Reeducação Intestinal do Paciente com Lesão Medular
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- Terezinha Bentes Miranda
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2 Manual de orientação Reeducação Intestinal do Paciente com Lesão Medular Serviço de Enfermagem em Saúde Pública Serviço de Fisiatria e Reabilitação
3 Este manual contou com a colaboração das enfermeiras Marcia Fabris e da médica Maria da Graça Tarrago.
4 Sumário APRESENTAÇÃO 5 O aparelho digestivo 7 Como funciona o aparelho digestivo? 7 O que acontece após a lesão medular? 8 Ações do Programa de Reeducação Intestinal 9 Observações importantes 11 Alimentos ricos em fibras 12
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6 Apresentação Elaboramos este material educacional frente à necessidade de crianças e adultos que sofreram lesão medular reorganizarem o funcionamento de seu intestino de maneira segura e eficaz. A regularização do intestino é indispensável à reabilitação do indivíduo após uma lesão medular por evitar as complicações decorrentes de seu mau funcionamento e facilitar o convívio social. O Programa de Reeducação Intestinal constitui-se de ações que visam ao treinamento para o esvaziamento do intestino de forma reflexa. Reeducação intestinal não significa retomar a função intestinal como antes da lesão, mas encontrar a melhor recuperação possível. Para que se alcance esse objetivo com sucesso, é imprescindível que o paciente e cuidador estejam conscientes das metas e tenham conhecimento de como funciona o programa, comprometendo-se com a execução das ações que levarão aos resultados esperados. 5
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8 O aparelho digestivo O aparelho digestivo consiste em um longo tubo desde a boca até o ânus. Está composto pela boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus. Tem a função de permitir ao organismo o aproveitamento dos alimentos para assegurar, através do processo da digestão, a manutenção da vida e a produção de energia para todas as funções e atividades do corpo. Como funciona o aparelho digestivo? Os alimentos triturados na boca passam para o esôfago, chegando ao estômago, onde são transformados em uma substância semilíquida. Esta substância segue para o intestino delgado, onde é absorvida em grande parte. O que não for aproveitado segue para o intestino grosso, recebendo o nome de bolo fecal. As ondas resultantes da movimentação do intestino grosso (chamadas de peristaltismo) levam esse bolo fecal para fora do corpo através do ânus. A passagem das fezes através 7
9 dos intestinos se dá em direção horária, isto é, na direção dos ponteiros do relógio. Após fazermos uma refeição, acontece o reflexo gastro-cólico e jejuno-cólico, que é o aumento da atividade do intestino, facilitando a eliminação do bolo fecal. O que acontece após a lesão medular? Podem ocorrer duas situações diferentes: Prisão de ventre (o mesmo que constipação): fezes endurecidas ou frequência da evacuação diminuída (menos de 3 vezes por semana). Incontinência fecal: perda de fezes sem a pessoa sentir. O funcionamento do intestino de qualquer pessoa sofre influência de fatores físicos, psicológicos e dos hábitos de vida. No paciente com lesão medular, devido à interrupção dos nervos na medula espinhal, o cérebro não recebe as mensagens vindas do reto, o que impossibilita ao indivíduo perceber a vontade de evacuar mesmo na presença de fezes no reto, bem como da própria defecação. A incontinência fecal prejudica o convívio social, uma vez que, além de requerer o uso de fraldas, causa constrangimento pelo mau cheiro, 8
10 roupas, cadeira e cama úmidos ou sujos, além de gastos financeiros. Nos casos de constipação, as consequências são o desconforto abdominal, aumento da espasticidade, dilatação intestinal, disreflexia autonômica (para pessoas com lesão acima de T6), entre outras. Espasticidade: braços e/ou pernas de difícil movimentação por estarem rígidos. Disreflexia autonômica: mal-estar, dor de cabeça, vermelhidão no tórax e rosto, decorrentes de fatores que causam desconforto, tais como bexiga cheia, constipação intestinal, frio ou calor excessivos. Se não desaparecerem os sintomas ao resolver-se a causa, o paciente deve ser levado imediatamente a algum serviço de emergência. A grande maioria do pacientes com lesão medular apresenta constipação e as queixas mais frequentes são: desconforto e distensão do abdômen, fezes endurecidas e ressecadas, intervalo entre as evacuações maior que 4 dias. Embora a pessoa não seja mais