro que a expectativa é grande como ocorreu (ou ainda ocorre) com a TV digital no Brasil. Espero também que o modelo de rádio digital possa interagir livremente com outras mídias como Internet e TV digital, e, que os governantes saibam escolher a melhor opção para os ouvintes. 4.7 Amanhã, tudo será como antes Apesar de opiniões tão diversificadas sobre como deverá ser o jornalismo no rádio diante das possibilidades digitais, há quem não faça a menor idéia do que vem pela frente: Sinceramente? Não faço idéia; ou Prefiro não opinar; ou ainda Não me informei a respeito foram algumas das respostas enviadas por aqueles que, mesmo respondendo ao questionário, ainda não têm certeza do que os aguarda. Além desses, há também aqueles que não acreditam em mudanças significativas. O jornalismo avançará sempre como vem avançando independentemente do rádio digital. O que mudará é a forma, ou o meio pelo qual as notícias chegarão até os ouvintes; opinião que se assemelha a de um outro respondente: O jornalismo em si não deverá mudar. Acredito que só haverá alteração na qualidade de transmissão com o mesmo conteúdo. Considerações finais Os radiodifusores, realmente, não estão pensando em conteúdo, quando o assunto é o rádio digital. Por enquanto, só conseguem dar atenção para os entraves e possibilidades do ponto de vista técnico. Por outro lado, os ouvintes já têm um modelo

15 mental do que será esse novo rádio e sonham com um conteúdo diferente daquele a que estão acostumados e com um jornalismo mais interativo. Fica claro que o público está construindo uma grande expectativa quanto ao digital, independentemente da inovação tecnológica em si. Portanto, as emissoras não vão poder demorar muito, pois, assim que a questão técnica estiver superada, terão que se deparar com um problema provavelmente muito maior do que a escolha entre o IBOC e o DAB: a pressão do público por novos conteúdos, com as necessárias adaptações e desenvolvimento de novos produtos para o rádio digital. No primeiro semestre de 2008, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) desenvolveu uma ampla campanha em todo o país pelo reconhecimento definitivo do diploma para o jornalista. Pela pesquisa realizada por este trabalho, percebe-se uma grande vontade dos ouvintes da Itatiaia em tornarem-se, também, produtores de conteúdo, realizando o trabalho que, por direito, pertence aos profissionais que cursaram a faculdade de Jornalismo. Mas será esta a tendência da mídia como um todo? Ou as discussões a respeito desse tema já se esgotaram? Outra discussão importante apontada por um ouvinte é a questão do conceito de rádio a partir das novas tecnologias digitais. Em Prata (2008) é proposta uma conceituação, tendo como epicentro de pesquisa a webradio. Também não está claro, provavelmente para ninguém, como se dará a liberdade de escolha de programas, o aumento da agilidade e a famosa interatividade. Como será, realmente, que isso vai acontecer no rádio digital? De qualquer forma, é importante que o governo, as emissoras e os jornalistas se dêem conta de que não basta a simples definição por um padrão técnico para a implantação do rádio digital no Brasil. É necessária a adoção de uma nova mentalidade e de novos processos regidos pela digitalização, com a conseqüente opção por um jornalismo que atenda aos anseios do público. De outra forma, o rádio digital já nasce condenado ao fracasso.

16 Referências CANDELAS, Leopoldo Seijas. Los sistemas informativos en la era digital. Madrid: Editorial Universitas, HOWARD, Herbert H. at ali. Radio, TV, and Cable Programming. Tenesse: Iwo State University press, LAKATOS, Eva Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Editora Atlas S.A., PRATA, Nair. Webradio: novos gêneros, novas formas de interação. Tese de doutorado. Belo Horizonte: Faculdade de Letras, UFMG, THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez Editora, 1996.