Cuidando as emoções A dor no ambiente hospitalar
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- Gustavo de Escobar Wagner
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1 Pontifícia Universidade Católica do RS Faculdade de Medicina Departamento de Psiquiatria I Colóquio de Qualidade de Vida, Saúde e Trabalho Cuidando as emoções A dor no ambiente hospitalar Edgar Chagas Diefenthaeler Mestre em Clínica MédicaM Psicanalista da SPPA International Psychoanalytical Association Autor Desconhecido
2 O terapeuta Cyro Martins Pois fica decretado, a partir de hoje, que terapeuta é gente também. Sofre, chora, ama, sente. E às vezes precisa falar. O olhar atento, o ouvido aberto, escutando a tristeza do outro, quando às vezes a tristeza maior está dentro do seu peito. Quanto a mim, fico triste, fico alegre, e sinto raiva também. Sou de carne e osso. E quero que você saiba isto de mim. E agora, que já sabe que sou gente, quer falar de você para mim?
3 Objetivos Considerar a complexidade das vivências da equipe hospitalar e dos alunos da medicina com responsabilidades crescentes sobre a vida de seres humanos que sofrem.
4 Objetivos As pessoas que cuidam de pessoas preparam-se para lidar com o sofrimento dos outros e não com o seu próprio sofrimento. Têm dificuldade em reconhecer suas dores - da mente e do corpo que se refletem na sua vida e nas pessoas próximas.
5 Contexto hospitalar O hospital é um ambiente insalubre e violento por natureza. O hospital é o contexto de um paradoxo: o local onde se busca e se resgata a saúde é, ao mesmo tempo, um local insalubre, doentio; de esperança e desesperança O hospital é campo da batalha maior: entre a vida e a morte. (Ribeiro, Forjaz; RBP, 2006)
6 Contexto hospitalar O hospital é onde se chega muito perto da realidade mais dura do ser humano: o encontro com a morte. É um ambiente de permanente tensão. Lidar com esta violência sem adoecer exige um mínimo de conhecimento de si próprio, para se proteger desta loucura que abate todos que o freqüentam. (Ribeiro, Forjaz;RBP, 2006)
7 Contexto hospitalar e violência O estudante de medicina, assim como o médico, estão sujeitos à agressão e a atos de violência verbal e física - por parte dos pacientes e seus familiares. ex: aluno do 4º ano Trabalho realizado em São Paulo com 500 profissionais mostrou que 41% dos médicos já sofreram algum tipo de violência. Informativo Cremers (2006)
8 Contexto hospitalar e violência A doença, a dor, a ameaça de perdas definitivas dos bens maiores e da própria vida, gera muita raiva. Esse ódio é descarregado naqueles que estão próximos, que falham no poder de aliviar e proteger.
9 A dinâmica dos sentimentos no contexto hospitalar A realidade das perdas e fracassos de manter a saúde dos outros, a sua própria e de seus familiares, traz intensos sentimentos de onipotência e impotência em ciclagem rápida:
10 A prática e o ciclo dos sentimentos Onipotência Depressão Isolamento Impotência Angústia
11 Profissionais envolvidos com a saúde têm dificuldades inerentes a qualquer indivíduo, pessoais e profissionais, mas além dessas - apresentam particularidades próprias -, que vão além da técnica e da vida no hospital, devido às características especialmente desgastantes do treinamento, desenvolvimento e responsabilidades crescentes com o compromisso sobre o que é realmente importante no ser humano: a vida e a morte.
12 O estudo da medicina e o cadáver O estudante é apresentado à medicina através de um corpo morto.
13 Médico e a intimidade do outro O médico trabalha em contato direto com: o sangue, secreções e excreções... na mais profunda intimidade do corpo, da mente e da alma do outro
14 Não se considera o quão profundamente a dor do outro toca a nossa dor
15 Compreendendo as emoções O contato intenso e próximo com a doença com a dor orgânica, mental e moral e, especialmente, com a morte, traz muita ansiedade, pode resultar em excessiva preocupação com sua saúde física e reforçar o medo de sua própria morte determinando intolerância às incertezas clínicas, humor deprimido, diminuição da sensibilidade (empatia) frente ao sofrimento dos pacientes e até condutas que estão relacionadas com medo ou fobia à morte. (Merril, Lorimor, Thornby, Woods; 1998).
