EFEITOS DA DOENÇA PERIODONTAL E DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA SOBRE OS RINS DE UM CÃO RELATO DE CASO
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- Marco Antônio da Rocha Lancastre
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1 EFEITOS DA DOENÇA PERIODONTAL E DA HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA SOBRE OS RINS DE UM CÃO RELATO DE CASO Tiago Vieira RODRIGUES 1, Daniela Bastos de Souza Karam ROSA 2, Júlio Cesar Cambraia VEADO 3, Marthin Raboch LEMPEK 4, Acácia Rebello COUTINHO 5, Michelle Gouvea GOMES 6 1 Aluno da Graduação do curso de Med. Veterinária EV-UFMG tiagorodrigues635@rocketmail.com 2 Médica Veterinária Aluna Pós-Graduação EV-UFMG 3 Prof. Associado II EV UFMG 4 Mestrando em Cardiologia e Nefrologia Veterinária EV-UFMG 5 Aluna da Graduação do curso de Med. Veterinária EV-UFMG 6 Médica Veterinária Aluna Pós-Graduação EV-UFMG RESUMO A glomerulonefrite é uma alteração renal que pode estar intimamente ligada a outras afecções, como a doença periodontal e a hipertensão arterial sistêmica. Neste estudo de caso são descritos os achados clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos de um paciente canino, cujo problema evidente era uma doença periodontal em estágio avançado, acentuada perda de massa muscular e presença de ascite. Com a associação da ascite aos resultados laboratoriais, foi possível identificar que se tratava de um quadro de síndrome nefrótica. Foi detectado grande aumento de pressão arterial sistólica, necessitando de intervenção emergencial e internação devido ao estado geral do paciente. Após o controle da pressão arterial e tratamento da doença periodontal houve normalização dos parâmetros laboratoriais que caracterizaram o quadro de glomerulonefropatia, além da reversão da ascite. PALAVRAS CHAVE: glomerulonefrite, doença periodontal, hipertensão, cão KEYWORDS: glomerulonephritis, periodontal disease, hypertension, dog REVISÃO DE LITERATURA A doença periodontal e a hipertensão arterial sistêmica são duas ocorrências que geralmente estão associadas a processo de glomerulonefrite. A doença periodontal pode ser causadora de uma glomerulonefrite imunomediada por lesão no endotélio dos capilares glomerulares, com consequente albuminúria (GRAUER, 2005; CHEW et al., 2011; MENESES, 2013; ROSA et al., 2015a; ROSA et al., 2015b). Estudos mostram que esta afecção acomete cerca de 85% dos cães acima ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1204
2 dos três anos de idade. Além de comprometer os tecidos adjacentes ao dente e formar a bolsa periodontal, pode proporcionar o desenvolvimento de moléstias sistêmicas como a hepatite, poliartrite, endocardite bacteriana, além da glomerulonefrite já citada. Esse processo ocorre em função da bacteremia ocasionada durante a mastigação. Com a movimentação do dente no alvéolo e devido à rica vascularização do periodonto, bactérias presentes em lesões na cavidade oral podem penetrar na corrente sangüínea e se acumular em outros órgãos, principalmente nos rins, fígado e coração, geralmente como complexos antígeno-anticorpo, causando lesões (MENESES, 2013). Em relação à hipertensão arterial sistêmica (HAS) ela pode ocorrer primariamente ou como consequência da própria glomerulonefropatia, a qual ativaria o sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA), podendo aumentar a pressão arterial (PA) e tornar o animal hipertenso (ROSA et al., 2015a; ROSA et al., 2015b). Sabe-se que a HAS pode ocasionar uma hipertensão glomerular que, por sua vez, contribui para a passagem forçada de albumina através dos capilares glomerulares, provocando lesões nos mesmos e resultando em albuminúria (GRAUER, 2014; ROSA et al., 2015a; ROSA et al., 2015b) RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da UFMG um paciente da raça Yorkshire Terrier, macho, 11 anos, pesando dois quilos. Chegou ao hospital apresentando volume abdominal aumentado, escore 2 para condição corporal e escore 0 para massa muscular, classificado como perda muscular acentuada pelo WSAVA Nutricional Assessement Guidelines, Ao exame clínico foi observado aumento de volume abdominal com teste de balotamento positivo, confirmando o quadro de ascite, e grande acúmulo de cálculo dentário com processo inflamatório infeccioso de gengiva, caracterizando doença periodontal em grau avançado. A fim de tentar identificar a causa da ascite, foram realizados exames sorológicos para Leishmania, Erlichia e Babesia, ultrassom abdominal, hemograma, perfil bioquímico, urinálise e relação proteína creatinina urinária (RPC), além de mensuração da pressão arterial sistólica (PAS), que estava em 290 mmhg. O paciente foi internado devido ao quadro crítico em que se encontrava. O resultado do exame sorológico para Leishmaniose foi não reagente tanto no teste de ELISA quanto no teste de imunofluorescência indireta (RIFI) diluição total, bem como o ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1205