consciente da necessidade de evacuar nem da própria defecação, a ação do intestino se dará de forma reflexa, ou seja, independentemente do controle do cérebro ou da vontade do indivíduo. Quando a lesão na medula é acima do nível T12, o esfincter externo está sempre contraído (espástico), acarretando a retenção das fezes. Abaixo desse nível, o esfincter é flácido, ocasionando a incontinência fecal. Ações do programa de reeducação intestinal Escolher um horário do dia para a evacuação: como o desejo de evacuar está ausente, deve ser programado um horário fixo em local apropriado. Preferentemente, o horário escolhido deve ser após alguma refeição, para aproveitar o reflexo gastro-cólico 9
11 referido anteriormente. Posicionamento no vaso sanitário ou na cama: sempre que possível, deve ser usado o vaso sanitário, pois favorece a saída das fezes pela força da gravidade e pela pressão do abdômen sobre as coxas ao dobrar-se para a frente (se o equilíbrio permitir), além de ser mais higiênico, possibilitando ao paciente ser igual aos outros. Na impossibilidade do uso do vaso sanitário, posicionar o paciente deitado sobre seu lado esquerdo, favorecendo a saída das fezes conforme o trajeto horário percorrido pelas mesmas. Dieta rica em fibras: a alimentação diária deve conter alimentos ricos em fibras (ver tabela anexa), para que as fezes sejam macias e bem formadas. As fibras são importantes para dar volume às fezes, por não serem absorvidas completamente no intestino. Evitar o uso de alimentos que provocam gases, pois podem causar distensão e desconforto abdominal (repolho, batata-doce, feijão, lentilha, leite integral, entre outros). Deverá restringir o uso de alimentos constipantes (queijos amarelos) e de gorduras, para evitar a diarreia e a obesidade. Observação: cada pessoa deverá identificar os alimentos que lhe provocam esses efeitos indesejáveis e substituí-los por outro do mesmo grupo. Líquidos: a ingestão de líquidos - em torno de 2 litros por dia (para aqueles que não têm restrição) - facilita o deslocamento das fezes no aparelho digestivo. Se houver indicação do uso de supositório: o paciente ou cuidador deve colocar uma luva e, com o dedo indicador, empurrar o supositório o mais alto que puder. Se encontrar fezes no caminho, empurrar o supositório pelo lado das mesmas, para que ele fique em contato com a parede do reto e não por entre as fezes. Se no seu organismo a ação do supositório for rápida, coloque-o quando já estiver sentado; se demorar mais de 15 minutos, coloque-o enquanto estiver deitado. 10
12 Massagem abdominal da direita para a esquerda e de cima para baixo, sentado, facilitando a passagem das fezes pelo intestino. Estimulação retal: deve ser utilizada quando indicada pelo médico ou enfermeira. Consiste na introdução do dedo indicador do paciente ou do cuidador, enluvado e lubrificado (com vaselina líquida, óleo mineral ou água), além do esfincter anal (faixa tensa no final do intestino) e movimentação em círculos de maneira suave, por várias vezes em 1 minuto. Se todas estas medidas não surtirem efeito em 45 minutos, finalizar a rotina intestinal por esse dia e repetir tudo no dia seguinte. Essas ações serão desenvolvidas de acordo com a conveniência e a rotina familiar de cada pessoa. Observações importantes Trocas na alimentação regular e diminuição da ingestão de líquidos podem modificar a rotina intestinal. Certos medicamentos, tais como alguns analgésicos e antibióticos, podem interferir no funcionamento do intestino. Na ocorrência de constipação ou diarreia persistentes ao iniciar uma nova medicação, conversar com seu médico. Atenção para os sinais de alerta da constipação no lesado medular: dor de cabeça, suor frio, pequeno aumento de temperatura, arrepios, aumento dos espasmos (contrações) e distensão abdominal. A constipação persistente pode favorecer as infecções urinárias. Evitar ao máximo ficar sem evacuar por um período maior que 3 dias. 11
13 A presença de fezes endurecidas (empedradas) no reto permite apenas a passagem de restos líquidos, que podem ser confundidos com diarréia. O uso de outras manobras para auxiliar a evacuação, ou o uso de medicamentos para este fim, deve ser individualizado para cada paciente e orientado por seu médico e enfermeira. A flexibilidade e o bom senso são de grande ajuda no estabelecimento das rotinas do programa, devendo ser seguidas diariamente e iniciadas o mais cedo possível, com dedicação e perseverança. Alimentos ricos em fibras 12
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