16 Cuidando as emoções Flutuações ou até alterações do humor, se intensas e reconhecidas, pode levar a uma busca de ajuda. Outras expressões mais sutis passam despercebidas com o risco de graves conseqüências. Podem comprometer o desenvolvimento profissional, escolhas e o futuro da carreira, além do prejuízo à auto-estima e do próprio crescimento do indivíduo Preocupações excessivas com o mundo externo e/ou Preocupações excessivas com o mundo interno comprometem o aprendizado e o desempenho
17 Formas de cuidar: currículo médico (FAMED/PUCRS) Sentimentos como: ansiedade, depressão, medo e vontade de fugir, são compartilhados e discutidos, semanalmente, com a equipe da Medicina Interna e um Psiquiatra, o que torna o momento de ensino e aprendizado mais leve e proveitoso. Na discussão de casos clínicos são enfocados aspectos biológicos, emocionais e sociais dos pacientes, para melhor manejo das freqüentes vivências vinculadas a situações complexas e multidisciplinares. Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho, Rev.CFM.Bioética&Ètica Médica.Brasília:2006
18 Formas de cuidar: (FAMED/PUCRS) A Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários instituiu o Centro de Atendimento Psicossocial (CAP), constituído por uma equipe multidisciplinar, da qual faz parte um psiquiatra. Esse Serviço integra-se com os demais Serviços e Unidades que compõem a Universidade. Tem por objetivo atender dificuldades de alunos e professores, tanto no processo ensino-aprendizado, como os de ordem pedagógica, cognitiva, emocional e social. Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho, Rev.CFM.2006
19 Formas de cuidar e ser cuidado (FAMED/PUCRS) Os professores da Psiquiatria ficam à disposição da Direção da Faculdade para receber alunos que, por características próprias, patológicas ou não, têm maiores dificuldades. O cuidado com o aluno em formação é amplo, com a participação da psiquiatria -, nas situações que surgem naturalmente ou naquelas especiais ou individuais, patológicas ou não, em um espaço que o acolhe e oferece confiança (continência, holding). Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho, Rev.Bioética&Ètica Médica.CFM.Brasília:2006
20 Formas de cuidar e ser cuidado (Cidape) Centro de Interação e Desenvolvimento da Assistência /Pesquisa/ Ensino (Cidape), ligado ao Serviço de Psicologia e de Psicologia Organizacional presta acompanhamento a todos profissionais que trabalham no Hospital Universitário São Lucas/PUCRS, desde o momento em que são admitidos até o desligamento. Os profissionais recebem ajuda por procura espontânea ou por recomendação da sua chefia direta. Os motivos mais freqüentes são cansaço, estresse, até sintomas psíquicos graves, com risco de suicídio. O maior pedido de ajuda é o de ser ouvido. A escuta é um processo ativo. Zimmermann, Cataldo, Diefenthaeler, Furtado,Coelho, Rev.Bioética&Ètica Médica.CFM.Brasília:2006
21 Formas de cuidar e ser cuidado (Cidape) Identificada a necessidade de avaliação psiquiátrica ou psicológica, é feita a indicação, encaminhamento e acompanhamento. Alguns grupos recebem acompanhamento no próprio ambiente de trabalho, na modalidade de grupos operativos O contexto é o da proposta da Psicologia Institucional: buscar a saúde e o bem estar dos profissionais, promovendo o estabelecimento de vínculos saudáveis e dignificantes. O interesse está na instituição como totalidade, mesmo que se ocupe de uma parte dela (Bleger). Maria Rita Coelho, Diefenthaeler, Cataldo, Furtado, Zimmermann. Rev.Bioética & Ética Médica.CFM.Brasília:2006
22 A dinâmica dos conflitos Conflito é um elemento imprescindível no desenvolvimento e em qualquer manifestação humana. Conflitos tornam-se patológicos quando não se busca recursos para dinamizá-los e resolvê-los. Maria Rita Coelho, Diefenthaeler, Cataldo, Furtado, Zimmermann. Revista Bioética&Ètica Médica.CFM.Brasília:2006
23 Considerações finais Fica evidenciada a importância de centros para a assistência ao estudante de medicina. Desenvolver projetos de pesquisa que identifiquem as dificuldades emocionais que ocorrem durante o treinamento médico. Muitas Universidades brasileiras já estão tendo este cuidado, o que representa um grande e uma louvável iniciativa para o aprimoramento da Saúde em nosso país, que só pode existir a partir do cuidado com o próprio médico e seus colaboradores e antes ainda, com os estudantes da ampla área da medicina. (Nogueira-Martins;Stella; Nogueira. 1997)
24 Considerações finais Como professores e coordenadores, médicos, psiquiatras e psicanalistas, temos o compromisso maior de resgatar a curiosidade e o interesse pelo conhecimento em nossos alunos. Para que seja retomado o caminho da busca do conhecimento pelo qual a realidade frustradora pode não só ser evitada, e sim modificada; não só suportada, como elaborada. Diefenthaeler,EC. Dificuldades emocionais no aprendizado dos estudantes de medicina. Rev. de Medicina da PUCRS.2000 Metodologia do ensino médico
25 Considerações finais É muito doloroso crescer e aprender. Mas considerar esta dor e as crises desses processos é o caminho que pode levar á realização e o prazer profissional mais genuíno COMPONENTE BÁSICO DA FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO
26 A dinâmica dos conflitos Ser cuidado remete a um contato direto com a própria fragilidade, o que, em certa medida, não é permitido ser expresso no trabalho diário dos cuidadores. O temido é passar para o outro lado: ser o paciente
27 A ciclagem dos sentimentos Este conflito interno abrange sentimentos opostos, presentes no mundo interno dos profissionais: onipotência: sentir-se capaz de curar fragilidade: reconhecer suas fraquezas.
28 Referências Diefenthaeler.E, Cataldo Neto.A,Furtado.NR, Zimmermann.PR, Maria Rita. Cuidando das emoções. Bioética, Conselho Federal de Medicina: Brasília, 2006 Diefenthaeler,E.Dificuldades emocionais no aprendizado do estudante de medicina. Revista de Medicina da PUCRS.v10,2000. Diefenthaeler,E. et al. Is depression a risk factor for mortality in chronic hemodialysys patients?revbrapsiquiatria,v.30,junho2006 Zuadi,AW. et al.reduction of the anxiety of medical students after curricular reform. RevBraPsiquiatria,v.30,junho2006 Edgar Chagas Diefenthaeler Mostardeiro 333/ /010 Fone/Fax: (51) edgarcd@terra.com.br Porto Alegre/RS
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