3 exame sorológico para erliquiose e babesiose. No exame de ultrassom abdominal os rins apresentavam manutenção da definição córtico-medular, porém com hiperecogenicidade difusa da região cortical. Demais órgãos sem alterações. Presença de líquido anecóico livre na cavidade abdominal, cuja análise citológica classificou-o como transudato simples. Os valores de uréia sérica variaram entre 386 mg/dl e 120 mg/dl, sendo a medida menor obtida após duas semanas de fluidoterapia. A creatinina sérica não ultrapassou a faixa de normalidade de 1,5 mg/dl. A albumina sérica cujos valores de referência são de 2,3 g/dl a 3,1 g/dl, variou de 1,86 g/dl no início até 1,04 g/dl no decorrer da internação. Os valores de proteína urinária estavam sempre muito altos, variando entre 225 mg/dl e 110 mg/dl (normal até 25 mg/dl). Já a creatinina urinária mostrou-se abaixo da média normal esperada (120 mg/dl) variando entre 32,6 mg/dl à 47,2 mg/dl. A RPC foi sempre 2,5, estando em 6,14 na primeira medida. A densidade urinária esteve, em média, em 1,015. Devido a hipertensão sistêmica grave no momento do atendimento, foi administrado meio comprimido de Isosorbida de 5 mg, sendo prescrito em seguida enalapril e amlodipino, em doses terapêuticas. Com a prescrição, houve melhora da PAS, que se manteve em torno de 170 mmhg. O paciente foi mantido em fluidoterapia e com as prescrições necessárias, além de nutrição hospitalar até a sua estabilização, o que foi possível somente após 28 dias de internação. Uma semana após o animal encontrar-se plenamente estável foi realizado tratamento odontológico. Não houve complicação pós-tratamento. Exames laboratoriais realizados após 30 dias mostraram melhora significativa nos resultados. DISCUSSÃO Neste caso, a lesão glomerular provavelmente ocasionada pela doença periodontal e hipertensão arterial, desencadeou uma proteinúria importante e persistente, causando hipoalbuminemia grave e promovendo o quadro de ascite. A presença de proteinúria, hipoproteinemia e ascite foi suficiente para caracterizar um quadro de síndrome nefrótica, comum de acontecer em caso de doença periodontal grave. A baixa concentração de creatinina na urina, possivelmente estava relacionada tanto com a diminuição da taxa de filtração glomerular, quanto com a perda de massa muscular do paciente, explicando inclusive, as concentrações séricas normais de creatinina frente a concentrações séricas aumentadas de uréia. O controle da HAS através das prescrições necessárias possibilitou diminuir o grau ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1206
4 da proteinúria e melhorar, em parte, o estado geral do paciente. Após estabilização do quadro clínico, o paciente foi submetido ao tratamento odontológico, sendo crucial para a sua completa recuperação, uma vez que a doença periodontal tem grande potencial para provocar glomerulonefrite e síndrome nefrótica. CONCLUSÃO A albuminúria acompanhada de hipoalbuminemia foi o grande sinalizador da possibilidade de lesão glomerular, já em estágio avançado, devido à manifestação de síndrome nefrótica, que por sua vez, é indicativa de complicação do quadro, levando a um maior risco de óbito. Portanto, é de extrema importância detectar a albuminúria e, em seguida, identificar a causa para tal ocorrência, pesquisando por doenças ou condições que são desencadeadoras de lesão glomerular. A identificação precoce de um quadro de glomerulonefropatia é possível desde que exames laboratoriais, simples, porém importantes, sejam devidamente requisitados e interpretados, como é o caso da urinálise, perfil bioquímico, RPC. A partir daí, a pesquisa pelo fator desencadeador da lesão é fundamental, pois, é o que possibilita o tratamento da causa, aumentando-se as chances de reversão do processo de injúria glomerular e diminuindo, com isso, os casos que evoluem para a insuficiência renal aguda, DRC ou para o óbito. Importante também é a medida acurada da pressão arterial uma vez que, a ocorrência de hipertensão, seja como causa ou como consequência da glomerulopatia, pode agravar ainda mais o quadro de lesão glomerular. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHEW, D.J.; DIBARTOLA, S.P.; SCHENCK, P.A. Diseases of the Glomerulus. In: CHEW, D.J.; DIBARTOLA, S.P.; SCHENCK, P.A. Canine and Feline Nephrology and Urology. 2ª ed. St. Louis (MO): Elsevier Saunders, 2011.p GRAUER, G.F. Canine Glomerulonephritis: new thoughts on proteinuria and treatment. Journal of Small Animal Practice, Manhattan, v. 46, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1207
5 GRAUER, G.F. Tratamento das Glomerulonefrites. In: ELLIOT,J.; GRAUER, G.F. Manual de Nefrologia e Urologia em Cães e Gatos. 2ª ed. São Paulo (SP): Editora Roca, p MENESES, T.D. Doença Periodontal e Glomerulonefrite em Cães [Dissertação], Goiânia: Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia; ROSA DBSK, VEADO JCC, TASSINI LES, ANJOS TM, LEMPEK MR. Glomerulonefropatia em injúria renal aguda e doença renal crônica Parte I Caracterização. MedVep Revista Científica de Medicina Veterinária, Curitiba, v.42, n.12, p , ROSA DBSK, VEADO JCC, TASSINI LES, ANJOS TM, LEMPEK MR.Glomerulonefropatia em injúria renal aguda e doença renal crônica Parte II Diagnóstico e Tratamento. MedVep Revista Científica de Medicina Veterinária, Curitiba, v. 43, n.13, p.70-79, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1208
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